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AUTOBIOGRAFIA
III

DEDICAÇÃO PELA ENCARREGADA DA MINHA EDUCAÇÃO

Lembro-me de ir acompanhar a minha patroa a Laundos cumprir uma promessa a Nossa Senhora da Saúde. Connosco foi uma filha dela e a minha irmã. Esta ajudava-a pegando-lhe na mão, porque ia de joelhos, e eu ia à frente dela e arrumava-lhe todas as pedrinhas que encontrava no caminho. A filha, que era mais velha do que nós, foi para a brincadeira.

Uma das primeiras fotografias da Beata Alexandrina

Era muito dedicada à mulherzinha e, quando me davam qualquer coisa, como frutas, doces, etc., repartia com ela, que ficava toda satisfeita. Eu procedia assim porque o meu coração assim o queria, apesar de ser muito má.

Uma ocasião, a minha irmã pediu-lhe licença para ir estudar à casa de uma colega que morava perto de nós, e eu também queria ir. Como ela não me deixasse, chorei e por fim chamei-lhe «poveira»; estava zangada. Não me castigou, mas disse-me que não podia confessar-me sem lhe pedir perdão. Minha irmã disse-me o mesmo. Isto fez-me muita repugnância e, como quisesse confessar-me e comungar, venci o orgulho. Pus-me de joelhos e, de mãos erguidas, pedi-lhe perdão. Ela comoveu-se até às lágrimas e perdoou-me. Senti uma grande alegria por já poder no dia seguinte confessar-me e receber Jesus.

PERSEGUIÇÃO DOS GUARDAS-REPUBLICANOS

Depois de umas férias, ia para a Póvoa, eu e a minha irmã; tínhamos quem nos acompanhasse, mas só depois de atravessarmos a freguesia. Íamos pelo caminho-de-ferro e avistámos ao longe dois guardas-republicanos. Tivemos medo deles e refugiámo-nos na volta de um caminho. Como minha irmã levasse um cestinho com linho, eles imaginaram que ela levava fósforos (espera-galegos) – proibidos naquele tempo – e perseguiram-nos. Nós fugimos e gritámos muito. Aos nossos gritos acudiram várias pessoas. Já estavam para fazer fogo quando compreenderam que não éramos portadoras de tal contrabando. Felizmente desta vez escapámos à morte.

Ainda na Póvoa de Varzim, lembro-me que tinha muito respeito pelos sacerdotes. Quando estava sentada à porta da rua, só ou com a minha irmã e primas, levantava-me sempre à sua passagem, e eles correspondiam tirando o chapéu, se era de longe, ou dando-me a bênção se passavam junto de mim. Observei algumas vezes que várias pessoas reparavam nisto e eu gostava e até chegava a sentar-me propositadamente para ter ocasião de me levantar no momento em que passavam por mim, só para ter o gosto de mostrar a minha dedicação e respeito pelos ministros do Senhor.

REGRESSO À TERRA NATAL

Passados dezoito meses, como minha irmã fizesse exame, viemos embora. Minha mãe queria que eu continuasse, mas sozinha não quis ficar; fiquei a saber pouco. Voltámos ao lugar onde nascemos e aí estivemos quatro meses; depois fomos morar para perto da igreja, numa casa da minha mãe.

Uma vez minha mãe deu-me uns soquinhos. Eu fiquei tão contente com eles, porque eram lindos!... Para ver a figura que fazia com eles, preparei-me como se fosse à Missa, calcei-os e depois ajoelhei-me, pondo-os à minha frente, fingindo que estava na igreja. Como era vaidosa!

Era muito amiga da minha irmã, mas, quando me zangava com ela, atirava-lhe com o que tivesse à mão. Lembro-me de fazer isso pelo menos duas vezes. Quero que o meu génio não fique encoberto. Também gostava de lhe fazer partidinhas e, quando me levantava primeiro do que ela, punha-lhe à porta do quarto paus a impedir-lhe a passagem para ela cair, quando por ali passasse. Era mesmo como quem lhe chamava preguiçosa. Fazia várias partidas deste género. Também as tinha de mau gosto, pois uma vez levantei a tampa de uma caixa e deixei-a cair com força, começando a gritar, fingindo assim que me magoei. Minha irmã acudiu logo e afligia-a bastante. Ficava muito pesarosa por a ter ofendido. Não guardava ódio nenhum, antes queria acariciar as pessoas que ofendia. Apesar de tudo isto e de subir às árvores – pois trepava muito bem – nunca fiz mal às avezinhas. Não era capaz de tirar os ninhos, nem de brincar com os passarinhos. Sofria muito quando via ninhos desfeitos ou quando ouvia o piar triste e dolorido dos pais pelos filhinhos. Cheguei a chorar com pena das avezinhas que ficavam sem os sus filhinhos ou destes que perdiam os seus pais.

Nas reuniões de família, não sei o que dizia, mas dispunha bem as pessoas que me rodeavam, que se riam a bom rir. Minha mãe dizia: «Os fidalgos têm um bobo para os fazer rir e eu não sou fidalga, mas também tenho quem me esteja a fazer festa».

AS MINHAS PRIMEIRAS CONTEMPLAÇÕES

Pelos nove anos, quando me levantava cedo para ir trabalhar nos campos e quando me encontrava sozinha, punha-me a contemplar a natureza. O romper da aurora, o nascer do sol, o gorjeio das avezinhas, o murmúrio das águas entravam em mim numa contemplação profunda que quase me esquecia de que vivia no mundo. Chegava a deter os passos e ficava embebida neste pensamento, o poder de Deus! E, quando me encontrava à beira-mar, oh, como me perdia diante daquele grandeza infinita! À noite, ao contemplar o céu e as estrelas, parecia esconder-me mais ainda para admirar as belezas do Criador! Quantas vezes no meu jardinzinho, onde hoje é o meu quarto, fitava o céu, escutando o murmúrio das águas e ia contemplando cada vez mais este abismo das grandezas divinas! Tenho pena de não saber aproveitar tudo para começar nesta idade as minhas meditações.

OS MEUS ESCRÚPULOS

Lembro-me de dizer duas palavras que tomei por pecados, sendo uma delas «diabo». Fiquei muito envergonhada e custou-me muito a confessar-me delas. Não gostava de ouvir conversas maliciosas e, embora não compreendendo o sentido delas, chegava a dizer que me retirava se não falassem doutra forma. Também me indignava toda quando presenciava cenas indecentes entre pessoas adultas. Tinha medo de perder a minha inocência e receio que Nosso Senhor desse algum castigo.

Foi aos nove anos que fiz pela primeira vez a minha confissão geral e foi com o Sr. Pe. Manuel das Chagas. Fomos, a Deolinda, eu e a minha prima Olívia, a Gondifelos, onde Sua Reverência se encontrava, e lá nos confessámos todas três. Levámos merenda e ficámos para arde, à espera do sermão. Esperámos algumas horas e recorda-me que não saímos da igreja para brincar. Tomámos nosso lugar junto do altar do Sagrado Coração de Jesus e eu pus os meus soquinhos dentro das grades do altar. A pregação dessa tarde foi sobre o inferno. Escutei com muita atenção todas as palavras de Sua Reverência, mas, a certa altura, ele convidou-nos a ir ao inferno em espírito. Para mim mesma disse: «Ao inferno é que eu não vou! Quando todos se dirigirem para lá, eu vou-me embora!», e tratei de pegar nos soquinhos. Como não vi ninguém sair, fiquei também, não largando mais os soquinhos.

AMOR AOS POBREZINHOS, DOENTINHOS E VELHINHOS

Era muito amiga dos velhinhos, pobrezinhos e enfermos e, quando sabia que alguém não tinha roupinha para se vestir, pedia-a a minha mãe e ia levar-lha, ficando por vezes a fazer-lhe companhia. Assisti à morte de alguns, rezando o que sabia e, por fim, ajudava a vestir os defuntos, o que me custava imenso; fazia-o por caridade: não tinha coração para deixar sozinha a família dos mortos e, por serem pobrezinhos, fazia-o com muito gosto.

Dava esmola aos pobres e sentia grande alegria em fazer obras de caridade. Algumas vezes chorava com pena deles e por lhes não poder valer em todas as suas necessidades. A minha maior satisfação era dar-lhes daquilo que tinha para comer, privando-me assim do meu alimento. Quantas vezes fiz isto!... Apesar de muito criança ainda, dei muitas vezes conselhos a pessoas de bastante idade, evitando até que praticassem crimes horrendos, e de tudo guardava absoluto silêncio. Vinham ter comigo e faziam-me conversas que não eram próprias da minha idade, e eu confortava-as e dizia-lhes o que entendia. Presenciei e soube de viários casos que por caridade não contei.

Quanto hoje estou agradecida a Nosso Senhor por ter procedido assim: era a Sua graça e não a minha virtude!

AMOR À ORAÇÃO

Gostava muito de ir à igreja e chegava-me para junto da minha catequista[1] e rezava quanto ela queria. Não deixava dia nenhum de rezar a estação ao Santíssimo Sacramento, meditada, quer fosse na igreja quer em casa, até pelos caminhos, fazendo sempre a comunhão espiritual assim:

«Ó meu Jesus, vinde ao meu pobre coração! Ah, Eu desejo-Vos, não tardeis! Vinde enriquecer-me das Vossas graças; aumentai-me o Vosso santo e divino amor. Uni-me a Vós! Escondei-me no Vosso Sagrado Lado! Não quero outro bem senão a Vós! Só a Vós amo, só a Vós quero, só por Vós suspiro! Dou-vos graças, Eterno Pai, por me haverdes deixado a Jesus no Santíssimo Sacramento. Dou-Vos graças, meu Jesus, e por último peço-Vos a Vossa santa bênção! Seja louvado em cada momento o Santíssimo e Diviníssimo Sacramento da Eucaristia!»

Também dizia várias jaculatórias, como «Bendito e louvado seja…» e «Graças e louvores se dêem…»

Gostava muito de fazer meditações ao Santíssimo Sacramento e à Mãezinha e, quando não podia fazê-las de dia, fazias de noite, às escondidas de todos, reservando uma vela, que escondida, para esse fim. Vidas de santos ou meditações muito profundas não me satisfaziam, porque via que em nada ma assemelhava aos santos e, em vez de me sentir bem, faziam-me mal.


[1] Josefina Alves de Sousa, vulgarmente chamada «Josefina-Escola», por viver no edifício da escola, juntamente com seu irmão professor.

 

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