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AUTOBIOGRAFIA
XIV

VISITA DE UM MÉDICO ENVIADO POR DEUS

– Em 29 de Janeiro de 1941, recebi a visita dum Sr. Padre conhecido, acompanhado por várias pessoas da sua freguesia. Apresentou-mas na chegada, mas só depois de conversar muito fiquei a saber que um deles era médico. Ao saber que tinha junto de mim um médico, corei de vergonha, não por estar a mentir do que tinha falado do meu sofrimento, mas por não o esperar aqui. Sua Excelência conservou-se calado e sorridente. Não sei o que sentia intimamente por ele. Mal eu pensava que, dentro em pouco, ele seria meu médico assistente.

Principiou a examinar-me minuciosamente, mas com toda a prudência e carinho. Depois de feito o seu exame, achou conveniente convidar o Sr. Dr. Abel Pacheco e o meu médico assistente naquela altura, que vieram conferenciar a meu respeito. Fiquei muito triste, porque já estava cheia de exames médicos, mas cedi, tendo sempre em vista a vontade de Nosso Senhor e o bem das almas.

Foi no dia 1 de Maio do mesmo ano que fui examinada pelo Sr. Dr. Abel Pacheco. O exame durou poucos minutos, contudo causou-me grande sofrimento para o corpo e para a alma. No corpo, porque as suas mãos pareciam de ferro, e na alma, porque já sentia humilhações e o resultado daquele exame. Com tudo isto ainda estava longe do fim. Fui prevenida pelo Sr. Dr. Dias de Azevedo que seria melhor voltar ao Porto, consultar o Sr. Dr. Gomes de Araújo, se fosse essa a vontade de Nosso Senhor. Pediu-me que pedisse luz divina sobre o caso, porque em nada queria contrariar Nosso Senhor.

Pedi durante um mês. Mas, quanta mais luz pedia, mais em trevas ficava, tornando-se assim a dor da minha alma cada vez mais profunda, não sabendo o que havia de fazer, até que Nosso Senhor me disse que era da Sua divina vontade que fosse ao Porto.

O meu estado físico era gravíssimo, temiam tirar-me do leito para tão longa viagem; até eu temia, e muito, pois se não consentia que me tocassem no corpo, como havia de poder ir tão longe!... Animada com as palavras de Nosso Senhor, confiava n’Ele e, sob a Sua acção divina, preparei-me para sair na madrugada de 1 de Julho de 1941. Eram quatro horas da manhã, já eu tinha feito as minhas orações e, para fingir que ia muito alegre, principiei a chamar minha irmã, dizendo-lhe que íamos para a cidade. Só por este meio escondia a minha dor e alegrava os meus. Quando dizia isto, senti o automóvel que pouco depois chegava a nossa casa. Entrou no meu quarto o Sr. Dr. Dias de Azevedo, acompanha por um senhor amigo. Depois de conversarmos um pouco, minha irmã vestiu-se e preparámo-nos para sair. Às 4,50 partimos, era ainda de noite, para não alarmar o povo, e saímos da nossa freguesia sem encontrar ninguém.

Em que silêncio ia a minha alma! Mergulhada num abismo de tristeza, mas sem me separa um momento da união íntima do meu Jesus, ia-lhe pedindo sempre toda a coragem para o exame que ia ter; e pelo seu divino amor e pelas almas oferecia todo o meu sacrifício. Chamava pela Mãezinha e pelos santos e santas a quem mais amava. Não ligava importância a nada e tudo o que se me deparava causava-me profunda tristeza. De vez em quando, interrompiam o meu silêncio perguntando-me se ia bem. Agradecia, sem sair do abismo em que ia mergulhada. Era já dia claro quando parámos em casa do senhor que nos acompanhava, na Trofa. Era aí que eu ia descansar e receber o meu Jesus, esperando pela hora de seguir para o Porto. Antes de continuar a minha viagem, levaram-me ao jardim do Sr. Sampaio. Amparada e sob a mesma acção divina, fui até junto de umas florinhas, que colhi, dizendo: «Quando Nosso Senhor criou estas florinhas, já sabia que hoje as vinha aqui colher.» Depois, fui fotografada em dois lugares escolhidos. Desloquei-me de um lugar para o outro por meu pé, o que nunca pude fazer depois que acamei, pois nem sequer podia voltar-me de lado, na cama. Só um milagre divino, porque sem ele não me mexia, nem sequer consentia que me tocassem.

Depois, entrei no carro, segui a viagem, e a minha alma sofria horrivelmente. À distância de seis quilómetros do Porto, Nosso Senhor retirou a Sua acção divina. Principiei a sentir todos os sofrimentos do meu corpo e tornou-se tormentosa o resto da viagem e disse, não por saber a distância que faltava, mas o meu estado fez-me falar assim: «Já estamos perto do Porto.» E alguém me disse: «Estamos, estamos.» Porque tinha visto que só faltavam os 6 quilómetros a que me referi.

A ida de carro para o consultório foi o que há de mais doloroso. No corpo, sentia o maior martírio, e na alma a maior agonia, parecendo que morria.

Antes de entrar na sala de consultas, dizia aos que me levavam nos braços: «Pousai-me, pousai-me, ainda que seja no chão!» De repente, apareceu o médico e instalou-me numa cama de observações, e aí estive até que fosse observada. Pouco antes de ir para a sala de consultas, Nosso Senhor tirou-me a agonia da alma, deixando-me só os sofrimentos físicos. Já podia resistir melhor.

Principiou o exame que foi muito doloroso e demorado. Quando me despia, disseram-me que não me afligisse. E eu, recordando o que fizeram a Nosso Senhor, disse: «Também despiram Jesus», não pensando em mais nada. O Dr. Gomes de Araújo, apesar de me parecer um pouco brusco, foi prudente e delicado.

De o regresso a casa, voltou Jesus a exercer sobre mim as Sua acção divina para continuar a minha viagem, mas deu-me de novo as agonias da alma. Ao passar em Ribeirão, fui descansar em casa do Sr. Dr. Dias de Azevedo, a esperar pela noite, para poder entrar na freguesia sem ninguém perceber.

Tanto numa casa como na outra, fui tratada por todos com muito carinho, mas nada me confortava. Sorria a tudo, encobrindo o mais possível a minha dor. Saí de lá já de noite, e tudo me convidava a um silêncio cada vez mais profundo. Tudo me passava despercebido. Durante a viagem, só reparei numas flores do jardim de Famalicão, porque me chamaram a atenção para elas. Chegámos a casa era meia-noite e assim conseguimos que ninguém desse pela minha saída.

Depois desta viagem, os sofrimentos agravaram-se muito, muito. Tudo o que deveria sentir no dia da viagem guardou-me Nosso Senhor para o dia seguinte, piorando sempre cada vez mais.

CARTA A NOSSA SENHORA

«Balasar, 30/4/1941

Querida Mãezinha

Ao principiar o Teu mês bendito, venho pedir-Te a Tua bênção, o Teu amor, para eu poder amar o Teu e meu querido Jesus. Quero amá-Lo tanto, tanto, quero ser uma louquinha de amor, quero só viver e morrer de amor! Ajudai, minha querida Mãezinha, o Vosso Jesus a imolar e sacrificar esta que quer dar o sangue e a vida pelas almas e pelo Vosso Jesus. Dá-me, Mãezinha, a Tua pureza, a Tua humildade, a Tua obediência; dá-me as tuas virtudes para que eu seja santa, para dar toda a glória ao Teu Jesus para quem só quero viver.

Mãezinha, peço-Te esta esmolinha do Céu: quero que o mês de Maio seja para mim o último que passo na terra. Quero ir depressa gozar do Teu Jesus e da Tua companhia. Quero continuar junto de Ti a implorar perdão e misericórdia para o mundo Teu. Tua filha a mais indigna, pobre Alexandrina.

P.S. – Hei-de fazer cair uma chuva de graças e de amor sobre aqueles e aquelas que na terra me são queridos. Sempre a Tua filha, Alexandrina.»

VISITA DO REVº PADRE TERÇAS. CONSEQUÊNCIAS DESTA VISITA

– Em 27 de Agosto de 1941, recebi a visita do Sr. Abade acompanhado pelo Sr. Padre Terças e outro sacerdote. Esta visita foi para mim de grande desgosto, pois fiz o sacrifício de responder às perguntas que o Sr. Padre Terças me fez diante de todos, o que me custou imenso. Respondi a tudo conscientemente, porque prensava que viria em estudo como outros tinham vindo. Só Nosso Senhor pode avaliar quanto me custou ter de falar do assunto da Paixão, e foi sobre isto que mais me interrogou. O nosso Pároco disse-me que Sua Reverência queria voltar aqui na próxima sexta-feira, dia 29. Não queria ceder ao pedido sem consultar o meu Director espiritual, mas, como me disseram que se tinha de retirar para Lisboa nos dias imediatos a este, consenti dizendo: «Eu penso que Vossa Reverência não vem aqui por curiosidade.» Como me afirmasse que não, cedi prontamente, embora me fizesse sofrer muito a sua visita na sexta-feira. Sua Reverência não faltou, mas trouxe consigo mais três sacerdotes. Mal eu pensava que esta visita vinha erguer para mim um novo calvário. Não levou muito tempo que Sua Reverência publicasse o que observou e o que soube de mim.

Que Jesus tenha em conta a dor que me causou aquela publicação, por saber que a minha vida foi publicada e os meus segredos revelados, aquilo que tanto tempo escondi.

De vez em quando, chegavam-me aos ouvidos vários comentários a meu respeito. Eram espinhos que me cravavam no peito, mesmo sem as pessoas darem por isso. Eram variadas as impressões com que ficavam as pessoas que liam o livro ou ouviam falar de mim.

A minha ida ao Porto e a publicação da minha vida fizeram inquietar os espíritos dos Superiores do meu Director espiritual a ponto de o proibirem de vir junto de mim e de me prestar a assistência religiosa que necessito, assim como o proibiram também de me escrever e de receber as minhas notícias.

Depois disto, principiei a viver de ilusões: virá hoje o meu Director espiritual, virá amanhã? Vinham ao meu pensamento mil e uma coisas. Impressionava-me por me lembrar que perdia o tempo em coisas inúteis, mas não era capaz de desviar o meu espírito do que tanto me fazia sofrer. Passava algumas horas persuadida de que tudo podia suceder como eu pensava. Um dia, persuadi-me de que, apesar de não ser prevenida pelo meu Director espiritual, este viria celebrar o Santo Sacrifício da Missa no meu quartinho. Pensei: vem amanhã no comboio sem me prevenir. Principiei a ouvir o comboio ao longe e, ao chegar ao apeadeiro, pareceu-me que o comboio teve lá grande demora, motivada por desastre de que foi vítima o meu Director espiritual, sendo apanhado por uma perna que lhe ficou logo cortada. Queriam levá-lo para a Póvoa, mas, como Sua Reverência dissesse que vinha visitar-me, pediu que o trouxessem à minha presença. Senti como se o visse entrar no meu quarto nos braços de várias pessoas, quase moribundo. Uma das pessoas trazia a perna na mão. Quando se me representou aquele quadro tanto ao vivo na minha alma, senti como que me pusesse de joelhos diante de Nossa Senhora, exclamando: «Ó Mãezinha, mostrai aqui o Vosso poder», que era o de colar a perna. Depois disto, figurou-se-me que não tinha vindo à nossa casa e que o levavam para o Hospital. Ao saber-se de tudo isto, senti que os seus irmãos em religião se regozijavam e diziam: aqui está uma prova evidente de que Nosso Senhor não queria que ele fosse junto dela.

Parecidas com estas ilusões tive mais, mas não me fizeram sofrer tanto como esta.

A minha vida foi toda uma vida de sacrifício; quase posso dizer que não sei o que é gozar, do que não sinto nenhuma pena. Sinto-me no fim da vida e, se junto à pena de ter ofendido Nosso Senhor eu podia juntar o gozo deste mundo, era um horror para mim. Só ter gozado o pecado, que horror!

Anseio pela eternidade, porque só lá saberei agradecer a Jesus o ter-me escolhido para viver esta vida de sacrifício, ansiando só por amar Jesus e salvar as almas.

Sei bem que poucas almas me compreenderão, mas uma só coisa me basta: Jesus tudo compreende.

 

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