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AUTOBIOGRAFIA
XIII

DÚVIDAS E RECEIOS DE ENGANAR. EXAMES DOS MÉDICOS E TEÓLOGOS

– Assim como iam aumentando as graças e favores para comigo, assim cresciam também as dúvidas e receios de me enganar e enganar o meu Director espiritual, bem como todos os que conviviam comigo. Crescia o meu martírio, momento para momento. Tudo me aprecia falso e inventado só por mim. Meu Deus, que dor para o meu coração! As trevas caíam sobre mim; não havia luz que me mostrasse o caminho. Por mais que o meu Director me infundisse confiança, não havia quem me confortasse. Contudo, entreguei-me nos braços de Jesus, confiada a não ser arrastada pela corrente.

Sofria por ver as lágrimas em todos os que me rodeavam e pensava: Meu Deus, se falta a coragem a eles, como não há-de faltar-me a mim?

Que grande humilhação ter de ser observada! Ah, se eu pudesse sofrer sozinha, sem que pessoa alguma me visse!... Bastava que Jesus soubesse quanto por Ele sofria.

Logo na segunda crucifixão, principiaram os exames feitos por uns Padres da Companhia de Jesus. Que vergonha eu sentia! Não nas horas da crucifixão, mas antes e depois!...

Principiei a sentir que o meu Director espiritual sofria muito no íntimo, por minha causa, isto é, por tudo o que se passava.

Sucederam-se a estes os dos médicos, que foram bem dolorosos, deixando o meu corpo em mísero estado. Parecia-me que andava a ser julgada de tribunal em tribunal, como se tivesse praticado os maiores crimes. Quanto me custava vê-los entrar no meu quarto e, depois de me examinarem e observarem, vê-los reunir-se numa sala para discutirem e minha causa, deixando-me sob o peso da maior humilhação.

Se não me engano, foi na terceira crucifixão que vieram os médicos examinar o meu caso. É difícil e sei que não posso descrever todo o meu sofrimento. Deixavam o meu corpo martirizado, mas outras coisas havia que me custavam muito mais. A vergonha que me faziam passar! Triste cena eu fazia diante deles! Nem a maior criminosa seria julgada num tribunal com mais cuidado! Se pudesse abrir a minha alma e deixar ver o que nela se passa, porque estou a reviver esses dias, fá-lo-ia só com o fim de fazer bem às almas, mostrando quanto sofro por amor de Jesus e das almas. Foi só por isto que me expus a tais sofrimentos.

Quando o meu Director espiritual me falou em ser examinada pelos médicos, foi para mim um grande tormento, uma grande barreira que se levantou em minha alma. Queria sofrer escondida, que só Jesus soubesse do meu sofrimento. Mandava a obediência. Calei-me e tudo aceitei por Jesus. Faltavam os médicos para completar o meu calvário. Alguns foram verdadeiros algozes que no meu caminho encontrei.

Resolveram que fosse ao Porto. Custou-me muito a convencer-me, devido ao estado em que me encontrava. Temia não poder fazer a viagem e, ao convite do médico assistente, respondi-lhe: «Então o Sr. Doutor, em 1928, não consentiu que eu fosse a Fátima e agora que eu tenho piorado tanto quer que eu vá ao Porto?» Sua Exa. disse-me: «É verdade que não consenti, mas agora queria que fosse.» Perguntei-lhe se o meu Director espiritual sabia do caso e, como me afirmaram que sim, cedi ao pedido.

No dia 6 de Dezembro de 1938, pelas 11 horas, fui tirada da minha cama para uma auto-maca. Naquela manhã, fui muito visitada por pessoas amigas e em quase todas via lágrimas nos olhos, assim como nas pessoas da minha família. Eu procurava alegrar a todos, fingindo que nada sofria. Foi dolorosa a minha viagem, pois foram precisas três horas e meia para chegar ao Porto. Parámos inúmeras vezes.

No Porto, no consultório do Sr. Dr. Roberto de Carvalho, tirei a radiografia e por ele fui tratada com todo o carinho. Disse-me assim: «Ai minha menina, quanto sofres!»

De lá fui transportada para o Colégio das Filhas de Maria imaculada, onde me trataram muito bem. O que mais me custava era sofrer os ruídos da rua, chegando por vezes quase a perder os sentidos. Lá, fui examinada pelo Sr. Dr. Pessegueiro, exame este que só serviu para maior sofrimento meu.

No regresso a casa, voltei a ter uma viagem penosa. Quando me encontrei no meu quartinho, vi-me cercada de várias pessoas amigas. Em 26 de Dezembro de 1938, fui visitada e examinada pelo Sr. Dr. Elísio de Moura, que me tratou cruelmente, tentando sentar-me numa cadeira com toda a violência. Como nada conseguisse, atirou-me ara cima da cama, fazendo várias experiências que me fizeram sofrer horrivelmente. Tapou-me a boca, atirou-me contra a parede, fazendo-me dar uma forte pancada. Vendo-me quase desmaiada, disse-me: «Ó minha Joaninha, não percas os sentidos!».

Sem querer, chorei, mas todas as minhas lágrimas ofereci a Jesus com os meus sofrimentos, que foram muitos, pois o que digo nada é do muito que passei. Tudo lhe desculpei, porque ele vinha em missão de estudo.

SEGUNDO EXAME DA SANTA SÉ

– Em 5 de Dezembro de 1939, recebi a visita do nosso Sr. Abade, acompanhado pelo Ex.mo e Rev.mo Senhor Cónego Vilar que, depois de me ser apresentado, ficou a sós comigo. Falámos de várias coisas de Nosso Senhor cerca de duas horas, para depois entrarmos verdadeiramente no assunto que o trouxe aqui. Sua Reverência disse-me assim: «A Alexandrina deve estranhar a minha visita, não me conhece…»

Sorri-me e respondi-lhe: «Eu sei com certeza ao que V. Reverência vem aqui.» Ao que ele disse: «Diga, diga, Alexandrina.» Então disse eu: «Vem de mando da Santa Sé», pois era o que eu sentia na minha alma nesse momento. Sua Reverência confirmou, dizendo: «É isso mesmo.» E apresentou os documentos que tinham vindo de Roma. Fez-me várias perguntas a que respondi. Não falei da crucifixão, mas falou-me ele, dizendo: «Parece que há mais qualquer coisa que se passa há meses…», apontando a Paixão, mostrando desejo de vir assistir, como veio logo na primeira sexta-feira seguinte.

Falando disto ao meu Director espiritual, este aconselhou-me a que lhe falasse com toda a franqueza. Visitou-me quatro vezes, mas só duas foram obrigatórias. Se não me engano, logo da primeira vez disse-me: «Olhe, Alexandrina, gostava de há muito a ter conhecido, mas não queria ter vindo como vim.» Confiou-me o segredo da sua partida para Roma, pois naquela ocasião só era sabedor o Sr. Arcebispo.

Como me sentia muito bem a conversar com ele e como tinha toda a licença do meu Director espiritual, falámos muito, mesmo muito de Jesus, porque sentia-me como que mergulhada num abismo de santidade e sabedoria, o que raras vezes me acontece, mesmo com sacerdotes. Disse-lhe que não falava assim com outros senhores Padres, porque não era feitio meu, mas sim pela confiança que nele sentia. Sua Reverência respondeu-me: «Faz muito bem, Alexandrina, em nada dizer porque, se lhes dissesse, eles não a compreenderiam.»

Chorei quando Sua Reverência se despediu de mim na partida para Roma. Prometeu escrever-me de lá, dizendo-me que ficaria a ser a sua intercessora na terra. Recebi algumas cartas dele em que mostrava ter em mim inteira confiança. Respondi-lhe, e ajudámo-nos mutuamente com orações a Nosso Senhor.

OPINIÕES DO POVO. NOVOS TORMENTOS

– Jesus ia-me pedindo mais sacrifícios. Com os exames médicos e da Santa Sé, foi-se o caso tornando mais conhecido. Era um martírio para mim! Queria viver escondida de todos!

Apesar de a minha família não me contar o que a meu respeito diziam lá fora, muitas vezes sabia como comentavam a minha vida. Coitadinhos dos ignorantes que tantas mentiras diziam! Afirmavam que a minha ida ao Porto tinha sido para receber mensalmente uma tença (mensalidade) que o Sr. Dr. Oliveira Salazar ficaria a mandar-me. Para uns era de 500$00, para outros de 300$00 e 200$00. Tanto valia desfazer as mentiras como nada. Eles ficavam sempre na sua.

Outros diziam que fui tirar o «retrato de santa», isto é, avaliar a minha santidade por meio de uma máquina. Minha irmã disse (para desfazer essa ideia): «Se isso pudesse ser, também eu queria tirar esse retrato para ver no ponto em que estava.»

Que pena tenho que as coisas do Senhor sejam tão mal compreendidas!...

Outros então diziam que todos os senhores Padres que me visitavam andavam a pedir esmolas por essas freguesias fora para me darem, e portanto que não me faltava nada.

Diziam que eu talhava o ar, fazendo de mim bruxa, que era corpo aberto; chegando várias pessoas a aproximar-se de mim para fazerem várias perguntas, como se eu adivinhasse. Falavam-lhes muito serenamente, fingindo não as compreender, mas, quando insistiam comigo, respondia-lhes: «Eu não adivinho, nem ninguém adivinha. Nós não temos o direito de penetrar nas consciências alheias. Isso é só para Nosso Senhor.»

Quando me contavam o que diziam a meu respeito, eu fingia não sofrer, mas sofria amargamente e respondia: «Eles falam de mim? É porque têm que dizer. Eu não tenho; deixai que falem para eles. Que Nosso Senhor lhes perdoe, que eu também lhes perdoo. Falam, falam e falarão. Não há quem os cale: uns contra mim, outros a favor de mim.»

E assim o tempo ia passando.

 

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