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AUTOBIOGRAFIA
XIX

APÊNDICE

«Desde os meus seis ou sete anos não gostava de estar ociosa, e então ocupava-me em pôr tudo em ordem em casa. Gostava muito de ir ao rio lavar roupa. Quando mais não tinha que lavar, tirava o meu aventalinho e ia lavá-lo. Entretinha-me a arrumar a lenha, pondo as achas encasteladas e muito direitinhas.

Às vezes, era no jardim que trabalhava, ocupando-me a cuidar das plantas que haviam de dar flores que ofereceríamos para adornar os altares da igreja.

Gostava de tudo perfeito e asseado, mesmo quando doente.

Tinha nojo do que estava sujo e fazia limpezas, as mais custosas, porque alegrava-me de ver tudo limpinho.

Pouco depois de virmos da Póvoa de Varzim – onde aprendi o pouco que sei – viemos morar para o Calvário. A casa onde vivíamos não era assim como é hoje. Tinha a cozinha na parte de baixo. Na primeira noite que passámos aqui, minha mãe mandou-me despejar fora da porta da cozinha uma gamela de água. Eu tive medo e por essa razão disse à minha mãe que não ia. Ela deu-me uma bofetada. Por má vontade nunca disse à minha mãe: eu não vou. Deus me livre! Ela procurava-nos a cara e não sei onde devíamos ir encontrá-la!...

Minha irmã, com os seus 12 anos, principiou a aprender a costurar. Uma das primeiras peças de vestuário que fez foi uma camisa para mim. A camisa era muito larga e com um talho como se fosse para um rapaz. Eu, apesar de ter os meus nove anos, escarneci da obra e da costureira. Peguei nela, vestia por cima da roupa que trazia e vim assim até à nossa casa. Minha irmã, às gargalhadas, ia dizendo: «Ó Alexandrina, tira a camisa, que é uma vergonha!...» Eu não me importei; vim assim e também me ria à vontade.

Em Santa Eulália de Rio Covo (tinha eu os meus 11 ou 12 anos) viviam meus tios que adoeceram com uma febre intitulada a espanhola. Minha avó foi tratar deles, mas adoeceu também. Para olhar por eles foi minha mãe que também ficou doente. Por fim, fomos nós, apesar de ser novinhas. O meu tio morreu à noite e ficámos lá até à Missa do sétimo dia.

Foi preciso ir ao arroz, mas tinha que passar pelo quarto donde meu tio morrera. Ao chegar à porta do quarto, senti-me tomada de medo. Não entrei. A minha avó veio dar-mo. À noite, era preciso ir fechar a janela. Chegando à parte da sala, disse comigo: Eu hei-de perder o medo. E passei devagar, mesmo com esta intenção. Abri a porta, passei por onde tinha visto o cadáver e fui ao quarto onde ele morreu. Desde então, nunca tive medo. Venci-me a mim mesma, à minha custa.

Quando tinha doze ou treze anos, tinha muita força. Um homem começou a fazer-se mito forte com outras raparigas. Ele estava sentado. Eu dirigi-me a ele e voltei-o. Ele pôs-se a gritar: «Deixa-me! Deixa-me!» Mas deixei-o só quando quis. O meu fim era só: como ele era homem, que mostrasse a sua força.

Aos treze anos dei uma bofetada a um homem casado que me tinha dirigido uns palavrões… Virei as costas a um rapaz rico que me esperava num lugar solitário, por onde eu tinha de passar, para me falar em namoro.

Com catorze anos, tinha muito gosto em assistir aos moribundos. Lembro-me de um homenzinho que estava a morrer e de uma pequena minha amiga. Fui à casa do homenzinho e encontrei-o no meio duns manteirinhos velhos. Vim a casa e pedi à minha mãe que lhe emprestasse roupa de cama. Minha mãe fez-me a vontade e eu, muito contente, fui levar a roupa e fiquei a fazer companhia às filhas. O homem durou uns doze dias. Apareceu em casa do doente um homem a pedir lenha à filha dele, mas ela não a tinha. Começou a disparatar. Eu disse: «Ela não tem tido tempo de a ir arranjar; que há-de fazer?» O homem respondeu: «Se não fosse pela generosidade da tua mãe, levavas duas bofetadas!» Não mas deu, porque eu calei-me. Quando não, era ele capaz de mas dar e eu ficava com elas…

Veio aqui uma rapariga dizer que estava a morrer uma vizinha. Minha irmã pegou num livro e num garrafãozinho de água benta e foi à casa da moribunda. Seguiram-na duas aprendizas de costura. Eu fui também. Minha irmã começou a ler as orações da boa morte. Estava nervosa e tremia, pois custava-lhe muito assistir aos moribundos. A minha irmã acabou de ler quando a mulherzinha morreu e disse: «Até agora fiz o que pude; agora não tenho coragem para mais.» Vi a filha ao pé da mãe da morta. A neta fugiu e eu não tive coragem para a deixar só. Fiquei a ajudar a lavá-la e a vesti-la. Estava cheia de chagas. Exalava um cheiro horrível. Julguei que caía sem sentidos, porque me sentia mal. Outra mulher que se encontrava no quarto, percebendo o meu estado, foi buscar uns raminhos de sardinheiras e deu-mos a cheirar. Só vim para casa depois de tudo pronto.

Com os meus dezasseis anos, e já doente, fui à casa de uma vizinha onde minha irmã estava a trabalhar de costura. Ao deparar com um fato de rapaz, vesti-o e apareci junto da minha irmã e da dona da casa. Riram-se a escangalhar. Depois disse-me a dona da casa: «Olha, vai pela estrada fora, que os meus filhos e o meu marido andam a podar as videiras por cima da estrada.» Eu pensei que me conheceriam, mas resolvi e fui. Os senhores não me reconheceram e, muito admirados, pararam de trabalhar, para ver se conheciam o cavalheiro. Da janela da casa, minha irmã e a dona da casa encheram-se de rir.

Entre os meus 17-18 anos, eu e a minha irmã partimos daqui para irmos a Aldreu, com o fim de fazermos flores artificiais por conta das zeladoras e a pedido do pároco. Eu já andava doente. Fui para ajudara a Deolinda e virmos embora mais depressa. Hospedámo-nos na residência do Pároco. Dois rapazes dos lados de Viana foram lá e queriam namorar com a Deolinda, mesmo nas vésperas de virmos embora. Pediram ao pároco para jogarmos as cartas. Pusemo-nos à lareira e o jogo passou-se em conversa. O pároco, quando nos viu, dirigiu-se aos rapazes assim: «Ai, ai! Então estou aqui há quatro anos e nunca vieram cá jogar e hoje vieram?»

Na noite seguinte, quando havíamos de vir embora, houve grande trovoada e chuva que fez muita lama. Sendo eu muito doente, a sobrinha do pároco emprestou-me uns socos e a minha irmã veio descalça. Um quarto de hora depois de sairmos de casa, desatou a chover novamente. O sangue espirrava-me dos pés, por causa do calçado não ser meu e por ter os pés muito mimosos, pois havia muito tempo que me não descalçava. As dores eram muitas e, por fim, tive de me descalçar, molhando-nos todas. Quando chegámos à estação, o comboio tinha partido haviam passado cinco minutos. Minha irmã desatou a chorar ao ver como eu estava. Eram nove horas da manhã. Só havia comboio às 11 horas, mas só parava em Barcelos, não nos convinha esse comboio. Esperámos na estação. Apareceram uns professores de Aldreu que nos levaram a tomar café. Só continuámos a viagem mais tarde, até que chegámos a casa da tia em Santa Eulália. Ela preparou-nos uma boa refeição e não queria que viéssemos embora por nos ver cansadas e ser tarde. Teimámos e prometemos vir só até Chorente, onde vivia a tia Felismina. De lá viemos até Balasar, onde chegámos alta noite. Batemos à porta, mas a mãe não estava em casa. Uma vizinha disse: «Olhem, a Sra. Matilde está a morrer.» A vossa mãe estava lá. Fomos ter com ela. No dia seguinte fui a casa da moribunda. Uma sobrinha dela disse-me: «Precisava tanto de ir a casa…» Eu respondi: «Vá, que eu fico.» E ela: «Não tens medo? – Eu não tenho medo nenhum!» Daí a pouco, a Sra. Matilde agonizava. Eu rezei sempre aquilo que entendia, mas sem medo nenhum.

 

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