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AUTOBIOGRAFIA
XVIII

Após quarenta dias, o retorno a casa

O Dr. Araújo, sem me dizer o que ia fazer, tomou a borracha que tinha sobre o estômago e um garrafão de água que as vigias tinham para molharem o pano da cabeça e infundiu lá o que ele quis para eu, que ignorava o facto, se chupasse do pano ou da borracha, como o outro médico afirmava, houvesse em mim algum transtorno que eles lá sabiam, exigindo das vigias que eu não pedisse que me fosse mudado o gelo. Assim o fiz, apesar de, por vezes, ela tentar mudá-lo. Eu respondia: «Põe-se fora de mim para arrefecer. Manda o Sr. Doutor e é assim que eu cumpro.» Voltou-se então ao rigor de antes ou pior, proibindo de qualquer forma até que se me falasse de Jesus, julgando que com isso podia tirar o que anda dentro de nós. «Não consinto – dizia ele – que chame a sua irmã a não ser uma vez por noite.» A vigia, muitas vezes, como que a tentar-me, durante a noite, com carinho impostor (não quer dizer que ela seja impostora, mas era a impressão que me deixava): «Santinha, minha santinha – dizia-me – sempre nessa posição! Eu chamo, eu chamo a sua irmã.»

Deolinda, irmã da Beata Alexandrina, e Sãozinha, a professora

— «Muito obrigada, minha senhora, não quero. Manda o Senhor Doutor: é só uma vez que ela vem.»

E quando, de facto, a minha irmã vinha por sua vez dar-me o jeito na cama, segundo o médico permitira, a vigia acendia a luz, abria a porta e punha-se a par com a minha irmã. Logo que a irmã se retirava, fingindo compaixão e cuidados pelo frio que eu podia apanhar, descobria-me mais, para ver se alguma coisa me tivesse deixado debaixo da roupa.

Eu compreendia muito bem e abria os braços sobre as almofadas para ela ver melhor, fingindo não compreender. «Só por Vós, Jesus!»

Não faltaram as seduções para ver se eu tomava alguma coisa das suas comidas. Quando me mostravam os petiscos sem dizer nada, eu contentava-me com sorrir-lhes… E quando ofereciam a comida com palavras, eu agradecia: «Muito obrigada!», mas sempre a sorrir, mostrando não compreender a sua maldade.

Quantas vezes me foi tirada a roupa toda para ser examinada!

Quando me via só, e principalmente de noite, parecia-me que o tempo tinha duração da eternidade. Sentia que o meu coração fosse como uma árvore que enraizasse com as suas veias pelo soalho e pelas paredes e que a fúria de tanta tempestade as arrancava, ficava-me tudo por terra… e que todos e tudo me calcassem. A fúria da tempestade era tão grande que, por fim, sentia que quisesse arrancar essas veias e tudo caísse por terra. Dizendo isto, sinto de não dizer nada do que eu passei nesses dias… Tudo se me apresenta pavorosamente à minha memória. Que tormento! … Só o amor de Jesus pode vencer e a loucura das almas!

Sentindo aproximar-se o médico: «Lá vem o carrasco visitar a pobre encarcerada pelo amor de Jesus e das lamas. Não ofendi ninguém a não ser a Vós, meu Jesus, mas os homens querem que desta maneira e sem o pensarem eu pague assim as minhas ingratidões.»

Vendo a minha irmã desalentada que aparecia de vez em quando à bandeira da porta a perguntar se eu estava pior… procurava encorajá-la. Coitada! Ela ouvira a conversa do médico que o meu envenenamento era certo, por eu não evacuar. Coitados deles!... Jesus sabe fazer as coisas melhor do que os homens!

Na véspera da partida, fora o dia das visitas. Passaram ao pé de mim todas as criancinhas do Refúgio, a quem dei rebuçados e com quem rezei por todos o da casa.

A minha irmã sentia-se outra e todos o notaram. Fui visitada talvez por mil e quinhentas pessoas… Os polícias tiveram de intervir para manter a ordem. Achei muita graça a um dos polícias que, encarregado de manter a ordem, se limitou a pôr-se ao meu lado e ali ficou todo o tempo, contentando-se com dizer de vez em quando ao povo: «Passem! Passem!»

Que impressão, meu Deus, aquele burburinho do povo! Não valeram as súplicas da minha irmã para que acabassem com aquilo. Não valeram de nada os polícias. O mesmo médico teve de ir à janela a dizer que se devia acabar porque era impossível mais movimento para me não matarem. Quanta gente julgava que a própria doente tivesse morrido! Eu, de facto, fiquei humilhada, abismada e cansadíssima com o nojo de mim mesma pelos beijos recebidos, as lágrimas, etc. que me deixaram no rosto, a dizer-me uma estima que não mereço e não quero.

A primeira coisa que eu fiz foi pedir à minha irmã que me lavasse. No dia da partida, de manhã, o Médico, que não dormira quase nada, pela responsabilidade, chegou ao Refúgio onde muita gente esperava para poder visitar-me… e depois de estar um pouco comigo, deixou entrar algumas pessoas.

Foi então que nos disse que ficássemos à vontade e que a observação terminara; deixou a minha irmã comer ao pé de mim e disse-me: «No mês do Outubro terão lá, em Balasar, a minha visita, não como médico espião, mas como amigo que as estima.»

Beijei, reconhecida, a mão do Sr. Dr. de Araújo e agradeci reconhecida todos os cuidados que tiveram para comigo, e fiz isso com toda a sinceridade, pois sabia muito bem que, embora tivesse sido áspero para comigo, mostrou toda a seriedade com que devia ser tomado o meu caso.

Naquela tarde do dia 20 de Julho, foram as despedidas das religiosas e das vigias. Todas as vigias me fizeram oferta das suas prendas. Algumas delas vieram assistir à minha partida. Estava já dentro da auto-maca e foi uma despejar sobre mim um frasco de perfume. Trazia consigo um ramo de cravos, oferta de uma senhora, horas antes de eu me retirar. No decorrer da viagem, ofereceram-me dois ramos de flores. Recebi-as por delicadeza, apesar de não prever o resultado que vinha a dar, que havia de vir pouco depois a ser causa de maiores sofrimentos para mim. Penso que as pessoas que mas ofereceram era por saberem a estima e a loucura que eu tinha por elas. Só Jesus sabe quanto eu amo florinhas, porque amo o Autor delas. Quantas vezes as queridas florinhas me serviam para meditação – via nelas o poder, a bondade e o amor de Jesus! Nem o perfume, nem as flores, nem a multidão do povo que rodeava o nosso carro no decorrer da viagem foram motivo da mais pequenina vaidade para mim. Quando parámos para eu descansar e eu via tanto povo a aproximar-se de mim com tantas exclamações, eu dizia logo ao meu médico assistente, que vinha ao meu lado: «Vamos, vamos, Sr. Doutor!»

Por vezes, pensava que me tornava impertinente, mas ele tinha muita paciência comigo.

Durante a viagem, vivi mais dentro em mim do que fora. O mar, tudo o que se me apresentava aos meus olhos, convidavam-me ao silêncio, à vida íntima com Deus. Não tinha de que ter vaidade: tudo isso eram motivos para me humilhar e fazer pequenina até desaparecer. O que seria de mim se fosse julgada pelo mundo! Deitaram tanta malícia onde não havia nenhuma. Perdoai-lhes, Jesus! Não conhecem as Vossas coisas!

Comovi-me com as lágrimas das vigias e das pessoas. Foi preciso telefonar à polícia para conter o povo. E saí daquela bendita casa alegre por ter cumprido o meu dever e por regressar aos meus e ao meu querido quartinho, de que tivera tantas saudades. Quando cheguei ao meu quartinho, parecia mentira entrar nele. Houve lágrimas, mas desta vez muito diferentes: eram de alegria. Depois de estar na minha cama, por muito tempo, não pude consentir que me tocassem, soltava grandes gemidos com dores das mais dolorosas. Foi o efeito da viagem. Agora digo eu: Por quem me sacrifiquei assim? Seria isto também por vaidade? Ó mundo, ó pobre mundo! Vaidade, mas pelo quê? Que somos nós sem Deus? Quem seria capaz de sofrer tanto por uma grandeza e uma vaidade do mundo?

Quarenta dias passados na Foz: só Jesus sabe o que eu lá passei, quantos espinhos a ferirem-me, quantas setas cravadas em meu coração! Quantas humilhações, quantas humilhações!

Razão tinha o meu médico na minha ida para lá, ao colocar-me na testa um pano molhado, em dizer-me: «Tem por aqui uns cabelos brancos, mas quando vier ainda há-de ter muitos mais.» E, de facto, assim aconteceu: ele já adivinhava tudo o que me esperava. Mas é tão bom passarmos por tudo por amor de Jesus!

 

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