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AUTOBIOGRAFIA
XVII

ARGUMENTOS DO MÉDICO...

Ainda que eu vivesse até ao fim do mundo, nunca mais poderia esquecer a impressão que me causava o abrir e fechar das portas pelo médico, porque estava sempre à espera do que ele iria dizer. Sentia uma impressão tão grande que o meu coração estremecia e a minha alma mais triste se sentia. E quantas vezes dizia e repetia a Jesus: «Que esta noite sirva para dar luz a ele, às pessoas que me rodeiam e a todas as almas que se encontram nas trevas».

Nas conversas e interrogatórios, que várias vezes me fez, empregou o Sr. Doutor todos os meios possíveis, para me convencer a alimentar-me e fazer-me sentir que não devia fazer assim, porque Deus não gostava. Até pelos escrúpulos me quis levar. Mais, a enfermeira tentou muitas vezes levar-me pelo lado do coração; uma das vezes que falou comigo, até queria ver se conseguia tirar-me a fé. Serviu-se de quantos meios tinha ao seu alcance, e, com interrogatórios intermináveis e torturantes para me levar a desanimar, julgando que tudo isto, quanto se tem passado em mim, fosse influência humana e não de Deus. Se em todos os dias que era interrogada pelo médico me parecia ter diante de mim um lobo com pele de cordeiro, neste dia, pior ainda: parecia-me ver nele o próprio Satanás, com as suas artes, com seus sorrisos manhosos, a tentara tirar-me a fé e a persuadir-me que tudo era ilusão.

«Convença-se, a menina — dizia ele — que Deus não quer que sofra. Se quer salvar os outros, que os salve Ele, se é verdade que tem poder para isso! Se é verdade que Deus recompensa aqueles que sofrem, para si já não tem re­compensa para lhe dar, pelo que tem sofrido».

Mas, meu Deus, eu sei que Vós sois infinito, infinito no poder, infinito nos Vossos prémios.

Se fosse como ele diz, por quem sofro eu?

Acompanhava as suas palavras com um olhar maliciosos de demónio. (Assim me parecia.) Eu, então respondi-lhe:

«São tão grandes, tão grandes as coisas de Nosso Senhor, e nós somos tão pequeninos, tão pequeninos, ao menos eu!» Ficou-se; e depois, indignado, disse: «Tem razão; mas eu sou pessoa maior um bocado!» – e saiu.

«Quão longe estava o médico de conhecer esta lei do amor das almas! Se ele soubesse o valor duma alma, veria então que nada é demais tudo quanto façamos para as salvar.

Era uma chuva constante de humilhações e sacrifícios. Oh, se eu soubesse sofrer bem, quanto tinha que oferecer a Jesus! Estavam sempre a aparecer coisas novas que humilhavam e sacrificavam. Tinha aos pés da minha cama um retrato da pequenina Jacinta, que me mandaram para lá. Eu olhava-a com amor e, então, já sem temer que as vigias contassem ao médico, dizia assim: «Querida Jacinta, tu, tão pequenina, soubeste o que isto custa! Ajuda-me, lá do Céu onde estás.» Só o auxílio do Céu, só as orações de almas boas podiam ser a minha força, para subir tão doloroso calvário e suportar o peso de tão pesadíssima cruz!

Era interrogada pelo Sr. Dr. Gomes de Araújo todas as vezes que ele vinha junto de mim. Repetia frequentes vezes as mesmas perguntas e todas as vezes me deixava assustadíssima, dizendo quase sempre: «Temos muito que conversar.»

Logo que eu o via sair do quarto, respirava fundo e dizia para mim mesma: Graças a Deus que já estou livre de ti. Mas logo o pensamento que ele depressa voltava me deixava um sofrimento bem amargo.

Um dia, sentado ao meu lado direito, procurou todos os meios para convencer-me de que tudo isto que se passava eram ilusões minhas e então principiou com uns rodeios, muito ao longe, sobre a Medicina, falando num professor seu e num Colégio do Porto onde ele tinha gasto muitas horas de noite no seu estudo, não tinha dormido, e tinha escrito muitas páginas e convencido de que tinha acertado com o seu estudo, foi ao encontro do professor contar-lhe o resultado das suas lições. O professor dizia-lhe: «Tem a certeza do que diz?» E ele afirmava-lhe, uma e outra vez, que sim, por esta e por aquela forma. A conversa já ia longa e eu fitava-o como se nada compreendesse, e dizia para mim mesma: «Andas por tão longe, para vires cair tão perto!» Enquanto ele continuava dizendo: «Eu estava convencido que tinha feito um belo estudo; o professor deixou-me dizer tudo e depois disse-me: “Não vê que está enganado, que não pode ser nada disso, por esta e por aquela razão?” Eu fiquei: Meu Deus, tantas horas perdidas! Tantas horas de ilusões! Tudo caiu por terra!» — Eu, que já via há muito tempo aonde ele queria chegar, sorri-me e disse: «Não cai, Senhor Doutor. Tenho à minha frente um Director muito santo e muito sábio e estudou o caso por alguns anos. E, se a obra é de Deus, não há nada que a deite por terra».

Ele, um pouco embaraçado, disse-me: «Ai não!...» - fingindo com as suas palavras que não era isso o que ele queria dizer. Dada a minha resposta, depressa se retirou, e já era tempo.

Ai, meu Jesus, só convosco podia desabafar, só para Vós eram as minhas lágrimas. Cantava com o maior dos entusiasmos. Mas dentro em mim e até aos meus próprios olhos parecia-me não haver sol nem dia. Algumas vezes, durante a noite, lembrava-me: o que estará, agora, minha irmã a fazer? Estará a chorar? E lembrando-me que ela sofria tanto por minha causa, uma vez não pude conter as lágrimas. Chorei, chorei. Só receava que Jesus ficasse triste pelas minhas lágrimas. Mas Ele bem sabia que tudo queria e aceitava por Seu amor, com desejo imenso de lhe dar todas as almas. E oferecia-Lhe as minhas lágrimas como actos de amor para os sacrários. Quanta mais amargura, mais amor, não é, meu Jesus? Aceitai. Foi minha mãe visitar-me aos 16 dias e aos 30. Tinha tanta saudade dela! Estava tão pouquinho tempo junto de mim e sempre sob os olhares curiosos das espias! Ela chorava e eu fingia não ter coração: sorria-me e gracejava com ela, acariciava-a, e com o meu sorriso enganador escondia a amargura que me ia na alma, e retirava as lágrimas que teimavam deslizar-me nas faces. Animava-a e desabafava intimamente sozinha com o meu Jesus. Era a minha cruz, e quem não havia de levá-la por amor d’Aquele que morreu por mim?

Assim iam passando os dias nesta luta constante, alternados pela mudança das senhoras enfermeiras, que iam e vinham conforme a vontade do médico. Com algumas sofri imenso porque chegaram a ir além dos direitos que lhes competiam e dos deveres que tinham a cumprir. Ao aproximarem-se os dias que o médico tinha dito que nos iria pôr mais à vontade, visto estar convencido da verdade, deixando minha irmã passar mais algum tempo junto de mim e da vigia que desempenhava a sua missão, concedendo também, aos 29 dias, uma visita, embora de fugida, das irmãs franciscanas do Refúgio, pensávamos também mandar dizer aos meus o dia do regresso, mas, sem o esperarmos, deu-se o contrário.

Uma das vigias informou do que se passava, a meu respeito, um médico que não me conhecia nem conhecia o caso, o que levantou novas dúvidas.

Atreveu-se esse médico a dizer que não podia ser, que as vigias facilmente se deixavam enganar e que só acreditaria, mandando para lá enfermeiras da sua confiança.

O Sr. Dr. Araújo, um pouco indignado por não acreditarem na observação feita por ele, exigiu que o mesmo mandasse então uma pessoa da sua confiança. E escolheu uma irmã dele. Quando nós pensávamos ver suavizada a nossa dor, foi então que se nos pediu nova prova, mais triste e dolorosa.

O Sr. Dr. Araújo procurou convencer-nos de que era conveniente passar lá ainda dez dias, embora ele estivesse convencidíssimo da verdade, e, contra a vontade de minha irmã, ele insistiu que era preciso ficar para convencer o outro médico. Eu respondi-lhe: «Quem está trinta está quarenta». Assim é que ficou resolvido.

O Dr. Álvaro, na verdade, nem exigia tanto tempo, bastava-lhe só, para se convencer, que eu ficasse quarenta e oito horas sem comer e sem evacuar, e não exigia mais.

Foi o mesmo Dr. Araújo que, delicadamente, para honra do seu nome, convidou a senhora a ficar mais um dia, depois mais outro.

Mesmo depois de cumprida a sua missão, essa senhora voltou várias vezes a visitar-me, convencida enfim da verdade. Este último tempo foi um verdadeiro calvário e eu oferecia a Nosso Senhor e à Mãezinha este grande sacrifício. Dura prova, meu Deus!

 

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