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SENTIMENTOS DA ALMA
30 de Novembro de 1944

30 de Novembro

Passa um dia, passa um ano, passa outro e eu cada vez em mais sofrimentos. Não sei como se pode sofrer assim, como se pode resistir a tanto. Não quero dizer, nem posso dizer que sofro, pois não sou eu que sofro, é Jesus que sofre em mim. A minha alma morreu, mas sente a dor; sente-se rasgada, ferida e destruída. Morreu, não é minha, não sei para onde foi. Do meu corpo até as cinzas se apagaram e desapareceram, mas mesmo assim, sente que o coração está numa bolsa de espinhos, é um sedeiro [1] deles. O mundo esmaga essa bolsa a tal ponto que só ficam os espinhos. Nem coração, nem sangue, nem nada.

O sedeiro do qual fala a Beata Alexandrina

Ai, meu Deus, quanto custa esta separação da alma do corpo! Quanto custa não ter vida e sentir dor! Tudo foge de mim, não sinto a presença do Espírito Santo, não sinto amor a Jesus. De longe a longe tenho ânsias de O amar; são ânsias, é um amor que nasce para logo morrer. É um fogo que destrói amortecido, não se vê sinal de labaredas.

Ó dor que matas o amor! Ó dor, de quem és tu e por quem sofres?

Jesus, estou no cimo do Calvário, pregada na cruz.

Não cessa o meu pavor e o meu brado. Pobre de mim! Mas não é ouvido, é abafado pelo zunir dos ventos, pela fúria das tempestades que não cessam, continuam sempre. É abafado pelos gritos da humanidade que contra mim se revolta.

No alto da cruz não posso levantar os olhos para Vós, meu Jesus, tenho vergonha e parece-me não ser por Vós também ouvida. O peso das humilhações tudo abafa e esmaga. Sinto que perdi na terra toda a alegria e conforto. E do Céu, meu Jesus, sinto que nada recebo também. Quero confiar, meu Jesus, e confio, mas parece-me que da minha Pátria nada posso esperar.

Ontem ao receber-Vos, depois de pedir-Vos tantas coisas, ia a pedir-Vos também o alívio da minha dor; recordei-me a tempo: não pedi. Vós que me dais o sofrimento não podeis faltar-me com a força e graça precisa. Consolai-Vos, então, Jesus, consolai-Vos sempre.

Ó meu Deus, perdoai-me os meus desabafos. Num desânimo cheguei a pedir ao meu médico se podia fugir daqui para fora, para onde nunca mais se soubesse de mim.

Meu Jesus, não queria sair para fugir à dor, bem o sabeis, queria fugir para ficar esquecida, para não ser estorvo das almas, para as não trazer em desassossego, como alguém afirma.

Eu não peço vingança para os que me fazem sofrer, eu desejo para todos o que desejo para mim: a maior graça, o amor maior. Não são palavras saídas só dos meus lábios, saem-me do coração e da alma.

Sofro da parte dos homens, sofro da parte do demónio. Que violento combate!

Apareceu-me de noite na figura de bichos aterradores que eu desconheço. Apareceu-me também na figura duma serpente medonha, de boca aberta, a língua fora, rastejando pelo chão. Veio até perto de mim, ficou retirado talvez dois palmos de distância. A par comigo abriram-se barreiras fundíssimas, negras, assustadoras. De entre elas abriam-se também boqueirões de fogo, labaredas negras subiam a grande altura. No meio delas estavam muitos demónios atormentando as almas, dando-lhes maus tratos, que o maldito na mesma ocasião com suas manhas me dava a mim. Ele afirmava tocar-me, mas parece-me que posso jurar que não: eram só as suas manhas infernais.

Falo assim agora, mas no momento da luta parece-me ser verdade tudo quanto ele diz. Por obediência quis expulsá-lo, tinha licença do confessor para o fazer. Lembrar-me, bem me lembrei, mas fazê-lo não foi para mim (isto é, não fui capaz, não pude). Parecia-me que ele me obrigava a dizer: 

— Quero pecar, quero gozar.

Mostrando-me a luta das almas no inferno, dizia-me:

— É ali que estás condenada, é ali o teu lugar. Agora pecas com esta e com aquela pessoa.

Passado algum tempo, já nomeava outras pessoas, sempre no meio de nomes feios e palavras escandalosas.

Terminada a luta, já quando eu podia recorrer ao Céu, chamar por Jesus e pela Mãezinha e renovar a oferta de vítima e dizer “Não quero pecar, não quero pecar”, ele dançava, batia palmas e às gargalhadas dizia:

— Não queres pecar desde que já pecaste; desde que estás satisfeita é que recorres a Deus.

Eu sem lhe dar atenção repetia sempre “Não quero pecar!”

Disse-me Jesus:

— Não pecas, não, minha filha. Posso lá consentir ser ofendido por uma esposa minha? Alegra-te, não me ofendes, isto é a reparação que te peço. Diz que a quero, que necessito dela.

Com a voz de Jesus o demónio desapareceu e eu fiquei em paz, muito em paz.

Hoje vieram novos espinhos ferir-me. 

Ó meu Deus, quantos estragos deu a tempestade que me tendes feito sentir! Vi ao longe, vi tudo. Tanta maldade! Mas talvez sem querer, irreflectida.

A minha amargura chegou ao extremo: queria respirar, e não podia. Tanta calúnia, tanta perseguição, uma humilhação contínua. Voltada para o Sagrado Coração de Jesus, já não o via porque era noite e, se não fosse, talvez o não visse, com as lágrimas que me bailavam nos olhos e deslizavam pelas faces. Chorei, chorei, ao mesmo tempo que lhas oferecia, disse-Lhe:

— Ó meu Jesus, nunca, nunca procurei enganar criatura alguma, nunca me veio ao pensamento fazer o bem para lhes agradar ou passar por ser boa. Nunca me veio ao pensamento a tentação de enganar-Vos, meu Jesus. Sei que era impossível, mas bem sabeis que nunca tal me lembrei; não quero passar pelo que não sou. Por graça Vossa conheço a minha miséria, sou má por minha culpa, só por minha culpa, e por Vossa misericórdia confesso humildemente que o sou. Nunca veio ao meu pensamento servir-me de Vós para remediar os meus males ou os dos meus, a não ser implorar o Vosso auxílio e confiar sempre que tudo remediáveis.

Jesus, vede a agonia da minha alma. Estou em paz porque tudo o que Vos digo é verdade, bem o sabeis. É a Vós que hei-de dar contas e não ao mundo; a sentença dele só serve para fazer-me sofrer, mas não para condenar-me.

Se eu pudesse, meu Jesus, se eu pudesse descer da minha cama, passar a noite no chão do soalho duro para fazer penitência e implorar as Vossas divinas graças para todos aqueles que sofrem por minha causa! Se eu sofresse sozinha! Custa-me tanto sofrerem aqueles que me são tão queridos e a quem eu tanto devo pelo que têm feito por mim! Parece-me uma ingratidão, meu Jesus. Remediai Vós tudo isto e compadecei-Vos da minha dor; estou louca com ela, banhada em sangue, despedaçada.

Nestas horas de tanta angústia, posso dizê-lo, é bem verdade: venceis Vós, vence o Vosso amor. Por mim não podia, desesperava.

Já só com o pensamento pude rezar o Magnificat.

Tinha tanto que agradecer ao Senhor! Foram tantos e tão grandes os miminhos! Aceitei-os por Jesus e a Jesus os ofereci.

As almas, as almas têm que ser salvas. Quero dar ao meu Amado esta consolação.


[1] O instrumento de tratar o linho, com aqueles espinhos, cuja fotografia vai em anexo, é que é o sedeiro.

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