Primeiro sábado
Noite
de dor, noite de tristeza e trevas. Veio o demónio desempenhar o seu
papel infernal. A luta mais violenta durou nada menos duma hora.
Apareceu-me em forma de serpente medonha; era da grossura de
qualquer uma pessoa, coberta de escama, comprida e feia. Enrolava-se
de tal forma que parecia um monte
delas
e não uma só. Cheguei a assustar-me. Com as suas palavras feias,
gestos maus, calcava aos pés as cabeças das pessoas com quem ele diz
que eu peco. Fingia esmagar tudo.
—
Estás condenada ao inferno. Diz que queres o prazer, diz que queres
pecar. Ou desistes da tua oferta de vítima ou te esmago esse corpo e
engulo-te como se fosse um leão.
E
fazia tentativas para me chegar a engolir. Nos momentos mais
aflitivos foi que eu recorri ao Céu; atormentada com o susto de
pecar, chamei por Jesus aflitivamente.
O que
se passou, só em confissão o direi.
Como
Jesus vela e ampara quem não quer ofendê-lo!
Fiquei
libertada, apesar das ameaças serem do combate durar toda a noite.
Não sei se foi Jesus que o mandou retirar ou se foi ele que assim o
quis. Eu ouvia a afirmação que era eu que não queria por já estar
cansada.
Apesar da noite estar luminosa, eu fiquei na maior escuridão e num
tristeza de morte. Uma palavra ou outra a desabafar com o meu Jesus
e com a Mãezinha querida; pouco podia dizer-Lhes, a vergonha não me
deixava.
Meu
Deus, como posso eu amar-Vos e consolar-Vos desta forma? Ó Mãezinha,
ao primeiro sábado, que comunhão a minha! Passou-me pela ideia pedir
a Jesus que não me falasse.
Que
horror, que timidez eu tenho aos êxtases. Tive medo de com estes
pensamentos desgostar o meu Jesus.
Veio a
hora de eu comungar. Momentos depois principiou Ele a falar-me com a
sua costumada doçura e amor:
— Minha filha, pomba querida, branco lírio, açucena cândida e pura,
vem cá e escuta-me. O Esposo que ama e é fiel desabafa com a sua
esposa as suas dores e mágoas. Olha, Eu estou tão magoado, está tão
ferido o meu divino Coração! Os pecadores não cessam com os seus
crimes, cada vez me ofendem mais com as suas desonestidades e
impurezas. O gozo, a carne, a maldita carne.
E
pelos sacerdotes sou também tão ofendido! E há tantos que não me
ofendem na impureza, mas ofendem-me noutros pontos; dão tantos
estragos, escandalizam tanto!
Tem
coragem! Desagrava-me com as lutas do demónio. Dá-me, dá-Me esta
reparação.
Tem
coragem, anima-te, dá-Me tudo, sofre tudo. A tua pureza não se
mancha, a sua auréola e candura encantam a Majestade divina, alegram
o Céu.
Coragem, amada minha, não temas a guerra desarmada contra ti, não
temas porque estou contigo. Não temas porque é certo o triunfo da
minha divina causa.
Diz ao
teu Paizinho que lhe dou a afirmação do meu divino amor. Os homens
retiraram-no de ti, mas eu não o retirei; cada vez vos uno mais
dentro em meu divino Coração. Ele foi e será sempre o teu verdadeiro
director. Os meus breves são sempre assim; tudo neste mundo é breve
em comparação à eternidade. A afirmação das minhas divinas palavras
para que ele saiba que está na verdade, que as minhas promessas
hão-de cumprir-se. Que o criei para as almas, para ele se dar
inteiramente a elas.
Dá ao
teu médico novos agradecimentos. Diz-lhe que Me alegro ao ver a sua
firmeza na minha divina causa. São assim os amigos do Senhor,
combatem sem temor. Diz-lhe que ele em união comigo estamos a operar
milagres em ti conservando-te a tua vida aqui na terra.
Diz ao
teu querido P. Humberto que o trouxe aqui para defender a minha
divina causa; não foi ele que veio.
Coragem, e toda a firmeza!
E o
meu querido P. Alberto que seja assíduo a teu lado até que cesse a
perseguição e os maus juízos.
A dor
é filha do amor. É com dor e amor que dás a vida aos filhos meus. Só
esta dor e este amor podiam ser dados a uma vítima a quem foi dado
desempenhar na terra a mais alta e sublime missão.
Os
amigos da minha divina causa ostentam em suas mãos o pendão do
triunfo e do reinado divino.
Coragem, minha filha, é Jesus que te pede: coragem, coragem!
Assemelho-te a Mim. Eu também fui perseguido. Em todos os tempos a
minha Igreja e tudo aquilo que é meu foram perseguidos também. Como
não há-de ser perseguida agora a minha causa mais rica, a missão
mais dificílima?
Coragem, coragem, amada, amada! É a raiva de Satanás!
No
mesmo tempo veio para o meu lado direito a Mãezinha tomando-me para
os seus braços. Pediu-me coragem em nome do seu divino Filho.
— Anima-te, minha filha, anima-te, peço-te em nome do meu amor e do
teu e meu Jesus. Aceita, sofre tudo, consola o seu divino Coração
ferido com os pecados do mundo.
Olha,
filhinha, venho confirmar as palavras do meu divino Filho.
És
rainha dos pecadores, és rainha do mundo. Aceita o meu santíssimo
Manto, é teu, faz o meu lugar. Envolve nele, põe à tua volta os que
te são queridos e mais de perto partilham a tua dor. Os que
partilham dela e cuidam da causa do meu Jesus são queridos do teu
coração, do meu e do de meu bendito Filho. Aqueles que mais
associamos ao teu sofrimento são aqueles a quem mais de perto
queremos purificar. Coloca depois em volta todos os pecadores. Podes
cobrir com o meu Manto o mundo inteiro, chega para todos.
Aceita
a minha coroa, és coroada por mim: és rainha.
Meu
Deus, que vergonha a minha!
Como
eu era pequenina, mesquinha ao pé da Mãezinha! Que vergonha ao
sentir Ela colocar sobre os meus ombros o seu santíssimo Manto e
sobre a minha cabeça uma coroa de rainha que da sua santíssima
cabeça tirou para colocar na minha.
Mãezinha, Mãezinha, que vergonha tenho de Vós e de Jesus! Eu não sou
digna de tal. Oh, que miséria a minha !
—
Coragem, filhinha, não te envergonhes.
Estás
purificada pelo sofrimento e pelo Sangue do teu Jesus, que purificou
tudo; tens a alvura do arminho.
O
brilho da tua pureza e das tuas virtudes iluminam o mundo, irradia-o
o teu perfume.
Enche-te, recebe amor, é meu, é de Jesus.
O
amor, carinho e carícias que recebes de Nós atraem a ti as almas.
Dá
tudo em nosso nome aos que te são queridos.
Enche-te para salvares o mundo inteiro. Enche-te, é teu,
pertence-te, salva-o.
A
Mãezinha e Jesus inundaram-me de amor e depois das suas ternas
carícias retiram-se.
Fiquei
com mais vida e mais alegre.
À
medida que o tempo vai passando, a alegria foge, a vida vai
falhando. Contudo, grito e gritarei sempre:
— Amo
Jesus e a Mãezinha; quero o que Eles quiserem! |