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SENTIMENTOS DA ALMA
de 28 e 29 de Dezembro de 1944

28 de Dezembro de 1944

Sorrio à minha cruz, mas ó meu Deus, com quanta agonia de alma. Vejo o tempo da minha vida todo perdido. Parece-me que não vivi para Deus nem para as almas ; passei no mundo como se não passasse. Que contas darei ao meu Deus ? Anseio por sair deste exílio. E como hei-de aparecer diante do meu Jesus de mãos vazias ? Sinto que nada fiz por Ele nem para Ele. Estou mais gelada do que o gelo.

Depois da Sagrada Comunhão, ao sentir-me assim tão gelada, ao ver-me tão longe de Jesus apesar de O receber, a minha alma chora de tristeza e dor. Sou como um cadáver que nada sente, pois a dor que sinto não é minha, as lágrimas que choro minhas não são. O cadáver não ama nem sente o amor com que é amado. Ó morte, ó morte, que tremenda és. Que tristeza ! Morte do corpo e morte da alma. Por tudo sou esmagada, esmaga-me o peso das humilhações, esmaga-me o peso do abandono e desprezo, esmaga-se a dor angustiosa de guardar o mundo, de o não deixar cometer nem um só pecado, de fazer com que todo ele ame a Jesus com toda a graça e pureza. Esmaga-me o peso da ânsia sem fim de entrar no Céu com o Universo inteiro a entoar a Jesus um hino de louvor, um hino eterno. Ai meu Jesus, o que me espera ! Ouço ao longe a tempestade que se espalha ao largo e outra que se aproxima. A sua fúria vem ferir meu coração. Deixá-lo, deixá-lo sangrar. Tomai conta Jesus, tomai conta do sangue que dele correr, é sangue derramado por Vosso amor, é sangue que corre à procura das almas. Quero salvá-las todas, todas. Ó prova, dura prova, mas amada prova ; em ti vejo Jesus, em ti vejo a salvação das almas. Ai, tanto quero ver junto de mim os que me são mais queridos e tanto medo tenho deles. Estou sozinha, vivo sozinha. Ó meu Jesus, e quando me dais o meu Paizinho espiritual ? Quando realizais as Vossas divinas promessas ? Vivo da esperança e da confiança em Vós. Confio no Vosso amor e na Vossa misericórdia infinita. É quinta-feira, triste quinta-feira. Caminho morta para outra morte. Que medo, que pavor. É já noite. A minha alma apavorada fugiu para um ermo, quer-se sozinha ; está envergonhada fugiu para a solidão para aí chorar lágrimas de maior agonia. Oh ! quantos sofrimentos ela vê para ela e para o corpo, vê tudo, nada lhe é oculto. O demónio anda como os ladrões a formar os seus assaltos, atormenta-me se dó nem piedade. Nem posso pensar nas coisas que ele me diz, tão feias, tão criminosas, contra mim, contra pessoas da minha maior estima e contra Jesus que é o que mais me aflige. Afirma-me descaradamente que ofendo a Deus e nesse ponto perece-me ele falar verdade. Chama todos os demónios para virem pecar comigo e eles vêem com toda a manha infernal. Que triste e doloroso penar. Parece-me que chego a ir às portas da eternidade. Não sei como o coração não me abre o peito com tanta força que bate. Quando me parece morrer é que eu chamo mais facilmente por Jesus e pela Mãezinha : se não é com os lábios é com o coração e com o pensamento. Mas é ao terminar da luta, ao fim do perigo, pois antes o maldito raras vezes me deixa. Quem poderá acudir-me ? Que socorro posso esperar a não ser do Céu ? pobre de mim.

29 de Dezembro de 1944

Não desaparecem do mundo as sextas-feiras ! Ó meu Deus, corro para a morte e a morte para mim ! Que dor esta tão angustiosa ! A minha cabeça está dilacerada. O meu corpo com os maus tratos despedaçado ; é só sangue, é uma chaga viva. É tal a aflição e dor da minha alma que sinto e parece-me ver nela o desespero duma criatura. Por graça e grande misericórdia do Senhor não estou desesperada ; sinto o efeito da desesperação, mas estou calma e serena, sequiosa de mais dor, sequiosa de mais purificação e mais amor. Só com isto o mundo será salvo ; só com estas cadeias fortes o poderei prender. O sangue corre, a vida vai fugindo ; foge para dar a vida, vai louva a salvar o mundo Meu Jesus, dai-me a dor que eu tanto amo, dai-me a purificação que eu tanto desejo. Guardai-me em Vós e na Vossa e minha querida Mãezinha. Ouvi a minha alma num brado contínuo de agonia pela dor que sente e de ânsias de Vos entregar o mundo. Queria-o ver nas minhas mãos para vo-lo oferecer como o sacerdote vê em suas mãos a Sagrada Hóstia e a oferece ao Eterno Pai.

— Jesus, olhai para mim, vede as ânsias tão agoniosas e imolai-me como Vos aprouver para Vos dar amor e com ele a humanidade. Queria dizer-Vos muito, mas como nada sei, nada Vos digo.

No meio destas ânsias veio Jesus :

— “Minha filha, anjo da terra, flor mimosa, flor cândida do Paraíso. Vem minha filha recolher mais uma prova do meu esposório contigo, da minha união conjugal”.

Neste momento Jesus tomou a minha mão beijou-me e acariciou-me e estreitou-me docemente e Ele. Fiquei como que a nadar num mar de gozo, num mar de amor. Jesus continuou :

— “Recebe a efusão do meu amor divino, recebe-o porque é a tua vida e tu és a vida das almas. Coragem minha filha, mais um pouco, o teu Céu está perto, agora está perto. Em breve a tua alma desprendida da terra voará ao Céu como a pomba branca e pura voa ao seu ninho. O teu ninho é o Céu junto do trono da Majestade divina ao lado da minha bendita Mãe. Voa a rainha da terra para o seu esposo celeste, para junto do Rei do Céu. É junto a Mim, minha filha, que tu vais continuar a vigiar, a governar o teu reinado na terra. Não fica nela herdeiro da tua coroa nem do teu reinado. A ti entreguei o reinado do mundo, do Céu governarás. Quanto te deve o mundo por e que por ele tens feito e por Eu o ter guardado no cofre riquíssimo do teu coração. És um mar de dor, és um mar de amor. Estás transformada no infinito, tens sobre as almas poder infinito. Quanto te é devedora a humanidade, quanto te é devedor Portugal. O mundo devia estar destruído. Foi para evitar males maiores que permiti haver ainda os males presentes. Pede, pede de novo muita oração e penitência. Coragem, minha querida jardineira, jardineira do jardim celeste, agricultora divina. Semeia, colhe para Jesus. Semeia graça, semeia pureza, semeia amor. O amor é a mais bela flor. Quem ama é puro, não ofende O seu Amado. Quem ama sofre por amor. Ó filhinha amada, a tua dor tem sido a salvação das almas, guia e amparo dos pecadores. Escuta, filhinha, escuta os anjos a entoarem-me louvores e um Te Deum de acção de graças pela vítima que escolhi, pela redentora que ao mundo dei. Todo o Céu vê a glória que me deste, todo o Céu vê o valor da tua dor. Escuta, escuta as vozes celestes. Este louvor é ao terminar o ano. Este louvor é dado em teu nome e em nome dos que sofrem contigo, dos que cuidam de ti e da minha causa divina. Dá a todos o meu agradecimento divino. Olha o que te digo na última sexta-feira deste ano, na última que te falo e renovo a tua crucifixão : não te enganas, nunca te enganaste. Anima-te, tem coragem para a luta. Antes da tua morte todas as minhas divinas promessas serão compridas. O esposo que ama a sua esposa não a engana nem a deixa enganar”.

Quando Jesus me mandou escutar ouvi as vozes celestes dos anjos, vozes tão harmoniosas que arrebatavam a alma ao Céu. Só a alma podia ouvir, só ela podia gozar. Jesus disse-me :

— “É neste arrebatamento, num êxtase de amor saído por entre a dor que voarás ao Céu”.

— Obrigada, meu Jesus, abençoai esta pobrezinha que tão miserável e pequenina à vista da Vossa grandeza desaparece. Dai-me força, dai-me amor.

31 de Dezembro de 1944

Quase todos os dias ora dum lado ora do outro vêm espinhos, por vezes bem agudos, cravarem-se em meu coração. Recebo-os sempre com alegria embora com custo : manda-os Jesus ; sejam bem-vindos ; são mimos do Senhor. São mimos que ferem ! Também eu, por minha miséria, cravo em Jesus espinhos muito mais dolorosos e Ele é inocente eu não sou. Estes pensamentos animam, dão-me coragem para abraçar por amor tudo o que de Jesus vem. Que vida tão dolorosa a minha ! Meu Deus, como são variados os sofrimentos que me dais ! Passo horas do dia e da noite em ânsias dolorosas de guardar o mundo. Jesus modificou agora estas ânsias. Umas horas quero gradá-lo, mas é como se fosse obrigada. Não sei pelo quê, não sei o que é : quero prendê-lo e não sei de onde me vem a força para o fazer, não é por mim, alguma coisa me obriga ; parece-me ser o amor que se sujeita a prendê-lo. Ao mesmo tempo faço-o com repugnância, parece-me que ele era digno de esquecimento e desprezo. Vêm outras horas que tenho tanta pena de sentir pelo mundo a repugnância e o aborrecimento e avivam-se em mim vivos desejos de o conquistar e de o possuir, enlouqueço-me tanto de amor por ele que me faz lembrar um pai a quem lhe fugiu o filho e voltando a casa o pai em vez de o castigar abraça-o e cobre-o de carícias. Eu louca de alegria a querer abraçar toda a humanidade chego a exclamar “Ó mundo, estou louca de ti ; ó como eu te quero, como eu te amo. Em ti vejo Jesus”.

Tantas coisas queria dizer destas ânsias que me consomem. Como pode ser isto, amar o mundo, aborrecer o mundo, querer possuí-lo se eu quero deixá-lo.

— Ó meu Deus, ó meu Jesus, ponde em mim os Vossos olhares, ampara-me, assim vencerei !

Durante a noite fui assaltada, mas assaltada tormentosamente. Já durante a tarde a minha alma sentia que ele andava a rodear-me. De longe a longe ouvia dele palavras de ameaça. Veio então não sei a que hora nem o tempo que ele demorou. Sei que foi muito. Convidou o inferno para vir atormentar-me. Dizia-me o que há de feio, feio e horroroso. Durante a luta passei por vários abismos ; uns mais espaçosos, outros mais fundos. Mas apesar de muito feios ainda sobressaiam neles uns raiozinhos de luz. O último foi o mais aterrador ; fantasmas negros o rodeavam. Eram tantos, tantos demónios, mais negros que o carvão, em várias formas e caras tão feias. E eu prestes a cair neles. Parecia-me perder a vida, o coração batia aflitivamente. O suor banhava-me o corpo. O maldito afirmava-me pecar e que gostava de pecar. A hora era grave. Meu Deus, que tanto perigo. Pelos meus lábios saíam zunidos como tempestade furiosa. Eu mesma dizia coisas. Ai que raiva a do maldito. Ouvia o ranger dos dentes e querer-me estrancinhar. Só então eu repetia :

— Ó Jesus, ó Mãezinha, ó Mãezinha, valei-me, sou a Vossa vítima, sou a Vossa escrava. Ouvi então Jesus :

— “Desempenha ó anjo do Céu a missão que te confiei. Toma em tuas mãos a minha esposa querida, o meu anjo em carne, leva-a, coloca-a no seu lugar. Não pecaste, minha filha, convence-te, não pecaste. São altos os juízos divinos. Escolhi-te para reparares por todos os pecados. Se não fosse a tua reparação quantas almas se perderiam. As que caíssem neste último abismo nunca mais de lá saiam. São os que preferem o pecado Deus ; pecam com toda a malícia, com todo o conhecimento. Antes querem o prazer do que possuir a Deus. Eis a razão porque não querias nas tuas mãos o terço”.

Por um acaso, quando principiou a luta possuía nas mãos o terço da Mãezinha. Durante o combate não o quis, arrumei-o. Continuou Jesus :

— “Os abismos que ainda possuíam luz são aquelas almas que pecam por fraqueza, mas temem o pecado, querem vencer-se. Em ti vence o amor, a tua loucura por elas. Não pecaste, anima-te, minha pomba bela”.

Terminado isto, estava já na minha posição, confiei em Nosso Senhor, mas fiquei muito dorida do que se tinha passado. Sempre a causa do meu sofrimento é o medo de pecar.

Logo que pude, cedo ainda, principiei as orações da manhã. Sentia que Jesus não me ouvia palavra, mal as pronunciava logo morriam. Via todos os sofrimentos passados durante o ano sem nenhuns me pertencerem nem nenhumas orações, se me pertenceram, mal nasceram morreram. Estava a terminar o ano e eu sem nada ter que dar a Jesus. Principiei a ver de tal forma a minha miséria, o meu nada ! Recordava o meu Pai espiritual prisioneiro e a sofrer tanto por minha causa ! Pensava em todas as luzes que me foram tiradas e que tanta falta me fizeram para me guiarem e aproximarem de Jesus. Pensava no meu médico assistente e pessoas queridas que tantos cuidados, carinhos e amor me têm dispensado. E eu assim, tão nada e miserável ! Não pude resistir, principiei a chorar.

— Ó meu Jesus, ai, tantos cuidados e passos perdidos por minha causa ! Ai, o que eu sou e a quem eles pensam fazer as coisas. Recompensai-os, meu Deus, enchei-os de Vós, do Vosso amor.

Foi um dia cheio de amargura. Recebi alguns mimos que me deram alegria. Quando a alma principiava a senti-la, a saboreá-la, logo vinha Jesus com um corte separar tudo. Faça-se a Vossa vontade, ó meu Amor, por Vosso amor.

À meia noite agradeci a Jesus todos os benefícios recebidos durante o ano e tudo o que me tinha feito sofrer. Pedi para que rezassem comigo um “Te Deum” em acção de graças. Terminado ele, acrescentei :

— Obrigada por tudo, meu Jesus, por toda a dor e por toda a alegria. Perdoai as minhas ingratidões para convosco. Que me espera agora no novo ano ? Mandai-me o que quiserdes, Jesus, que tudo aceito, mas não me falteis com a graça precisa e dai-me todo o Vosso amor.

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