13 de Fevereiro de 1945
Que
hei-de eu dizer da minha dor? Nada em comparação do que sinto.
Ó meu
Deus, que dias tão cheios de dores, tristezas e amarguras! Oh,
quanto eu tive de oferecer a Jesus! Oh, se eu Lhe soubesse oferecer
tudo quanto magoou o meu coração, o meu corpo e a minha alma!
Pobre
de mim, não sei falar ao meu Amado, ao meu tudo!
Ai,
quem me dera que estes dias fossem cheios de amor a Jesus, como
foram cheios de grande martírio! Que miséria a minha, eu não O sei
amar. Sinto que é Ele a minha loucura em tudo e acima de tudo; sinto
que tudo o que faço é por Ele e para Ele. Sinto que todo o amor que
dedico a todos os que me são queridos nada é em comparação daquele
com que desejo amar o meu Jesus. E não tenho nisto consolação
alguma. Não tenho gosto em nada do que sofro e Lhe ofereço, nada é
meu, nada vejo em mim a não ser os maiores horrores de miséria.
Ó
Jesus, ó Mãezinha, como nada mais tenho para oferecer-Vos, aceitai
esta minha miséria, fazei que ela sirva de honra e consolação para
Vós e proveito para as almas.
Ando
louquinha à volta do mundo, numa canseira incessável, levo comigo
fortes cadeias, quero cercá-lo, quero prendê-lo nessas cadeias.
Quero o mundo todo num molhinho, no meio dele, Jesus e a Mãezinha.
Ó meu
Deus, se eu conseguisse não deixar sair deste molhinho nenhuma alma!
Se o fogo de Jesus e da Mãezinha incendiasse todos os corações deste
molhinho, que bendiria eu por toda a eternidade todos os meus
sofrimentos! A chuva orvalhosa continua a cair sobre a humanidade.
Jesus,
Jesus, fazei que seja chuva de amor, chuva de salvação. Não digo
nada do que me vai na alma, não digo nada das aspirações que sinto.
Se eu
deixasse o mundo preso e pudesse ir para o Limbo baptizar as almas!
E se, depois disso, pudesse ir ao Inferno arrancar para Vós as que
lá estão!
Meu
Deus, não sei o que hei-de fazer. Jesus, resisti Vós à minha dor.
Vede o meu coração e a minha alma a rasgarem-se continuamente com
esta amargura. É por Vós, é pelas almas.
Jesus
disse-me que o demónio viria em algumas noites com dois ataques e
logo na primeira noite ele não faltou: foram dolorosos.
Atormentou-me tanto e por tanto tempo! Vi o Inferno e nele uma chuva
de almas. E tantos demónios: não tinham conta.
Dizia-me coisas tão feias, um que era o senhor deles todos. Sentado
numa bancada de delícias, como ele lhe chamava, dizia as palavras
mais feias e maliciosas.
Tanto
queria recorrer ao Céu e só tarde o consegui fazer. Ele dava-me a
afirmação de me levar ao prazer, ao pecado, à ofensa a Deus. O
primeiro ataque ofereci-o a Jesus em honra da chaga do Seu
santíssimo ombro e para reparar pelo sacerdote, como Jesus me pediu.
Quando eu dizia a Jesus que era pelo sacerdote, então é que o
demónio se enraivecia contra mim. Senti a dor, dor mortal, que já
expliquei. Sem poder resistir a ela, disse:
Morro,
morro, Jesus. Se morrer, morro contente, morro vítima do Vosso amor,
morro vítima daquela alma.
Ao
dizer isto, uma aragem passou por mim, colocou-me nas minhas
almofadas. Horas depois, ofereci o segundo combate em honra das
cinco chagas de Jesus por uma das outras almas. Quando me parecia
estar sem vida, num cansaço indizível, ouvi Jesus dizer:
— Anjo
bendito, suaviza a dor da minha esposa querida, coloca-a no seu
lugar. És, à minha ordem, o seu enfermeiro celeste.
Fiquei
libertada das artes manhosas de Satanás e direitinha sobre as minhas
almofadas. Não sinto mãos, mas sim um enlevo fofo, uma frescura
suave.
Fiquei
em tanta amargura, na tristeza mais profunda. Se houvesse um lugar
onde eu pudesse esconder-me de Jesus, fugiria para lá. Ó meu Deus,
que vergonha! E quando Jesus veio para eu O receber!... Ansiava pela
Sua vinda, mas queria fugir e desaparecer-Lhe; não era digna de O
receber em meu coração.
Já
ofereci mais três combates a Jesus, pois só Lhe ofereço os mais
dolorosos. O maldito aparece-me em formas de bichos e feras tão
desconhecidas! É horroroso vê-los à minha frente. Um em forma de
crocodilo, só mais alto do que eles; tinha uns poucos de metros de
comprido. E o Inferno com umas cabanas tão feias, tão medonhas!
Fogo, um fogo tão escuro e atormentador. Por entre ele tantos cornos
de demónios a sobressair. Ele dizia-me coisas tão feias. Que
vergonha ao eu ouvi-las e que medo de as ouvir. No auge da minha
aflição, bradei por Jesus, porque a dor atormentadora tirava-me a
vida.
Morro,
morro, Jesus, e não quero pecar.
O meu
coração dava estalos estrondosos, só a morte podia causar tão grande
sofrimento. Ao meu brado de agonia, veio Jesus.
— Não
pecas, não morres, minha esposa amada. A morte que sentes não é
real, a tua morte dá a vida, vida de pureza, vida de amor. Se
soubesses o valor desta reparação!... Levanta-te, toma o teu lugar,
sou o teu Jesus, tenho poder para o fazer, assim como tive poder
para mandar levantar e caminhar os mortos.
Já nas
minhas almofadas, Ele estreitou-me ao Seu Divino Coração,
acariciou-me e beijou-me.
— Se o
mundo conhecesse, minha filha, o que é a vida do amor divino!
Dito
isto, senti-me sozinha, confortada, sim, e só em ânsias de consolar
o meu Jesus, mas logo mergulhada num mar imenso de dor. De vez em
quando a receber espinhos, que vêm cercar o meu coração, e
continuamente a ser esmagada por desgostos e humilhações.
Esperava receber um pouquinho de alegria, não por mim, mas por ver
os meus contentes. Jesus não o permitiu, tirou-me a ocasião dessa
alegria, desse bocadinho de consolação que eu queria sentir. Ao ver
que Jesus me tirava tudo, não tive outras palavras a não ser repetir
muitas vezes:
Bendito
seja o Senhor, a Sua santíssima vontade se faça. Ó meu Jesus,
aceitai a consolação e alegria que eu poderia sentir, seja ela
consolação e alegria para Vós. Aceitai a alegria e aquele regozijo
que eu poderia ver entre os que me são queridos. Seja tudo pela
salvação das almas.
Ontem,
depois das três horas ou mais que passei a falar das coisas de Jesus
com uma alma arredada d’Ele há muitos anos e que nunca conheci a
frequentar a igreja, fiquei banhada em suor e cansada, sem poder
mover meus lábios para dizer palavra. Mas este meu esforço não ficou
sem recompensa. Jesus permitiu que eu sentisse por algum tempo
alegria em meu coração. Essa alma deu-me sinais de arrependimento e
prometeu-me esforçar-se por em breve mudar de vida. Parece-me bem
que, dentro de breves dias, ela vai ser arrancada das garras de
Satanás.
Ai, se
eu visse assim nestas disposições todas as que estão arredadas de
Jesus! Quero sofrer, quero sofrer, quero salvá-las. Amo-as, são de
Jesus. |