 |
Pontos de reflexão
Introdução
A liturgia deste domingo apresenta um apelo veemente à vigilância. O
cristão não deve instalar-se no comodismo, na passividade, no
desleixo, na rotina; mas deve caminhar, sempre atento e sempre
vigilante, preparado para acolher o Senhor que vem e para responder
aos seus desafios.
PRIMEIRA
LEITURA – (Is 2,1-5)
A primeira leitura convida os homens – todos os homens, de todas as
raças e nações – a dirigirem-se à montanha onde reside o Senhor… É
do encontro com o Senhor e com a sua Palavra que resultará um mundo
de concórdia, de harmonia, de paz sem fim.
O nosso oráculo é o poema da paz universal e da convergência de
todos os povos à volta de Deus.
Na visão do profeta, o “monte do Senhor” (o monte do Templo)
eleva-se e transforma-se no centro do mundo, sobressaindo entre
todos os montes, não por ser o mais alto, mas por ser a morada de
Jahwéh (vers. 2a.b). De todas as partes do mundo vêem-se convergir
caravanas de povos e de nações que avançam, confluem e sobem
montanha acima, ao encontro do Senhor (vers. 2c-3a)… Quem foi que os
convocou, que força os atrai?
A resposta está no próprio cântico que acompanha a caminhada de toda
esta gente: a Palavra salvadora e libertadora de Jahwéh atrai e
agarra todos os povos que percor-rem os caminhos do mundo, lança-os
num movimento único e universal, reúne-os à volta de Deus.
À medida que todos se juntam à volta de Deus, escutam a sua Palavra
e aprendem os seus caminhos, as divisões, as hostilidades, os
conflitos da humanidade vão-se desva-necendo.
Este quadro é o reverso de Babel… Na história da torre de Babel (cf.
Gn 11,1-9), os ho-mens escolheram o confronto com Deus, o orgulho e
a auto-suficiência; e isso conduziu à divisão, ao conflito, à
confusão, à falta de entendimento, à dispersão… Agora, os homens
escolheram escutar Deus e seguir os caminhos indicados por Ele; o
resultado é a reunião de todos os povos, o entendimento, a harmonia,
o progresso, a paz universal.
Quando se realizará esta profecia?
SEGUNDA LEITURA – (Rom
13,11-14)
A segunda leitura recomenda aos crentes que despertem da letargia
que os mantém presos ao mundo das trevas (o mundo do egoísmo, da
injustiça, da mentira, do peca-do), que se vistam da luz (a vida de
Deus, que Cristo ofereceu a todos) e que cami-nhem, com alegria e
esperança, ao encontro de Jesus, ao encontro da salvação.
Referindo-se à “hora” que os cristãos estão a viver, Paulo pede-lhes
que se levantem “do sono, porque a salvação está mais perto”. Ao
dizer que a salvação está perto, o que é que Paulo está a sugerir?
Paulo pensava, certamente, na vinda mais ou menos iminente de Jesus
Cristo, a fim de concluir a história da salvação; no entanto, a
ausência de especulações apoca-lípticas mostra claramente que o
interesse de Paulo não é no “quando” e no “como”, mas no significado
e nas consequências dessa vinda. O facto que aqui interessa é,
portanto, que os cristãos estão a viver os “últimos tempos” (que
começaram quando Jesus deixou o mundo e encarregou os discípulos de
serem testemunhas da salvação diante dos homens) antes da vinda de
Jesus…
Fundamentalmente, há aqui um convite a que os crentes vivam este
“tempo” como um tempo último e definitivo, que tem de ser um tempo
de caminhada ao encontro de Jesus Cristo e ao encontro da salvação.
EVANGELHO SEGUNDO S.
MATEAUS – (Mt 24,37-44)
O Evangelho apela à vigilância. O crente ideal não vive mergulhado
nos prazeres que alienam, nem se deixa sufocar pelo trabalho
excessivo, nem adormece numa passividade que lhe rouba as
oportunidades; o crente ideal está, em cada minuto que passa, atento
e vigilante, acolhendo o Senhor que vem, respondendo aos seus
desa-fios, cumprindo o seu papel, empenhando-se na construção do
“Reino”.
A vinda do “Filho do homem” é um facto certo, ainda que não aconteça
em breve; enquanto não chega o momento, é preciso preparar este
grande acontecimento, viven-do de acordo com os ensinamentos de
Jesus.
O Evangelho que nos é proposto apresenta alguns dos motivos que
impedem o homem de “acolher o Senhor que vem”… Fala da opção por
“gozar a vida”, sem ter tempo nem espaço para compromissos sérios
(quanta gente, ao domingo, tem todo o tempo do mundo para dormir até
ao meio dia, mas não para celebrar a fé com a sua comunidade
cristã); fala do viver obcecado com o trabalho, esquecendo tudo o
mais (quanta gente trabalha quinze horas por dia e esquece que tem
uma família e que os filhos precisam de amor); fala do adormecer, do
instalar-se, não prestando atenção às realidades mais essenciais
(quanta gente encolhe os ombros diante do sofrimento dos irmãos e
diz que não tem nada com isso: é o governo ou o Papa que têm que
resolver a situação)… E eu: o que é que na minha vida me distrai do
essencial e me impede, tantas vezes, de estar atento ao Senhor que
vem? |