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PONTOS DE REFLEXÃO
1ª Leitura. Is. 40,1-5.9-11
A comovedora leitura de Isaías forma parte de uma profecia
proclamada em tempos de regresso do povo de Deus do exílio
para a sua pátria.
A mensagem central é a vinda de Deus : “Eis o vosso Deus”
(v.10). Só o Senhor sabe verdadeiramente consolar; e fá-lo
com duas atitudes: a primeira, com a sua autoridade mudando
a sorte dos seu povo, acabando com a escravidão. (v.2); a
segunda, apresentando-Se como o Pastor que conduz o seu
povo: “tomará os cordeiros em seus braços, conduzirá as
ovelhas ao seu descanso”.(v.11).
Só Deus pode consolar, mas os homens devem ser porta-vozes e
mensageiros da consolação: “consolai, consolai o meu
povo…Falai ao coração de Jerusalém”. (v.1-2); os que
partilham da consolação de Deus devem partilhar a Sua paixão
pelo Seu povo e serem capazes de falar ao coração.
A consolação não exclui o trabalho do homem: Por isso a
exortação: “Preparai no deserto o caminho do Senhor” (v.3);
literalmente temos que entendê-lo como o caminho que leva o
povo do exílio à terra de Jerusalém; mas a exortação tem um
sentido mais profundo: abrir o coração do homem a Deus
que vem mediante um movimento de conversão.
2ª Leitura: 2 Pe. 3,8-14
As palavras de S. Pedro , na leitura de hoje, estão
relacionadas com um problema concreto da comunidade cristã
criado por alguém que começou a perturbar a fé dos crentes
ao pôr em dúvida a promessa da vinda do Senhor dizendo: “
Onde está a promessa da Sua vinda gloriosa?” (2 Pe. 3,4). A
objecção vai mais longe questionando a autenticidade da
Palavra de Deus, que parece não mudar a história humana: “
já morreram os nossos pais e está tudo igual como no
princípio do mundo” (2 Pe. 3,4). A primeira resposta é uma
citação do Sal. 90,4: “Para o Senhor, um dia é como mil
anos”; a espera da vinda de Jesus não é uma questão de
quantidade, de dias ou séculos, mas da qualidade do tempo
concedido a cada um. Deste tempo de vista de Deus, o tempo
humano não é a soma dos dias da sua vida, mas sim o tempo de
graça que Deus concede a cada homem para sua conversão.
Do mesmo modo, também as imagens cosmológicas que seguem :
“os céus se dissolverão em chamas e os elementos se fundirão
no ardor do fogo”… (vv 10-11), mais do que descrever com
antecipação e literalmente o que sucederá à terra, querem
afirmar que Deus aniquilará a maldade deste mundo, que o
renovará até às suas raízes e se criará uma nova situação na
terra.
Evangelho. Mac. 1,1-8
Para Marcos o evangelho de Jesus, que é Cristo e Filho
(v.1), não começa de imediato com a vinda de Jesus, mas com
a sua preparação. Neste tempo de preparação são de salientar
três elementos, o primeiro dos quais é a Sagrada Escritura
(vv. 2-3), já que o evangelho de Jesus lhes dará uma
realização concreta e o evangelho somente se poderá
compreender autenticamente meditando incessantemente as
páginas das quais Deus já tinha falado. As palavras que
relata Marcos citando Isaías, aludem a um caminho que há que
preparar: o caminho de Deus para o seu povo e do povo
para Deus.
Passa de seguida ao segundo elemento: o envio de um profeta,
o Batista, capaz de indicar à humanidade o caminho do
deserto, lugar onde Deus oferece a possibilidade de uma
autêntica conversão (vv.4.7-8). Segundo Marcos, o Batista
não insiste tanto na pregação moral como, sobretudo, na
necessidade de esperar a “outro”, um que deve vir da parte
de Deus.
O terceiro elemento é o mesmo povo que, pela pregação de
João, faz uma caminhada de penitência pelo deserto, como o
povo do êxodo (v.5). Por conseguinte, está a nascer um povo
novo, ainda que se exija uma condição: que o homem se
ponha a caminho, saia e se dirija a João Batista para
acolher a mensagem de conversão.
José Granja |