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PONTOS DE REFLEXÃO
I LEITURA Sf 3,14-18ª
Já
perto do final do livro de Sofonias, que profetizou durante o
reinado de Josias (640-609 a. C), encontramos este convite à alegria
dirigido à cidade de Jerusalém. O Senhor confirma a Sua presença no
meio da Sua cidade, ao passo que os inimigos foram dispersos. JHWH
que realiza a vingança pelo Seu povo é depois apresentado de um modo
muito humano: exulta com a sua cidade e prorrompe Ele mesmo em
gritos de alegria.
Os dois
pequenos salmos reunidos na leitura (vv 14-15 e 16-18) estão
colocados quase no final do Livro de Sofonias. Cantam a realeza do
Senhor e podem comparar-se aos cânticos de Sião. Jerusalém está de
facto, no centro das atenções: o profeta convida a celebrar a
alegria e júbilo pelo facto de o Senhor estar presente. A presença
de JHWH é descrita, além disso, como uma força capaz de defender e
salvar Jerusalém, e de a renovar com o seu amor, tal como narram os
salmos 45 e 47. No versículo 17b a menção da alegria que deriva do
amor do Senhor relembra os textos proféticos (Is 7,4;41,10;54,4ss;
Jr 30,10-11).
O
convite a “não temer” é mais uma garantia sobre o valor positivo da
presença de JHWH, que será fonte de alegria para a cidade. Não só: o
próprio Deus encontrará no destino mudado e feliz de Jerusalém o
motivo da sua própria alegria.
II LEITURA Fl 4,4-7
Enquanto a Carta caminha para o seu final, o autor exorta os seus
destinatários a cultivarem a alegria e a paz, uma paz que ultrapassa
todas as possibilidades da compreensão humana. Com palavras
angustiadas e cheias de compaixão, Paulo convida os filipenses a não
se inquietarem com coisa alguma, a confiarem no apoio e na companhia
do Senhor. Nada pode já perturbar o coração dos crentes, pois “o
Senhor está próximo”
Mediante repetidas fórmulas de exortação, Paulo dirige-se aos
filipenses, pedindo-lhes que estejam serenos e abertos ao amor do
Senhor, que livra de todas as angústias. Desta serenidade, fundada
sobre a confiança em Deus, poderá nascer a afabilidade dos cristãos
para com todos os homens. Esta é uma característica descrita também
no Livro dos Atos dos Apóstolos a propósito da comunidade primitiva
que gozava da simpatia de todo o povo.
A
expressão do versículo 5 : “O Senhor está próximo” ( em aramaico
Maraná-tha) era uma antiga aclamação litúrgica que pode ser
entendida também como uma invocação. “Vem, Senhor”! O dom da
proximidade de Deus será a paz, o maior dos bens, cujo valor
ultrapassa todas as possibilidades de intuição e de conhecimento da
parte do homem.
EVANGELHO Lc 3,10-18.
O texto
litúrgico pertence à secção que Lucas consagra à pregação de João
Batista. A perícope divide-se em duas partes: os ensinamentos de
João Batista às multidões, aos publicanos e aos soldados, de
carácter moral, e o seu anúncio a respeito de Cristo. Entre estes
dois tipos de ensinamentos existe uma relação hierárquica: os
conselhos morais são os mais elementares e regulam a conduta justa e
honesta; as indicações sobre Cristo constituem, pelo contrário, uma
autêntica bússola para todos os que vão ter com João Batista; estes
devem dirigir-se a um e outro e não a João para encontrarem O
Messias tão esperado.
A primeira parte do Evangelho
de hoje (vers. 10-14) é uma secção própria de Lucas. Pôr as pessoas
as perguntar “o que devemos fazer” é habitual em Lucas (cf. Act
2,37; 16,30; 22,10): sugere uma abertura à proposta de salvação que
vem de Deus. João Baptista propõe, então, três atitudes concretas
para quem quer fazer a experiência de conversão e de encontro com o
Senhor que vem: ao povo em geral, João Baptista recomenda a
sensibilidade às necessidades de quem nada tem e a partilha dos
bens; aos publicanos, pede que não explorem, que não se deixem
convencer por esquemas de enriquecimento ilícito, que não despojem
ilegalmente os mais pobres; aos soldados, pede que não usem de
violência, que não abusem do seu poder contra fracos e indefesos…
Repare-se como João Baptista põe em relevo os “crimes contra o
irmão”: tudo aquilo que atenta contra a vida de um só homem é um
crime contra Deus; quem o comete, está a fechar o seu coração e a
sua vida à proposta libertadora que Cristo veio trazer.Na segunda
parte do Evangelho (vers. 15-18), João Baptista anuncia a chegada do
baptismo no Espírito Santo, contraposto ao baptismo “na água” de
João. O baptismo de João é, apenas, uma proposta de conversão; mas o
baptismo de Jesus consiste em receber essa vida de Deus que actua no
coração do homem, transforma o homem velho em homem novo, faz do
homem egoísta e fechado em si um homem novo, capaz de partilhar a
vida e amar como Jesus. Faz-se, aqui, referência a essa
transformação que Cristo operará no coração de todos os que estão
dispostos a acolher a sua proposta de libertação: começará, para
eles, uma nova vida, uma vida purificada (fogo), uma vida de onde o
pecado e o egoísmo foram eliminados, uma vida segundo Deus. Para
Lucas, este anúncio do profeta João concretizar-se-á plenamente no
dia de Pentecostes.
Padre José Granja,
beneditino |