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PONTOS DE REFLEXÃO
I LEITURA –
Miq 5,1-4a
O texto que nos é
proposto retoma as promessas messiânicas. Num quadro de injustiça e de
sofrimento – e, portanto, de frustração e de desânimo – o profeta anuncia a
chegada de um personagem, no futuro, que reinará sobre o Povo de Deus. Esse
personagem, enviado por Deus, será da descendência davídica, supondo-se,
portanto, que poderá restaurar esse tempo de paz, de justiça e de abundância
que o Povo de Deus conheceu na época ideal do rei David. A última frase
desta leitura (“Ele será a Paz”) define o conteúdo concreto desta esperança:
a palavra “shalom” aqui utilizada significa tranquilidade, ausência de
violência e de conflito, mas também bem-estar, abundância de vida, numa
palavra, felicidade plena.
II LEITURA – Heb 10,5-10
No mundo
vétero-testamentário, quem queria celebrar a sua comunhão com Deus, ou
manifestar a sua entrega absoluta a Deus, ou obter o perdão dos seus
pecados, oferecia em sacrifício um animal, que o sacerdote entregava nas
mãos de Jahwéh… No entanto, a inutilidade e a ineficácia destes sacrifícios
tinha sido já afirmada pelos profetas (cf. Is 1,11-13; Jr 6,20; 7,22; Os
6,6; Am 5,21-25; Miq 6,6-8), porque se tratava de ritos externos, que nem
sempre correspondiam a uma atitude sincera do coração do oferente. Pondo na
boca de Jesus as palavras de um salmista (cf. Sl 40,7-9), o autor da “Carta
aos Hebreus” afirma que, no mundo da nova “aliança”, não é já o sacrifício
de animais que realiza a comunhão com Deus, a entrega absoluta do crente a
Deus, o perdão dos pecados; é a encarnação de Jesus, a entrega total da vida
do próprio Cristo, o seu respeito absoluto pelo projecto e pela vontade do
Pai que permitem a aproximação e a relação do homem com Deus. Quem quiser
descobrir o Pai e aproximar-se d’Ele, olhe para Jesus; porque Jesus
ensinou-nos, com a sua obediência ao projecto do Pai, como deve ser essa
relação de filiação com Deus.
EVANGELHO – Lc 1,39-47
A primeira referência vai para a
indicação de que, à saudação de Maria, o menino (João Baptista) saltou de
alegria no seio da mãe. Trata-se, evidentemente, de uma indicação teológica:
para Lucas, Jesus é o Deus que vem ao encontro dos homens, e que tem uma
mensagem de salvação/libertação que concretiza as promessas feitas por Deus
aos antepassados; logo, a presença de Jesus provoca a alegria, o
estreme-cimento gozoso de todos aqueles que esperam a concretização das
promessas de Deus e que vêem na chegada de Jesus a realização das promessas
de um mundo de justiça, de amor, de paz e de felicidade para todos os
homens. Através de Jesus, Deus vai oferecer a salvação a todos; e isso
provoca um estremecimento incontrolável de ale-gria, por parte de todos os
que anseiam pela concretização das promessas de Deus. Temos, depois, a
resposta de Isabel à saudação de Maria: “Bendita és tu entre as
mu-lheres”. Trata-se de palavras que aparecem no “cântico de Débora”
(cf. Jz 5,24) para celebrar Jael, a mulher que, apesar da sua fragilidade,
foi o instrumento de Deus pa-ra libertar o Povo das mãos de Sísera, o
opressor. Maria é, assim, apresentada – apesar da sua fragilidade – como o
instrumento de Deus para concretizar a salva-ção/libertação dos homens.
Finalmente, temos a resposta de Maria: “a minha alma enaltece o Senhor…”.
A resposta de Maria retoma um salmo de acção de graças (cf. Sl 34,4),
destinado a dar graças a Jahwéh porque protege os humildes e os salva,
apesar da prepotência dos opressores. É um salmo de esperança e de
confiança, que exalta a preocupação de Deus para com os pobres que são
vítimas da injustiça e da opressão. Sugere-se, claramente, que a presença de
Jesus, através dessa mulher simples e frágil que é Maria, é um sinal do amor
de Deus, preocupado em trazer a libertação a todos os que são vítimas da
prepotência e da injustiça dos homens. Com Jesus, chegou esse tempo novo de
libertação, de paz e de felicidade anunciado pelos profetas.
Padre José Granja,
beneditino |