Alexandrina
e Fátima
Nos
escritos da Alexandrina encontramos várias alusões a Fátima, ou
melhor, a Nossa Senhora de Fátima.
A mais
antiga que conhecemos encontra-se na sua autobiografia e situa-se
após o salto que deu pela janela, para escapar aos ardores de um
homem que a perseguia.
Este
salto foi o acidente que causou a sua paralisia, que durou até à sua
morte.
Sendo
ainda jovem, gostaria de curar e de viver uma vida feliz como todas
as jovens da sua idade, mas não era esse o plano de Deus sobre ela.
Ouçamo-la explicar:
«Como me falassem dos milagres de Fátima e sabendo eu, em 1928, que
várias pessoas iam à Cova da Iria, nasceram em mim desejos de ir
também. O médico assistente e o meu pároco não me deixaram, dizendo
que era impossível ir tão longe, se eu mal consentia que me tocassem
na cama. O Sr. Abade dizia-me que pedisse daqui a acura e que,
depois, iria a Nossa Senhora de Fátima agradecer tão grande graça. O
médico prometeu passar o atestado se o milagre se desse.
Nesse ano, o Sr. Abade foi a Fátima e perguntou-me o que queria de
lá. Pedi-lhe que me trouxesse uma medalha, mas ele ofereceu-me um
terço, uma medalha, o «Manual de Peregrino» e alguma água de Fátima.
Sua Reverência aconselhou-me a fazer uma novena a Nossa Senhora e a
beber água de Fátima com o fim de ser curada. Não fiz uma, mas
muitas. Cantava muito e dizia às pessoas vizinhas que me visitavam:
se um dia me vissem pelo caminho e me ouvissem cantar, era eu que ia
agradecer a Nossa Senhora o benefício que recebia. Pensava que seria
curada, mas enganei-me; era a minha grande confiança na Mãezinha e
em Jesus que me fazia falar.»
(Autobiografia)
Mais
tarde, já acamada para sempre, teve, em diversas ocasiões, a
felicidade de receber a visita da Mãe de Deus e nossa Mãe.
No dia
13 de Dezembro de 1942, ela escreveu no seu Diário:
«Na
manhãzinha do dia 13, quando estava a rezar à Mãezinha “Avé Maria”
com jaculatória por várias intenções, vi a Mãezinha de Fátima em
tamanho natural elevada a grande altura, suspensa no ar. Em baixo à
volta dela um universo de povo para quem ela se inclinava e olhava
com todo o carinho.»
Aqui a
visão da multidão reunida na Cova da Iria é evidente, e portanto,
ela nunca lá foi.
Dois
anos mais tarde, nova visita de Nossa Senhora de Fátima, também
silenciosa:
«Foi
de noite, não sei a hora, vi a meu lado a Mãezinha de Fátima; não se
demorou, não me falou. Senti que Ela veio mostrar-me que não estava
sozinha, que Ela estava a meu lado.» (S.
21-11-1944)
Este
amor da Mãezinha para com ela fazia-a feliz e estimulava-a na sua
devoção a Maria, a sua querida “Mãezinha”, como ela gostava de a
chamar.
Em
1945, escrevendo sobre o seu amor à Virgem de Fátima e ao dia 13 do
mesmo mês, ela explica:
«Nunca ano nenhum, no dia 13 de cada mês, passei tanto em Fátima
como no dia 13 deste mês de Maio. Não sei pelo quê. O meu coração
desfazia-se e desfaz-se ainda em agradecimento diante da Mãezinha
querida. Passo lá tanto tempo!» (S.
15-05-1945)
A
Virgem de Fátima que até aqui se apresentara a ela silenciosa, vai
desta vez falar e frisar as suas visitas ao quarto da “Doentinha de
Balasar”. Ouçamos a Mãe de Deus:
«Já
reflectiste que faço do teu quarto a Cova de Iria? Já reflectiste
que, como em Fátima, aqui desço todos os meses, não falando nas
vezes que, como hoje, venho a convite do Meu Filho? É para te dar
conforto e encorajar.» (S. 13-6-1947)
Podemos
pôr esta interrogação da Virgem Maria — «Já reflectiste que faço
do teu quarto a Cova de Iria?» ao lado de outra que lhe foi
dirigida por Jesus, também a respeito daquele quarto abençoado:
«O teu quarto é o templo das maravilhas prodigiosas do Senhor.»
(S. 14-11-1947)
Sabendo
que o seu director espiritual estava muitas vezes presente em Fátima
— antes de ser exilado para o Brasil — ela tomara o hábito de ouvir
as transmissões radiofónicas em directo da basílica da Cova de Iria.
Em 17
de Outubro de 1952, ela escreve no seu Diário — os “Sentimentos da
alma” — o que a seguir se pode ler:
«Ao
ouvir, no dia 13, a transmissão de Fátima, às invocações não
desesperei, porque Jesus e a Mãezinha velaram por mim. Quando ouvia
“Meu Deus, creio em Vós, mas aumentai a minha Fé” parecia-me que
dentro de mim se repetia: não creio, não creio, não tenho Fé. O meu
sentimento era de que não havia ninguém no mundo como eu. Não tinha
força para chamar por Jesus e pela Mãezinha.»
Em
Fátima a Virgem Maria, tinha avisado amorosamente aos Pastorinhos:
«Se fizerem o que eu digo…» Mas nem o mundo nem Portugal fizeram o
que Ela disse, por isso mesmo Jesus, dirigindo-se ao mundo e a
Portugal, queixa-se amargamente por não terem ouvido os conselhos da
Sua Santíssima Mãe:
«Disse-me Jesus:
Ó
Portugal ingrato, ó mundo cruel, o que seria de ti sem a vítima
deste calvário!... Portugal ingrato! Portugal, quantas graças tens
recebido do teu Deus?! Fátima, Fátima! Calvário, calvário! Este
ditoso calvário, meios para ti de grande reparação. Estou triste,
estou triste. Portugal ingrato! Estou triste, muito triste! O mundo
cruel! Nada mais posso fazer. Fiz tudo, fiz tudo para a salvação dos
filhos do meu sangue.» (S. 09-10-1953) |