PALAVRAS
DO SR. ARCEBISPO PRIMAZ
Ninguém
ignora a vocação universal à santidade como caminho para a Igreja. Por outro
lado, todos reconhecem que os Santos não se limitam aos proclamados,
solenemente, como tais. Acontece, porém, que a canonização ou beatificação dum
membro da Igreja não é um mero elencar de mais um nome no catálogo. Com elas são
anunciados diversos valores e dimensões que a Igreja Universal deve acolher.
Que terá
Alexandrina Maria da Costa a dizer à Igreja em Portugal ?
Sem pretender ser
completo, sublinho três aspectos de grande utilidade.
1. Ela foi uma
cristã simples e humilde. Na verdade, não chegou a concluir os estudos primários
e “obrigatórios” naquela época.
Esta “limitação” de
conhecimentos, humanos e cristãos, não a impediram de ser uma verdadeira
evangelizadora. Fê-lo através dos seus escritos, que necessitam dum estudo
teológico mais consistente e que nos obrigam a pensar em congressos, e,
particularmente, da palavra oportuna e serena que oferecia a quem a procurava.
Não pretendo
desconsiderar a importância da reflexão teológica e da formação permanente dos
nossos cristãos. Creio que esta necessita duma “alma” como experiência mística e
de união com Deus. Trata-se de sublinhar a prioridade da dimensão contemplativa
para que a palavra e o anúncio adquiram consistência.
Será ousadia
reconhecer que a Igreja em Portugal, para além dum empenho mais sólido no
aprofundamento da mensagem cristã tem necessidade de “ver”, também, as doutrinas
a partir do “mistério” o que só se consegue através duma consideração, teórica e
prática, do valor da intimidade com Deus ?
Só a contemplação alicerça o anúncio da Palavra.
2. Nesta prioridade
pela Evangelização, a Eucaristia, alimento consistente da vida humana e cristã
da Venerável Alexandrina, tornou-se o “segredo” e a coragem para a fidelidade em
todos os momentos e horas. Ela conseguiu “eucaristizar” a sua vida.
No meio de tantas
iniciativas e actividades que a pastoral hodierna reclama, teremos de
redescobrir a centralidade da Eucaristia. Trata-se de ultrapassar a norma da
obrigatoriedade dum preceito e fazer com que tudo nasça desta ânsia interior de
encontro com o divino. Ela, na celebração e na comunhão, terá de dizer mais
Deus. E sabemos, por experiência, que não é suficiente o rubricismo escrupuloso.
Urge maior preparação e vivência a envolver toda a comunidade para que a
presença de Cristo não se reduza à Eucarística mas aconteça no encontro de “dois
ou mais”. A Eucaristia terá de dar um sentido mais profundo e um valor mais
consistente a Jesus no meio de “dois ou mais” que se amam. Só assim a Eucaristia
se torna alimento para a Igreja e para o mundo moderno repleto de dores e
sofrimentos. Ele pretende serenidade e calma e só a presença de Cristo na
comunidade é uma resposta permanente. Depois, a presença eucarística provocará
outra incidência na vida real das pessoas.
3. Se uma vida
eucaristizada, tornada experiência no encontro verdadeiro da comunidade, foi a
coragem para os sofrimentos e as dores que a Venerável Alexandrina experimentou,
num cuidado e acompanhamento mais técnico e competente aos doentes, a Igreja em
Portugal terá de redescobrir modos e meios de se fazer presente no concreto da
dor e do sofrimento. São muitos aqueles que lutam sozinhos e não bastam as
estruturas e instituições que cuidam dos doentes. Eles necessitam da presença e
do carinho que só uma doação e entrega a esta causa pode oferecer.
Há momentos
históricos que exigem respostas novas. A evolução técnica ainda não eliminou nem
iluminará, o rosto da dor. Se a medicina oferece muito, a presença, como sinal
dum amor cristão, é a mais valia que se pode oferecer.
A Beatificação de
Alexandrina Maria da Costa deve questionar a Igreja em Portugal tornando-a mais
evangelizadora através do testemunho, da eucaristia como fonte de vida nova e da
atenção concreta ao mundo que sofre.
+ Jorge Ortiga, A.
P.
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