O velho Simeão e a profetisa Ana
Os pais
de Jesus, de acordo com a lei mosaica, 40 dias depois do nascimento
do primeiro filho, foram ao Templo de Jerusalém para oferecer o
primogénito ao Senhor e para a mãe ser purificada. Mas este rito não
foi exactamente igual aos outros. Nos ritos comuns, eram os pais que
apresentavam os filhos a Deus em sinal de oferta e de pertença;
neste rito é Deus que apresenta o seu Filho aos homens. Fá-lo pela
boca do velho Simeão e da profetisa Ana. Simeão apresenta-O ao mundo
como salvação para todos os povos, como luz que iluminará as gentes,
mas também como sinal de contradição; como Aquele que revelará os
pensamentos dos corações.

O
encontro de Jesus com Simeão e Ana no Templo de Jerusalém é símbolo
de uma realidade maior e universal:
a
Humanidade encontra o seu Senhor na Igreja. Malaquias
preanunciava este encontro: «Eis
que Eu vou enviar o meu mensageiro, a fim de que ele prepare o
caminho à minha frente. E imediatamente entrará no seu santuário o
Senhor, que vós procurais». No Templo, Simeão reconheceu
Jesus como o Messias esperado e proclamou-o salvador e luz do mundo.
Compreendeu que, doravante, o destino de cada homem se decidia pela
atitude assumida perante Ele; Jesus será ruína ou salvação. Como
dirá João Baptista: Ele tem na mão a joeira para separar o trigo bom
da palha (cf. Mt 3, 12).
É o que
acontece, a outra escala, também hoje: no novo templo de Deus que é
a Igreja, os homens «encontram» Cristo, aprendem a conhecê-lo,
recebem-no na Eucaristia, como Simeão o recebeu nos braços; a sua
palavra torna-se, aí, para eles, luz e o seu corpo força e alimento.
É a experiência que fazemos, sempre que vamos à missa. A comunhão é
um verdadeiro encontro entre Deus e nós. Hoje, essa experiência é
acentuada pelo simbolismo da festa: a procissão com que entramos na
igreja com o sacerdote, levando a vela acesa e cantando, era, sinal
deste ir ao encontro de Jesus que nos chama no interior da sua
igreja, na esperança de irmos ao seu encontro um dia no
Hypapante
eterno, quando formos nós a ser apresentados por Ele ao Pai.
A
Candelária é festa de luz. A luz da fé não nos foi dada apenas para
iluminar o nosso caminho, desinteressando-nos dos outros… A luz da
fé também não é para ter acesa apenas na igreja, ou em certos
momentos, mas em todos os momentos e situações da nossa vida… A
nossa fé há de ser luz que ilumina, fogo que aquece… É luz e fogo
quem é compreensivo e bom com todos… quem sabe apoiar os pequenos
esforços… os pequenos progressos… quem tem palavras de amizade, de
estímulo, de apoio… quem sabe dizer uma boa palavra, dar uma ajuda…
O amor cristão tem a sua origem em Deus que nos amou e nos enviou o
seu Filho com quem nos encontramos em vários momentos da nossa vida,
particularmente quando celebramos a Eucaristia. Esse é o nosso
encontro, enquanto esperamos o encontro definitivo no Céu.
Maria cumpre a Lei à letra
«Eis-me aqui, meu Deus, para vos servir e para fazer a vossa
vontade: Eis
a serva do Senhor: faça-se em mim segundo a tua palavra».
Esta é a regra, Maria obedece. Está escrito na lei, no Levítico e no
Êxodo. A jovem mãe apresentar-se-á no templo para ser purificada,
quarenta dias depois do nascimento de um filho e oitenta dias depois
do nascimento de uma filha. Maria não costuma hesitar quando se
trata da lei. Cumpre tudo à letra, segundo
a Lei de Moisés.
No quadragésimo dia, está em Jerusalém. Não examina se está
dispensada pelo carácter sobrenatural da sua maternidade. A
hesitação não lhe vem, é a lei. Como o seu divino Filho, renuncia a
todo o privilégio e, contente com a sorte comum, obedece à lei.
Jesus obedece e deixa-se levar, apresentar, resgatar, Maria obedece
também e deixa-se purificar. Como Jesus, Maria leva no meio do seu
Coração a lei de Deus, como sua regra de vida. Oh! Como esta
obediência pontual, humilde, heróica, condena todas as nossas
hesitações, toda a nossa procura de excepções e de dispensas! Maria
podia dizer: Eis
a serva do Senhor.
E eu posso dizer:
Ecce venio:
eis que venho, Senhor, para obedecer, para fazer a vossa vontade.
Eis o teu servo.
(Leão Dehon, OSP 3, p. 120).
Fonte:
https://www.dehonianos.org/portal/apresentacao-do-senhor/ |