Prezados irmãos e irmãs
Numa
recente catequese falei de santa Catarina de Sena. Hoje gostaria de
vos apresentar outra santa, menos conhecida, que tem o mesmo nome:
santa Catarina de Bolonha, mulher de vasta cultura, mas muito
humilde; dedicada à oração, mas sempre pronta a servir; generosa no
sacrifício, mas cheia de alegria no acolhimento da cruz com Cristo.
Nasce
em Bolonha a 8 de Setembro de 1413, primogénita de Benvenuta
Mammolini e de Giovanni de' Vigri, patrício rico e culto de Ferrara,
doutor em leis e leitor público em Pádua, onde desempenhava funções
diplomáticas para Niccolò III d'Este, marquês de Ferrara. As
notícias sobre a infância e a adolescência de Catarina são escassas
e nem todas são certas. Vive a infância em Bolonha, na casa dos
avós; ali é educada pelos parentes, sobretudo pela mãe, mulher de
grande fé. Transfere-se com ela para Ferrara com cerca de dez anos e
entra na corte de Niccolò iii d'Este como donzela de honra de
Margherita, filha natural de Niccolò. O marquês está a transformar
Ferrara numa cidade esplendorosa, chamando artistas e letrados de
vários países. Promove a cultura e, embora leve uma vida particular
não exemplar, cuida muito do bem espiritual, da conduta moral e da
educação dos súbditos.
Em
Ferrara Catarina não ressente dos aspectos negativos, que muitas
vezes a vida de corte comportava; goza da amizade de Margherita e
torna-se a sua confidente, enriquecendo a sua cultura: estuda
música, pintura e dança; aprende a poetizar, a escrever composições
literárias e a tocar violão; torna-se perita na arte da miniatura e
das transcrições; aperfeiçoa o estudo do latim. Na futura vida
monástica valorizará muito o património cultural e artístico
adquirido nesses anos. Aprende com facilidade, com paixão e com
tenacidade; mostra grande prudência, modéstia singular, graça e
gentileza no comportamento. Contudo, uma característica distingue-a
de modo absolutamente claro: o seu espírito constantemente dirigido
para as realidades do Céu. Em 1427, com apenas 14 anos, também após
alguns acontecimentos familiares, Catarina decide deixar a corte
para se unir a um grupo de jovens mulheres provenientes de famílias
nobres que viviam em comum, consagrando-se a Deus. Com fé, a mãe
consente, embora tivesse outros projectos para ela.
Não
conhecemos o caminho espiritual de Catarina antes desta escolha.
Falando em terceira pessoa, ela afirma que entrou ao serviço de Deus
«iluminada pela graça divina (...) com consciência recta e grande
fervor», solícita noite e dia à santa oração, comprometendo-se em
conquistar todas as virtudes que via nos outros, «não por inveja,
mas para agradar mais a Deus, em quem tinha posto todo o seu amor» (Le
sette armi spirituali, VII, 8, Bolonha 1998, p. 12). São
notáveis os seus progressos espirituais nesta nova fase da vida, mas
são também grandes e terríveis as provas, os sofrimentos interiores,
sobretudo as tentações do demónio. Atravessa uma profunda crise
espiritual, até ao limitar do desespero (cf. ibid., VII, pp.
12-29). Vive na noite do espírito, provada também pela tentação da
incredulidade em relação à Eucaristia. Depois de sofrer muito, o
Senhor consola-a: numa visão, concede-lhe um conhecimento claro da
presença eucarística real, um conhecimento tão luminoso que Catarina
não consegue expressar com palavras (cf. ibid., VIII, 2, pp.
42-46). No mesmo período, uma prova dolorosa abate-se sobre a
comunidade: surgem tensões entre quem quer seguir a espiritualidade
agostiniana e quem está mais orientado para a espiritualidade
franciscana.
Entre
1429 e 1430 a responsável do grupo, Lucia Mascheroni, decide fundar
um mosteiro agostiniano. Catarina, ao contrário, com outras escolhe
vincular-se à regra de santa Clara de Assis. É um dom da
Providência, porque a comunidade habita perto da igreja do Espírito
Santo, anexa ao convento dos Frades Menores que aderiram ao
movimento da Observância. Assim, Catarina e as companheiras podem
participar regularmente nas celebrações litúrgicas e receber uma
assistência espiritual adequada. Têm também a alegria de ouvir a
pregação de são Bernardino de Sena (cf. ibid., VII, 62, p.
26). Catarina narra que, em 1429 — terceiro ano da sua conversão —
vai confessar-se com um dos Frades Menores que ela estimava, realiza
uma boa Confissão e pede intensamente ao Senhor que lhe conceda o
perdão de todos os pecados e da pena a eles ligada. Deus revela-lhe
em visão que lhe perdoou tudo. É uma experiência muito forte da
misericórdia divina, que a marca para sempre, dando-lhe novo impulso
para responder com generosidade ao imenso amor de Deus (cf.
ibid., IX, 2, pp. 46-48).
Em 1431
tem uma visão do juízo final. A cena assustadora dos condenados
impele-a a intensificar orações e penitências para a salvação dos
pecadores. O demónio continua a atacá-la e ela confia-se de modo
cada vez mais total ao Senhor e à Virgem Maria (cf. ibid., X,
3, pp. 53-54). Nos escritos, Catarina deixa-nos algumas notas
essenciais deste combate misterioso, do qual sai vitoriosa com a
graça de Deus. Fá-lo para instruir as suas irmãs de hábito e aquelas
que tencionam percorrer o caminho da perfeição: quer alertar contra
as tentações do demónio, que muitas vezes se esconde sob aparências
enganadoras, para depois insinuar dúvidas de fé, incertezas
vocacionais e sensualidades.
No
tratado autobiográfico e didascálico As sete armas espirituais,
Catarina oferece a este propósito ensinamentos de grande
sabedoria e de profundo discernimento. Fala em terceira pessoa,
citando as graças extraordinárias que o Senhor lhe concede, e em
primeira pessoa para confessar os próprios pecados. Do seu escrito
transparece a pureza da sua fé em Deus, a profunda humildade, a
simplicidade de coração, o ardor missionário e a paixão pela
salvação das almas. Delineia sete armas de luta contra o mal, contra
o demónio: 1. ter o cuidado e a solicitude de realizar sempre o bem;
2. acreditar que sozinhos nunca poderemos fazer algo verdadeiramente
bom; 3. confiar em Deus e, por amor a Ele, jamais ter medo da
batalha contra o mal, quer no mundo, quer em nós mesmos; 4. meditar
com frequência sobre os acontecimentos e as palavras da vida de
Jesus, sobretudo a sua paixão e morte; 5. recordar-se que devemos
morrer; 6. ter fixa na mente a memória dos bens do Paraíso; 7. ter
familiaridade com a Sagrada Escritura, trazendo-a sempre no coração
para que oriente todos os pensamentos e toda as obras. Um bonito
programa de vida espiritual, também hoje, para cada um de nós!
No
convento, não obstante fosse habituada à corte de Ferrara, Catarina
desempenha funções de lavadeira, costureira, padeira e encarregada
de cuidar dos animais. Faz tudo, até os serviços mais humildes, com
amor e pronta obediência, oferecendo às irmãs de hábito um
testemunho luminoso. Com efeito, ela vê na desobediência aquele
orgulho espiritual que destrói todas as outras virtudes. Por
obediência aceita o cargo de mestra das noviças, não obstante se
considere incapaz de desempenhar tal função, e Deus continua a
animá-la com a sua presença e os seus dons: com efeito, é uma mestra
sábia e apreciada.
Em
seguida confiam-lhe o serviço do parlatório. Custa-lhe muito
interromper com frequência a oração para responder às pessoas que se
apresentam à grade do mosteiro, mas também desta vez o Senhor não
deixa de a visitar e de lhe estar próximo. Com ela, o mosteiro é
cada vez mais um lugar de oração, de oferta, de silêncio, de cansaço
e de alegria. Quando faleceu a abadessa, os superiores pensam
imediatamente nela, mas Catarina impele-as a dirigir-se às Clarissas
de Mântua, mais instruídas nas constituições e nas observâncias
religiosas. Contudo, poucos anos depois, em 1456, pede-se ao seu
mosteiro que crie uma nova fundação em Bolonha. Catarina preferiria
terminar os seus dias em Ferrara, mas o Senhor aparece-lhe e
exorta-a a cumprir a vontade de Deus e ir a Bolonha como abadessa.
Prepara-se para o novo compromisso com jejuns, disciplinas e
penitências. Parte para Bolonha com dezoito irmãs de hábito. Como
superiora é a primeira na oração e no serviço; vive em profunda
humildade e pobreza. Quando termina o mandato do triénio de
abadessa, é feliz por ser substituída, mas depois de um ano deve
retomar as suas funções, porque a nova eleita ficou cega. Apesar do
sofrimento e das graves enfermidades que a atormentam, ela
desempenha o seu serviço com generosidade e dedicação.
Ainda
por um ano exorta as irmãs de hábito à vida evangélica, à paciência
e à constância nas provas, ao amor fraterno, à união com o Esposo
divino, Jesus, para preparar deste modo o seu dote para as bodas
eternas. Um dote que Catarina vê no saber compartilhar os
sofrimentos de Cristo, enfrentando com serenidade as dificuldades,
angústias, desprezos e incompreensões (cf. Le sette armi
spirituali, X, 20, pp. 57-58). No início de 1463 as enfermidades
agravam-se; reúne as irmãs de hábito pela última vez no Capítulo,
para lhes anunciar a sua morte e recomendar a observância da regra.
Por volta do fim de Fevereiro é provada por fortes sofrimentos que
já não a deixarão, mas é ela que conforta as irmãs na dor,
assegurando-lhes a sua ajuda inclusive do Céu. Depois de ter
recebido os últimos Sacramentos, entrega ao confessor o escrito
As sete armas espirituais e entra em agonia; o seu rosto faz-se
bonito e luminoso; olha ainda com amor para quantas a circundam e
expira docilmente, pronunciando três vezes o nome de Jesus: é o dia
9 de Março de 1463 (cf. I. Bembo, Specchio di illuminazione. Vita
di S. Caterina a Bologna, Florença 2001, cap. III). Catarina
será canonizada pelo Papa Clemente XI no dia 22 de Maio de 1712. A
cidade de Bolonha, na capela do mosteiro do Corpus Domini,
conserva o seu corpo incorrupto.
Caros
amigos, santa Catarina de Bolonha, com as suas palavras e com a sua
vida, é um forte convite a deixar-nos guiar sempre por Deus, a
cumprir quotidianamente a sua vontade, embora muitas vezes não
corresponda aos nossos desígnios, a confiar na sua Providência que
jamais nos deixa sozinhos. Nesta perspectiva, santa Catarina fala
connosco; à distância de muitos séculos, ainda é muito moderna e
fala à nossa vida. Como nós, ela sofre a tentação, padece as
tentações da incredulidade, da sensualidade, de um difícil combate
espiritual. Sente-se abandonada por Deus, encontra-se na obscuridade
da fé. Mas em todas estas situações apoia-se sempre na mão do
Senhor, não O deixa, não O abandona. E caminhando de mãos dadas com
o Senhor, percorre a via recta e encontra o caminho da luz. Assim,
diz-nos também a nós: coragem, também na noite da fé, mesmo em
muitas dúvidas que possam existir, não deixa a mão do Senhor,
caminha de mãos dadas com Ele, crê na bondade de Deus; assim é
caminhar pela vida recta! E gostaria de ressaltar outro aspecto, o
da sua grande humildade: é uma pessoa que não quer ser alguém ou
algo; não deseja aparecer; não quer governar. Deseja servir, cumprir
a vontade de Deus, estar ao serviço dos outros. E precisamente por
isso, Catarina era credível na autoridade, porque se podia ver que
para ela a autoridade era precisamente servir o próximo. Peçamos a
Deus, por intercessão da nossa santa, o dom de realizar o programa
que Ele tem para nós, com coragem e generosidade, para que somente
Ele seja a rocha sólida sobre a qual se edifica a nossa vida.
Obrigado!
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