AO EPISCOPADO, AO CLERO
ÀS PESSOAS CONSAGRADAS
E AOS FIÉIS LEIGOS
SOBRE A EUCARISTIA
FONTE E ÁPICE DA VIDA
E DA MISSÃO DA IGREJA
* * * * *
1. Sacramento da Caridade,
a santíssima Eucaristia é a doação que Jesus Cristo faz de Si mesmo,
revelando-nos o amor infinito de Deus por cada homem. Neste
sacramento admirável, manifesta-se o amor « maior »: o amor que leva
a « dar a vida pelos amigos » (Jo 15, 13). De facto, Jesus «
amou-os até ao fim » (Jo 13, 1). Com estas palavras, o
evangelista introduz o gesto de infinita humildade que Ele realizou:
na vigília da sua morte por nós na cruz, pôs uma toalha à cintura e
lavou os pés aos seus discípulos. Do mesmo modo, no sacramento
eucarístico, Jesus continua a amar-nos « até ao fim », até ao dom do
seu corpo e do seu sangue. Que enlevo se deve ter apoderado do
coração dos discípulos à vista dos gestos e palavras do Senhor
durante aquela Ceia! Que maravilha deve suscitar, também no nosso
coração, o mistério eucarístico!
O alimento da verdade
2. No sacramento do altar, o
Senhor vem ao encontro do homem, criado à imagem e semelhança de
Deus (Gn 1, 27), fazendo-Se seu companheiro de viagem. Com
efeito, neste sacramento, Jesus torna-Se alimento para o homem,
faminto de verdade e de liberdade. Uma vez que só a verdade nos pode
tornar verdadeiramente livres (Jo 8, 36), Cristo faz-Se
alimento de Verdade para nós. Com agudo conhecimento da realidade
humana, Santo Agostinho pôs em evidência como o homem se move
espontaneamente, e não constrangido, quando encontra algo que o
atrai e nele suscita desejo. Perguntando-se ele, uma vez, sobre o
que poderia em última análise mover o homem no seu íntimo, o santo
bispo exclama: « Que pode a alma desejar mais ardentemente do que a
verdade?»
De facto, todo o homem traz dentro de si o desejo insuprimível da
verdade última e definitiva. Por isso, o Senhor Jesus, « caminho,
verdade e vida » (Jo 14, 6), dirige-Se ao coração anelante do
homem que se sente peregrino e sedento, ao coração que suspira pela
fonte da vida, ao coração mendigo da Verdade. Com efeito, Jesus
Cristo é a Verdade feita Pessoa, que atrai a Si o mundo. « Jesus é a
estrela polar da liberdade humana: esta, sem Ele, perde a sua
orientação, porque, sem o conhecimento da verdade, a liberdade
desvirtua-se, isola-se e reduz-se a estéril arbítrio. Com Ele, a
liberdade volta a encontrar-se a si mesma ».
No sacramento da Eucaristia, Jesus mostra-nos de modo particular a
verdade do amor, que é a própria essência de Deus. Esta é a
verdade evangélica que interessa a todo o homem e ao homem todo. Por
isso a Igreja, que encontra na Eucaristia o seu centro vital,
esforça-se constantemente por anunciar a todos, em tempo propício e
fora dele (opportune, importune: cf. 2 Tm 4, 2), que
Deus é amor.
Exactamente porque Cristo Se fez alimento de Verdade para nós, a
Igreja dirige-se ao homem convidando-o a acolher livremente o dom de
Deus.
O desenvolvimento do
rito eucarístico
3. Contemplando a história
bimilenária da Igreja de Deus, sapientemente guiada pela acção do
Espírito Santo, admiramos cheios de gratidão o desenvolvimento
ordenado no tempo das formas rituais em que fazemos memória do
acontecimento da nossa salvação. Desde as múltiplas formas dos
primeiros séculos, que resplandecem ainda nos ritos das Antigas
Igrejas do Oriente, até à difusão do rito romano; desde as
indicações claras do Concílio de Trento e do Missal de São Pio V até
à renovação litúrgica querida pelo Concílio Vaticano II: em cada
etapa da história da Igreja, a celebração eucarística, enquanto
fonte e ápice da sua vida e missão, resplandece no rito litúrgico em
toda a sua multiforme riqueza. A XI Assembleia Geral Ordinária do
Sínodo dos Bispos, que decorreu de 2 a 23 de Outubro de 2005 no
Vaticano, elevou um profundo agradecimento a Deus por esta história,
reconhecendo nela a guia activa do Espírito Santo. De modo
particular, os padres sinodais reconheceram e reafirmaram o benéfico
influxo que teve, na vida da Igreja, a reforma litúrgica actuada a
partir do Concílio Ecuménico Vaticano II.
O Sínodo dos Bispos pôde avaliar o acolhimento que a mesma teve
depois da assembleia conciliar; inúmeros foram os elogios; como lá
se disse, as dificuldades e alguns abusos assinalados não podem
ofuscar a excelência e a validade da referida renovação litúrgica,
que contém riquezas ainda não plenamente exploradas. Trata-se, em
concreto, de ler as mudanças queridas pelo Concílio dentro da
unidade que caracteriza o desenvolvimento histórico do próprio rito,
sem introduzir artificiosas rupturas.
O Sínodo dos Bispos e o
Ano da Eucaristia
4. Além disso, é necessário
sublinhar a relação do recente Sínodo dos Bispos sobre a Eucaristia
com o que sucedeu durante os últimos anos na vida da Igreja. Antes
de mais, devemos pensar no Grande Jubileu do ano 2000, com o qual
meu amado predecessor, o servo de Deus João Paulo II, introduziu a
Igreja no terceiro milénio cristão; o Ano Jubilar teve, sem dúvida,
uma caracterização intensamente eucarística. Depois, não se pode
esquecer que o Sínodo dos Bispos foi precedido e, em certo sentido,
preparado também pelo Ano da Eucaristia, estabelecido com grande
clarividência por João Paulo II para toda a Igreja; teve início com
o Congresso Eucarístico Internacional em Guadalajara no mês de
Outubro de 2004 e terminou a 23 de Outubro de 2005, no final da XI
Assembleia Sinodal, com a canonização de cinco beatos que se
distinguiram, de forma particular, pela sua piedade eucarística: o
bispo José Bilczewski, os sacerdotes Caetano Catanoso, Sigismundo
Gorazdowski e Alberto Hurtado Cruchaga, e o religioso capuchinho
Félix de Nicósia. Graças aos ensinamentos propostos por João Paulo
II na Carta Apostólica
Mane nobiscum Domine
e às preciosas sugestões da Congregação para o Culto Divino e a
Disciplina dos Sacramentos,
numerosas foram as iniciativas que as dioceses e as diversas
realidades eclesiais empreenderam para despertar e aumentar nos
crentes a fé eucarística, para melhorar o cuidado das celebrações e
promover a adoração eucarística, para encorajar uma real
solidariedade que, partindo da Eucaristia, atingisse os
necessitados. Por último, é preciso mencionar a importância da
última Encíclica do meu venerado predecessor, a
Ecclesia de Eucharistia,
deixando-nos através dela uma segura referência do Magistério quanto
à doutrina eucarística e um derradeiro testemunho do lugar central
que este sacramento divino ocupava na sua vida.
Finalidade do documento
5. Esta Exortação Apostólica
pós-sinodal tem por objectivo recolher a multiforme riqueza de
reflexões e propostas surgidas na recente Assembleia Geral Ordinária
do Sínodo dos Bispos — a começar dos Lineamenta até às
Propositiones, passando pelo Instrumentum laboris, as
Relationes ante et post disceptationem, as intervenções dos
padres sinodais, auditores e delegados fraternos —, com a intenção
de explicitar algumas linhas fundamentais de empenho tendentes a
despertar na Igreja novo impulso e fervor eucarístico. Consciente do
vasto património doutrinal e disciplinar acumulado no decurso dos
séculos à volta da Eucaristia,
neste documento desejo sobretudo recomendar, acolhendo o voto dos
padres sinodais,
que o povo cristão aprofunde a relação entre o mistério
eucarístico, a acção litúrgica e o novo culto
espiritual que deriva da Eucaristia enquanto sacramento da
caridade. Com esta perspectiva, pretendo colocar esta Exortação
na linha da minha primeira Carta Encíclica — a
Deus caritas est
—, na qual várias vezes falei do sacramento da Eucaristia pondo em
evidência a sua relação com o amor cristão, tanto para com Deus como
para com o próximo: « O Deus encarnado atrai-nos todos a Si. Assim
se compreende por que motivo o termo agape se tenha tornado
também um nome da Eucaristia; nesta, a agape de Deus vem
corporalmente a nós, para continuar a sua acção em nós e através de
nós».
« A obra de Deus consiste em
acreditar n'Aquele que Ele enviou »
(Jo 6, 29)
A fé eucarística da
Igreja
A fé eucarística da
Igreja
6. « Mistério da fé!
»: com esta exclamação pronunciada logo a seguir às palavras da
consagração, o sacerdote proclama o mistério celebrado e manifesta o
seu enlevo diante da conversão substancial do pão e do vinho no
corpo e no sangue do Senhor Jesus, realidade esta que ultrapassa
toda a compreensão humana. Com efeito, a Eucaristia é por excelência
« mistério da fé »: « É o resumo e a súmula da nossa fé ».
A fé da Igreja é essencialmente fé eucarística e alimenta-se, de
modo particular, à mesa da Eucaristia. A fé e os sacramentos são
dois aspectos complementares da vida eclesial. Suscitada pelo
anúncio da palavra de Deus, a fé é alimentada e cresce no encontro
com a graça do Senhor ressuscitado que se realiza nos sacramentos: «
A fé exprime-se no rito e este revigora e fortifica a fé ».
Por isso, o sacramento do altar está sempre no centro da vida
eclesial; « graças à Eucaristia, a Igreja renasce sempre de novo! »
Quanto mais viva for a fé eucarística no povo de Deus, tanto mais
profunda será a sua participação na vida eclesial por meio duma
adesão convicta à missão que Cristo confiou aos seus discípulos.
Testemunha-o a própria história da Igreja: toda a grande reforma
está, de algum modo, ligada à redescoberta da fé na presença
eucarística do Senhor no meio do seu povo.
O pão descido do céu
7. O primeiro conteúdo da fé
eucarística é o próprio mistério de Deus, amor trinitário. No
diálogo de Jesus com Nicodemos, encontramos uma afirmação
esclarecedora a tal respeito: « Deus amou tanto o mundo que entregou
o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n'Ele não
pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o Filho ao
mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele
» (Jo 3, 16-17). Estas palavras revelam a raiz última do dom
de Deus. Na Eucaristia, Jesus não dá « alguma coisa », mas dá-Se a
Si mesmo; entrega o seu corpo e derrama o seu sangue. Deste modo dá
a totalidade da sua própria vida, manifestando a fonte originária
deste amor: Ele é o Filho eterno que o Pai entregou por nós. Noutro
passo do evangelho, depois de Jesus ter saciado a multidão pela
multiplicação dos pães e dos peixes, ouvimo-Lo dizer aos
interlocutores que vieram atrás d'Ele até à sinagoga de Cafarnaum: «
Meu Pai é que vos dá o verdadeiro pão que vem do céu. O pão de Deus
é o que desce do céu para dar a vida ao mundo» (Jo 6, 32-33),
acabando por identificar-Se Ele mesmo — a sua própria carne e o seu
próprio sangue — com aquele pão: « Eu sou o pão vivo que desceu do
céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei-de
dar é a minha carne que Eu darei pela vida do mundo » (Jo 6,
51). Assim Jesus manifesta-Se como o pão da vida que o Pai eterno dá
aos homens.
Dom gratuito da
Santíssima Trindade
8. Na Eucaristia, revela-se
o desígnio de amor que guia toda a história da salvação (Ef
1, 9-10; 3, 8-11). Nela, o Deus-Trindade (Deus Trinitas), que
em Si mesmo é amor (1 Jo 4, 7-8), envolve-Se plenamente com a
nossa condição humana. No pão e no vinho, sob cujas aparências
Cristo Se nos dá na ceia pascal (Lc 22, 14-20; 1 Cor
11, 23-26), é toda a vida divina que nos alcança e se comunica a nós
na forma do sacramento: Deus é comunhão perfeita de amor entre o
Pai, o Filho e o Espírito Santo. Já na criação, o homem fora chamado
a partilhar, em certa medida, o sopro vital de Deus (Gn 2,
7). Mas, é em Cristo morto e ressuscitado e na efusão do Espírito
Santo, dado sem medida (Jo 3, 34), que nos tornamos
participantes da intimidade divina.
Assim Jesus Cristo, que « pelo Espírito eterno Se ofereceu a Deus
como vítima sem mancha » (Heb 9, 14), no dom eucarístico
comunica-nos a própria vida divina. Trata-se de um dom absolutamente
gratuito, devido apenas às promessas de Deus cumpridas para além de
toda e qualquer medida. A Igreja acolhe, celebra e adora este dom,
com fiel obediência. O « mistério da fé » é mistério de amor
trinitário, no qual, por graça, somos chamados a participar. Por
isso, também nós devemos exclamar com Santo Agostinho: « Se vês a
caridade, vês a Trindade ».
A nova e eterna aliança
no sangue do Cordeiro
9. A missão, que trouxe
Jesus entre nós, atinge o seu cumprimento no mistério pascal. Do
alto da cruz, donde atrai todos a Si (Jo 12, 32), antes de «
entregar o Espírito » Jesus diz: « Tudo está consumado » (Jo
19, 30). No mistério da sua obediência até à morte, e morte de cruz
(Fil 2, 8), cumpriu-se a nova e eterna aliança. Na sua carne
crucificada, a liberdade de Deus e a liberdade do homem juntaram-se
definitivamente num pacto indissolúvel, válido para sempre. Também o
pecado do homem ficou expiado, uma vez por todas, pelo Filho de Deus
(Heb 7, 27; 1 Jo 2, 2; 4, 10). Como já tive ocasião de
afirmar, « na sua morte de cruz, cumpre-se aquele virar-se de Deus
contra Si próprio, com o qual Ele Se entrega para levantar o homem e
salvá-lo — o amor na sua forma mais radical ».
No mistério pascal, realizou-se verdadeiramente a nossa libertação
do mal e da morte. Na instituição da Eucaristia, o próprio Jesus
falara da « nova e eterna aliança », estipulada no seu sangue
derramado (Mt 26, 28; Mc 14, 24; Lc 22, 20).
Esta finalidade última da sua missão era bem evidente já no início
da sua vida pública; de facto, nas margens do Jordão, quando João
Baptista vê Jesus vir ter com ele, exclama: « Eis o Cordeiro de
Deus, que tira o pecado do mundo » (Jo 1, 29). É
significativo que a mesma expressão apareça, sempre que celebramos a
Santa Missa, no convite do sacerdote para nos abeirarmos do altar: «
Felizes os convidados para a ceia do Senhor. Eis o Cordeiro de
Deus, que tira o pecado do mundo ». Jesus é o verdadeiro
cordeiro pascal, que Se ofereceu espontaneamente a Si mesmo em
sacrifício por nós, realizando assim a nova e eterna aliança. A
Eucaristia contém nela esta novidade radical, que nos é oferecida em
cada celebração.
A instituição da
Eucaristia
10. Deste modo, a nossa
reflexão foi deter-se na instituição da Eucaristia durante a Última
Ceia. O facto teve lugar no âmbito duma ceia ritual, que constituía
o memorial do acontecimento fundador do povo de Israel: a libertação
da escravidão do Egipto. Esta ceia ritual, associada com a imolação
dos cordeiros (Ex 12, 1-28. 43-51), era memória do passado,
mas ao mesmo tempo também memória profética, ou seja, anúncio duma
libertação futura; de facto, o povo experimentara que aquela
libertação não tinha sido definitiva, pois a sua história ainda
estava demasiadamente marcada pela escravidão e pelo pecado. O
memorial da antiga libertação abria-se, assim, à súplica e ao anseio
por uma salvação mais profunda, radical, universal e definitiva. É
neste contexto que Jesus introduz a novidade do seu dom; na oração
de louvor — a Berakah —, Ele dá graças ao Pai não só pelos
grandes acontecimentos da história passada, mas também pela sua
própria « exaltação ». Ao instituir o sacramento da Eucaristia,
Jesus antecipa e implica o sacrifício da cruz e a vitória da
ressurreição; ao mesmo tempo, revela-Se como o verdadeiro
cordeiro imolado, previsto no desígnio do Pai desde a fundação do
mundo, como se lê na I Carta de Pedro (1, 18-20). Ao colocar
o dom de Si mesmo neste contexto, Jesus manifesta o sentido
salvífico da sua morte e ressurreição, mistério este que se torna
uma realidade renovadora da história e do mundo inteiro. Com efeito,
a instituição da Eucaristia mostra como aquela morte, de per si
violenta e absurda, se tenha tornado, em Jesus, acto supremo de amor
e libertação definitiva da humanidade do mal.
A figura deu lugar à
Verdade
11. Como vimos, Jesus insere
a sua novidade (novum) radical no âmbito da antiga ceia
sacrificial hebraica. Uma tal ceia, nós, cristãos, já não temos
necessidade de a repetir. Como justamente dizem os Padres, figura
transit in veritatem: aquilo que anunciava as realidades futuras
cedeu agora o lugar à própria Verdade. O antigo rito consumou-se e
ficou definitivamente superado mediante o dom de amor do Filho de
Deus encarnado. O alimento da verdade, Cristo imolado por nós, pôs
termo às figuras (dat figuris terminum).(20) Com a sua ordem
« Fazei isto em memória de Mim » (Lc 22, 19; 1 Cor
11, 25), pede-nos para corresponder ao seu dom e representá-Lo
sacramentalmente; com tais palavras, o Senhor manifesta, por assim
dizer, a esperança de que a Igreja, nascida do seu sacrifício,
acolha este dom desenvolvendo, sob a guia do Espírito Santo, a forma
litúrgica do sacramento. De facto, o memorial do seu dom perfeito
não consiste na simples repetição da Última Ceia, mas propriamente
na Eucaristia, ou seja, na novidade radical do culto cristão. Assim
Jesus deixou-nos a missão de entrar na sua « hora »: « A Eucaristia
arrasta-nos no acto oblativo de Jesus. Não é só de modo estático que
recebemos o Logos encarnado, mas ficamos envolvidos na
dinâmica da sua doação ».(21) Ele « arrasta-nos para dentro de Si
».(22) A conversão substancial do pão e do vinho no seu corpo e no
seu sangue insere dentro da criação o princípio duma mudança
radical, como uma espécie de « fissão nuclear » (para utilizar uma
imagem hoje bem conhecida de todos nós), verificada no mais íntimo
do ser; uma mudança destinada a suscitar um processo de
transformação da realidade, cujo termo último é a transfiguração do
mundo inteiro, até chegar àquela condição em que Deus seja tudo em
todos (1 Cor 15, 28).
Jesus e o Espírito Santo
12. Com a sua palavra e com
o pão e o vinho, o próprio Senhor nos ofereceu os elementos
essenciais do culto novo. A Igreja, sua Esposa, é chamada a celebrar
o banquete eucarístico dia após dia em memória d'Ele. Deste modo,
ela insere o sacrifício redentor do seu Esposo na história dos
homens e torna-o sacramentalmente presente em todas as culturas.
Este grande mistério é celebrado nas formas litúrgicas que a Igreja,
guiada pelo Espírito Santo, desenvolve no tempo e no espaço.(23) A
propósito, é necessário despertar em nós a consciência da função
decisiva que exerce o Espírito Santo no desenvolvimento da forma
litúrgica e no aprofundamento dos mistérios divinos. O Paráclito,
primeiro dom concedido aos crentes,(24) activo já na criação (Gn
1, 2), está presente em plenitude na vida inteira do Verbo
encarnado: com efeito, Jesus Cristo é concebido no seio da Virgem
Maria por obra do Espírito Santo (Mt 1, 18; Lc 1, 35);
no início da sua missão pública, nas margens do Jordão, vê-O descer
sobre Si em forma de pomba (Mt 3, 16 e par.); neste
mesmo Espírito, age, fala e exulta (Lc 10, 21); e é n'Ele que
Jesus pode oferecer-Se a Si mesmo (Heb 9, 14). No chamado «
discurso de despedida » referido por João, Jesus põe claramente em
relação o dom da sua vida no mistério pascal com o dom do Espírito
aos Seus (Jo 16, 7). Depois de ressuscitado, trazendo na sua
carne os sinais da paixão, pode derramar o Espírito (Jo 20,
22), tornando os seus discípulos participantes da mesma missão d'Ele
(Jo 20, 21). Em seguida, será o Espírito que ensina aos
discípulos todas as coisas, recordando-lhes tudo o que Cristo tinha
dito (Jo 14, 26), porque compete a Ele, enquanto Espírito da
verdade (Jo 15, 26), introduzir os discípulos na verdade
total (Jo 16, 13). Segundo narram os Actos, o Espírito
desce sobre os Apóstolos reunidos em oração com Maria no dia de
Pentecostes (2, 1-4), e impele-os para a missão de anunciar a boa
nova a todos os povos. Portanto, é em virtude da acção do Espírito
que o próprio Cristo continua presente e activo na sua Igreja, a
partir do seu centro vital que é a Eucaristia.
Espírito Santo e
celebração eucarística
13. Neste horizonte,
compreende-se a função decisiva que tem o Espírito Santo na
celebração eucarística e, de modo particular, no que se refere à
transubstanciação. É fácil de comprovar a consciência disto mesmo
nos Padres da Igreja; nas suas Catequeses, São Cirilo de
Jerusalém recorda que « invocamos Deus misericordioso para que envie
o seu Santo Espírito sobre as oblações que apresentamos a fim de Ele
transformar o pão em corpo de Cristo e o vinho em sangue de Cristo.
O que o Espírito Santo toca, é santificado e transformado totalmente
».(25) Também São João Crisóstomo assinala que o sacerdote invoca o
Espírito Santo quando celebra o Sacrifício: (26) à semelhança de
Elias, o ministro atrai o Espírito Santo para que, « descendo a
graça sobre a vítima, se incendeiem por meio dela as almas de todos
».(27) É extremamente necessária, para a vida espiritual dos fiéis,
uma consciência mais clara da riqueza da anáfora: esta, juntamente
com as palavras pronunciadas por Cristo na Última Ceia, contém a
epiclese, que é invocação ao Pai para que faça descer o dom do
Espírito a fim de o pão e o vinho se tornarem o corpo e o sangue de
Jesus Cristo, e para que « a comunidade inteira se torne cada vez
mais corpo de Cristo ».(28) O Espírito, invocado pelo celebrante
sobre os dons do pão e do vinho colocados sobre o altar, é o mesmo
que reúne os fiéis « num só corpo », tornando-os uma oferta
espiritual agradável ao Pai.(29)
Eucaristia, princípio
causal da Igreja
14. Através do sacramento
eucarístico, Jesus compromete os fiéis na sua própria « hora »;
mostra-nos assim a ligação que quis entre Ele mesmo e nós, entre a
sua pessoa e a Igreja. De facto, o próprio Cristo, no sacrifício da
cruz, gerou a Igreja como sua esposa e seu corpo. Os Padres da
Igreja meditaram longamente sobre a semelhança que há entre a origem
de Eva do lado de Adão adormecido (Gn 2, 21-23) e a da nova
Eva, a Igreja, do lado aberto de Cristo mergulhado no sono da morte:
do seu lado trespassado — narra João — saiu sangue e água (Jo
19, 34), símbolo dos sacramentos.(30) Um olhar contemplativo para «
Aquele que trespassaram » (Jo 19, 37) leva-nos a considerar a
ligação causal entre o sacrifício de Cristo, a Eucaristia e a
Igreja. Com efeito, esta « vive da Eucaristia ».(31) Uma vez que
nela se torna presente o sacrifício redentor de Cristo, temos de
reconhecer antes de mais que « existe um influxo causal da
Eucaristia nas próprias origens da Igreja ».(32) A Eucaristia é
Cristo que Se dá a nós, edificando-nos continuamente como seu corpo.
Portanto, na sugestiva circularidade entre a Eucaristia que edifica
a Igreja e a própria Igreja que faz a Eucaristia,(33) a causalidade
primária está expressa na primeira fórmula: a Igreja pode celebrar e
adorar o mistério de Cristo presente na Eucaristia, precisamente
porque o próprio Cristo Se deu primeiro a ela no sacrifício da Cruz.
A possibilidade que a Igreja tem de « fazer » a Eucaristia está
radicada totalmente na doação que Jesus lhe fez de Si mesmo. Também
este aspecto nos persuade de quão verdadeira seja a frase de São
João: « Ele amou-nos primeiro » (1 Jo 4, 19). Deste modo,
também nós confessamos, em cada celebração, o primado do dom de
Cristo; o influxo causal da Eucaristia, que está na origem da
Igreja, revela em última análise a precedência não só cronológica
mas também ontológica do amor de Jesus relativamente ao nosso: será,
por toda a eternidade, Aquele que nos ama primeiro.
Eucaristia e comunhão
eclesial
15. A Eucaristia é, pois,
constitutiva do ser e do agir da Igreja. Por isso, a antiguidade
cristã designava com as mesmas palavras — corpus Christi — o
corpo nascido da Virgem Maria, o corpo eucarístico e o corpo
eclesial de Cristo.(34) Bem atestado na tradição, este dado faz
crescer em nós a consciência da indissolubilidade entre Cristo e a
Igreja. Oferecendo-Se a Si mesmo em sacrifício por nós, o Senhor
Jesus preanunciou de modo eficaz no seu dom o mistério da Igreja. É
significativo o modo como a Oração Eucarística II, ao invocar o
Paráclito, formula a prece pela unidade da Igreja: « ...
participando no corpo e sangue de Cristo, sejamos reunidos, pelo
Espírito Santo, num só corpo ». Esta passagem ajuda a compreender
como a eficácia (res) do sacramento eucarístico seja a
unidade dos fiéis na comunhão eclesial. Assim, a Eucaristia aparece
na raiz da Igreja como mistério de comunhão.(35)
O servo de Deus João Paulo
II, na sua Encíclica
Ecclesia de Eucharistia,
tinha já chamado a atenção para a relação entre Eucaristia e
communio: falou do memorial de Cristo como sendo a « suprema
manifestação sacramental da comunhão na Igreja ».(36) A unidade da
comunhão eclesial revela-se, concretamente, nas comunidades cristãs
e renova-se no acto eucarístico que as une e diferencia em Igrejas
particulares, « in quibus et ex quibus una et unica Ecclesia
catholica exsistit – nas quais e pelas quais existe a Igreja
Católica, una e única ».(37) É precisamente a realidade da única
Eucaristia celebrada em cada diocese ao redor do respectivo Bispo
que nos faz compreender como as próprias Igrejas particulares
subsistam in e ex Ecclesia. De facto, « a unicidade e
indivisibilidade do corpo eucarístico do Senhor implicam a unicidade
do seu corpo místico, que é a Igreja una e indivisível. Do centro
eucarístico surge a necessária abertura de cada comunidade
celebrante, de cada Igreja particular: ao deixar-se atrair pelos
braços abertos do Senhor, consegue-se a inserção no seu corpo, único
e indiviso ».(38) Por este motivo, na celebração da Eucaristia, cada
fiel encontra-se na sua Igreja, isto é, na Igreja de Cristo.
Nesta perspectiva eucarística, adequadamente entendida, a comunhão
eclesial revela-se realidade católica por sua natureza.(39) O facto
de sublinhar esta raiz eucarística da comunhão eclesial pode
contribuir eficazmente também para o diálogo ecuménico com as
Igrejas e com as Comunidades eclesiais que não estão em plena
comunhão com a Sé de Pedro. Na realidade, a Eucaristia estabelece
objectivamente um forte vínculo de unidade entre a Igreja Católica e
as Igrejas Ortodoxas, que conservaram genuína e integralmente a
natureza do mistério da Eucaristia. Ao mesmo tempo, a relevância
dada ao carácter eclesial da Eucaristia pode tornar-se elemento
privilegiado também no diálogo com as Comunidades nascidas da
Reforma.(40)
Sacramentalidade da
Igreja
16. O Concílio Vaticano II
lembrou que « os restantes sacramentos, assim como todos os
ministérios eclesiásticos e obras de apostolado, estão vinculados
com a sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Com efeito, na
santíssima Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da
Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o pão vivo que dá
aos homens a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora
pelo Espírito Santo: assim são eles convidados e levados a oferecer,
juntamente com Ele, a si mesmos, os seus trabalhos e todas as coisas
criadas ».(41) Esta relação íntima da Eucaristia com os demais
sacramentos e com a existência cristã compreende-se, na sua raiz,
quando se contempla o mistério da própria Igreja como
sacramento.(42) A este respeito, o referido Concílio afirmou que « a
Igreja, em Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o
instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género
humano ».(43) Ela, enquanto « povo — como diz São Cipriano — reunido
na unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo »,(44) é sacramento
da comunhão trinitária.
O facto de a Igreja ser «
universal sacramento da salvação »(45) mostra que a « economia »
sacramental determina, em última análise, o modo como Jesus Cristo
único Salvador, por meio do Espírito, alcança a nossa vida na
especificidade das suas circunstâncias. A Igreja recebe-se e
simultaneamente exprime-se nos sete sacramentos, pelos quais
a graça de Deus influencia concretamente a existência dos fiéis para
que toda a sua vida, redimida por Cristo, se torne culto agradável a
Deus. Nesta perspectiva, desejo sublinhar aqui alguns elementos,
assinalados pelos padres sinodais, que podem ajudar a identificar a
relação dos diversos sacramentos com o mistério eucarístico.
Eucaristia, plenitude da
iniciação cristã
17. Se verdadeiramente a
Eucaristia é fonte e ápice da vida e da missão da Igreja, temos de
concluir antes de mais que o caminho de iniciação cristã tem como
ponto de referência tornar possível o acesso a tal sacramento. A
propósito, devemos interrogar-nos — como sugeriram os padres
sinodais — se as nossas comunidades cristãs têm suficiente noção do
vínculo estreito que há entre Baptismo, Confirmação e Eucaristia;
(46) de facto, é preciso não esquecer jamais que somos baptizados e
crismados em ordem à Eucaristia. Este dado implica o compromisso de
favorecer na acção pastoral uma compreensão mais unitária do
percurso de iniciação cristã. O sacramento do Baptismo, pelo qual
somos configurados a Cristo,(47) incorporados na Igreja e feitos
filhos de Deus, constitui a porta de acesso a todos os sacramentos;
através dele, somos inseridos no único corpo de Cristo (1 Cor
12, 13), povo sacerdotal. Mas é a participação no sacrifício
eucarístico que aperfeiçoa, em nós, o que recebemos no Baptismo.
Também os dons do Espírito são concedidos para a edificação do corpo
de Cristo (1 Cor 12) e o crescimento do testemunho evangélico
no mundo.(48) Portanto, a santíssima Eucaristia leva à plenitude a
iniciação cristã e coloca-se como centro e termo de toda a vida
sacramental.(49)
A ordem dos sacramentos
da iniciação
18. A este respeito, é
necessário prestar atenção ao tema da ordem dos sacramentos da
iniciação. Na Igreja, há tradições diferentes; esta diversidade é
patente nos costumes eclesiais do Oriente (50) e na prática
ocidental para a iniciação dos adultos,(51) se comparada com a das
crianças.(52) Contudo, tais diferenças não são propriamente de ordem
dogmática, mas de carácter pastoral. Em concreto, é necessário
verificar qual seja a prática que melhor pode, efectivamente, ajudar
os fiéis a colocarem no centro o sacramento da Eucaristia, como
realidade para qual tende toda a iniciação; em estreita colaboração
com os Dicastérios competentes da Cúria Romana, as Conferências
Episcopais verifiquem a eficácia dos percursos de iniciação actuais,
para que o cristão seja ajudado, pela acção educativa das nossas
comunidades, a maturar cada vez mais até chegar a assumir na sua
vida uma orientação autenticamente eucarística, de tal modo que seja
capaz de dar razão da própria esperança de maneira adequada ao nosso
tempo (1 Pd 3, 15).
Iniciação, comunidade
eclesial e família
19. É preciso ter sempre
presente que toda a iniciação cristã é caminho de conversão que háde
ser realizada com a ajuda de Deus e em constante referimento à
comunidade eclesial, quer quando é o adulto que pede para entrar na
Igreja, como acontece nos lugares de primeira evangelização e em
muitas zonas secularizadas, quer quando são os pais a pedir os
sacramentos para seus filhos. A este respeito, desejo chamar a
atenção sobretudo para a relação entre iniciação cristã e família;
na acção pastoral, sempre se deve associar a família cristã ao
itinerário de iniciação. Receber o Baptismo, a Confirmação e
abeirar-se pela primeira vez da Eucaristia são momentos decisivos
não só para a pessoa que os recebe mas também para toda a sua
família; esta deve ser sustentada, na sua tarefa educativa, pela
comunidade eclesial em suas diversas componentes.(53) Quero
sublinhar aqui a relevância da Primeira Comunhão; para inúmeros
fiéis, este dia permanece, justamente, gravado na memória como o
primeiro momento em que se percebeu, embora de forma ainda inicial,
a importância do encontro pessoal com Jesus. A pastoral paroquial
deve valorizar adequadamente esta ocasião tão significativa.
Sua ligação intrínseca
20. Os padres sinodais
afirmaram, justamente, que o amor à Eucaristia leva a apreciar cada
vez mais também o sacramento da Reconciliação.(54) Por causa da
ligação entre ambos os sacramentos, uma catequese autêntica acerca
do sentido da Eucaristia não pode ser separada da proposta dum
caminho penitencial (1 Cor 11, 27-29). Constatamos — é certo
— que, no nosso tempo, os fiéis se encontram imersos numa cultura
que tende a cancelar o sentido do pecado,(55) favorecendo um estado
de espírito superficial que leva a esquecer a necessidade de estar
na graça de Deus para se aproximar dignamente da comunhão
sacramental.(56) Na realidade, a perda da consciência do pecado
engloba sempre também uma certa superficialidade na compreensão do
próprio amor de Deus. É muito útil para os fiéis recordar-lhes os
elementos que, no rito da Santa Missa, explicitam a consciência do
próprio pecado e, simultaneamente, da misericórdia de Deus.(57) Além
disso, a relação entre a Eucaristia e a Reconciliação recorda-nos
que o pecado nunca é uma realidade exclusivamente individual, mas
inclui sempre também uma ferida no seio da comunhão eclesial, na
qual nos encontramos inseridos pelo Baptismo. Por isso, como diziam
os Padres da Igreja, a Reconciliação é um baptismo laborioso (laboriosus
quidam baptismus),(58) sublinhando assim que o resultado do
caminho de conversão é também o restabelecimento da plena comunhão
eclesial, que se exprime no abeirar-se novamente da Eucaristia.(59)
Alguns cuidados
pastorais
21. O Sínodo lembrou que é
dever pastoral do bispo promover na sua diocese uma decisiva
recuperação da pedagogia da conversão que nasce da Eucaristia e
favorecer entre os fiéis a confissão frequente. Todos os sacerdotes
se dediquem com generosidade, empenho e competência à administração
do sacramento da Reconciliação.(60) A propósito, procure-se que, nas
nossas igrejas, os confessionários sejam bem visíveis e expressivos
do significado deste sacramento. Peço aos pastores que vigiem
atentamente sobre a celebração do sacramento da Reconciliação,
limitando a prática da absolvição geral exclusivamente aos casos
previstos,(61) permanecendo como forma ordinária de absolvição
apenas a pessoal.(62) Vista a necessidade de descobrir novamente o
perdão sacramental, haja em todas as dioceses o Penitenciário.(63)
Por último, pode servir de válida ajuda para a nova tomada de
consciência desta relação entre a Eucaristia e a Reconciliação uma
prática equilibrada e conscienciosa da indulgência, lucrada a
favor de si mesmo ou dos defuntos. Com ela, obtém-se « a remissão,
perante Deus, da pena temporal devida aos pecados, cuja culpa já foi
apagada ».(64) O uso das indulgências ajuda-nos a compreender que
não somos capazes, só com as nossas forças, de reparar o mal
cometido e que os pecados de cada um causam dano a toda a
comunidade; além disso, a prática da indulgência, implicando a
doutrina dos méritos infinitos de Cristo bem como a da comunhão dos
santos, mostra-nos « quanto estejamos, em Cristo, intimamente unidos
uns aos outros e quanto a vida sobrenatural de cada um possa
aproveitar aos outros ».(65) Dado que a forma própria da indulgência
prevê, entre as condições requeridas, o abeirar-se da confissão e da
comunhão sacramental, a sua prática pode sustentar eficazmente os
fiéis no caminho da conversão e na descoberta da centralidade da
Eucaristia na vida cristã.
22. Jesus não Se limitou a
enviar os seus discípulos a curar os doentes (Mt 10, 8; Lc
9, 2; 10, 9), mas instituiu para eles também um sacramento
específico: a Unção dos Enfermos.(66) A Carta de Tiago
testemunha a presença deste gesto sacramental já na primitiva
comunidade cristã (5, 14-16). Se a Eucaristia mostra como os
sofrimentos e a morte de Cristo foram transformados em amor, a Unção
dos Enfermos, por seu lado, associa o doente à oferta que Cristo fez
de Si mesmo pela salvação de todos, de tal modo que possa também
ele, no mistério da comunhão dos santos, participar na redenção do
mundo. A relação entre ambos os sacramentos aparece ainda mais clara
quando se agrava a doença: « Àqueles que vão deixar esta vida, a
Igreja oferece-lhes, além da Unção dos Enfermos, a Eucaristia como
viático ».(67) Nesta passagem para o Pai, a comunhão no corpo e
sangue de Cristo aparece como semente de vida eterna e força de
ressurreição: « Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a
vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia » (Jo 6, 54).
Uma vez que o sagrado Viático desvenda ao doente a plenitude do
mistério pascal, é preciso assegurar a sua administração.(68) A
atenção e o cuidado pastoral por aqueles que se encontram doentes
redunda, seguramente, em benefício espiritual de toda a comunidade,
sabendo que tudo o que fizermos ao mais pequenino, ao próprio Jesus
o faremos (Mt 25, 40).
Na pessoa de Cristo
cabeça
23. O vínculo intrínseco
entre a Eucaristia e o sacramento da Ordem deduz-se das próprias
palavras de Jesus no Cenáculo: «Fazei isto em memória de Mim» (Lc
22, 19). De facto, na vigília da sua morte, Ele instituiu a
Eucaristia e ao mesmo tempo fundou o sacerdócio da Nova Aliança.
Jesus é sacerdote, vítima e altar: mediador entre Deus Pai e o povo
(Heb 5, 5-10), vítima de expiação (1 Jo 2, 2; 4, 10)
que Se oferece a Si mesma no altar da cruz. Ninguém pode dizer «
isto é o meu corpo » e « este é o cálice do meu sangue » senão em
nome e na pessoa de Cristo, único sumo sacerdote da nova e eterna
Aliança (Heb 8-9). O Sínodo dos Bispos já se ocupara, noutras
assembleias, do sacerdócio ordenado tanto no que diz respeito à
identidade do ministério,(69) como à formação dos candidatos.(70) Na
presente circunstância importa-me, à luz do diálogo realizado no
âmbito da última assembleia sinodal, sublinhar alguns valores que
têm a ver com a relação entre o sacramento eucarístico e a Ordem.
Antes de mais nada, é necessário reafirmar que a ligação entre a
Ordem sacra e a Eucaristia é visível precisamente na
Missa que o bispo ou o presbítero preside na pessoa de Cristo
cabeça (in persona Christi capitis).
A doutrina da Igreja
considera a ordenação sacerdotal condição indispensável para a
celebração válida da Eucaristia.(71) De facto, « no serviço eclesial
do ministro ordenado, é o próprio Cristo que está presente à sua
Igreja, como cabeça do seu corpo, pastor do seu rebanho, sumo
sacerdote do sacrifício redentor ».(72) Certamente o ministro
ordenado « age também em nome de toda a Igreja, quando apresenta a
Deus a oração da mesma Igreja e, sobretudo, quando oferece o
sacrifício eucarístico ».(73) Por isso, é necessário que os
sacerdotes tenham consciência de que, em todo o seu ministério,
nunca devem colocar em primeiro plano a sua pessoa nem as suas
opiniões, mas Jesus Cristo. Contradiz a identidade sacerdotal toda a
tentativa de se colocarem a si mesmos como protagonistas da acção
litúrgica. Aqui, mais do que nunca, o sacerdote é servo e deve
continuamente empenhar-se por ser sinal que, como dócil instrumento
nas mãos de Cristo, aponta para Ele. Isto exprime-se de modo
particular na humildade com que o sacerdote conduz a acção
litúrgica, obedecendo ao rito, aderindo ao mesmo com o coração e a
mente, evitando tudo o que possa dar a sensação de um seu inoportuno
protagonismo. Recomendo, pois, ao clero que não cesse de aprofundar
a consciência do seu ministério eucarístico como um serviço humilde
a Cristo e à sua Igreja. O sacerdócio, como dizia Santo Agostinho, é
um serviço de amor (amoris officium),(74) é o serviço do bom
pastor, que oferece a vida pelas ovelhas (Jo 10, 14-15).
Eucaristia e celibato
sacerdotal
24. Os padres sinodais
quiseram sublinhar como o sacerdócio ministerial requer, através da
ordenação, a plena configuração a Cristo. Embora respeitando a
prática e tradição oriental diferente, é necessário reiterar o
sentido profundo do celibato sacerdotal, justamente considerado uma
riqueza inestimável e confirmado também pela prática oriental de
escolher os bispos apenas de entre aqueles que vivem no celibato,
indício da grande honra em que ela tem a opção do celibato feita por
numerosos presbíteros. Com efeito, nesta opção do sacerdote
encontram expressão peculiar a dedicação que o conforma a Cristo e a
oferta exclusiva de si mesmo pelo Reino de Deus.(75) O facto de o
próprio Cristo, eterno sacerdote, ter vivido a sua missão até ao
sacrifício da cruz no estado de virgindade constitui o ponto seguro
de referência para perceber o sentido da tradição da Igreja Latina a
tal respeito. Assim, não é suficiente compreender o celibato
sacerdotal em termos meramente funcionais; na realidade, constitui
uma especial conformação ao estilo de vida do próprio Cristo. Antes
de mais, semelhante opção é esponsal: a identificação com o coração
de Cristo Esposo que dá a vida pela sua Esposa. Em sintonia com a
grande tradição eclesial, com o Concílio Vaticano II (76) e com os
Sumos Pontífices (77) meus predecessores, corroboro a beleza e a
importância duma vida sacerdotal vivida no celibato como sinal
expressivo de dedicação total e exclusiva a Cristo, à Igreja e ao
Reino de Deus, e, consequentemente, confirmo a sua obrigatoriedade
para a tradição latina. O celibato sacerdotal, vivido com
maturidade, alegria e dedicação, é uma bênção enorme para a Igreja e
para a própria sociedade.
Escassez de clero e
pastoral vocacional
25. A propósito da ligação
entre o sacramento da Ordem e a Eucaristia, o Sínodo deteve-se sobre
a dolorosa situação que se tem vindo a criar em diversas dioceses a
braços com a escassez de sacerdotes. Isto acontece não só em algumas
zonas de primeira evangelização, mas também em muitos países de
longa tradição cristã. Para a solução do problema contribui
certamente uma distribuição mais equitativa do clero; mas, para
isso, é preciso um trabalho de sensibilização capilar. Os bispos
empenhem nas necessidades pastorais os institutos de vida consagrada
e as novas realidades eclesiais, no respeito do respectivo carisma,
e solicitem todos os membros do clero a uma disponibilidade maior
para irem servir a Igreja nos lugares onde houver necessidade, sem
olhar a sacrifícios.(78) Além disso, o Sínodo debruçou-se também
sobre os cuidados pastorais a ter principalmente com os jovens para
favorecer a sua abertura interior à vocação sacerdotal. A solução
para tal carestia não se pode encontrar em meros estratagemas
pragmáticos; deve-se evitar que os bispos, levados por
compreensíveis preocupações funcionais devido à falta de clero,
acabem por não realizar um adequado discernimento vocacional,
admitindo à formação específica e à ordenação candidatos que não
possuam as características necessárias para o serviço
sacerdotal.(79) Um clero insuficientemente formado e admitido à
ordenação sem o necessário discernimento dificilmente poderá
oferecer um testemunho capaz de suscitar noutros o desejo de
generosa correspondência à vocação de Cristo. Na realidade, a
pastoral vocacional deve empenhar a comunidade cristã em todos os
seus âmbitos.(80) Obviamente, no referido trabalho pastoral capilar,
está incluída também a obra de sensibilização das famílias, muitas
vezes indiferentes se não mesmo contrárias à hipótese da vocação
sacerdotal. Que elas se abram com generosidade ao dom da vida e
eduquem os filhos para serem disponíveis à vontade de Deus! Em
resumo, é preciso sobretudo ter a coragem de propor aos jovens o
seguimento radical de Cristo, mostrando-lhes o seu encanto.
Gratidão e esperança
26. Enfim, é necessário ter
maior fé e esperança na iniciativa divina. Apesar da escassez de
clero que se verifica em algumas regiões, não deve esmorecer jamais
a confiança de que Cristo continua a suscitar homens que não hesitam
em abandonar qualquer outra ocupação para dedicar-se totalmente à
celebração dos mistérios sagrados, à pregação do Evangelho e ao
ministério pastoral. Nesta ocasião, desejo dar voz à gratidão da
Igreja inteira por todos os bispos e presbíteros que cumprem, com
fiel dedicação e empenho, a própria missão. Naturalmente, este
agradecimento da Igreja estende-se também aos diáconos, a quem são
impostas as mãos « não em ordem ao sacerdócio mas ao ministério
».(81) Como recomendou a assembleia do Sínodo, dirijo um obrigado
especial aos presbíteros fidei donum que edificam a
comunidade, com competência e generosa dedicação, anunciando-lhe a
palavra de Deus e repartindo o pão da vida, sem pouparem as suas
energias ao serviço da missão da Igreja.(82) Por fim, é preciso
agradecer a Deus pelos numerosos sacerdotes que tiveram de sofrer
até ao sacrifício da vida por servir a Cristo. Neles se manifesta,
com a eloquência dos factos, o que significa ser sacerdote a fundo;
trata-se de comoventes testemunhos que poderão inspirar muitos
jovens a seguirem por sua vez a Cristo e gastarem a sua vida pelos
outros, encontrando precisamente assim a vida verdadeira.
Eucaristia, sacramento
esponsal
27. A Eucaristia, sacramento
da caridade, apresenta uma relação particular com o amor do homem e
da mulher unidos em matrimónio. Aprofundar tal relação é uma
necessidade do nosso tempo.(83) Várias vezes o Papa João Paulo II
teve ocasião de afirmar o carácter esponsal da Eucaristia e a sua
relação peculiar com o sacramento do matrimónio: « A Eucaristia é o
sacramento da nossa redenção. É o sacramento do Esposo, da Esposa
».(84) Aliás, « toda a vida cristã tem a marca do amor esponsal
entre Cristo e a Igreja. Já o Baptismo, entrada no povo de Deus, é
um mistério nupcial; é, por assim dizer, o banho de núpcias que
precede o banquete das bodas, a Eucaristia ».(85) Esta corrobora de
forma inexaurível a unidade e o amor indissolúveis de cada
matrimónio cristão. Neste, em virtude do sacramento, o vínculo
conjugal está intrinsecamente ligado com a união eucarística entre
Cristo esposo e a Igreja esposa (Ef 5, 31-32). O
consentimento recíproco, que o marido e a esposa trocam entre si em
Cristo constituindo-os em comunidade de vida e de amor, tem também
uma dimensão eucarística; com efeito, na teologia paulina, o amor
esponsal é sinal sacramental do amor de Cristo pela sua Igreja, um
amor que tem o seu ponto culminante na cruz, expressão das suas «
núpcias » com a humanidade e, ao mesmo tempo, origem e centro da
Eucaristia. Por isso, a Igreja manifesta uma particular
solidariedade espiritual a todos aqueles que fundaram a sua família
sobre o sacramento do Matrimónio.(86) A família — igreja doméstica (
87) — é um âmbito primário da vida da Igreja, especialmente pelo
papel decisivo que tem na educação cristã dos filhos.(88) Neste
contexto, o Sínodo recomendou também o reconhecimento da missão
singular que tem a mulher na família e na sociedade, missão esta que
há-de ser protegida, salvaguardada e promovida.(89) A sua dimensão
de esposa e mãe constitui uma realidade imprescindível, que nunca
deve ser desprezada.
Eucaristia e unidade do
Matrimónio
28. É precisamente à luz
desta relação intrínseca entre Matrimónio, família e Eucaristia que
se podem considerar alguns problemas pastorais. O vínculo fiel,
indissolúvel e exclusivo que une Cristo e a Igreja e tem expressão
sacramental na Eucaristia, está de harmonia com o dado antropológico
primordial segundo o qual o homem deve unir-se de modo definitivo
com uma só mulher, e vice-versa (Gn 2, 24; Mt 19, 5).
Nesta linha de pensamento, o Sínodo dos Bispos debruçou-se sobre a
prática pastoral que deve ser seguida com as pessoas originárias de
culturas onde é praticada a poligamia, que recebem o anúncio do
Evangelho: quantos vivem em tal situação e se abrem à fé cristã
devem ser ajudados a integrar o seu projecto humano na novidade
radical de Cristo; no percurso do catecumenado, Cristo alcança-os na
sua condição específica e chama-os à verdade plena do amor passando
através das renúncias que são necessárias para chegarem à comunhão
eclesial perfeita. A Igreja acompanha-os com uma pastoral imbuída
simultaneamente de suavidade e de firmeza,(90) mostrando-lhes
sobretudo a luz dos mistérios cristãos que se reflecte sobre a
natureza e os afectos humanos.
Eucaristia e
indissolubilidade do Matrimónio
29. Se a Eucaristia exprime
a irreversibilidade do amor de Deus em Cristo pela sua Igreja,
compreende-se por que motivo a mesma implique, relativamente ao
sacramento do Matrimónio, aquela indissolubilidade a que todo o amor
verdadeiro não pode deixar de anelar.(91) Por isso, é mais que
justificada a atenção pastoral que o Sínodo reservou às dolorosas
situações em que se encontram não poucos fiéis que, depois de ter
celebrado o sacramento do Matrimónio, se divorciaram e contraíram
novas núpcias. Trata-se dum problema pastoral espinhoso e complexo,
uma verdadeira praga do ambiente social contemporâneo que vai
progressivamente corroendo os próprios ambientes católicos. Os
pastores, por amor da verdade, são obrigados a discernir bem as
diferentes situações, para ajudar espiritualmente e de modo adequado
os fiéis implicados.(92) O Sínodo dos Bispos confirmou a prática da
Igreja, fundada na Sagrada Escritura (Mc 10, 2-12), de não
admitir aos sacramentos os divorciados re-casados, porque o seu
estado e condição de vida contradizem objectivamente aquela união de
amor entre Cristo e a Igreja que é significada e realizada na
Eucaristia. Todavia os divorciados re-casados, não obstante a sua
situação, continuam a pertencer à Igreja, que os acompanha com
especial solicitude na esperança de que cultivem, quanto possível,
um estilo cristão de vida, através da participação na Santa Missa
ainda que sem receber a comunhão, da escuta da palavra de Deus, da
adoração eucarística, da oração, da cooperação na vida comunitária,
do diálogo franco com um sacerdote ou um mestre de vida espiritual,
da dedicação ao serviço da caridade, das obras de penitência, do
empenho na educação dos filhos.
Nos casos em que surjam
legitimamente dúvidas sobre a validade do Matrimónio sacramental
contraído, deve fazer-se tudo o que for necessário para verificar o
fundamento das mesmas. Há que assegurar, pois, no pleno respeito do
direito canónico,(93) a presença no território dos tribunais
eclesiásticos, o seu carácter pastoral, a sua actividade correcta e
pressurosa; (94) é necessário haver, em cada diocese, um número
suficiente de pessoas preparadas para o solícito funcionamento dos
tribunais eclesiásticos. Recordo que « é uma obrigação grave tornar
a actuação institucional da Igreja nos tribunais cada vez mais
acessível aos fiéis ».(95) No entanto, é preciso evitar que a
preocupação pastoral seja vista como se estivesse em contraposição
com o direito; ao contrário, deve-se partir do pressuposto que o
ponto fundamental de encontro entre direito e pastoral é o amor
pela verdade: com efeito, esta nunca é abstracta, mas
«integra-se no itinerário humano e cristão de cada fiel».(96) Enfim,
caso não seja reconhecida a nulidade do vínculo matrimonial e se
verifiquem condições objectivas que tornam realmente irreversível a
convivência, a Igreja encoraja estes fiéis a esforçarem-se por viver
a sua relação segundo as exigências da lei de Deus, como amigos,
como irmão e irmã; deste modo poderão novamente abeirar-se da mesa
eucarística, com os cuidados previstos por uma comprovada prática
eclesial. Para que tal caminho se torne possível e dê frutos, deve
ser apoiado pela ajuda dos pastores e por adequadas iniciativas
eclesiais, evitando, em todo o caso, de abençoar estas relações para
que não surjam entre os fiéis confusões acerca do valor do
matrimónio.(97)
Vista a complexidade do
contexto cultural em que vive a Igreja em muitos países, o Sínodo
recomendou ainda que se tivesse o máximo cuidado pastoral com a
formação dos nubentes e a verificação prévia das suas convicções
sobre os compromissos irrenunciáveis para a validade do sacramento
do Matrimónio. Um sério discernimento a tal respeito poderá evitar
que impulsos emotivos ou razões superficiais induzam os dois jovens
a assumir responsabilidades que depois não poderão honrar.(98)
Demasiado grande é o bem que a Igreja e a sociedade inteira esperam
do Matrimónio e da família fundada sobre o mesmo para não nos
comprometermos a fundo neste âmbito pastoral específico; Matrimónio
e família são instituições cuja verdade deve ser promovida e
defendida de qualquer equívoco, porque todo o dano a elas causado é
realmente uma ferida que se inflige à convivência humana como tal.
Eucaristia, dom para o
homem a caminho
30. Se é certo que os
sacramentos são uma realidade que pertence à Igreja peregrina no
tempo( 99) rumo à plena manifestação da vitória de Cristo
ressuscitado, é igualmente verdade que, sobretudo na liturgia
eucarística, nos é dado saborear antecipadamente a consumação
escatológica para a qual todo o homem e a criação inteira estão a
caminho (Rm 8, 19s). O homem é criado para a felicidade
verdadeira e eterna, que só o amor de Deus pode dar; mas a nossa
liberdade ferida extraviar-se-ia se não lhe fosse possível
experimentar, já desde agora, algo da consumação futura. Aliás, para
poder caminhar na direcção justa, o homem necessita de estar
orientado para a meta final; esta, na realidade, é o próprio Cristo
Senhor, vencedor do pecado e da morte, que Se torna presente para
nós de maneira especial na celebração eucarística. Deste modo,
embora sejamos ainda « estrangeiros e peregrinos » (1 Pd 2,
11) neste mundo, pela fé participamos já da plenitude da vida
ressuscitada. O banquete eucarístico, ao revelar a sua dimensão
intensamente escatológica, vem em ajuda da nossa liberdade a
caminho.
O banquete escatológico
31. Reflectindo sobre este
mistério, podemos dizer que Cristo, com a sua vinda, Se colocou em
sintonia com a expectativa presente no povo de Israel, na humanidade
inteira e fundamentalmente na própria criação. Com o dom de Si
mesmo, inaugurou objectivamente o tempo escatológico. Cristo veio
chamar à unidade o povo de Deus que andava disperso (Jo 11,
52), manifestando claramente a intenção de congregar a comunidade da
aliança para dar cumprimento às promessas feitas por Deus a nossos
pais (Jer 23, 3; 31, 10; Lc 1, 55.70). Com o
chamamento dos Doze — número que evoca as doze tribos de Israel — e
o mandato que lhes confiou na Última Ceia, antes da sua paixão
redentora, de celebrarem o seu memorial, Jesus manifestou que queria
transferir, para a comunidade inteira por Ele fundada, a missão de
ser, na história, sinal e instrumento da reunificação escatológica
que n'Ele teve início. Por isso, em cada celebração eucarística,
realiza-se sacramentalmente a unificação escatológica do povo de
Deus. Para nós, o banquete eucarístico é uma antecipação real do
banquete final, preanunciado pelos profetas (Is 25, 6-9) e
descrito no Novo Testamento como « as núpcias do Cordeiro » (Ap
19, 7-9) que se hão-de celebrar na comunhão dos santos.(100)
Oração pelos defuntos
32. A celebração
eucarística, na qual anunciamos a morte do Senhor e proclamamos a
sua ressurreição enquanto aguardamos a sua vinda gloriosa, é penhor
da glória futura, quando mesmo os nossos corpos serão glorificados.
Ao celebrarmos o memorial da nossa salvação, reforça-se em nós a
esperança da ressurreição da carne juntamente com a possibilidade de
encontrarmos de novo, face a face, aqueles que nos precederam com o
sinal da fé. Nesta linha, queria, juntamente com os padres sinodais,
lembrar a todos os fiéis a importância da oração de sufrágio,
particularmente a celebração de Missas, pelos defuntos para que,
purificados, possam chegar à visão beatífica de Deus.(101) Sempre
que descobrimos de novo a dimensão escatológica presente na
Eucaristia, celebrada e adorada, somos apoiados no nosso caminho e
confortados na esperança da glória (Rm 5, 2; Tt 2,
13).
33. Da relação entre a
Eucaristia e os restantes sacramentos juntamente com o significado
escatológico dos santos mistérios, irrompe o perfil da vida cristã,
chamada a ser em cada instante culto espiritual, oferta de si mesma
agradável a Deus. E, se é verdade que nos encontramos todos ainda a
caminho rumo à plena consumação da nossa esperança, isto não impede
de podermos já agora reconhecer, com gratidão, que tudo aquilo que
Deus nos deu, se realizou perfeitamente na Virgem Maria, Mãe de Deus
e nossa: a sua assunção ao céu em corpo e alma é, para nós, sinal de
segura esperança, enquanto nos aponta a nós, peregrinos no tempo,
aquela meta escatológica que o sacramento da Eucaristia desde já nos
faz saborear.
Em Maria Santíssima, vemos
perfeitamente realizada também a modalidade sacramental com que Deus
alcança e envolve na sua iniciativa salvífica a criatura humana.
Desde a anunciação ao Pentecostes, Maria de Nazaré aparece como uma
pessoa cuja liberdade está completamente disponível à vontade de
Deus; a sua Imaculada Conceição revela-se propriamente na docilidade
incondicional à palavra divina. A fé obediente é a forma que a sua
vida assume em cada instante perante a acção de Deus: Virgem à
escuta, Ela vive em plena sintonia com a vontade divina; conserva no
seu coração as palavras que lhe chegam da parte de Deus e,
dispondo-as à maneira de um mosaico, aprende a compreendê-las mais a
fundo (Lc 2, 19.51); Maria é a grande Crente que, cheia de
confiança, Se coloca nas mãos de Deus, abandonando-Se à sua
vontade.(102) Um tal mistério vai crescendo de intensidade até
chegar ao pleno envolvimento d'Ela na missão redentora de Jesus;
como afirmou o Concílio Vaticano II, « assim avançou a Virgem pelo
caminho da fé, mantendo fielmente a união com seu Filho até à cruz.
Junto desta esteve, não sem desígnio de Deus (Jo 19, 25),
padecendo acerbamente com o seu Filho único, e associando-Se com
coração de mãe ao seu sacrifício, consentindo com amor na imolação
da vítima que d'Ela nascera; finalmente, Jesus Cristo, agonizante na
cruz, deu-A por mãe ao discípulo, com estas palavras: mulher, eis aí
o teu filho (Jo 19, 26-27) ».(103) Desde a anunciação até à
cruz, Maria é Aquela que acolhe a Palavra que n'Ela Se fez carne e
foi até emudecer no silêncio da morte. É Ela, enfim, que recebe nos
seus braços o corpo imolado, já exânime, d'Aquele que
verdadeiramente amou os Seus « até ao fim » (Jo 13, 1).
Por isso, sempre que na
liturgia eucarística nos abeiramos do corpo e do sangue de Cristo,
dirigimo-nos também a Ela que, por toda a Igreja, acolheu o
sacrifício de Cristo, aderindo plenamente ao mesmo. Justamente
afirmaram os padres sinodais que « Maria inaugura a participação da
Igreja no sacrifício do Redentor ».(104) Ela é a Imaculada que
acolhe incondicionalmente o dom de Deus, e desta forma fica
associada à obra da salvação. Maria de Nazaré, ícone da Igreja
nascente, é o modelo para cada um de nós saber como é chamado a
acolher a doação que Jesus fez de Si mesmo na Eucaristia.
«Em verdade, em verdade vos
digo: Não foi Moisés que vos deu o pão que vem do céu; meu Pai é que
vos dá o verdadeiro pão que vem do céu» (Jo 6, 32)
Norma da oração e norma
de fé
34. O Sínodo dos Bispos
reflectiu demoradamente sobre a relação intrínseca entre fé
eucarística e celebração, pondo em evidência a ligação entre a norma
da oração (lex orandi) e a norma de fé (lex credendi)
e sublinhando o primado da acção litúrgica. É necessário
viver a Eucaristia como mistério da fé autenticamente celebrado, bem
cientes de que « a inteligência da fé (intellectus fidei)
sempre está originariamente em relação com a acção litúrgica da
Igreja »:(105) neste âmbito, a reflexão teológica não pode
prescindir jamais da ordem sacramental instituída pelo próprio
Cristo; por outro lado, a acção litúrgica nunca pode ser considerada
genericamente, prescindindo do mistério da fé. Com efeito, a fonte
da nossa fé e da liturgia eucarística é o mesmo acontecimento: a
doação que Cristo fez de Si próprio no mistério pascal.
Beleza e liturgia
35. A relação entre mistério
acreditado e mistério celebrado manifesta-se, de modo peculiar, no
valor teológico e litúrgico da beleza. De facto, a liturgia, como
aliás a revelação cristã, tem uma ligação intrínseca com a beleza: é
esplendor da verdade (veritatis splendor). Na liturgia,
brilha o mistério pascal, pelo qual o próprio Cristo nos atrai a Si
e chama à comunhão. Em Jesus, como costumava dizer São Boaventura,
contemplamos a beleza e o esplendor das origens.(106) Referimo-nos
aqui a este atributo da beleza, vista não enquanto mero esteticismo,
mas como modalidade com que a verdade do amor de Deus em Cristo nos
alcança, fascina e arrebata, fazendo-nos sair de nós mesmos e
atraindo-nos assim para a nossa verdadeira vocação: o amor.(107) Já
na criação, Deus Se deixa entrever na beleza e harmonia do universo
(Sab 13, 5; Rm 1, 19-20). Depois, no Antigo
Testamento, encontramos sinais grandiosos do esplendor da força de
Deus, que Se manifesta com a sua glória através dos prodígios
realizados no meio do povo eleito (Ex 14; 16, 10; 24, 12-18;
Nm 14, 20-23). No Novo Testamento, realiza-se definitivamente
esta epifania de beleza na revelação de Deus em Jesus Cristo: (108)
Ele é a manifestação plena da glória divina. Na glorificação do
Filho, resplandece e comunica-se a glória do Pai (Jo 1, 14;
8, 54; 12, 28; 17, 1). Mas, esta beleza não é uma simples harmonia
de formas; « o mais belo dos filhos do homem » (Sal 45/44, 3)
misteriosamente é também um indivíduo « sem distinção nem beleza que
atraia o nosso olhar » (Is 53, 2). Jesus Cristo mostra-nos
como a verdade do amor sabe transfigurar inclusive o mistério
sombrio da morte na luz radiante da ressurreição. Aqui o esplendor
da glória de Deus supera toda a beleza do mundo. A verdadeira beleza
é o amor de Deus que nos foi definitivamente revelado no mistério
pascal.
A beleza da liturgia
pertence a este mistério; é expressão excelsa da glória de Deus e,
de certa forma, constitui o céu que desce à terra. O memorial do
sacrifício redentor traz em si mesmo os traços daquela beleza de
Jesus testemunhada por Pedro, Tiago e João, quando o Mestre, a
caminho de Jerusalém, quis transfigurar-Se diante deles (Mc
9, 2). Concluindo, a beleza não é um factor decorativo da acção
litúrgica, mas seu elemento constitutivo, enquanto atributo do
próprio Deus e da sua revelação. Tudo isto nos há-de tornar
conscientes da atenção que se deve prestar à acção litúrgica para
que brilhe segundo a sua própria natureza.
Cristo inteiro: cabeça e
corpo
36. A beleza intrínseca da
liturgia tem, como sujeito próprio, Cristo ressuscitado e
glorificado no Espírito Santo, que inclui a Igreja na sua
acção.(109) Nesta perspectiva, é muito sugestivo recordar as
palavras de Santo Agostinho que descrevem, de modo eficaz, esta
dinâmica de fé própria da Eucaristia; referindo-se precisamente ao
mistério eucarístico, o grande santo de Hipona põe em evidência como
o próprio Cristo nos assimila a Si mesmo: « O pão que vedes sobre o
altar, santificado com a palavra de Deus, é o corpo de Cristo. O
cálice, ou melhor, aquilo que o cálice contém, santificado com as
palavras de Deus, é sangue de Cristo. Com estes [sinais], Cristo
Senhor quis confiar-nos o seu corpo e o seu sangue, que derramou por
nós para a remissão dos pecados. Se os recebestes bem, vós mesmos
sois Aquele que recebestes ».(110) Assim, « tornamo-nos não apenas
cristãos, mas o próprio Cristo ».(111) Nisto podemos contemplar a
acção misteriosa de Deus, que inclui a unidade profunda entre nós e
o Senhor Jesus: « De facto, não se pode crer que Cristo esteja na
cabeça sem estar também no corpo, pois Ele está todo inteiro na
cabeça e no corpo (Christus totus in capite et in corpore)
».(112)
Eucaristia e Cristo
ressuscitado
37. Visto que a liturgia
eucarística é essencialmente acção de Deus (actio Dei) que
nos envolve em Jesus por meio do Espírito, o seu fundamento não está
à mercê do nosso arbítrio e não pode suportar a chantagem das modas
passageiras. Vale aqui também, sem dúvida, a advertência de São
Paulo: « Ninguém pode pôr outro fundamento diferente do que foi
posto, isto é, Jesus Cristo » (1 Cor 3, 11). O Apóstolo das
Gentes certifica-nos ainda, referindo-se à Eucaristia, que não nos
comunica uma doutrina pessoal, mas aquilo que, por sua vez, tinha
recebido (1 Cor 11, 23); de facto, a celebração da Eucaristia
implica a Tradição viva. A Igreja celebra o sacrifício eucarístico
obedecendo ao mandato de Cristo, a partir da experiência do
Ressuscitado e da efusão do Espírito Santo. Por este motivo, a
comunidade cristã, desde os seus primórdios, reúne-se para a fracção
do pão (fractio panis) no dia do Senhor. O dia em que Cristo
ressuscitou dos mortos, o domingo, é também o primeiro dia da
semana, aquele em que a tradição do Antigo Testamento contemplava o
início da criação. O dia da criação tornou-se agora o dia da « nova
criação », o dia da nossa libertação, no qual fazemos memória de
Cristo morto e ressuscitado.(113)
38. Durante os trabalhos
sinodais, foi várias vezes recomendada a necessidade de superar toda
e qualquer separação entre a arte da celebração (ars celebrandi,
isto é, a arte de celebrar rectamente) e a participação plena,
activa e frutuosa de todos os fiéis: com efeito, o primeiro modo de
favorecer a participação do povo de Deus no rito sagrado é a
condigna celebração do mesmo; a arte da celebração é a melhor
condição para a participação activa (actuosa participatio).(114)
Aquela resulta da fiel obediência às normas litúrgicas na sua
integridade, pois é precisamente este modo de celebrar que, há dois
mil anos, garante a vida de fé de todos os crentes, chamados a viver
a celebração enquanto povo de Deus, sacerdócio real, nação santa (1
Pd 2, 4-5.9).(115)
O bispo, liturgista por
excelência
39. Se é verdade que todo o
povo de Deus participa na liturgia eucarística, uma função
imprescindível, relativamente à correcta ars celebrandi,
compete todavia àqueles que receberam o sacramento da Ordem. Bispos,
sacerdotes e diáconos, cada qual segundo o próprio grau, devem
considerar a celebração como o seu dever principal.(116) Antes de
mais ninguém, o bispo diocesano: de facto, como « primeiro
dispensador dos mistérios de Deus na Igreja particular que lhe está
confiada, ele é o guia, o promotor e o guardião de toda a vida
litúrgica ».(117) Tudo isto é decisivo para a vida da Igreja
particular, não só porque a comunhão com o bispo é condição para que
seja legítima uma celebração no respectivo território, mas também
porque ele mesmo é o liturgista por excelência da sua Igreja.(118)
Compete-lhe salvaguardar a concorde unidade das celebrações na sua
diocese; por isso, deve ser « preocupação do bispo fazer com que os
presbíteros, os diáconos e os fiéis compreendam cada vez melhor o
sentido autêntico dos ritos e dos textos litúrgicos, levando-os
deste modo a uma activa e frutuosa celebração da Eucaristia ».(119)
De modo particular, exorto a fazer tudo o que for necessário a fim
de que as celebrações litúrgicas realizadas pelo bispo na catedral
se desenrolem no respeito cabal da arte da celebração, para que
possam ser consideradas como modelo por todas as igrejas espalhadas
no território.(120)
O respeito pelos livros
litúrgicos e pela riqueza dos sinais
40. Ao ressaltar a
importância da arte da celebração, consequentemente põe-se em
evidência o valor das normas litúrgicas.(121) Aquela deve favorecer
o sentido do sagrado e a utilização das formas exteriores que educam
para tal sentido, como, por exemplo, a harmonia do rito, das vestes
litúrgicas, da decoração e do lugar sagrado. A celebração
eucarística é frutuosa quando os sacerdotes e os responsáveis da
pastoral litúrgica se esforçam por dar a conhecer os livros
litúrgicos em vigor e as respectivas normas, pondo em destaque as
riquezas estupendas da Instrução Geral do Missal Romano e da
Instrução das Leituras da Missa. Talvez se dê por adquirido,
nas comunidades eclesiais, o seu conhecimento e devido apreço, mas
frequentemente não é assim; na realidade, trata-se de textos onde
estão contidas riquezas que guardam e exprimem a fé e o caminho do
povo de Deus ao longo dos dois milénios da sua história. Igualmente
importante para uma correcta arte da celebração é a atenção a todas
as formas de linguagem previstas pela liturgia: palavra e canto,
gestos e silêncios, movimento do corpo, cores litúrgicas dos
paramentos. Com efeito, a liturgia, por sua natureza, possui uma tal
variedade de níveis de comunicação que lhe permitem cativar o ser
humano na sua totalidade. A simplicidade dos gestos e a sobriedade
dos sinais, situados na ordem e nos momentos previstos, comunicam e
cativam mais do que o artificialismo de adições inoportunas. A
atenção e a obediência à estrutura própria do rito, ao mesmo tempo
que exprimem a consciência do carácter de dom da Eucaristia,
manifestam a vontade que o ministro tem de acolher, com dócil
gratidão, esse dom inefável.
Arte ao serviço da
celebração
41. A profunda ligação entre
a beleza e a liturgia deve levar-nos a considerar atentamente todas
as expressões artísticas colocadas ao serviço da celebração.(122)
Uma componente importante da arte sacra é, sem dúvida, a
arquitectura das igrejas,(123) nas quais há-de sobressair a
coerência entre os elementos próprios do presbitério: altar,
crucifixo, sacrário, ambão, cadeira. A este respeito, tenha-se
presente que a finalidade da arquitectura sacra é oferecer à Igreja
que celebra os mistérios de fé, especialmente a Eucaristia, o espaço
mais idóneo para uma condigna realização da sua acção litúrgica;
(124) de facto, a natureza do templo cristão define-se precisamente
pela acção litúrgica, a qual implica a reunião dos fiéis (ecclesia),
que são as pedras vivas do templo (1 Pd 2, 5).
O mesmo princípio vale para
toda a arte sacra em geral, especialmente para a pintura e a
escultura, devendo a iconografia religiosa ser orientada para a
mistagogia sacramental. Um conhecimento profundo das formas que a
arte sacra conseguiu produzir, ao longo dos séculos, pode ser de
grande ajuda para quem tenha a responsabilidade de chamar
arquitectos e artistas para comissionar-lhes obras de arte
destinadas à acção litúrgica; por isso, é indispensável que, na
formação dos seminaristas e dos sacerdotes, se inclua, entre as
disciplinas importantes, a História da Arte com especial referimento
aos edifícios de culto à luz das normas litúrgicas. Enfim, é
necessário que, em tudo quanto tenha a ver com a Eucaristia, haja
gosto pela beleza; dever-se-á ter respeito e cuidado também pelos
paramentos, as alfaias, os vasos sagrados, para que, interligados de
forma orgânica e ordenada, alimentem o enlevo pelo mistério de Deus,
manifestem a unidade da fé e reforcem a devoção.(125)
O canto litúrgico
42. Na arte da celebração,
ocupa lugar de destaque o canto litúrgico.(126) Com razão afirma
Santo Agostinho, num famoso sermão: « O homem novo conhece o cântico
novo. O cântico é uma manifestação de alegria e, se considerarmos
melhor, um sinal de amor ».(127) O povo de Deus, reunido para a
celebração, canta os louvores de Deus. Na sua história bimilenária,
a Igreja criou, e continua a criar, música e cânticos que constituem
um património de fé e amor que não se deve perder. Verdadeiramente,
em liturgia, não podemos dizer que tanto vale um cântico como outro;
a propósito, é necessário evitar a improvisação genérica ou a
introdução de géneros musicais que não respeitem o sentido da
liturgia. Enquanto elemento litúrgico, o canto deve integrar-se na
forma própria da celebração; (128) consequentemente, tudo — no
texto, na melodia, na execução — deve corresponder ao sentido do
mistério celebrado, às várias partes do rito e aos diferentes tempos
litúrgicos.(129) Enfim, embora tendo em conta as distintas
orientações e as diferentes e amplamente louváveis tradições, desejo
— como foi pedido pelos padres sinodais — que se valorize
adequadamente o canto gregoriano,(130) como canto próprio da
liturgia romana.(131)
43. Depois de ter recordado
os elementos fundamentais da arte da celebração relevados durante os
trabalhos sinodais, desejo chamar a atenção mais especificamente
para algumas partes da estrutura da celebração eucarística, que
necessitam de um cuidado particular no nosso tempo, a fim de
permanecermos fiéis à intenção profunda da renovação litúrgica que o
Concílio Vaticano II quis em continuidade com toda a grande tradição
eclesial.
Unidade intrínseca da
acção litúrgica
44. Antes de mais, é
necessário reflectir sobre a unidade intrínseca do rito da Santa
Missa, evitando, tanto nas catequeses como na modalidade de
celebração, que se dê ensejo a uma visão justaposta das duas partes
do rito: a liturgia da palavra e a liturgia eucarística — para além
dos ritos iniciais e conclusivo — « estão entre si tão estreitamente
ligadas que constituem um único acto de culto ».(132) De facto,
existe uma ligação intrínseca entre a palavra de Deus e a parte
eucarística: ao ouvirmos a palavra de Deus, nasce ou reforça-se a fé
(Rm 10, 17), enquanto, na parte eucarística, o Verbo feito
carne dá-Se a nós como alimento espiritual; (133) assim, « a partir
das duas mesas, a da palavra de Deus e a do corpo de Cristo, a
Igreja recebe e oferece aos fiéis o pão de vida ».(134) Por isso,
deve ter-se constantemente presente que a palavra de Deus, lida e
anunciada na liturgia pela Igreja, conduz à Eucaristia como a seu
fim conatural.
A liturgia da palavra
45. Juntamente com o Sínodo,
peço que a liturgia da palavra seja sempre devidamente preparada e
vivida. Recomendo, pois, vivamente que se tenha grande cuidado, nas
liturgias, com a proclamação da palavra de Deus por leitores bem
preparados; nunca nos esqueçamos de que, « quando na igreja se lê a
Sagrada Escritura, é o próprio Deus que fala ao seu povo, é Cristo
presente na sua palavra que anuncia o Evangelho ».(135) Se as
circunstâncias o recomendarem, pode-se pensar numas breves palavras
de introdução, que ajudem os fiéis a tomar renovada consciência do
momento. Para ser bem compreendida, a palavra de Deus deve ser
escutada e acolhida com espírito eclesial e cientes da sua unidade
com o sacramento eucarístico. Com efeito, a palavra que anunciamos e
ouvimos é o Verbo feito carne (Jo 1, 14) e possui uma
referência intrínseca à pessoa de Cristo e à modalidade sacramental
da sua permanência: Cristo não fala no passado mas no nosso
presente, tal como Ele está presente na acção litúrgica. Neste
horizonte sacramental da revelação cristã,(136) o conhecimento e o
estudo da palavra de Deus permitem-nos valorizar, celebrar e viver
melhor a Eucaristia; também aqui se mostra em toda a sua verdade a
conhecida asserção: « A ignorância da Escritura é ignorância de
Cristo ».(137)
Para isso, é necessário
ajudar os fiéis a valorizarem os tesouros da Sagrada Escritura
presentes no Leccionário, por meio de iniciativas pastorais, de
celebrações da palavra e da leitura orante (lectio divina).
Além disso, não se esqueça de promover as formas de oração
confirmadas pela tradição: a Liturgia das Horas, sobretudo Laudes,
Vésperas, Completas e ainda as celebrações das Vigílias. A oração
dos salmos, as leituras bíblicas e as da grande tradição
apresentadas no Ofício Divino podem levar a uma experiência profunda
do acontecimento de Cristo e da economia da salvação, capaz por sua
vez de enriquecer a compreensão e a participação na celebração
eucarística.(138)
A homilia
46. Pensando na importância
da palavra de Deus, surge a necessidade de melhorar a qualidade da
homilia; de facto, esta « constitui parte integrante da acção
litúrgica »,(139) cuja função é favorecer uma compreensão e eficácia
mais ampla da palavra de Deus na vida dos fiéis. Por isso, os
ministros ordenados devem « preparar cuidadosamente a homilia,
baseando-se num adequado conhecimento da Sagrada Escritura ».(140)
Evitem-se homilias genéricas ou abstractas; de modo particular, peço
aos ministros para fazerem com que a homilia coloque a palavra de
Deus proclamada em estreita relação com a celebração sacramental
(141) e com a vida da comunidade, de tal modo que a palavra de Deus
seja realmente apoio e vida da Igreja.(142) Tenha-se presente,
portanto, a finalidade catequética e exortativa da homilia.
Considera-se que é oportuno oferecer prudentemente, a partir do
Leccionário trienal, homilias temáticas aos fiéis que tratem, ao
longo do ano litúrgico, os grandes temas da fé cristã, haurindo de
quanto está autorizadamente proposto pelo Magistério nos quatro «
pilares » do Catecismo da Igreja Católica e no recente
Compêndio: a profissão da fé, a celebração do mistério cristão,
a vida em Cristo, a oração cristã.(143)
Apresentação das
oferendas
47. Os padres sinodais
chamaram a atenção também para a apresentação das oferendas. Não se
trata simplesmente duma espécie de « intervalo » entre a liturgia da
palavra e a liturgia eucarística, o que faria, sem dúvida, atenuar o
sentido de um único rito composto de duas partes interligadas;
realmente, neste gesto humilde e simples, encerra-se um significado
muito grande: no pão e no vinho que levamos ao altar, toda a criação
é assumida por Cristo Redentor para ser transformada e apresentada
ao Pai.(144) Nesta perspectiva, levamos ao altar também todo o
sofrimento e tribulação do mundo, na certeza de que tudo é precioso
aos olhos de Deus. Este gesto não necessita de ser enfatizado com
descabidas complicações para ser vivido no seu significado
autêntico: o mesmo permite valorizar a participação primeira que
Deus pede ao homem, ou seja, levar em si mesmo a obra divina à
perfeição, e dar assim pleno sentido ao trabalho humano que, através
da celebração eucarística, fica unido ao sacrifício redentor de
Cristo.
A Oração Eucarística
48. A Oração Eucarística é «
o ponto central e culminante de toda a celebração »; (145) merece
ser convenientemente ressaltada a sua importância. As diversas
Orações Eucarísticas contidas no Missal foram-nos transmitidas pela
Tradição viva da Igreja e caracterizam-se por uma riqueza teológica
e espiritual inesgotável; os fiéis devem poder ser capazes de
apreciá-la. A isto mesmo nos ajuda a Instrução Geral do Missal
Romano, quando lembra os elementos fundamentais de cada Oração
Eucarística: acção de graças, aclamação, epiclese, narração da
instituição, consagração, anamnese, oblação, intercessões e
doxologia final.(146) Em particular, a espiritualidade eucarística e
a reflexão teológica são iluminadas se se contempla a profunda
unidade que existe, na anáfora, entre a invocação do Espírito Santo
e a narração da instituição,(147) quando « se realiza o sacrifício
que o próprio Cristo instituiu na Última Ceia ».(148) De facto, «
por meio de invocações especiais, a Igreja implora o poder do
Espírito Santo, para que os dons oferecidos pelos homens sejam
consagrados, isto é, se convertam no corpo e sangue de Cristo, e
para que a vítima imaculada, que vai ser recebida na comunhão, opere
a salvação daqueles que dela vão participar ».(149)
Saudação da paz
49. A Eucaristia é, por sua
natureza, sacramento da paz. Na celebração litúrgica, esta dimensão
do mistério eucarístico encontra a sua manifestação específica no
rito da saudação da paz. Trata-se, sem dúvida, dum sinal de grande
valor (Jo 14, 27). Neste nosso tempo pavorosamente cheio de
conflitos, tal gesto adquire — mesmo do ponto de vista da
sensibilidade comum — um relevo particular, pois a Igreja sente cada
vez mais como sua missão própria a de implorar ao Senhor o dom da
paz e da unidade para si mesma e para a família humana inteira. A
paz é, sem dúvida, uma aspiração radical que se encontra no coração
de cada um; a Igreja dá voz ao pedido de paz e reconciliação que
brota do espírito de cada pessoa de boa vontade, apresentando-o
Àquele que « é a nossa paz » (Ef 2, 14) e pode pacificar de
novo povos e pessoas, mesmo onde tivessem falido os esforços
humanos. A partir de tudo isto, é possível compreender a intensidade
com que frequentemente é sentido o rito da paz na celebração
litúrgica. A este respeito, porém, durante o Sínodo dos Bispos foi
sublinhada a conveniência de moderar este gesto, que pode assumir
expressões excessivas, suscitando um pouco de confusão na assembleia
precisamente antes da comunhão. É bom lembrar que nada tira ao alto
valor do gesto a sobriedade necessária para se manter um clima
apropriado à celebração, limitando, por exemplo, a saudação da paz a
quem está mais próximo.(150)
Distribuição e recepção
da Eucaristia
50. Outro momento da
celebração, que necessita de menção, é a distribuição e a recepção
da sagrada comunhão. Peço a todos, especialmente aos ministros
ordenados e àqueles que, devidamente preparados e em caso de real
necessidade, estejam autorizados para o ministério da distribuição
da Eucaristia, que façam o possível para que o gesto, na sua
simplicidade, corresponda ao seu valor de encontro pessoal com o
Senhor Jesus no sacramento. Quanto às prescrições para a correcta
prática do mesmo, vejam-se os documentos recentemente emanados; (
151) todas as comunidades cristãs se atenham fielmente às normas
vigentes, vendo nelas a expressão da fé e do amor que todos devemos
ter por este sublime sacramento. Além disso, não seja transcurado o
tempo precioso de acção de graças depois da comunhão: além da
entoação dum cântico oportuno, pode ser muito útil também permanecer
recolhidos em silêncio.(152)
A propósito, desejo chamar a
atenção para um problema pastoral com que frequentemente nos
deparamos no nosso tempo: em determinadas circunstâncias como, por
exemplo, nas Missas celebradas por ocasião de matrimónios, funerais
ou acontecimentos análogos, encontram-se presentes na celebração,
além dos fiéis praticantes, outros que talvez há anos não se
aproximam do altar ou se encontram numa situação de vida que não
permite o acesso aos sacramentos; outras vezes acontece que estão
presentes pessoas de outras confissões cristãs ou até de outras
religiões. Circunstâncias semelhantes verificam-se também em igrejas
que são meta de turistas, sobretudo nas cidades de grande valor
artístico. Ora, salta aos olhos a necessidade de encontrar formas
breves e incisivas para alertar a todos sobre o sentido da comunhão
sacramental e sobre as condições que se requerem para a sua
recepção. Em situações onde não se possa garantir a necessária
clareza quanto ao significado da Eucaristia, deve-se ponderar a
oportunidade de substituir a celebração eucarística por uma
celebração da palavra de Deus.(153)
A despedida: « Ite,
missa est »
51. Por último, quero
deter-me naquilo que disseram os padres sinodais acerca da saudação
de despedida no final da celebração eucarística. Depois da bênção, o
diácono ou o sacerdote despede o povo com as palavras « Ide em paz e
o Senhor vos acompanhe », tradução aproximada da fórmula latina:
Ite, missa est. Nesta saudação, podemos identificar a relação
entre a Missa celebrada e a missão cristã no mundo. Na antiguidade,
o termo « missa » significava simplesmente « despedida »;
mas, no uso cristão, o mesmo foi ganhando um sentido cada vez mais
profundo, tendo o termo « despedir » evoluído para « expedir em
missão ». Deste modo, a referida saudação exprime sinteticamente a
natureza missionária da Igreja; seria bom ajudar o povo de Deus a
aprofundar esta dimensão constitutiva da vida eclesial, tirando
inspiração da liturgia. Nesta perspectiva, pode ser útil dispor de
textos, devidamente aprovados, para a oração sobre o povo e a bênção
final que explicitem tal ligação.(154)
Autêntica participação
52. O Concílio Vaticano II
colocara, justamente, uma ênfase particular sobre a participação
activa, plena e frutuosa de todo o povo de Deus na celebração
eucarística.(155) A renovação operada nestes anos proporcionou, sem
dúvida, notáveis progressos na direcção desejada pelos padres
conciliares; mas não podemos ignorar que houve, às vezes, qualquer
incompreensão precisamente acerca do sentido desta participação.
Convém, pois, deixar claro que não se pretende, com tal palavra,
aludir a mera actividade exterior durante a celebração; na
realidade, a participação activa desejada pelo Concílio deve ser
entendida, em termos mais substanciais, a partir duma maior
consciência do mistério que é celebrado e da sua relação com a vida
quotidiana. Permanece plenamente válida ainda a recomendação da
Constituição conciliar
Sacrosanctum Concilium
feita aos fiéis
quando os exorta a não assistirem à liturgia eucarística « como
estranhos ou espectadores mudos », mas a participarem « na acção
sagrada, consciente, activa e piedosamente ».(156) E o Concílio,
desenvolvendo seu pensamento, prossegue: Os fiéis « sejam instruídos
pela palavra de Deus; alimentem-se à mesa do corpo do Senhor; dêem
graças a Deus; aprendam a oferecer-se a si mesmos, ao oferecer
juntamente com o sacerdote, que não só pelas mãos dele, a hóstia
imaculada; que, dia após dia, por Cristo Mediador, progridam na
unidade com Deus e entre si ».(157)
Participação e
ministério sacerdotal
53. A beleza e a harmonia da
acção litúrgica encontram significativa expressão na ordem com que
cada um é chamado a participar activamente nela; isto requer o
conhecimento das diversas funções hierárquicas implicadas na própria
celebração. Pode ser útil lembrar que a participação activa na mesma
não coincide, de per si, com o desempenho dum ministério particular;
sobretudo, não favorece a causa da participação activa dos fiéis uma
confusão gerada pela incapacidade de distinguir, na comunhão
eclesial, as diversas funções que cabem a cada um.(158) De modo
particular, convém que haja clareza quanto às funções específicas do
sacerdote: como atesta a tradição da Igreja, é ele quem
insubstituivelmente preside à celebração eucarística inteira, desde
a saudação inicial até à bênção final. Em virtude da Ordem sacra
recebida, representa Jesus Cristo cabeça da Igreja e, na forma que
lhe é própria, também a Igreja.(159) De facto, cada celebração da
Eucaristia é conduzida pelo Bispo, « quer pessoalmente, quer pelos
presbíteros seus colaboradores »; (160) e é coadjuvado pelo diácono,
que tem na celebração algumas funções específicas: preparar o altar
e assistir ao sacerdote, proclamar o Evangelho e, eventualmente,
fazer a homilia, propor aos fiéis as intenções da Oração Universal,
distribuir a Eucaristia aos fiéis.(161) Em relação com estes
ministérios dependentes do sacramento da Ordem, aparecem depois
outros ministérios para o serviço litúrgico, louvavelmente
desempenhados por religiosos e leigos preparados.(162)
Celebração eucarística e
inculturação
54. Partindo
fundamentalmente de quanto afirmou o Concílio Vaticano II, várias
vezes foi sublinhada a importância da participação activa dos fiéis
no sacrifício eucarístico. Para a favorecer, podem ter lugar algumas
adaptações apropriadas aos respectivos contextos e às diversas
culturas;( 163) o facto de ter havido alguns abusos não turba a
clareza deste princípio, que deve ser mantido segundo as
necessidades reais da Igreja, a qual vive e celebra o mesmo mistério
de Cristo em situações culturais diferentes. De facto, o Senhor
Jesus, precisamente no mistério da Encarnação, ao nascer de uma
mulher como perfeito homem (Gal 4, 4) colocou-se em relação
directa não só com as expectativas que se registavam no âmbito do
Antigo Testamento, mas também com as cultivadas por todos os povos;
manifestou, assim, que Deus pretende alcançar-nos no nosso contexto
vital. Por conseguinte é útil, para uma participação mais eficaz dos
fiéis nos santos mistérios, a continuação do processo de
inculturação inclusivamente quanto à celebração eucarística, tendo
em conta as possibilidades de adaptação oferecidas pela Instrução
Geral do Missal Romano,(164) interpretadas à luz dos critérios
estabelecidos pela IV Instrução da Congregação para o Culto Divino e
a Disciplina dos Sacramentos, designada Varietates legitimæ,
de 25 de Janeiro de 1994,(165) e pelas directrizes expressas pelo
Papa João Paulo II nas Exortações pós-sinodais
Ecclesia in Africa,
Ecclesia in America,
Ecclesia in Asia,
Ecclesia in Oceania,
Ecclesia in Europa.(166)
Com esta finalidade, recomendo às Conferências Episcopais que
prossigam com esta obra, favorecendo um justo equilíbrio entre os
critérios e directrizes já emanados e as novas adaptações,(167)
sempre de acordo com a Sé Apostólica.
Condições pessoais para
uma participação activa
55. Ao considerarem o tema
da participação activa (actuosa participatio) dos fiéis no
rito sagrado, os padres sinodais ressaltaram também as condições
pessoais que se requerem em cada um para uma frutuosa
participação.(168) Uma delas é, sem dúvida, o espírito de constante
conversão que deve caracterizar a vida de todos os fiéis: não
podemos esperar uma participação activa na liturgia eucarística, se
nos abeiramos dela superficialmente e sem antes nos interrogarmos
sobre a própria vida. Favorecem tal disposição interior, por
exemplo, o recolhimento e o silêncio durante alguns momentos pelo
menos antes do início da liturgia, o jejum e — quando for preciso —
a confissão sacramental; um coração reconciliado com Deus predispõe
para a verdadeira participação. De modo particular é preciso alertar
os fiéis que não se pode verificar uma participação activa nos
santos mistérios, se ao mesmo tempo não se procura tomar parte
activa na vida eclesial em toda a sua amplitude, incluindo o
compromisso missionário de levar o amor de Cristo para o meio da
sociedade.
Sem dúvida, para a plena
participação na Eucaristia é preciso também aproximar-se
pessoalmente do altar para receber a comunhão; (169) contudo é
preciso estar atento para que esta afirmação, justa em si mesma, não
induza os fiéis a um certo automatismo levando-os a pensar que, pelo
simples facto de se encontrar na igreja durante a liturgia, se tenha
o direito ou mesmo — quem sabe — se sinta no dever de aproximar-se
da mesa eucarística. Mesmo quando não for possível abeirar-se da
comunhão sacramental, a participação na Santa Missa permanece
necessária, válida, significativa e frutuosa; neste caso, é bom
cultivar o desejo da plena união com Cristo, por exemplo, através da
prática da comunhão espiritual, recordada por João Paulo II (170) e
recomendada por santos mestres de vida espiritual.(171)
Participação dos cristãos
não católicos
56. Ao tratarmos o tema da
participação, temos inevitavelmente de falar dos cristãos que
pertencem a Igrejas ou Comunidades eclesiais que não estão em plena
comunhão com a Igreja Católica. A este respeito, temos de dizer, por
um lado, que o vínculo intrínseco existente entre a Eucaristia e a
unidade da Igreja nos faz desejar ardentemente o dia em que
poderemos celebrar, juntamente com todos os que crêem em Cristo, a
divina Eucaristia e exprimir assim visivelmente aquela plena unidade
que Cristo quis para os seus discípulos (Jo 17, 21); mas, por
outro lado, o respeito que devemos ao sacramento do corpo e do
sangue de Cristo impede-nos de fazer dele um simples « meio » usado
indiscriminadamente para alcançar a referida unidade.(172) De facto,
a Eucaristia não manifesta somente a nossa comunhão pessoal com
Jesus Cristo, mas implica também a plena comunhão (communio)
com a Igreja; este é o motivo pelo qual, com dor mas não sem
esperança, pedimos aos cristãos não católicos que compreendam e
respeitem a nossa convicção, que assenta na Bíblia e na Tradição:
pensamos que a comunhão eucarística e a comunhão eclesial se
interpenetrem tão intimamente que se torna geralmente impossível aos
cristãos não católicos terem acesso a uma sem gozar da outra. Ainda
mais desprovida de sentido seria uma concelebração verdadeira e
própria com ministros de Igrejas ou Comunidades eclesiais que não
estão em plena comunhão com a Igreja Católica. Não deixa, porém, de
ser verdade que, em ordem à salvação eterna, há a possibilidade de
admitir indivíduos cristãos não católicos à Eucaristia, ao
sacramento da Penitência e à Unção dos Enfermos; mas isso supõe que
se verifiquem determinadas e excepcionais situações, associadas a
precisas condições.(173) Estas aparecem claramente indicadas no
Catecismo da Igreja Católica (174) e no seu
Compêndio.(175)
É dever de cada um ater-se a elas fielmente.
Participação através dos
meios de comunicação
57. Devido ao progresso
admirável dos meios de comunicação, nos últimos decénios a palavra «
participação » adquiriu um significado mais amplo do que no passado;
com satisfação, todos reconhecemos que estes instrumentos oferecem
novas possibilidades inclusivamente quanto à celebração
eucarística.(176) Isto requer dos agentes pastorais do sector uma
preparação específica e um vivo sentido de responsabilidade; com
efeito, a Santa Missa transmitida na televisão ganha inevitavelmente
um certo carácter de exemplaridade; daí o dever de prestar
particular atenção a que a celebração, além de se realizar em
lugares dignos e bem preparados, respeite as normas litúrgicas.
Enfim, quanto ao valor desta
participação na Santa Missa pelos meios de comunicação, quem assiste
a tais transmissões deve saber que, em condições normais, não cumpre
o preceito dominical; de facto, a linguagem da imagem representa a
realidade, mas não a reproduz em si mesma.(177) Se é muito louvável
que idosos e doentes participem na Santa Missa festiva através das
transmissões radiotelevisivas, o mesmo não se pode dizer de quem
quisesse, por meio de tais transmissões, dispensar-se de ir à igreja
tomar parte na celebração eucarística na assembleia da Igreja viva.
Participação activa dos
doentes
58. Considerando a condição
de quantos por motivos de saúde ou idade não podem ir aos lugares de
culto, quero chamar a atenção de toda a comunidade eclesial para a
necessidade pastoral de garantir a assistência espiritual aos
doentes, quer estejam nas próprias casas quer se encontrem no
hospital. Diversas vezes, no Sínodo dos Bispos, se aludiu à sua
condição; é preciso providenciar para que estes nossos irmãos e
irmãs possam receber, com frequência, a comunhão sacramental;
revigorando assim a sua relação com Cristo crucificado e
ressuscitado, poderão sentir a própria existência inserida
plenamente na vida e missão da Igreja, por meio da oferta do seu
sofrimento em união com o sacrifício de Nosso Senhor. Uma particular
atenção há-de ser reservada aos deficientes: sempre que a sua
condição o permita, a comunidade cristã deve facilitar a sua
participação na celebração no lugar de culto; a propósito,
procure-se remover, nos edifícios sagrados, eventuais obstáculos
arquitectónicos que impeçam o seu acesso aos deficientes. Enfim,
seja garantida também a comunhão eucarística, na medida do possível,
aos deficientes mentais, baptizados e crismados: eles recebem a
Eucaristia na fé também da família ou da comunidade que os
acompanha.(178)
A solicitude pelos presos
59. A tradição espiritual da
Igreja, na esteira duma concreta afirmação de Cristo (Mt 25,
36), individuou na visita aos presos uma das obras de misericórdia
corporais. Aqueles que se encontram nesta situação têm
particularmente necessidade de ser visitados pelo próprio Senhor no
sacramento da Eucaristia; experimentar a solidariedade da comunidade
eclesial, participar na Eucaristia e receber a sagrada comunhão num
período da vida tão especial e doloroso pode seguramente contribuir
para a qualidade do seu caminho de fé e favorecer a plena
recuperação social da pessoa. Interpretando votos formulados na
assembleia sinodal, peço às dioceses para providenciarem que haja,
na medida do possível, um conveniente investimento de forças na
actividade pastoral dedicada ao cuidado espiritual dos presos.(179)
Os migrantes e a
participação na Eucaristia
60. Ao abordar o problema
das pessoas que, por motivos vários, são obrigadas a deixar a sua
terra, o Sínodo manifestou particular gratidão a quantos vivem
empenhados no cuidado pastoral dos migrantes. Neste contexto, uma
atenção específica deve ser dada aos migrantes membros das Igrejas
Católicas Orientais, já que, à separação da própria casa, vem
juntar-se a dificuldade de não poderem participar na liturgia
eucarística segundo o próprio rito a que pertencem; por isso, onde
for possível, seja-lhes concedido usufruir da assistência de
sacerdotes do seu rito. Em todo o caso, peço aos bispos que acolham
estes irmãos na caridade de Cristo. O encontro entre fiéis de rito
diverso pode tornar-se também ocasião de mútuo enriquecimento: penso
de modo particular no benefício que pode resultar, sobretudo para o
clero, do conhecimento das diversas tradições.(180)
As grandes concelebrações
61. A assembleia sinodal
deteve-se a analisar a qualidade da participação nas grandes
celebrações que têm lugar em circunstâncias particulares e nas quais
se encontram, para além dum grande número de fiéis, também muitos
sacerdotes concelebrantes.(181) É fácil, por um lado, reconhecer o
valor destes momentos, especialmente quando preside o bispo rodeado
do seu presbitério e dos diáconos; mas, por outro, em tais ocasiões
podem verificar-se problemas quanto à expressão sensível da unidade
do presbitério, especialmente na Oração Eucarística, e quanto à
distribuição da sagrada comunhão. Deve-se evitar que estas grandes
concelebrações criem dispersão; providencie-se a isto mesmo por meio
de adequados instrumentos de coordenação, e organizando o lugar de
culto de tal modo que permita aos presbíteros e aos fiéis uma plena
e real participação. Entretanto, é preciso ter presente que se trata
de concelebrações com índole excepcional e limitadas a situações
extraordinárias.
A língua latina
62. O que acabo de afirmar
não deve, porém, ofuscar o valor destas grandes liturgias; penso
neste momento, em particular, às celebrações que têm lugar durante
encontros internacionais, cada vez mais frequentes hoje, e que devem
justamente ser valorizadas. A fim de exprimir melhor a unidade e a
universalidade da Igreja, quero recomendar o que foi sugerido pelo
Sínodo dos Bispos, em sintonia com as directrizes do Concílio
Vaticano II: (182) exceptuando as leituras, a homilia e a oração dos
fiéis, é bom que tais celebrações sejam em língua latina; sejam
igualmente recitadas em latim as orações mais conhecidas (183) da
tradição da Igreja e, eventualmente, entoadas algumas partes em
canto gregoriano. A nível geral, peço que os futuros sacerdotes
sejam preparados, desde o tempo do seminário, para compreender e
celebrar a Santa Missa em latim, bem como para usar textos latinos e
entoar o canto gregoriano; nem se transcure a possibilidade de
formar os próprios fiéis para saberem, em latim, as orações mais
comuns e cantarem, em gregoriano, determinadas partes da
liturgia.(184)
Celebrações eucarísticas em
pequenos grupos
63. Bem distinta é a
situação criada em algumas circunstâncias pastorais, onde,
precisamente para uma participação mais consciente, activa e
frutuosa, se favorecem as celebrações em pequenos grupos. Embora
reconhecendo o valor formativo subjacente a estas opções, é
necessário especificar que as mesmas devem ser harmonizadas com o
conjunto da proposta pastoral da diocese; com efeito, tais
experiências perderiam o seu carácter pedagógico, se fossem vistas
em antagonismo ou paralelo com a vida da Igreja particular. A este
respeito, o Sínodo pôs em evidência alguns critérios a que se devem
ater: os pequenos grupos devem servir para unificar a comunidade, e
não para a dividir; a prova disto mesmo há-de ver-se na prática
concreta; estes grupos devem favorecer a participação frutuosa da
assembleia inteira e preservar, na medida do possível, a unidade da
vida litúrgica de cada uma das famílias.(185)
Celebração interiormente
participada
Catequese mistagógica
64. A grande tradição
litúrgica da Igreja ensina-nos que é necessário, para uma frutuosa
participação, esforçar-se por corresponder pessoalmente ao mistério
que é celebrado, através do oferecimento a Deus da própria vida em
união com o sacrifício de Cristo pela salvação do mundo inteiro. Por
este motivo, o Sínodo dos Bispos recomendou que se fomentasse, nos
fiéis, profunda concordância das disposições interiores com os
gestos e palavras; se ela faltasse, as nossas celebrações, por muito
animadas que fossem, arriscar-se-iam a cair no ritualismo. Assim, é
preciso promover uma educação da fé eucarística que predisponha os
fiéis a viverem pessoalmente o que se celebra. Vista a importância
essencial desta participação pessoal e consciente, quais poderiam
ser os instrumentos de formação mais adequados? Para isso, os padres
sinodais indicaram unanimemente a estrada duma catequese de carácter
mistagógico, que leve os fiéis a penetrarem cada vez mais nos
mistérios que são celebrados.(186) Em concreto e antes de mais, há
que afirmar que, devido à relação entre a arte da celebração e a
participação activa, « a melhor catequese sobre a Eucaristia é a
própria Eucaristia bem celebrada »; (187) com efeito, por sua
natureza a liturgia possui uma eficácia pedagógica própria para
introduzir os fiéis no conhecimento do mistério celebrado. Por isso
mesmo, na tradição mais antiga da Igreja, o caminho formativo do
cristão — embora sem descurar a inteligência sistemática dos
conteúdos da fé — assumia sempre um carácter de experiência, em que
era determinante o encontro vivo e persuasivo com Cristo anunciado
por autênticas testemunhas. Neste sentido, quem introduz nos
mistérios é primariamente a testemunha; depois, este encontro
aprofunda-se, sem dúvida, na catequese e encontra a sua fonte e
ápice na celebração da Eucaristia. Desta estrutura fundamental da
experiência cristã parte a exigência de um itinerário mistagógico,
no qual se hão-de ter sempre presente três elementos:
a)
Trata-se, primeiramente, da interpretação dos ritos à luz dos
acontecimentos salvíficos, em conformidade com a tradição viva
da Igreja; de facto, a celebração da Eucaristia, na sua riqueza
infinita, possui contínuas referências à história da salvação. Em
Cristo crucificado e ressuscitado, podemos celebrar verdadeiramente
o centro recapitulador de toda a realidade (Ef 1, 10); desde
o seu início, a comunidade cristã leu os acontecimentos da vida de
Jesus, e particularmente o mistério pascal, em relação com todo o
percurso do Antigo Testamento.
b)
Além disso, a catequese mistagógica há-de preocupar-se por
introduzir no sentido dos sinais contidos nos ritos; esta tarefa
é particularmente urgente numa época acentuadamente tecnológica como
a actual, que corre o risco de perder a capacidade de perceber os
sinais e os símbolos. Mais do que informar, a catequese mistagógica
deverá despertar e educar a sensibilidade dos fiéis para a linguagem
dos sinais e dos gestos que, unidos à palavra, constituem o rito.
c)
Enfim, a catequese mistagógica deve preocupar-se por mostrar o
significado dos ritos para a vida cristã em todas as suas
dimensões: trabalho e compromisso, pensamentos e afectos, actividade
e repouso. Faz parte do itinerário mistagógico pôr em evidência a
ligação dos mistérios celebrados no rito com a responsabilidade
missionária dos fiéis; neste sentido, o fruto maduro da mistagogia é
a consciência de que a própria vida vai sendo progressivamente
transformada pelos sagrados mistérios celebrados. Aliás, a
finalidade de toda a educação cristã é formar o fiel enquanto «
homem novo » para uma fé adulta, que o torne capaz de testemunhar no
próprio ambiente a esperança cristã que o anima.
Condição necessária para se
realizar, no âmbito das nossas comunidades eclesiais, esta tarefa
educativa é dispor de formadores adequadamente preparados; mas todo
o povo de Deus deve, sem dúvida, sentir-se comprometido nesta
formação. Cada comunidade cristã é chamada a ser lugar de introdução
pedagógica aos mistérios que se celebram na fé; a propósito, durante
o Sínodo, os padres sublinharam a conveniência de um maior
envolvimento das comunidades de vida consagrada, movimentos e
agregações que, pelo próprio carisma, possam dar novo impulso à
formação cristã.(188) Temos a certeza de que, também no nosso tempo,
o Espírito Santo não poupa a efusão dos seus dons para sustentar a
missão apostólica da Igreja, a quem compete difundir a fé e educá-la
até à sua maturidade.(189)
A reverência à Eucaristia
65. Um sinal convincente da
eficácia que a catequese eucarística tem sobre os fiéis é
seguramente o crescimento neles do sentido do mistério de Deus
presente entre nós; podemos verificá-lo através de específicas
manifestações de reverência à Eucaristia, nas quais o percurso
mistagógico deve introduzir os fiéis.(190) Penso, em geral, na
importância dos gestos e posições, como, por exemplo, ajoelhar-se
durante os momentos salientes da Oração Eucarística. Embora
adaptando-se à legítima variedade de sinais que tem lugar no
contexto das diferentes culturas, cada um viva e exprima a
consciência de encontrar-se, em cada celebração, diante da majestade
infinita de Deus, que chega até nós humildemente nos sinais
sacramentais.
Adoração e piedade
eucarística
A relação intrínseca entre
celebração e adoração
66. Um dos momentos mais
intensos do Sínodo vivemo-lo quando fomos à Basílica de São Pedro,
juntamente com muitos fiéis, fazer adoração eucarística. Com aquele
momento de oração, quis a assembleia dos bispos não se limitar às
palavras na sua chamada de atenção para a importância da relação
intrínseca entre a celebração eucarística e a adoração. Neste
significativo aspecto da fé da Igreja, encontra-se um dos elementos
decisivos do caminho eclesial que se realizou após a renovação
litúrgica querida pelo Concílio Vaticano II. Quando a reforma dava
os primeiros passos, aconteceu às vezes não se perceber com
suficiente clareza a relação intrínseca entre a Santa Missa e a
adoração do Santíssimo Sacramento; uma objecção então em voga, por
exemplo, partia da ideia que o pão eucarístico nos fora dado não
para ser contemplado, mas comido. Ora, tal contraposição, vista à
luz da experiência de oração da Igreja, aparece realmente destituída
de qualquer fundamento; já Santo Agostinho dissera: « Nemo autem
illam carnem manducat, nisi prius adoraverit; (...) peccemus
non adorando – ninguém come esta carne, sem antes a adorar;
(...) pecaríamos se não a adorássemos ».(191) De facto, na
Eucaristia, o Filho de Deus vem ao nosso encontro e deseja unir-Se
connosco; a adoração eucarística é apenas o prolongamento visível da
celebração eucarística, a qual, em si mesma, é o maior acto de
adoração da Igreja: (192) receber a Eucaristia significa colocar-se
em atitude de adoração d'Aquele que comungamos. Precisamente assim,
e apenas assim, é que nos tornamos um só com Ele e, de algum modo,
saboreamos antecipadamente a beleza da liturgia celeste. O acto de
adoração fora da Santa Missa prolonga e intensifica aquilo que se
fez na própria celebração litúrgica. Com efeito, « somente na
adoração pode maturar um acolhimento profundo e verdadeiro.
Precisamente neste acto pessoal de encontro com o Senhor amadurece
depois também a missão social, que está encerrada na Eucaristia e
deseja romper as barreiras não apenas entre o Senhor e nós mesmos,
mas também, e sobretudo, as barreiras que nos separam uns dos outros
».(193)
A prática da adoração
eucarística
67. Juntamente com a
assembleia sinodal, recomendo, pois, vivamente aos pastores da
Igreja e ao povo de Deus a prática da adoração eucarística tanto
pessoal como comunitária.(194) Para isso, será de grande proveito
uma catequese específica na qual se explique aos fiéis a importância
deste acto de culto que permite viver, mais profundamente e com
maior fruto, a própria celebração litúrgica. Depois, na medida do
possível e sobretudo nos centros mais populosos, será conveniente
individuar igrejas ou capelas que se possam reservar
propositadamente para a adoração perpétua. Além disso, recomendo que
na formação catequética, particularmente nos itinerários de
preparação para a Primeira Comunhão, se iniciem as crianças no
sentido e na beleza de demorar-se na companhia de Jesus, cultivando
o enlevo pela sua presença na Eucaristia.
Quero exprimir, aqui, apreço
e apoio a todos os institutos de vida consagrada, cujos membros
dedicam uma parte significativa do seu tempo à adoração eucarística;
deste modo, oferecem a todos o exemplo de pessoas que se deixam
plasmar pela presença real do Senhor. Desejo igualmente encorajar as
associações de fiéis, nomeadamente as confrarias, que assumem esta
prática como seu compromisso especial, tornando-se assim fermento de
contemplação para toda a Igreja e apelo à centralidade de Cristo na
vida dos indivíduos e da comunidade.
Formas de devoção
eucarística
68. O relacionamento pessoal
que cada fiel estabelece com Jesus, presente na Eucaristia,
recondu-lo sempre ao conjunto da comunhão eclesial, alimentando nele
a consciência da sua pertença ao corpo de Cristo. Por isso, além de
convidar cada um dos fiéis a encontrar pessoalmente tempo para se
demorar em oração diante do sacramento do altar, sinto o dever de
convidar as próprias paróquias e demais grupos eclesiais a
promoverem momentos de adoração comunitária. Obviamente, conservam
todo o seu valor as formas já existentes de devoção eucarística.
Penso, por exemplo, nas procissões eucarísticas, sobretudo a
tradicional procissão na solenidade do Corpo de Deus, na devoção das
Quarenta Horas, nos congressos eucarísticos locais, nacionais e
internacionais, e noutras iniciativas análogas. Devidamente
actualizadas e adaptadas às diversas circunstâncias, tais formas de
devoção merecem ser cultivadas ainda hoje.(195)
O lugar do sacrário na
igreja
69. Ainda relacionado com a
importância da reserva eucarística e da adoração e reverência diante
do sacramento do sacrifício de Cristo, o Sínodo dos Bispos
interrogou-se sobre a devida colocação do sacrário dentro das nossas
igrejas.(196) Com efeito, uma correcta localização do mesmo ajuda a
reconhecer a presença real de Cristo no Santíssimo Sacramento; por
isso, é necessário que o lugar onde são conservadas as espécies
eucarísticas seja fácil de individuar por qualquer pessoa que entre
na igreja, graças nomeadamente à lâmpada do Santíssimo perenemente
acesa. Tendo em vista tal objectivo, é preciso considerar a
disposição arquitectónica do edifício sagrado: nas igrejas, onde não
existe a capela do Santíssimo Sacramento mas perdura o altar-mor com
o sacrário, convém continuar a valer-se de tal estrutura para a
conservação e adoração da Eucaristia, evitando porém colocar a
cadeira do celebrante na sua frente. Nas novas igrejas, bom seria
predispor a capela do Santíssimo nas proximidades do presbitério;
onde isso não for possível, é preferível colocar o sacrário no
presbitério, em lugar suficientemente elevado, no centro do fecho
absidal ou então noutro ponto onde fique de igual modo bem visível.
Estas precauções concorrem para conferir dignidade ao sacrário que
deve ser cuidado sempre também sob o perfil artístico. Obviamente, é
necessário ter em conta também o que diz a propósito a Instrução
Geral do Missal Romano.(197) Em todo o caso, o juízo último
sobre esta matéria compete ao bispo diocesano.
III PARTE
EUCARISTIA, MISTÉRIO VIVIDO
« Assim como o Pai, que
vive,
Me enviou e Eu vivo pelo Pai,
também aquele que Me come
viverá por Mim » (Jo 6, 57)
Forma eucarística da vida
cristã
O culto espiritual
70. O Senhor Jesus, que para
nós Se fez alimento de verdade e amor, falando do dom da sua vida
assegura-nos: « Quem comer deste pão viverá eternamente » (Jo
6, 51). Mas, esta « vida eterna » começa em nós, já agora, através
da mudança que o dom eucarístico gera na nossa vida: « Aquele que Me
come viverá por Mim » (Jo 6, 57). Estas palavras de Jesus
permitem-nos compreender que o mistério « acreditado » e « celebrado
» possui em si mesmo um tal dinamismo, que faz dele princípio de
vida nova em nós e forma da existência cristã. De facto, comungando
o corpo e o sangue de Jesus Cristo, vamo-nos tornando participantes
da vida divina de modo sempre mais adulto e consciente. Vale aqui o
mesmo que Santo Agostinho afirma a propósito do Verbo (Logos)
eterno, alimento da alma, quando, pondo em evidência o carácter
paradoxal deste alimento, o santo doutor imagina ouvi-Lo dizer: «
Sou o pão dos fortes; cresce e comer-Me-ás. Não Me transformarás em
ti como ao alimento da tua carne, mas mudar-te-ás em Mim ».(198) Com
efeito, não é o alimento eucarístico que se transforma em nós, mas
somos nós que acabamos misteriosamente mudados por ele. Cristo
alimenta-nos, unindo-nos a Si; « atrai-nos para dentro de Si ».(199)
A celebração eucarística
surge aqui em toda a sua força como fonte e ápice da existência
eclesial, enquanto exprime a origem e simultaneamente a realização
do culto novo e definitivo, o culto espiritual (logiké latreía).(200)
As palavras que encontramos sobre isto, na Carta de São Paulo
aos Romanos, são a formulação mais sintética do modo como a
Eucaristia transforma toda a nossa vida em culto espiritual
agradável a Deus: « Peço-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, que
ofereçais os vossos corpos como sacrifício vivo, santo, agradável a
Deus. Tal é o culto espiritual que Lhe deveis prestar » (12, 1).
Nesta exortação, aparece a imagem do novo culto como oferta total da
própria pessoa em comunhão com toda a Igreja. A insistência do
Apóstolo sobre a oferta dos nossos corpos sublinha o concretismo
humano dum culto de forma alguma desencarnado. E, a propósito, o
santo de Hipona lembra-nos que « este é o sacrifício dos cristãos,
ou seja, serem muitos e um só corpo em Cristo. A Igreja celebra este
mistério através do sacramento do altar, que os fiéis bem conhecem e
no qual se lhes mostra claramente que, naquilo que se oferece, ela
mesma é oferecida ».(201) De facto, a doutrina católica afirma que a
Eucaristia, enquanto sacrifício de Cristo, é também sacrifício da
Igreja e, consequentemente, dos fiéis.(202) Esta insistência sobre o
sacrifício — sacrum facere, « tornar sagrado » — exprime aqui
toda a densidade existencial que está implicada na transformação da
nossa realidade humana alcançada por Cristo (Fil 3, 12).
Eficácia omnicompreensiva do
culto eucarístico
71. O novo culto cristão
engloba todos os aspectos da existência, transfigurando-a: « Quando
comeis ou bebeis, ou fazeis qualquer outra coisa, fazei tudo para
glória de Deus » (1 Cor 10, 31). Em cada acto da sua vida, o
cristão é chamado a manifestar o verdadeiro culto a Deus; daqui toma
forma a natureza intrinsecamente eucarística da vida cristã. Uma vez
que abraça a realidade humana do crente em seu concretismo
quotidiano, a Eucaristia torna possível dia após dia a progressiva
transfiguração do homem, por graça chamado a ser conforme à imagem
do Filho de Deus (Rm 8, 29s). Nada há de autenticamente
humano — pensamentos e afectos, palavras e obras — que não encontre
no sacramento da Eucaristia a forma adequada para ser vivido em
plenitude. Sobressai aqui todo o valor antropológico da novidade
radical trazida por Cristo com a Eucaristia: o culto a Deus na
existência humana não pode ser relegado para um momento particular e
privado, mas tende, por sua natureza, a permear cada aspecto da
realidade do indivíduo. Assim, o culto agradável a Deus torna-se uma
nova maneira de viver todas as circunstâncias da existência, na qual
cada particular fica exaltado porque vivido dentro do relacionamento
com Cristo e como oferta a Deus. A glória de Deus é o homem vivo (1
Cor 10, 31); e a vida do homem é a visão de Deus.(203)
Viver segundo o domingo
72. Esta novidade radical,
que a Eucaristia introduz na vida do homem, revelou-se à consciência
cristã desde o princípio; prontamente os fiéis compreenderam a
influência profunda que a celebração eucarística exercia sobre o
estilo da sua vida. Santo Inácio de Antioquia exprimia esta verdade
designando os cristãos como « aqueles que chegaram à nova esperança
», e apresentava-os como aqueles que vivem « segundo o domingo » (iuxta
dominicam viventes).(204) Esta expressão do grande mártir
antioqueno põe claramente em evidência a ligação entre a realidade
eucarística e a vida cristã no seu dia-a-dia. O costume
característico que têm os cristãos de reunir-se no primeiro dia
depois do sábado para celebrar a ressurreição de Cristo — conforme a
narração do mártir São Justino(205) — é também o dado que define a
forma da vida renovada pelo encontro com Cristo. Mas, a expressão de
Santo Inácio — « viver segundo o domingo » — sublinha também o valor
paradigmático que este dia santo tem para os restantes dias da
semana. De facto, o domingo não se distingue com base na simples
suspensão das actividades habituais, como se fosse uma espécie de
parêntesis dentro do ritmo normal dos dias; os cristãos sempre
sentiram este dia como o primeiro da semana, porque nele se faz
memória da novidade radical trazida por Cristo. Por isso, o domingo
é o dia em que o cristão reencontra a forma eucarística própria da
sua existência, segundo a qual é chamado a viver constantemente: «
viver segundo o domingo » significa viver consciente da libertação
trazida por Cristo e realizar a própria existência como oferta de si
mesmo a Deus, para que a sua vitória se manifeste plenamente a todos
os homens através duma conduta intimamente renovada.
Viver o preceito dominical
73. Cientes deste princípio
novo de vida que a Eucaristia deposita no cristão, os padres
sinodais reafirmaram a importância que tem, para todos os fiéis, o
preceito dominical como fonte de liberdade autêntica, a fim de
poderem viver cada um dos outros dias segundo o que celebraram no «
dia do Senhor ». Com efeito, a vida de fé corre perigo quando se
deixa de sentir desejo de participar na celebração eucarística em
que se faz memória da vitória pascal. A participação na assembleia
litúrgica dominical, ao lado de todos os irmãos e irmãs com os quais
se forma um só corpo em Cristo Jesus, é exigida pela consciência
cristã e simultaneamente educa a consciência cristã. Perder o
sentido do domingo como dia do Senhor que deve ser santificado é
sintoma duma perda do sentido autêntico da liberdade cristã, a
liberdade dos filhos de Deus.(206) Continuam a ser preciosas as
observações feitas a este respeito pelo meu venerado predecessor
João Paulo II, na Carta Apostólica
Dies Domini,(207)
quando trata das diversas dimensões que o domingo tem para os
cristãos: é dies Domini, em referimento à obra da criação;
dies Christi, enquanto dia da nova criação e do dom do Espírito
Santo que o Senhor Ressuscitado concede; dies Ecclesiæ, como
dia em que a comunidade cristã se reúne para a celebração; dies
hominis, porque dia de alegria, repouso e caridade fraterna.
Um tal dia aparece, assim,
como festa primordial em que todo o fiel, no próprio ambiente onde
vive, se pode fazer arauto e guardião do sentido do tempo. Deste
dia, com efeito, brota o sentido cristão da existência e uma nova
maneira de viver o tempo, as relações, o trabalho, a vida e a morte.
Por isso, é bom que, no dia do Senhor, as realidades eclesiais
organizem, a partir da celebração eucarística dominical,
manifestações próprias da comunidade cristã: encontros de amizade,
iniciativas para a formação de crianças, jovens e adultos na fé,
peregrinações, obras de caridade e momentos variados de oração. Por
causa destes valores tão importantes — embora justamente a tarde de
sábado a partir das primeiras Vésperas já pertença ao domingo, sendo
permitido cumprir nela o preceito dominical — é necessário recordar
que é o domingo em si mesmo que merece ser santificado, para que não
acabe por ficar um dia « vazio de Deus ».(208)
O sentido do repouso e do
trabalho
74. É particularmente
urgente no nosso tempo lembrar que o dia do Senhor é também o dia de
repouso do trabalho. Desejamos vivamente que isto mesmo seja
reconhecido também pela sociedade civil, de modo que se possa ficar
livre das obrigações laborais sem ser penalizado por isso. De facto,
os cristãos — não sem relação com o significado do sábado na
tradição hebraica — viram no dia do Senhor também o dia de repouso
da fadiga quotidiana. Isto possui um significado bem preciso, ou
seja, constitui uma relativização do trabalho, que tem por
finalidade o homem: o trabalho é para o homem e não o homem para o
trabalho. É fácil intuir a tutela que isto oferece ao próprio homem,
ficando assim emancipado duma possível forma de escravidão. Como já
tive ocasião de afirmar, « o trabalho reveste uma importância
primária para a realização do homem e o progresso da sociedade; por
isso torna-se necessário que aquele seja sempre organizado e
realizado no pleno respeito da dignidade humana e ao serviço do bem
comum. Ao mesmo tempo, é indispensável que o homem não se deixe
escravizar pelo trabalho, que não o idolatre pretendendo achar nele
o sentido último e definitivo da vida ».(209) É no dia consagrado a
Deus que o homem compreende o sentido da sua existência e também do
trabalho.(210)
Assembleias dominicais na
ausência de sacerdote
75. Uma vez descoberto o
significado da celebração dominical para a vida do cristão,
coloca-se espontaneamente o problema das comunidades cristãs onde
falta o sacerdote e, consequentemente, não é possível celebrar a
Santa Missa no dia do Senhor. A tal respeito, convém reconhecer que
nos encontramos perante situações muito diversificadas entre si.
Antes de mais, o Sínodo recomendou aos fiéis que fossem a uma das
igrejas da diocese onde está garantida a presença do sacerdote,
mesmo que isso lhes exija um pouco de sacrifício.(211) Entretanto,
nos casos em que se torne praticamente impossível, devido à grande
distância, a participação na Eucaristia dominical, é importante que
as comunidades cristãs se reúnam igualmente para louvar o Senhor e
fazer memória do dia a Ele dedicado. Mas, isso deverá verificar-se a
partir duma conveniente instrução sobre a diferença entre a Santa
Missa e as assembleias dominicais à espera de sacerdote. A
solicitude pastoral da Igreja há-de exprimir-se, neste caso,
vigiando que a liturgia da palavra — organizada sob a guia dum
diácono ou dum responsável da comunidade a quem foi regularmente
confiado este ministério pela autoridade competente — se realize
segundo um ritual específico elaborado pelas Conferências Episcopais
e para tal fim aprovado por elas.(212) Lembro que compete aos
Ordinários conceder a faculdade de distribuir a comunhão nessas
liturgias, ponderando atentamente a conveniência da escolha a fazer.
Além disso, tudo deve ser feito de forma que tais assembleias não
criem confusão quanto ao papel central do sacerdote e à dimensão
sacramental na vida da Igreja. A importância da função dos leigos, a
quem justamente há que agradecer a generosidade ao serviço das
comunidades cristãs, jamais deve ofuscar o ministério insubstituível
dos sacerdotes na vida da Igreja.(213) Por isso, vigie-se
atentamente sobre as assembleias à espera de sacerdote para que não
dêem lugar a visões eclesiológicas incompatíveis com a verdade do
Evangelho e a tradição da Igreja; devem antes tornar-se ocasiões
privilegiadas de oração a Deus para que mande sacerdotes santos
segundo o seu Coração. A propósito, vale a pena recordar aquilo que
escreveu o Papa João Paulo II na Carta aos Sacerdotes por
ocasião da Quinta-feira Santa de 1979, recordando o caso comovente
que se verificava em certos lugares onde as pessoas, privadas de
sacerdote pelo regime ditatorial, se reuniam numa igreja ou num
santuário, colocavam sobre o altar a estola que ainda conservavam e
recitavam as orações da liturgia eucarística até ao « momento que
corresponderia à transubstanciação » e aí se detinham em silêncio,
dando testemunho de quão « ardentemente desejavam ouvir aquelas
palavras que só os lábios dum sacerdote podiam eficazmente
pronunciar ».(214) Precisamente nesta perspectiva, considerando o
bem incomparável que deriva da celebração do sacrifício eucarístico,
peço a todos os sacerdotes uma efectiva e concreta disponibilidade
para visitarem, com a maior assiduidade possível, as comunidades que
estão confiadas ao seu cuidado pastoral, a fim de não ficarem
demasiado tempo sem o sacramento da caridade.
Uma forma eucarística da
existência cristã,
a pertença eclesial
76. A importância do domingo
como dia da Igreja (dies Ecclesiæ) traz-nos à mente a relação
intrínseca entre a vitória de Jesus sobre o mal e a morte e a nossa
pertença ao seu corpo eclesial; no dia do Senhor, com efeito, todo o
cristão reencontra também a dimensão comunitária da sua existência
redimida. Participar na acção litúrgica, comungar o corpo e o sangue
de Cristo significa, ao mesmo tempo, tornar cada vez mais íntima e
profunda a própria pertença Àquele que morreu por nós (1 Cor
6, 19s; 7, 23). Verdadeiramente quem se nutre de Cristo, vive por
Ele. Compreende-se o sentido profundo da comunhão dos santos (communio
sanctorum), relacionando-a com o mistério eucarístico. A
comunhão tem sempre e inseparavelmente uma conotação vertical e uma
horizontal: comunhão com Deus e comunhão com os irmãos e irmãs.
Estas duas dimensões encontram-se misteriosamente no dom
eucarístico. « Onde se destrói a comunhão com Deus, que é comunhão
com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo, destrói-se também a
raiz e a fonte da comunhão entre nós. E onde a comunhão entre nós
não for vivida, também a comunhão com o Deus-Trindade não é viva nem
verdadeira ».(215) Chamados, pois, a ser membros de Cristo e
consequentemente membros uns dos outros (1 Cor 12, 27),
constituímos uma realidade ontologicamente fundada no Baptismo e
alimentada pela Eucaristia, realidade essa que exige ter expressão
sensível na vida das nossas comunidades.
A forma eucarística da vida
cristã é, sem dúvida, eclesial e comunitária. Através da diocese e
das paróquias, enquanto estruturas basilares da Igreja num
território particular, cada fiel pode fazer experiência concreta da
sua pertença ao corpo de Cristo. As associações, os movimentos
eclesiais e novas comunidades — com a vivacidade dos carismas que
lhes foram concedidos pelo Espírito Santo para o nosso tempo — bem
como os institutos de vida consagrada têm a missão de oferecer a sua
contribuição específica para favorecer nos fiéis a percepção desta
sua pertença ao Senhor (Rm 14, 8). O fenómeno da
secularização, que apresenta — não por acaso — traços fortemente
individualistas, logra seus efeitos deletérios sobretudo nas pessoas
que se isolam por escasso sentido de pertença. Desde os seus
inícios, sempre o cristianismo implica uma companhia, uma trama de
relações continuamente vivificadas pela escuta da palavra e pela
celebração eucarística e animadas pelo Espírito Santo.
Espiritualidade e cultura
eucarística
77. Os padres sinodais
afirmaram, significativamente, que « os fiéis cristãos precisam duma
compreensão mais profunda das relações entre a Eucaristia e a vida
quotidiana. A espiritualidade eucarística não é apenas participação
na Missa e devoção ao Santíssimo Sacramento; mas abraça a vida
inteira ».(216) Um tal realce assume actualmente particular
significado para todos nós; é preciso reconhecer que um dos efeitos
mais graves da secularização, há pouco mencionada, é ter relegado a
fé cristã para a margem da existência, como se fosse inútil para a
realização concreta da vida dos homens; a falência desta maneira de
viver « como se Deus não existisse » está agora patente a todos.
Hoje torna-se necessário redescobrir que Jesus Cristo não é uma
simples convicção privada ou uma doutrina abstracta, mas uma pessoa
real cuja inserção na história é capaz de renovar a vida de todos.
Por isso, a Eucaristia, enquanto fonte e ápice da vida e missão da
Igreja, deve traduzir-se em espiritualidade, em vida « segundo o
Espírito » (Rm 8, 4s; cf. Gal 5, 16.25). É
significativo que São Paulo, na passagem da Carta aos Romanos
onde convida a viver o novo culto espiritual, apele ao mesmo tempo
para a necessidade de mudar a própria forma de viver e pensar: « Não
vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da
vossa mente, para saberdes discernir, segundo a vontade de Deus, o
que é bom, o que Lhe é agradável, o que é perfeito » (12, 2). Deste
modo, o Apóstolo das Gentes põe em evidência a ligação entre o
verdadeiro culto espiritual e a necessidade duma nova maneira de
compreender a existência e orientar a vida. Constitui parte
integrante da forma eucarística da vida cristã a renovação da
mentalidade, pois « assim já não seremos crianças inconstantes,
levadas ao sabor de todo o vento de doutrina » (Ef 4, 14).
Eucaristia e evangelização
das culturas
78. Daquilo que ficou dito,
segue-se que o mistério eucarístico nos põe em diálogo com as
várias culturas, mas de certa forma também as desafia.(217) É
preciso reconhecer o carácter intercultural deste novo culto, desta
logiké latreía: a presença de Jesus Cristo e a efusão do
Espírito Santo são acontecimentos que podem encontrar-se de forma
duradoura com qualquer realidade cultural a fim de a fermentar
evangelicamente. Em consequência disto mesmo, temos a obrigação de
promover convictamente a evangelização das culturas, na certeza de
que o próprio Cristo é a verdade de todo o homem e da história
humana inteira. A Eucaristia torna-se critério de valorização de
tudo o que o cristão encontra nas diversas expressões culturais; num
processo importante como este, podem revelar-se de grande
significado as palavras de São Paulo quando, na sua I Carta aos
Tessalonicenses, convida a « avaliar tudo e conservar o que for
bom » (5, 21).
Eucaristia e fiéis leigos
79. Em Cristo, cabeça da
Igreja seu corpo, todos os cristãos formam uma « raça eleita,
sacerdócio real, nação santa, povo adquirido por Deus para anunciar
os louvores d'Aquele que os chamou das trevas à sua luz admirável »
(1 Pd 2, 9). A Eucaristia, enquanto mistério a ser vivido,
oferece-se a cada um de nós na condição concreta em que nos
encontramos, fazendo com que esta mesma situação vital se torne um
lugar onde viver diariamente a novidade cristã. Se o sacrifício
eucarístico alimenta e faz crescer em nós tudo o que já nos foi dado
no Baptismo, pelo qual todos somos chamados à santidade,(218) então
isso deve transparecer e manifestar-se precisamente nas situações ou
estados de vida em que cada cristão se encontra; tornamo-nos dia
após dia culto agradável a Deus, vivendo a própria vida como
vocação. O próprio sacramento da Eucaristia, a partir da convocação
litúrgica, compromete-nos na realidade quotidiana a fim de que tudo
seja feito para glória de Deus.
E, dado que o mundo é « o
campo » (Mt 13, 38) onde Deus coloca os seus filhos como boa
semente, os cristãos leigos, em virtude do Baptismo e da Confirmação
e corroborados pela Eucaristia, são chamados a viver a novidade
radical trazida por Cristo precisamente no meio das condições
normais da vida; (219) devem cultivar o desejo de ver a Eucaristia
influir cada vez mais profundamente na sua existência quotidiana,
levando-os a serem testemunhas reconhecidas como tais no próprio
ambiente de trabalho e na sociedade inteira.(220) Dirijo um
particular encorajamento às famílias a haurirem inspiração e força
deste sacramento: o amor entre o homem e a mulher, o acolhimento da
vida, a missão educadora aparecem como âmbitos privilegiados onde a
Eucaristia pode mostrar a sua capacidade de transformar e encher de
significado a existência.(221) Os pastores nunca deixem de apoiar,
educar e encorajar os fiéis leigos a viverem plenamente a própria
vocação à santidade no meio deste mundo que Deus amou até ao ponto
de dar o Filho para sua salvação (Jo 3, 16).
Eucaristia e espiritualidade
sacerdotal
80. A forma eucarística da
existência cristã manifesta-se, sem dúvida, de modo particular no
estado de vida sacerdotal. A espiritualidade sacerdotal é
intrinsecamente eucarística; a semente desta espiritualidade
encontra-se já nas palavras que o bispo pronuncia na liturgia da
ordenação: « Recebe a oferenda do povo santo para a apresentares a
Deus. Toma consciência do que virás a fazer; imita o que virás a
realizar, e conforma a tua vida com o mistério da cruz do Senhor
».(222) Para conferir à sua existência uma forma eucarística cada
vez mais perfeita, o sacerdote deve reservar, já no período de
formação e depois nos anos sucessivos, amplo espaço para a vida
espiritual.(223) É chamado a ser continuamente um autêntico
perscrutador de Deus, embora ao mesmo tempo permaneça solidário com
as preocupações dos homens. Uma vida espiritual intensa
permitir-lhe-á entrar mais profundamente em comunhão com o Senhor e
ajudá-lo-á a deixar-se possuir pelo amor de Deus, tornando-se sua
testemunha em todas as circunstâncias mesmo difíceis e obscuras.
Para isso, juntamente com os padres do Sínodo, recomendo aos
sacerdotes « a celebração diária da Santa Missa, mesmo quando não
houver participação de fiéis ».(224) Tal recomendação é ditada, ante
de mais, pelo valor objectivamente infinito de cada celebração
eucarística; e é motivada ainda pela sua singular eficácia
espiritual, porque, se vivida com atenção e fé, a Santa Missa é
formadora no sentido mais profundo do termo, enquanto promove a
configuração a Cristo e reforça o sacerdote na sua vocação.
Eucaristia e vida consagrada
81. No contexto da relação
entre a Eucaristia e as diversas vocações eclesiais, refulge de modo
particular « o testemunho profético de mulheres e homens consagrados
que encontram, na celebração eucarística e na adoração, a força para
o seguimento radical de Cristo obediente, pobre e casto ».(225)
Embora realizem muitos serviços no campo da formação humana e do
cuidado pelos pobres, no ensino ou na assistência aos doentes, os
consagrados e consagradas sabem que a finalidade principal da sua
vida é « a contemplação das coisas divinas e a união assídua com
Deus »;( 226 a contribuição essencial que a Igreja espera da vida
consagrada destina-se muito mais ao ser do que ao fazer. Neste
contexto, queria evocar a importância do testemunho virginal
precisamente em relação ao mistério da Eucaristia; com efeito, além
da ligação com o celibato sacerdotal, o mistério eucarístico
apresenta uma relação intrínseca com a virgindade consagrada,
enquanto esta é expressão da dedicação exclusiva da Igreja a Cristo,
que ela acolhe como seu Esposo com radical e fecunda fidelidade.227)
Na Eucaristia, a virgindade consagrada encontra inspiração e
nutrimento para a sua dedicação total a Cristo; além disso, aufere
da Eucaristia conforto e impulso para ser, no nosso tempo também,
sinal do amor gratuito e fecundo que Deus tem pela humanidade.
Enfim, é através do seu testemunho específico que a vida consagrada
se torna objectivamente apelo e antecipação daquelas « núpcias do
Cordeiro » (Ap 19, 7-9) que constituem a meta de toda a
história da salvação; neste sentido, aquela constitui uma evocação
eficaz do horizonte escatológico de que o homem necessita para poder
orientar as suas opções e resoluções de vida.
Eucaristia e transformação
moral
82. Descoberta a beleza da
forma eucarística da existência cristã, somos levados a reflectir
também sobre as energias morais que, por tal forma, se desencadeiam
em apoio da liberdade autêntica e própria dos filhos de Deus.
Desejo, assim, retomar um assunto que surgiu no Sínodo: a ligação
entre forma eucarística da vida e transformação moral.
O Papa João Paulo II afirmara que a vida moral « possui o valor de
um ‘‘culto espiritual'' (Rm 12, 1; cf. Fil 3, 3), que
brota e se alimenta daquela fonte inesgotável de santidade e
glorificação de Deus que são os sacramentos, especialmente a
Eucaristia: com efeito, ao participar no sacrifício da cruz, o
cristão comunga do amor de doação de Cristo, ficando habilitado e
comprometido a viver esta mesma caridade em todas as suas atitudes e
comportamentos de vida ».(228) Em suma, « no próprio ‘‘culto'', na
comunhão eucarística, está contido o ser amado e o amar por sua vez
os outros. Uma Eucaristia que não se traduza em amor concretamente
vivido é em si mesma fragmentária ».(229)
Este apelo ao valor moral do
culto espiritual não deve ser interpretado em chave moralista; é,
antes de mais, a descoberta feliz do dinamismo do amor no coração de
quem acolhe o dom do Senhor, abandona-se a Ele e encontra a
verdadeira liberdade. A transformação moral, que o novo culto
instituído por Cristo implica, é uma tensão e um anseio profundo de
querer corresponder ao amor do Senhor com todo o próprio ser, embora
conscientes da própria fragilidade. Aquilo de que estamos a falar
aparece claramente no relato evangélico de Zaqueu (Lc 19,
1-10): depois de ter hospedado Jesus na sua casa, o publicano
sente-se completamente transformado; decide dar metade dos seus
haveres aos pobres e restituir quatro vezes mais a quem roubou. A
tensão moral, que nasce do acto de hospedar Jesus na nossa vida,
brota da gratidão por se ter experimentado a imerecida proximidade
do Senhor.
Coerência eucarística
83. É importante salientar
aquilo que os padres sinodais designaram por coerência
eucarística, à qual está objectivamente chamada a nossa
existência. Com efeito, o culto agradável a Deus nunca é um acto
meramente privado, sem consequências nas nossas relações sociais:
requer o testemunho público da própria fé. Evidentemente isto vale
para todos os baptizados, mas impõe-se com particular premência a
quantos, pela posição social ou política que ocupam, devem tomar
decisões sobre valores fundamentais como o respeito e defesa da vida
humana desde a concepção até à morte natural, a família fundada
sobre o matrimónio entre um homem e uma mulher, a liberdade de
educação dos filhos e a promoção do bem comum em todas as suas
formas.(230) Estes são valores não negociáveis. Por isso, cientes da
sua grave responsabilidade social, os políticos e os legisladores
católicos devem sentir-se particularmente interpelados pela sua
consciência rectamente formada a apresentar e apoiar leis inspiradas
nos valores impressos na natureza humana.(231) Tudo isto tem, aliás,
uma ligação objectiva com a Eucaristia (1 Cor 11, 27-29). Os
bispos são obrigados a recordar sem cessar tais valores; faz parte
da sua responsabilidade pelo rebanho que lhes foi confiado.(232)
Eucaristia, mistério
anunciado
Eucaristia e missão
84. Na homilia durante a
celebração eucarística com que solenemente dei início ao meu
ministério na Cátedra de Pedro, disse: « Não há nada de mais belo do
que ser alcançado, surpreendido pelo Evangelho, por Cristo. Não há
nada de mais belo do que conhecê-Lo e comunicar aos outros a amizade
com Ele ».(233) Esta afirmação cresce de intensidade, quando
pensamos no mistério eucarístico; com efeito, não podemos reservar
para nós o amor que celebramos neste sacramento: por sua natureza,
pede para ser comunicado a todos. Aquilo de que o mundo tem
necessidade é do amor de Deus, é de encontrar Cristo e acreditar
n'Ele. Por isso, a Eucaristia é fonte e ápice não só da vida da
Igreja, mas também da sua missão: « Uma Igreja autenticamente
eucarística é uma Igreja missionária ».(234) Havemos, também nós, de
poder dizer com convicção aos nossos irmãos: « Nós vos anunciamos o
que vimos e ouvimos, para que estejais também em comunhão connosco »
(1 Jo 1, 2-3). Verdadeiramente não há nada de mais belo do
que encontrar e comunicar Cristo a todos! Aliás, a própria
instituição da Eucaristia antecipa aquilo que constitui o cerne da
missão de Jesus: Ele é o enviado do Pai para a redenção do mundo (Jo
3, 16-17; Rm 8, 32). Na Última Ceia, Jesus entrega aos
seus discípulos o sacramento que actualiza o sacrifício que Ele, em
obediência ao Pai, fez de Si mesmo pela salvação de todos nós. Não
podemos abeirar-nos da mesa eucarística sem nos deixarmos arrastar
pelo movimento da missão que, partindo do próprio Coração de Deus,
visa atingir todos os homens; assim, a tensão missionária é parte
constitutiva da forma eucarística da existência cristã.
Eucaristia e testemunho
85. A missão primeira e
fundamental, que deriva dos santos mistérios celebrados, é dar
testemunho com a nossa vida. O enlevo pelo dom que Deus nos concedeu
em Cristo, imprime à nossa existência um dinamismo novo que nos
compromete a ser testemunhas do seu amor. Tornamonos testemunhas
quando, através das nossas acções, palavras e modo de ser, é Outro
que aparece e Se comunica. Pode-se afirmar que o testemunho é o meio
pelo qual a verdade do amor de Deus alcança o homem na história,
convidando-o a acolher livremente esta novidade radical. No
testemunho, Deus expõe-Se por assim dizer ao risco da liberdade do
homem. O próprio Jesus é a testemunha fiel e verdadeira (Ap
1, 5; 3, 14); veio para dar testemunho da verdade (Jo 18,
37). Nesta ordem de ideias, apraz-me retomar um conceito caro aos
primeiros cristãos mas que nos interpela também a nós, cristãos de
hoje: o testemunho até ao dom de si mesmo, até ao martírio, sempre
foi considerado, na história da Igreja, o apogeu do novo culto
espiritual: « Oferecei os vossos corpos » (Rm 12, 1).
Pense-se, por exemplo, na narração do martírio de São Policarpo de
Esmirna, discípulo de São João: o seu caso, dramático, é todo ele
descrito como uma liturgia; mais ainda, como se o próprio mártir se
tornasse Eucaristia.(235) Pensemos também na consciência eucarística
que Inácio de Antioquia exprime tendo em mente o seu martírio:
considera-se « trigo de Deus » e, pelo martírio, deseja
transformar-se em « pão puro de Cristo ».(236) O cristão, quando
oferece a sua vida no martírio, entra em plena comunhão com a páscoa
de Jesus Cristo e, assim, ele mesmo se torna Eucaristia com Cristo.
Não faltam, ainda hoje, à Igreja os mártires, nos quais se manifesta
de modo supremo o amor de Deus. E, mesmo que não nos seja pedida a
prova do martírio, sabemos, porém, que o culto agradável a Deus
postula intimamente esta disponibilidade (237) e encontra a sua
realização no feliz e convicto testemunho perante o mundo duma vida
cristã coerente nos diversos sectores onde o Senhor nos chama a
anunciá-Lo.
Jesus Cristo, único Salvador
86. Sublinhar a ligação
intrínseca entre Eucaristia e missão faz-nos descobrir também o
conteúdo supremo do nosso anúncio. Quanto mais vivo for o amor pela
Eucaristia no coração do povo cristão, tanto mais clara lhe será a
incumbência da missão: levar Cristo; não meramente uma ideia
ou uma ética n'Ele inspirada, mas o dom da sua própria Pessoa. Quem
não comunica a verdade do Amor ao irmão, ainda não deu bastante. A
Eucaristia enquanto sacramento da nossa salvação chama-nos assim,
inevitavelmente, à unicidade de Cristo e da salvação por Ele
realizada a preço do seu sangue. Por isso, do mistério eucarístico
acreditado e celebrado nasce a exigência de educar constantemente a
todos para o trabalho missionário, cujo centro é o anúncio de Jesus,
único Salvador.(238) Isto impedirá de confinar, em chave meramente
sociológica, a obra decisiva de promoção humana que todo o processo
de evangelização autêntico sempre implica.
Liberdade de culto
87. Neste contexto, desejo
dar voz àquilo que os padres referiram, durante a assembleia
sinodal, a propósito das graves dificuldades criadas à missão das
comunidades cristãs que vivem em condições de minoria ou mesmo de
privação da liberdade religiosa.(239) Devemos verdadeiramente dar
graças ao Senhor por todos os bispos, sacerdotes, pessoas
consagradas e leigos que se prodigalizam a anunciar o Evangelho e
vivem a sua fé sob risco da própria vida. Não são poucas as regiões
do mundo onde o simples ir à igreja constitui um testemunho heróico
que expõe a vida da pessoa à marginalização e à violência. Nesta
ocasião, quero também reiterar a solidariedade da Igreja inteira a
quantos sofrem por falta de liberdade de culto. Nos lugares onde não
há a liberdade religiosa, sabemos que falta, no fim de contas, a
liberdade mais significativa, pois é na fé que o homem exprime a
decisão íntima relativa ao sentido último da própria existência; por
isso, rezemos para que se alargue o espaço da liberdade religiosa em
todos os Estados, a fim de os cristãos e os membros das outras
religiões poderem livremente viver as suas convicções, pessoalmente
e em comunidade.
Eucaristia,
mistério oferecido ao mundo
Eucaristia, pão repartido
para a vida do mundo
88. « O pão que Eu hei-de
dar é a minha carne que Eu darei pela vida do mundo » (Jo 6,
51). Com estas palavras, o Senhor revela o verdadeiro significado do
dom da sua vida por todos os homens; as mesmas mostram-nos também a
compaixão íntima que Ele sente por cada pessoa. Na realidade, os
Evangelhos transmitem-nos muitas vezes os sentimentos de Jesus para
com as pessoas, especialmente doentes e pecadores (Mt 20, 34;
Mc 6, 34; Lc 19, 41). Ele exprime, através dum sentimento
profundamente humano, a intenção salvífica de Deus que deseja que
todo o homem alcance a verdadeira vida. Cada celebração eucarística
actualiza sacramentalmente a doação que Jesus fez da sua própria
vida na cruz por nós e pelo mundo inteiro. Ao mesmo tempo, na
Eucaristia, Jesus faz de nós testemunhas da compaixão de Deus por
cada irmão e irmã; nasce assim, à volta do mistério eucarístico, o
serviço da caridade para com o próximo, que « consiste precisamente
no facto de eu amar, em Deus e com Deus, a pessoa que não me agrada
ou que nem conheço sequer. Isto só é possível realizar-se a partir
do encontro íntimo com Deus, um encontro que se tornou comunhão de
vontade, chegando mesmo a tocar o sentimento. Então aprendo a ver
aquela pessoa já não somente com os meus olhos e sentimentos, mas
segundo a perspectiva de Jesus Cristo ».(240) Desta forma, nas
pessoas que contacto, reconheço irmãs e irmãos, pelos quais o Senhor
deu a sua vida amando-os « até ao fim » (Jo 13, 1). Por
conseguinte, as nossas comunidades, quando celebram a Eucaristia,
devem consciencializar-se cada vez mais de que o sacrifício de Jesus
é por todos; e, assim, a Eucaristia impele todo o que acredita n'Ele
a fazer-se « pão repartido » para os outros e, consequentemente, a
empenhar-se por um mundo mais justo e fraterno. Como sucedeu na
multiplicação dos pães e dos peixes, temos de reconhecer que Cristo
continua, ainda hoje, exortando os seus discípulos a empenharem-se
pessoalmente: « Dai-lhes vós de comer » (Mt 14, 16). Na
verdade, a vocação de cada um de nós consiste em ser, unido a Jesus,
pão repartido para a vida do mundo.
As implicações sociais do
mistério eucarístico
89. A união com Cristo, que
se realiza no sacramento, habilita-nos também a uma novidade de
relações sociais: « a ‘‘mística'' do sacramento tem um carácter
social, porque (...) a união com Cristo é, ao mesmo tempo, união com
todos os outros aos quais Ele Se entrega. Eu não posso ter Cristo só
para mim; posso pertencer-Lhe somente unido a todos aqueles que se
tornaram ou hão-de tornar Seus ».(241) A propósito, é necessário
explicitar a relação entre mistério eucarístico e compromisso
social. A Eucaristia é sacramento de comunhão entre irmãos e irmãs
que aceitam reconciliar-se em Cristo, o Qual fez de judeus e gentios
um só povo, destruindo o muro de inimizade que os separava (Ef
2, 14). Somente esta tensão constante à reconciliação permite
comungar dignamente o corpo e o sangue de Cristo (Mt 5,
23-24).(242) Através do memorial do seu sacrifício, Ele reforça a
comunhão entre os irmãos e, de modo particular, estimula os que
estão em conflito a apressar a sua reconciliação, abrindo-se ao
diálogo e ao compromisso em prol da justiça. A restauração da
justiça, a reconciliação e o perdão são, sem dúvida alguma,
condições para construir uma verdadeira paz; (243) desta consciência
nasce a vontade de transformar também as estruturas injustas, a fim
de se restabelecer o respeito da dignidade do homem, criado à imagem
e semelhança de Deus; é através da realização concreta desta
responsabilidade que a Eucaristia se torna na vida o que significa
na celebração. Como já tive ocasião de afirmar, não é missão própria
da Igreja tomar nas suas mãos a batalha política para se realizar a
sociedade mais justa possível; todavia, ela não pode nem deve ficar
à margem da luta pela justiça. A Igreja « deve inserir-se nela pela
via da argumentação racional e deve despertar as forças espirituais,
sem as quais a justiça, que sempre requer renúncias também, não
poderá afirmar-se nem prosperar ».(244)
Na perspectiva da
responsabilidade social de todos os cristãos, os padres sinodais
lembraram que o sacrifício de Cristo é mistério de libertação que
nos interpela e provoca continuamente; dirijo, pois, um apelo a
todos os fiéis para que se tornem realmente obreiros de paz e
justiça: « Com efeito, quem participa na Eucaristia deve empenhar-se
na edificação da paz neste nosso mundo marcado por muitas violências
e guerras, e, hoje de modo particular, pelo terrorismo, a corrupção
económica e a exploração sexual »;( 245) problemas, estes, que geram
por sua vez outros fenómenos degradantes que causam viva
preocupação. Sabemos que estas situações não podem ser encaradas de
modo superficial. Precisamente em virtude do mistério que
celebramos, é preciso denunciar as circunstâncias que estão em
contraste com a dignidade do homem, pelo qual Cristo derramou o seu
sangue, afirmando assim o alto valor de cada pessoa.
O alimento da verdade e a
indigência do homem
90. Não podemos ficar
inactivos perante certos processos de globalização, que não raro
fazem crescer desmesuradamente a distância entre ricos e pobres a
nível mundial. Devemos denunciar quem delapida as riquezas da terra,
provocando desigualdades que bradam ao céu (Tg 5, 4). Por
exemplo, é impossível calar diante das « imagens impressionantes dos
grandes campos de deslocados ou refugiados — em várias partes do
mundo — amontoados em condições precárias para escapar a sorte pior,
mas carecidos de tudo. Porventura estes seres humanos não são nossos
irmãos e irmãs? Os seus filhos não vieram ao mundo com os mesmos
legítimos anseios de felicidade que os outros? ».(246) O Senhor
Jesus, pão de vida eterna, incita a tornarmo-nos atentos às
situações de indigência em que ainda vive grande parte da
humanidade: são situações cuja causa se fica a dever,
frequentemente, a uma clara e preocupante responsabilidade dos
homens. De facto, « com base em dados estatísticos disponíveis,
pode-se afirmar que bastaria menos de metade das somas imensas
globalmente destinadas a armamentos para tirar, de forma estável, da
indigência o exército ilimitado dos pobres. Isto interpela a
consciência humana. Às populações que vivem sob o limiar da pobreza,
mais por causa de situações que dependem das relações internacionais
políticas, comerciais e culturais do que por circunstâncias
incontroláveis, o nosso esforço comum verdadeiramente pode e deve
oferecer-lhes nova esperança ».(247)
O alimento da verdade
leva-nos a denunciar as situações indignas do homem, nas quais se
morre à míngua de alimento por causa da injustiça e da exploração, e
dá-nos nova força e coragem para trabalhar sem descanso na
edificação da civilização do amor. Desde o princípio, os cristãos
tiveram a preocupação de partilhar os seus bens (Act 4, 32) e
de ajudar os pobres (Rm 15, 26). O peditório que se realiza
nas assembleias litúrgicas constitui viva reminiscência disso mesmo,
mas é também uma necessidade muito actual. As instituições eclesiais
de beneficência, de modo particular a Caritas nos seus vários
níveis, realizam o valioso serviço de auxiliar as pessoas em
necessidade, sobretudo os mais pobres. Tirando inspiração da
Eucaristia, que é o sacramento da caridade, aquelas tornam-se a sua
expressão concreta; por isso, merecem todo o aplauso e estímulo pelo
seu empenho solidário no mundo.
A doutrina social da Igreja
91. O mistério da Eucaristia
habilita-nos e impele-nos a um compromisso corajoso nas estruturas
deste mundo para lhes conferir aquela novidade de relações que tem a
sua fonte inexaurível no dom de Deus. O pedido que repetimos em cada
Missa: « O pão nosso de cada dia nos dai hoje », obriga-nos a fazer
tudo o que for possível, em colaboração com as instituições
internacionais, estatais, privadas, para que cesse ou pelo menos
diminua, no mundo, o escândalo da fome e da subnutrição que padecem
muitos milhões de pessoas, sobretudo nos países em vias de
desenvolvimento. Particularmente o leigo cristão, formado na escola
da Eucaristia, é chamado a assumir directamente a sua
responsabilidade político-social; a fim de poder desempenhar
adequadamente as suas funções, é preciso prepará-lo através duma
educação concreta para a caridade e a justiça. Para isso, como foi
pedido pelo Sínodo, é necessário que, nas dioceses e comunidades
cristãs, se dê a conhecer e incremente a doutrina social da
Igreja.(248) Neste precioso património, nascido da mais antiga
tradição eclesial, encontramos os elementos que orientam, com
profunda sabedoria, o comportamento dos cristãos nas questões
sociais em ebulição. Amadurecida durante toda a história da Igreja,
esta doutrina caracteriza-se pelo seu realismo e equilíbrio,
ajudando assim a evitar promessas enganadoras ou vãs utopias.
Santificação do mundo e
defesa da criação
92. Enfim, para desenvolver
uma espiritualidade eucarística profunda, capaz de incidir
significativamente também no tecido social, é necessário que o povo
cristão, ao dar graças por meio da Eucaristia, tenha consciência de
o fazer em nome da criação inteira, aspirando assim à santificação
do mundo e trabalhando intensamente para tal fim.(249) A própria
Eucaristia projecta uma luz intensa sobre a história humana e todo o
universo. Nesta perspectiva sacramental, aprendemos dia após dia que
cada acontecimento eclesial possui o carácter de sinal, pelo qual
Deus Se comunica a Si mesmo e nos interpela. Desta maneira, a forma
eucarística da existência pode verdadeiramente favorecer uma
autêntica mudança de mentalidade no modo como lemos a história e o
mundo. Para tudo isto nos educa a própria liturgia quando o
sacerdote, durante a apresentação dos dons, dirige a Deus uma oração
de bênção e súplica a respeito do pão e do vinho, « fruto da terra
», « da videira » e do « trabalho do homem ». Com estas palavras, o
rito, além de envolver na oferta a Deus toda a actividade e canseira
humana, impele-nos a considerar a terra como criação de Deus, que
produz quanto precisamos para o nosso sustento. Não se trata duma
realidade neutral, nem de mera matéria a ser utilizada
indiferentemente segundo o instinto humano; mas coloca-se dentro do
desígnio amoroso de Deus, segundo o qual todos nós somos chamados a
ser filhos e filhas de Deus no seu único Filho, Jesus Cristo (Ef
1, 4-12). As condições ecológicas em que a criação subjaz em
muitas partes do mundo suscitam justas preocupações, que encontram
motivo de conforto na perspectiva da esperança cristã, pois esta
compromete-nos a trabalhar responsavelmente na defesa da criação;
(250) de facto, na relação entre a Eucaristia e o universo,
descobrimos a unidade do desígnio de Deus e somos levados a
individuar a relação profunda da criação com a « nova criação » que
foi inaugurada na ressurreição de Cristo, novo Adão. Dela
participamos já agora em virtude do Baptismo (Col 2, 12s),
abrindo-se assim à nossa vida cristã, alimentada pela Eucaristia, a
perspectiva do mundo novo, do novo céu e da nova terra, onde a nova
Jerusalém desce do céu, de junto de Deus, « bela como noiva adornada
para o seu esposo » (Ap 21, 2).
Utilidade dum Compêndio
Eucarístico
93. No termo destas
reflexões em que de boa vontade me detive sobre as indicações
surgidas no Sínodo, desejo acolher também o pedido que os padres
apresentaram para ajudar o povo cristão a crer, celebrar e viver
cada vez melhor o mistério eucarístico. Cuidado pelos Dicastérios
competentes, há-de ser publicado um Compêndio, que recolha
textos do Catecismo da Igreja Católica, orações, explicações das
Orações Eucarísticas do Missal e tudo o mais que possa demonstrar-se
útil para a correcta compreensão, celebração e adoração do
sacramento do altar.(251) Espero que este instrumento possa
contribuir para que o memorial da páscoa do Senhor se torne cada dia
sempre mais fonte e ápice da vida e da missão da Igreja; isto
animará cada fiel a fazer da sua própria vida um verdadeiro culto
espiritual.
CONCLUSÃO
94. Amados irmãos e irmãs, a
Eucaristia está na origem de toda a forma de santidade, sendo cada
um de nós chamado à plenitude de vida no Espírito Santo. Quantos
santos tornaram autêntica a própria vida, graças à sua piedade
eucarística! De Santo Inácio de Antioquia a Santo Agostinho, de
Santo Antão Abade a São Bento, de São Francisco de Assis a São Tomás
de Aquino, de Santa Clara de Assis a Santa Catarina de Sena, de São
Pascoal Bailão a São Pedro Julião Eymard, de Santo Afonso Maria de
Ligório ao Beato Carlos de Foucauld, de São João Maria Vianey a
Santa Teresa de Lisieux, de São Pio de Pietrelcina à Beata Teresa de
Calcutá, do Beato Pedro Jorge Frassati ao Beato Ivan Merz, para
mencionar apenas alguns de tantos nomes, a santidade sempre
encontrou o seu centro no sacramento da Eucaristia.
Por isso, é necessário que,
na Igreja, este mistério santíssimo seja verdadeiramente acreditado,
devotamente celebrado e intensamente vivido. A doação que Jesus faz
de Si mesmo no sacramento memorial da sua paixão, atesta que o êxito
da nossa vida está na participação da vida trinitária, que nos é
oferecida n'Ele de forma definitiva e eficaz. A celebração e a
adoração da Eucaristia permitem abeirar-nos do amor de Deus e a ele
aderir pessoalmente até à união com o bem-amado Senhor. A oferta da
nossa vida, a comunhão com a comunidade inteira dos crentes e a
solidariedade com todo o homem são aspectos imprescindíveis da
logiké latreía, ou seja, do culto espiritual, santo e agradável
a Deus (Rm 12, 1), no qual toda a nossa realidade humana
concreta é transformada para glória de Deus. Convido, pois, todos os
pastores a prestarem a máxima atenção à promoção duma
espiritualidade cristã autenticamente eucarística. Os presbíteros,
os diáconos e todos aqueles que exercem um ministério eucarístico
possam sempre tirar destes mesmos serviços, realizados com
solicitude e constante preparação, força e estímulo para o seu
caminho pessoal e comunitário de santificação. Exorto todos os
leigos, e as famílias em particular, a encontrarem continuamente no
sacramento do amor de Cristo a energia de que precisam para
transformar a própria vida num sinal autêntico da presença do Senhor
ressuscitado. Peço a todos os consagrados e consagradas para
manifestarem, com a própria existência eucarística, o esplendor e a
beleza de pertencer totalmente ao Senhor.
95. No início do século IV,
quando o culto cristão era ainda proibido pelas autoridades
imperiais, alguns cristãos do norte de África, que se sentiam
obrigados a celebrar o dia do Senhor, desafiaram tal proibição.
Foram martirizados enquanto declaravam que não lhes era possível
viver sem a Eucaristia, alimento do Senhor: « Sine dominico non
possumus – sem o domingo, não podemos viver ».(252) Estes
mártires de Abitinas, juntamente com muitos outros santos e beatos
que fizeram da Eucaristia o centro da sua vida, intercedam por nós e
nos ensinem a fidelidade ao encontro com Cristo ressuscitado! Também
nós não podemos viver sem participar no sacramento da nossa salvação
e desejamos ser iuxta dominicam viventes, isto é, traduzir na
vida o que celebramos no dia do Senhor. Com efeito, este é o dia da
nossa libertação definitiva. Então porquê maravilhar-se quando
desejamos que cada dia seja vivido segundo a novidade introduzida
por Cristo com o mistério da Eucaristia?
96. Que Maria Santíssima,
Virgem Imaculada, arca da nova e eterna aliança, nos acompanhe neste
caminho ao encontro do Senhor que vem! N'Ela encontramos realizada,
na forma mais perfeita, a essência da Igreja. Esta vê em Maria, «
Mulher eucarística » — como A designou o servo de Deus João Paulo II
(253) —, o seu ícone melhor conseguido e contempla-A como modelo
insubstituível de vida eucarística. Por isso, preparando-se para
acolher sobre o altar «verum corpus natum de Maria Virgine –
o verdadeiro corpo nascido da Virgem Maria», o sacerdote, em nome da
assembleia litúrgica, proclama com as palavras do cânone: «
Veneramos a memória da gloriosa sempre Virgem Maria, Mãe do nosso
Deus e Senhor, Jesus Cristo ».(254) O seu nome santo é invocado e
venerado também nos cânones das tradições orientais cristãs. Por sua
vez, os fiéis « recomendam a Maria, Mãe da Igreja, a sua existência
e trabalho. Esforçando-se por ter os mesmos sentimentos que Maria,
ajudam toda a comunidade a viver em oferta viva, agradável ao Pai
».(255) Ela é a Tota Pulchra, a Toda Formosa, porque n'Ela
resplandece o fulgor da glória de Deus. A beleza da liturgia
celeste, que deve reflectir-se também nas nossas assembleias,
encontra n'Ela um espelho fiel. D'Ela devemos aprender a tornar-nos
pessoas eucarísticas e eclesiais para podermos também nós
apresentar-nos, segundo a palavra de São Paulo, « imaculados »
perante o Senhor, tal como Ele nos quis desde o princípio (Col
1, 22; Ef 1, 4).(256)
97. Por intercessão da
bem-aventurada Virgem Maria, o Espírito Santo acenda em nós o mesmo
ardor que experimentaram os discípulos de Emaús (Lc 24,
13-35) e renove na nossa vida o enlevo eucarístico pelo esplendor e
a beleza que refulgem no rito litúrgico, sinal eficaz da própria
beleza infinita do mistério santo de Deus. Os referidos discípulos
levantaram-se e voltaram a toda a pressa para Jerusalém a fim de
partilhar a alegria com os irmãos e irmãs na fé. Com efeito, a
verdadeira alegria é reconhecer que o Senhor permanece no nosso
meio, companheiro fiel do nosso caminho; a Eucaristia faz-nos
descobrir que Cristo, morto e ressuscitado, Se manifesta como nosso
contemporâneo no mistério da Igreja, seu corpo. Deste mistério de
amor fomos feitos testemunhas. Os votos que reciprocamente
formulamos sejam os de irmos cheios de alegria e maravilha ao
encontro da santíssima Eucaristia, para experimentar e anunciar aos
outros a verdade das palavras com que Jesus Se despediu dos seus
discípulos: « Eu estou sempre convosco, até ao fim dos tempos » (Mt
28, 20).
Dado em Roma, junto de São
Pedro, no dia 22 de Fevereiro — festa da Cátedra de São Pedro — de
2007, segundo ano de Pontificado.
BENEDICTUS PP. XVI
Notas
20. Cf. Breviário Romano:
Hino do Ofício de Leituras, na solenidade do Corpo de Deus.
21. Bento XVI, Carta enc.
Deus caritas est
(25 de Dezembro de 2005), 13: AAS 98 (2006), 228.
22. Cf. Bento XVI,
Homilia na Esplanada de
Marienfeld
(21 de Agosto de 2005): AAS 97 (2005), 891-892.
23. Cf. Propositio 3.
24. Cf. Missal Romano:
Oração Eucarística IV.
25. Catequese 23, 7:
PG 33, 1114s.
26. Cf. Sobre o
sacerdócio, 6, 4: PG 48, 681.
27. Ibid., 3, 4:
o.c., 48, 642.
28. Propositio 22.
29. Cf. Propositio
42: « Este encontro eucarístico realiza-se no Espírito Santo, que
nos transforma e santifica. Ele desperta no discípulo a vontade
decidida de anunciar aos outros, com desassombro, tudo o que ouviu e
viveu, para conduzi-los, também a eles, ao mesmo encontro com
Cristo. Deste modo o discípulo, enviado pela Igreja, abre-se a uma
missão sem fronteiras ».
30. Cf. Conc. Ecum. Vat. II,
Const. dogm. sobre a Igreja
Lumen gentium,
3. Veja-se, por exemplo, São João Crisóstomo, Catequeses 3,
13-19: SC 50, 174-177.
31. João Paulo II, Carta
enc.
Ecclesia de Eucharistia
(17 de Abril de
2003), 1: AAS 95 (2003), 433.
32. Ibid., 21:
o.c., 447.
33. Cf. João Paulo II, Carta
enc.
Redemptor hominis
(4 de Março de 1979), 20: AAS 71 (1979), 309-316; Carta enc.
Dominicæ Cenæ (24 de Fevereiro de 1980), 4: AAS 72
(1980), 119-121.
34. Cf. Propositio 5.
35. Cf. São Tomás de Aquino,
Summa Theologiæ, III, q. 80, a. 4.
36. N. 38: AAS 95
(2003), 458.
37. Conc. Ecum. Vat. II,
Const. dogm. sobre a Igreja
Lumen gentium,
23.
38. Congr. para a Doutrina
da Fé, Carta sobre alguns aspectos da Igreja entendida como comunhão
Communionis notio
(28 de Maio de 1992), 11: AAS 85 (1993), 844-845.
39. Propositio 5: « O
termo ‘‘católico'' exprime a universalidade resultante da unidade
que a Eucaristia, celebrada em cada Igreja, fomenta e constrói.
Assim, as Igrejas particulares na Igreja universal têm, na
Eucaristia, a missão de tornar visível a sua própria unidade e a sua
diversidade. Este laço de amor fraterno deixa transparecer a
comunhão trinitária. Os concílios e os sínodos exprimem na história
este aspecto fraterno da Igreja ».
40. Cf. Ibid., 5.
41. Decr. sobre o ministério
e a vida dos presbíteros
Presbyterorum ordinis,
5.
42. Cf. Propositio
14.
43. Const. dogm. sobre a
Igreja
Lumen gentium,
1.
44. De oratione dominica,
23: PL 4, 553.
45. Conc. Ecum. Vat. II,
Const. dogm. sobre a Igreja
Lumen gentium,
48; veja-se também o n. 9.
46. Cf. Propositio
13.
47. Cf. Conc. Ecum. Vat. II,
Const. dogm. sobre a Igreja
Lumen gentium,
7.
48. Cf. Ibid., 11;
Decr. sobre a actividade missionária da Igreja
Ad gentes,
9.13.
49. Cf. João Paulo II, Carta
ap. Dominicæ Cenæ (24 de Fevereiro de 1980), 7: AAS 72
(1980), 124-127; Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre o ministério e a
vida dos presbíteros
Presbyterorum ordinis,
5.
50. Cf. Código dos
Cânones das Igrejas Orientais, cân. 710.
51. Cf. Rito da Iniciação
Cristã dos Adultos, Introd. ger., nn. 34-36.
52. Cf. Rito do Baptismo
das Crianças, Introd., nn. 18-19.
53. Cf. Propositio
15.
54. Cf. Propositio 7;
João Paulo II, Carta enc.
Ecclesia de Eucharistia
(17 de Abril de 2003), 36: AAS 95 (2003), 457-458.
55. Cf. João Paulo II,
Exort. ap. pós-sinodal
Reconciliatio et
pænitentia
(2 de Dezembro de 1984), 18: AAS 77 (1985), 224-228.
56. Cf. Catecismo da
Igreja Católica, 1385.
57. Pense-se na «
Confissão » (Confiteor) ou nas palavras proferidas pelo
sacerdote e a assembleia pouco antes de comungarem: « Senhor, eu
não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra
e serei salvo ». Significativamente a liturgia prevê, para o
sacerdote, algumas orações muito belas, recebidas da tradição, que
lhe recordam a necessidade de ser perdoado, como, por exemplo, a
oração feita em silêncio antes de convidar os fiéis para a comunhão
sacramental: « ...livrai-me de todos os meus pecados e de todo o
mal, por este vosso santíssimo corpo e sangue; conservai-me sempre
fiel aos vossos mandamentos e não permitais que eu me separe de Vós
».
58. Cf. São João Damasceno,
Sobre a recta fé, 4, 9: PG 94, 1124C; São Gregório de
Nazianzo, Discurso 39, 17: PG 36, 356A; Conc. Ecum. de
Trento, Doctrina de sacramento pænitentiæ, cap. 2: DS
1672.
59. Cf. Conc. Ecum. Vat. II,
Const. dogm. sobre a Igreja
Lumen gentium,
11; João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal
Reconciliatio et
pænitentia
(2 de Dezembro de 1984), 30: AAS 77 (1985), 256-257.
60. Cf. Propositio 7.
61. Cf. João Paulo II, Motu
proprio
Misericordia Dei
(7 de Abril
de 2002): AAS 94 (2002), 452-459.
62. Lembro, juntamente com
os padres sinodais, que as celebrações penitenciais não
sacramentais, mencionadas no ritual do sacramento da Reconciliação,
podem ser úteis para fomentar o espírito de conversão e de comunhão
nas comunidades cristãs, preparando assim os corações para a
celebração do sacramento: cf. Propositio 7.
63. Cf. Código de Direito
Canónico, cân. 508.
64. Paulo VI, Const. ap.
Indulgentiarum doctrina
(1 de
Janeiro de 1967), Normæ, 1: AAS 59 (1967), 21.
65. Ibid., 9: o.c.,
18-19.
66. Cf. Catecismo da
Igreja Católica, 1499-1531.
67. Ibid., 1524.
68. Cf. Propositio
44.
69. Cf. II Assembleia Geral
Ordinária do Sínodo dos Bispos, Doc. sobre o sacerdócio ministerial
Ultimis temporibus (30 de Novembro de 1971): AAS 63
(1971), 898-942.
70. Cf. João Paulo II,
Exort. ap. pós-sinodal
Pastores dabo vobis
(25 de Março de
1992), 42-69: AAS 84 (1992), 729-778.
71. Cf. Conc. Ecum. Vat. II,
Const. dogm. sobre a Igreja
Lumen gentium,
10; Congr. para a Doutrina da Fé, Carta acerca de algumas questões
relativas ao ministro da Eucaristia Sacerdotium ministeriale
(6 de Agosto de 1983): AAS 75 (1983), 1001-1009.
72. Catecismo da Igreja
Católica, 1548.
73. Ibid., 1552.
74. Cf. In Iohannis
Evangelium Tractatus 123, 5: PL 35, 1967.
75. Cf. Propositio
11.
76. Cf. Decr. sobre o
ministério e a vida dos presbíteros
Presbyterorum ordinis,
16.
77. Cf. João XXIII, Carta
enc.
Sacerdotii nostri
primordia
(1 de Agosto de 1959):
AAS 51 (1959), 545-579; Paulo VI, Carta enc.
Sacerdotalis cœlibatus
(24 de Junho de 1967): AAS 59 (1967), 657-697; João Paulo II,
Exort. ap. pós-sinodal
Pastores dabo vobis
(25 de Março de 1992), 29: AAS 84 (1992), 703-705; Bento XVI,
Discurso à Cúria Romana
durante a apresentação dos votos natalícios
(22 de Dezembro de 2006):
L'Osservatore Romano (ed. port. de 30/XII/2006), 658.
78. Cf. Propositio
11.
79. Cf. Conc. Ecum. Vat. II,
Decr. sobre a formação sacerdotal
Optatam totius,
6; Código de Direito Canónico, cân. 241-§ 1 e cân. 1029;
Código dos Cânones das Igrejas Orientais, cân. 342-§ 1 e cân.
758; João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal
Pastores dabo vobis
(25 de Março de 1992), 11.34.50: AAS 84 (1992),
673-675.712714.746-748; Congr. para o Clero,
Directório para o
ministério e a vida dos presbíteros
(31 de Março de 1994), n. 58; Congr. para a Educação Católica,
Instr. sobre os critérios
de discernimento vocacional acerca das pessoas com tendências
homossexuais e da sua admissão ao Seminário e às Ordens Sacras
(4 de Novembro de
2005): AAS 97 (2005), 1007-1013.
80. Cf. Propositio
12; João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal
Pastores dabo vobis
(25 de Março de
1992), 41: AAS 84 (1992), 726-729.
81. Conc. Ecum. Vat. II,
Const. dogm. sobre a Igreja
Lumen gentium,
29.
82. Cf. Propositio
38.
83. Cf. João Paulo II,
Exort. ap. pós-sinodal
Familiaris consortio
(22 de Novembro de 1981), 57: AAS 74 (1982), 149-150.
84. Carta ap.
Mulieris dignitatem
(15 de Agosto de
1988), 26: AAS 80 (1988), 1715-1716.
85. Catecismo da Igreja
Católica, 1617.
86. Cf. Propositio 8.
87. Cf. Conc. Ecum. Vat. II,
Const. dogm. sobre a Igreja
Lumen gentium,
11.
88. Cf. Propositio 8.
89. Cf. João Paulo II, Carta
ap.
Mulieris dignitatem
(15 de Agosto de
1988): AAS 80 (1988), 1653-1729; Congr. para a Doutrina da
Fé,
Carta aos bispos da Igreja
Católica sobre a colaboração do homem e da mulher na Igreja e no
mundo
(31 de Maio de 2004): AAS 96 (2004), 671-687.
90. Cf. Propositio 9.
91. Cf. Catecismo da
Igreja Católica, 1640.
92. Cf. João Paulo II,
Exort. ap. pós-sinodal
Familiaris consortio
(22 de Novembro
de 1981), 84: AAS 74 (1982), 184-186; Congr. para a Doutrina
da Fé,
Carta aos bispos da Igreja
Católica acerca da recepção da comunhão eucarística pelos fiéis
divorciados re-casados Annus internationalis familiæ
(14 de Setembro
de 1994): AAS 86 (1994), 974-979.
93. Cf. Pont. Cons. para os
Textos Legislativos, Instr. sobre as normas a observar pelos
tribunais eclesiásticos nas causas matrimoniais
Dignitatis connubii
(25 de Janeiro de 2005), Cidade do Vaticano, 2005.
94. Cf. Propositio
40.
95. Bento XVI,
Discurso ao Tribunal da
Rota Romana por ocasião da inauguração do ano judicial
(28 de Janeiro de 2006): AAS 98 (2006), 138.
96. Propositio 40.
97. Cf. Ibid., 40.
98. Cf. Ibid., 40.
99. Cf. Conc.
Ecum. Vat. II, Const. dogm.
sobre a Igreja
Lumen gentium,
48.
100. Cf. Propositio
3.
101. Apraz-me recordar aqui
as palavras cheias de esperança e conforto que encontramos na Oração
Eucarística II: « Lembrai-Vos dos nossos irmãos que adormeceram
na esperança da ressurreição e de todos aqueles que, na vossa
misericórdia, partiram deste mundo. Acolhei-os na luz da vossa
presença ».
102. Cf. Bento XVI,
Homilia no 40º aniversário
do encerramento do Concílio Vaticano II e solenidade da Imaculada
Conceição
(8 de Dezembro de 2005): AAS 98 (2006), 15-16.
103. Const. dogm. sobre a
Igreja
Lumen gentium,
58.
104. Propositio 4.
105. Relatio post
disceptationem, 4: L'Osservatore Romano (ed. port. de
19/XI/2005), 660.
106. Cf. Sermones 1,
7; 11, 10; 22, 7; 29, 76: Sermones dominicales ad fidem codicum
nunc denuo editi (Grottaferrata 1977), pp. 135.209s.292s.337;
Bento XVI,
Mensagem aos Movimentos
Eclesiais e às Novas Comunidades
(22 de Maio de 2006): AAS
98 (2006), 463.
107. Cf. Conc. Ecum. Vat.
II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo
Gaudium et spes,
22.
108. Cf. Conc. Ecum. Vat.
II, Const. dogm. sobre a divina revelação
Dei Verbum,
2.4.
109. Propositio 33.
110. Sermo 227, 1:
PL 38, 1099.
111. Santo Agostinho, In
Iohannis Evangelium Tractatus, 21, 8: PL 35, 1568.
112. Ibid., 28, 1:
o.c., 35, 1622.
113. Cf. Propositio
30. Mesmo a Santa
Missa que a Igreja celebra durante a semana, na qual os fiéis são
convidados a participar, encontra a sua forma própria no dia do
Senhor, o dia da ressurreição de Cristo: cf. Propositio 43.
114. Cf. Propositio
2.
115. Cf. Propositio
25.
116. Cf. Propositio
19. E a Propositio 25 especifica: « Uma autêntica acção
litúrgica exprime a sacralidade do mistério eucarístico. Esta
deveria transparecer nas palavras e acções do sacerdote celebrante,
quando intercede junto de Deus Pai quer com os fiéis quer pelos
fiéis ».
117. Instrução Geral do
Missal Romano, 22; cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a
sagrada liturgia
Sacrosanctum Concilium,
41; Congr. para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos,
Instr.
Redemptionis sacramentum
(25 de Março de
2004), 19-25: AAS 96 (2004), 555-557.
118. Cf. Conc. Ecum. Vat.
II, Decr. sobre o múnus pastoral dos bispos na Igreja
Christus Dominus,
14; Const. sobre a sagrada liturgia
Sacrosanctum Concilium,
41.
119. Instrução Geral do
Missal Romano, 22.
120. Cf. Ibid., 22.
121. Cf. Propositio
25.
122. Cf. Conc.
Ecum. Vat. II, Const. sobre
a sagrada liturgia
Sacrosanctum Concilium,
112-130.
123. Cf. Propositio
27.
124. Cf. Ibid., 27.
125. Em tudo o que diz
respeito a estes aspectos, é preciso ater-se fielmente a quanto está
indicado na Instrução Geral do Missal Romano, 319-351.
126. Cf. Instrução Geral
do Missal Romano, 39-41; Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a
sagrada liturgia
Sacrosanctum Concilium,
112-118.
127. Sermo 34, 1:
PL 38, 210.
128. Cf. Propositio
25: « Como todas as expressões artísticas, também o canto deve estar
intimamente harmonizado com a liturgia, colaborar eficazmente para o
seu fim, ou seja, deve exprimir a fé, a oração, o enlevo, o amor por
Jesus presente na Eucaristia ».
129. Cf. Propositio
29.
130. Cf. Propositio
36.
131. Cf. Conc. Ecum. Vat.
II, Const. sobre a sagrada liturgia
Sacrosanctum Concilium,
116; Instrução Geral do Missal Romano, 41.
132. Instrução Geral do
Missal Romano, 28; cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a
sagrada liturgia
Sacrosanctum Concilium,
56; Sagr. Congr. dos Ritos, Instr. Eucharisticum mysterium
(25 de Maio de 1967), 3: AAS (1967), 540-543.
133. Cf. Propositio
18.
134. Ibid., 18.
135. Instrução Geral do
Missal Romano, 29.
136. Cf. João Paulo II,
Carta enc.
Fides et ratio
(14 de Setembro
de 1998), 13: AAS 91 (1999), 15-16.
137. São Jerónimo,
Commentariorum in Isaiam, Prol.: PL 24, 17; cf. Conc.
Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a divina revelação
Dei Verbum,
25.
138. Cf. Propositio
31.
139. Instrução Geral do
Missal Romano, 29; cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a
sagrada liturgia
Sacrosanctum Concilium,
7.33.52.
140. Propositio 19.
141. Cf. Conc. Ecum. Vat.
II, Const. sobre a sagrada liturgia
Sacrosanctum Concilium,
52.
142. Cf. Conc. Ecum. Vat.
II, Const. dogm. sobre a divina revelação
Dei Verbum,
21.
143. Com esta finalidade, o
Sínodo exortou a elaborar subsídios pastorais, baseados no
Leccionário trienal, que ajudem a ligar de maneira intrínseca a
proclamação das leituras previstas com a doutrina da fé: cf.
Propositio 19.
144. Cf. Propositio
20.
145. Instrução Geral do
Missal Romano, 78.
146. Cf. Ibid.,
78-79.
147. Cf. Propositio
22.
148. Instrução Geral do
Missal Romano, 79d.
149. Ibid., 79c.
150. Tendo em consideração
antigos e veneráveis costumes e votos expressos pelos padres
sinodais, pedi aos Dicastérios competentes que estudassem a
possibilidade de se colocar a saudação da paz noutro momento, por
exemplo antes da apresentação das oferendas ao altar. Aliás, tal
escolha não deixaria de suscitar uma significativa evocação da
advertência feita pelo Senhor a propósito da necessidade de
reconciliação antes de qualquer oferta a Deus (Mt 5, 23s):
cf. Propositio 23.
151. Cf. Congr. para o Culto
Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Instr.
Redemptionis sacramentum
(25 de Março de 2004), 80-96: AAS 96 (2004), 574-577.
152. Cf. Propositio
34.
153. Cf. Propositio
35.
154. Cf. Propositio
24.
155. Cf. Conc. Ecum. Vat.
II, Const. sobre a sagrada liturgia
Sacrosanctum Concilium,
14-20.30s.48s; Congr. para o Culto Divino e a Disciplina dos
Sacramentos, Instr.
Redemptionis sacramentum
(25 de Março de
2004), 36-42: AAS 96 (2004), 561-564.
156. N. 48.
157. Ibid., 48.
158. Cf. Congr. para o Clero
e outros Dicastérios da Cúria Romana,
Instr. acerca de algumas
questões sobre a colaboração dos fiéis leigos no sagrado ministério
dos sacerdotes Ecclesiæ de mysterio
(15 de Agosto de
1997): AAS 89 (1997), 852-877.
159. Cf. Propositio
33.
160. Instrução Geral do
Missal Romano, 92.
161. Cf. Ibid., 94.
162. Cf. Conc. Ecum. Vat.
II, Decr. sobre o apostolado dos leigos
Apostolicam actuositatem,
24; Instrução Geral do Missal Romano, nn. 95-111; Congr. para
o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Instr.
Redemptionis sacramentum
(25 de Março 2004), 43-47: AAS 96 (2004), 564-566;
Propositio 33: « Estes ministérios devem ser introduzidos
segundo um mandato específico e segundo as reais exigências da
comunidade que celebra. As pessoas encarregadas destes serviços
litúrgicos laicais devem ser escolhidas cuidadosamente, bem
preparadas e acompanhadas por uma formação permanente. A sua
nomeação deve ser temporária. Tais pessoas devem ser conhecidas pela
comunidade e desta receberem também um grato reconhecimento ».
163. Cf. Conc. Ecum. Vat.
II, Const. sobre a sagrada liturgia
Sacrosanctum Concilium,
37-42.
164. Cf. nn. 386-399.
165. Veja-se o texto em
AAS 87 (1995), 288-314.
166. Cf. Exort. ap.
pós-sinodal
Ecclesia in Africa
(14 de Setembro
de 1995), 55-71: AAS 88 (1996), 34-47; Exort. ap. pós-sinodal
Ecclesia in America
(22 de Janeiro de 1999), 16.40.64.70-72: AAS 91 (1999),
752-753.775-776.799.805-809; Exort. ap. pós-sinodal
Ecclesia in Asia
(6 de Novembro de
1999), 21s: AAS 92 (2000), 482-487; Exort. ap. pós-sinodal
Ecclesia in Oceania
(22 de Novembro de 2001), 16: AAS 94 (2002), 382-384; Exort.
ap. pós-sinodal
Ecclesia in Europa
(28 de Junho de 2003), 58-60: AAS 95 (2003), 685-686.
167. Cf. Propositio
26.
168. Cf. Propositio
35; Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a sagrada liturgia
Sacrosanctum Concilium,
11.
169. Cf. Catecismo da
Igreja Católica, 1388; Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a
sagrada liturgia
Sacrosanctum Concilium,
55.
170. Cf. Carta enc.
Ecclesia de Eucharistia
(17 de Abril de
2003), 34: AAS 95 (2003), 456.
171. Assim, por exemplo, São
Tomás de Aquino, Summa Theologiæ, III, q. 80, a. 1,2; Santa
Teresa de Jesus, Caminho de perfeição, cap. 35. A doutrina
foi confirmada autorizadamente pelo Concílio de Trento, Sessão XIII,
cân. 8.
172. Cf. João Paulo II,
Carta enc.
Ut unum sint
(25 de Maio de 1995), 8: AAS 87 (1995), 925-926.
173. Cf. Propositio
41; Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre o ecumenismo
Unitatis redintegratio,
8.15; João Paulo II, Carta enc.
Ut unum sint
(25 de Maio de 1995), 46: AAS 87 (1995), 948; Carta enc.
Ecclesia de Eucharistia
(17 de Abril de
2003), 45-46: AAS 95 (2003), 463-464; Código de Direito
Canónico, cân. 844-§§ 3 e 4; Código dos Cânones das Igrejas
Orientais, cân. 671-§§ 3 e 4; Pont. Cons. para a Promoção da
Unidade dos Cristãos, Directório para a aplicação dos princípios
e normas sobre o ecumenismo (25 de Março de 1993), 125.129-131:
AAS 85 (1993), 1087.1088-1089.
174. Cf. nn. 1398-1401.
175. Cf. n. 293.
176. Cf. Pont. Cons. das
Comunicações Sociais,
Instr. past. sobre as
comunicações sociais no XX aniversário da ‘‘Communio et progressio''
Ætatis novæ
(22 de Fevereiro
de 1992): AAS 84 (1992), 447-468.
177. Cf. Propositio
29.
178. Cf. Propositio
44.
179. Cf. Propositio
48.
180. Tal conhecimento pode
ser adquirido também no Seminário, durante os anos de formação dos
candidatos ao sacerdócio, através de oportunas iniciativas: cf.
Propositio 45.
181. Cf. Propositio
37.
182. Cf. Const. sobre a
sagrada liturgia
Sacrosanctum Concilium36.54.
183. Cf. Propositio
36.
184. Cf. Ibid., 36.
185. Cf. Propositio 32.
186. Cf. Propositio
14.
187. Propositio 19.
188. Cf. Propositio
14.
189. Cf. Bento XVI,
Homilia nas primeiras
Vésperas de Pentecostes
(3 de Junho de 2006): AAS
98 (2006), 509.
190. Propositio 34.
191. Enarrationes in
Psalmos 98, 9: CCL 39, 1835; cf. Bento XVI,
Discurso à Cúria Romana
(22 de Dezembro de 2005):
AAS 98 (2006), 44-45.
192. Cf. Propositio
6.
193. Bento XVI,
Discurso à Cúria Romana
(22 de Dezembro de 2005):
AAS 98 (2006), 45.
194. Cf. Propositio
6; Congr. para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos,
Directório sobre piedade popular e liturgia (17 de Dezembro de
2001), nn. 164-165; Sagr. Congr. dos Ritos, Instr. Eucharisticum
mysterium (25 de Maio de 1967): AAS 57 (1067), 539-573.
195. Cf. Relatio post disceptationem,
11: L'Osservatore Romano (ed. port. de 19/XI/2005), 661.
196. Cf. Propositio
28.
197. Cf. n. 314.
198. Confissões 7,
10, 16: PL 32, 742.
199. Bento XVI,
Homilia na Esplanada de
Marienfeld
(21 de Agosto de 2005):
AAS 97 (2005), 892; cf.
Homilia nas primeiras
Vésperas de Pentecostes
(3 de Junho de 2006): AAS 98 (2006), 505.
200. Cf. Relatio post disceptationem,
6.47: L'Osservatore Romano (ed. port. de 19/XI/2005),
660.663; Propositio 43.
201. De civitate Dei
10, 6: PL 41, 284.
202. Cf. Catecismo da
Igreja Católica, 1368.
203. Cf. Santo Ireneu,
Contra as heresias 4, 20, 7: PG 7, 1037.
204. Epístola aos
Magnésios 9, 1: PG 5, 670.
205. Cf. I Apologia
67, 1-6; 66: PG 6, 430s; 427.
206. Cf. Propositio
30.
207. Cf. AAS 90
(1998), 713-766.
208. Propositio 30.
209.
Homilia na solenidade de
São José (19
de Março de 2006): AAS 98 (2006), 324.
210. A este respeito
observa, oportunamente, o
Compêndio da Doutrina
Social da Igreja,
258: « Para o homem, ligado à necessidade do trabalho, o repouso
abre a perspectiva de uma liberdade mais plena, a do Sábado eterno (Heb
4, 9-10). O repouso consente aos homens recordar e reviver as obras
de Deus, da criação à redenção, e reconhecerem-se a si próprios como
obra do mesmo Deus (Ef 2, 10), dar-Lhe graças pela própria
vida e subsistência, a Ele, que é seu autor ».
211. Cf. Propositio
10.
212. Cf. Ibid., 10.
213. Cf. Bento XVI,
Discurso aos bispos da
Conferência Episcopal do Canadá-Quebec em Visita
ad limina Apostolorum
(11 de Maio de 2006): L'Osservatore Romano (ed. port. de
20/V/2006), 227.
214. N. 10: AAS 71
(1979), 414-415.
215. Bento XVI,
Audiência Geral de 29 de
Março de 2006:
L'Osservatore Romano (ed. port. de 01/IV/2006), 152.
216. Propositio 39.
217. Cf. Relatio post disceptationem,
30: L'Osservatore Romano (ed. port. de 19/XI/2005), 662.
218. Cf. Conc.
Ecum. Vat. II, Const. dogm.
sobre a Igreja
Lumen gentium,
39-42.
219. Cf. João Paulo II,
Exort. ap. pós-sinodal
Christifideles laici
(30 de Dezembro de 1988), 14.16: AAS 81 (1989),
409-413.416-418.
220. Cf. Propositio
39.
221. Cf. Ibid., 39.
222. Pontifical Romano –
Ordenação do Bispo, dos Presbíteros e Diáconos: Rito da
Ordenação do Presbítero, n. 150.
223. Cf. João Paulo II,
Exort. ap. pós-sinodal
Pastores dabo vobis
(25 de Março de 1992), 19-33.70-81: AAS 84 (1992), 686-712.
778-800.
224. Propositio 38.
225. Propositio 39;
cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal
Vita consecrata
(25 de Março de 1996), 95: AAS 88 (1996), 470-471.
226. Código de Direito
Canónico, cân. 663-§ 1.
227. Cf. João Paulo II,
Exort. ap. pós-sinodal
Vita consecrata
(25 de Março de 1996), 34: AAS 88 (1996), 407-408.
228. Carta enc.
Veritatis splendor
(6 de Agosto de
1993), 107: AAS 85 (1993), 1216-1217.
229. Bento XVI, Carta enc.
Deus caritas est
(25 de Dezembro de 2005), 14: AAS 98 (2006), 229.
230. Cf. João Paulo II,
Carta enc.
Evangelium vitæ
(25 de Março de
1995): AAS 87 (1995), 401-522; Bento XVI,
Discurso à Pontifícia
Academia para a Vida
(27 de Fevereiro de 2006): AAS 98 (2006), 264-265.
231. Cf. Congr. para a
Doutrina da Fé,
Nota doutrinal sobre
algumas questões relativas à participação e comportamento dos
católicos na vida política
(24 de Novembro de 2002): AAS 95 (2004), 359-370.
232. Cf. Propositio
46.
233.
Homilia (24
de Abril de 2005):
AAS 97 (2005), 711.
234. Propositio 42.
235. Cf. O martírio de
Policarpo 15, 1: PG 5, 1039.1042.
236. Santo Inácio de
Antioquia, Epístola aos Romanos 4, 1: PG 5, 690.
237. Cf. Conc. Ecum. Vat.
II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 42.
238. Cf. Propositio
42; Congr. para a Doutrina da Fé, Decl. sobre a unicidade e
universalidade salvífica de Jesus Cristo e da Igreja
Dominus Iesus
(6 de Agosto de
2000), 13-15: AAS 92 (2000), 754-755.
239. Cf. Propositio
42.
240. Bento XVI, Carta enc.
Deus caritas est
(25 de Dezembro de 2005), 18: AAS 98 (2006), 232.
241. Ibid., 14:
o.c., 228-229.
242. Durante a assembleia
sinodal ouvimos, comovidos, testemunhos muito significativos sobre a
eficácia deste sacramento na obra de pacificação. A tal respeito,
afirma-se na Propositio 49: « Graças às celebrações
eucarísticas, povos em conflito puderam reunir-se ao redor da
palavra de Deus, ouvir o seu anúncio profético da reconciliação
através do perdão gratuito, receber a graça da conversão que permite
a comunhão no mesmo pão e no mesmo cálice ».
243. Cf. Propositio
48.
244. Bento XVI, Carta enc.
Deus caritas est
(25 de Dezembro de 2005), 28: AAS 98 (2006), 239.
245. Propositio 48.
246. Bento XVI,
Discurso ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé
(9 de Janeiro de
2006): AAS 98 (2006), 127.
247. Ibid.: o.c.,
127.
248. Cf. Propositio
48. A este respeito, revela-se muito útil o
Compêndio da Doutrina Social da Igreja.
249. Cf. Propositio
43.
250. Cf. Propositio
47.
251. Cf. Propositio
17.
252. Acta ss. Saturnini,
Dativi et aliorum plurimorum martyrum in Africa 7, 9, 10: PL
8, 707.709-710.
253. Carta enc.
Ecclesia de Eucharistia
(17 de Abril de 2003), 53: AAS 95 (2003), 469.
254. Oração Eucarística I (Cânone
Romano).
255. Propositio 50.
256. Cf. Bento XVI,
Homilia no 40º aniversário
do encerramento do Concílio Vaticano II e solenidade da Imaculada
Conceição
(8 de Dezembro de 2005): AAS 98 (2006), 15.
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