O príncipe Júlio
César de Varano, senhor do ducado de Camerino, era um fidalgo guerreiro e
alegre, muito
generoso com o povo e sedutor com as damas. Tinha cinco filhos
antes de se casar, aos vinte anos, com Joana, filha do duque de Rimini, que
completara doze anos de idade. Tiveram três filhos. Criou todos juntos no seu
palácio de Camerino, sem distinção entre os legítimos e os naturais.
Camila era sua
filha primogénita, fruto de uma aventura amorosa com uma nobre dama da corte.
Nasceu em 9 de abril de 1458. Cresceu bela, inteligente, caridosa e piedosa.
Tinha uma personalidade sedutora e divertida, apreciava dançar e cantar. Tinha
herdado o temperamento do pai, motivo de orgulho para ele, que a amava muito.
Ainda criança,
depois de ouvir uma pregação sobre a Paixão de Jesus Cristo, fez um voto
particular: derramar pelo menos uma lágrima todas as sextas-feiras, recordando
todos os sofrimentos do Senhor. Porém tinha dificuldade para conciliar o voto à
vida divertida que levava, quando não conseguia vertê-la sentia-se mal toda a
semana. Mas esse exercício constante, a leitura sobre mística e o estudo da
religião, amadureceram a espiritualidade de Camila, que durante as orações das
sextas-feiras ficava tão comovida que chorava muito.
Aos dezoito anos,
já sentia o chamado para a vida religiosa, mas continuava atraída pela vida e os
divertimentos da corte. Quando conseguiu afastar todas as tentações, pediu a seu
pai para ingressar num convento. Ele foi categórico e não permitiu. Camila ficou
sete meses doente por causa disso. Seu pai fez de tudo, mas ela não desistiu.
Após dois anos, acabou consentindo. Assim, aos vinte e três anos, em 1481,
ingressou no mosteiro das clarissas, em Urbino, tomando o nome de irmã Baptista
e vestindo o hábito da Ordem.
O príncipe,
entretanto, queria a filha próxima de si. Por isso comprou um convento da região
e entregou aos franciscanos, para que o transformassem num mosteiro de
clarissas. O primeiro núcleo saiu de Urbino, trazendo nove religiosas, entre as
quais irmã Camila Baptista, como a chamavam, que se tornou a abadessa do novo
mosteiro de Camerino.
Os anos que se
sucederam foram de grandes experiências místicas para Camila Baptista, sempre
centradas na Paixão e Morte de Jesus Cristo. Escreveu o famoso livro "As dores
mentais de Jesus na sua Paixão", que se tornou um guia de meditação para grandes
santos. Depois ela própria se tornou uma referência para as autoridades civis e
religiosas que procuravam seus conselhos.
Morreu com fama
de santidade, em 31 de maio de 1524, nesse mosteiro. A cerimónia do funeral se
desenvolveu no pátio interno do palácio paterno. Foi declarada beata Camila
Baptista de Varano pela Igreja, para ser celebrada no dia de sua morte.
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