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CARTAS DE AMOR E DE DOR

Pórtico

CARTAS DE AMOR E DE DOR

O título poderá surpreender: “Cartas de amor e de dor”...

Não se trata aqui de cartas de amor no género das que escreveu a “Religiosa portuguesa”, cartas mundialmente conhecidas e reconhecidas como obra-prima da literatura amorosa mundial : o amor aqui referido é o amor a Deus, o amor “que arde sem se ver” [1], que é “ferida que doe e não se sente” [2], que é paradoxal não sendo um paradoxo.

Alexandrina de Balasar foi uma grande amorosa, amorosa de Deus e do comprimento à letra da sua Palavra, da sua Vontade, dos seus Desígnios, por vezes incompreensíveis.

Vamos, tanto quanto possível comentar as cartas que a Alexandrina escreveu ao seu Director espiritual, o jesuíta Padre Mariano Pinho. Não vamos comentar todas elas, quer dizer, desde 1933 até 1955, mas apenas aquelas dos três primeiros anos dessa correspondência importantíssima : 1933 a 1935.

Comentando já estas cartas, o próprio Padre Pinho confessa no seu livro “No Calvário de Balasar” :

« Não há dúvida : a gente pasma, ao ver uma donzela do campo, quase analfabeta, sem nunca ter frequentado agremiações nem lido obras de alta espiritualidade e literatura, entrevada mais de trinta anos e em absoluto jejum nos últimos treze anos e meio da sua existência, escrever ou ditar, sem prévio rascunho, tantos documentos de autêntico valor literário, ascético e até teológico, de uma tal interioridade que não é fácil igualar, e, sobretudo, manancial de luz abundante a revelar-nos eloquentemente o que é em concreto a vida mística da verdadeira alma vítima »[3].

Mais adiante, na mesma introdução ao livro citado, o digno sacerdote acrescenta ainda :

« Da abundância do coração falam os lábios. Foi da abundância do coração, do seu intenso viver íntimo que brotaram todas essas páginas da Alexandrina e elas revelam-nos tantas coisas extraordinárias. Apesar da sua feição tão angelical, tão simples, tão verdadeira, tão serena, tão sem complicações: aprouve à divina Providência levá-la por vias nada vulgares e de autênticas maravilhas »[4].

E como se estes elogios não fossem suficientes, ele, bom conhecedor e excelente director espiritual — não só da Alexandrina, mas de muitas outras almas — afirma ainda :

« São belas de mais, são preciosas de mais essas inúmeras páginas, para as julgarmos simples fruto da imaginação e afectividade de uma pobre filha do campo, quase analfabeta, entrevada, vivendo ininterruptamente em dores contínuas, mais de trinta anos ».

Porquê esta escolha ?

As cartas destes três primeiros anos de correspondência contêm muitas informações sobre o começo da vida espiritual da Alexandrina, da sua subida ao “Monte Carmelo” como diria São João da Cruz. Durante este período, a Alexandrina parece buscar o seu caminho que sendo já caminho de dor, vai cada vez mais transformar-se em caminho de amor, em caminho conduzindo a Deus.

Não será este caminho de amor um caminho plano e fácil ; nada na vida da Alexandrina foi fácil ; por isso mesmo ela precisava de alguém, alguém experiente, que a ajudasse, que a “conduzisse pela mão”, que a aconselhasse, que a animasse nos momentos mais difíceis, de maneira a evitar os desânimos e os sempre possíveis abandonos ; este Cireneu vai ser o Jesuíta, Padre Mariano Pinho.

Como se deu o encontro ?

A própria Alexandrina no-lo conta na Autobiografia. Ouçamo-la :

« Eu não tinha nem sabia sequer o que era um director espiritual [5] ; apenas tinha o meu pároco como guia da minha alma.

Como minha irmã fizesse um retiro aberto das Filhas de Maria [6], tomou nessa ocasião para seu director espiritual o conferente desse retiro, o Sr. Dr. Mariano Pinho. Este, sabendo que eu estava doente, mandou pedir as minhas orações, prometendo orar por mim. De vez em quando, mandava-me um santinho. Passaram-se dois anos, e sabendo eu que ele estava doente, sem saber como, senti tanta pena que comecei a chorar ; minha irmã perguntou-me porque chorava, se o não conhecia sequer. Respondi-lhe : “Choro, porque ele era meu amigo e eu também sou dele.”

Em 16 de Agosto de 1933, Sua Reverência veio à nossa freguesia fazer um tríduo ao Sagrado Coração de Jesus, tomando-o então para meu director espiritual. Não lhe falei nos oferecimentos que fazia ao sacrário, nem nos calores que sentia, nem na força que fazia elevar [7], nem nas palavras que tomei como uma exigência de Jesus [8]. Pensava que era assim toda a gente. Só passados dois meses é que lhe falei nas palavras de Jesus e do resto nada disse, porque nada compreendia como coisas de Nosso Senhor. Apesar de Sua Reverência não me dizer que eram palavras de Nosso Senhor, eu continuei sempre e cada vez mais unida a Nosso Senhor ».

« Eu não tinha nem sabia sequer o que era um director espiritual ».

Feliz aquele que em tudo é humilde e cujo caminho é a verdade !

A Alexandrina não tem o mínimo receio em confessar que “nem sabia sequer o que era um director espiritual”, mas desde que o Padre Mariano Pinho solicitou as suas orações, prometendo orar igualmente por ela, ela sentiu por ele uma “atracção” especial, um carinho espiritual que nunca mais desfaleceu e, como eram esses os desígnios do Senhor, o bom e santo jesuíta tornou-se o Director espiritual que ela não tinha, o “Cireneu” que de perto ou de longe, a ajudará a levar a cruz ao cimo do Calvário. Essa “eleição” tem uma data precisa : 20 de Agosto de 1933.

Mas quem era o Padre Mariano Pinho ?

Um seu colega jesuíta, o Padre Fernando Leite, a nosso pedido, traçou, em poucas linhas, o “retrato” deste homem excepcional, cuja causa, a nosso humilde ver, deveria ser introduzida, em vista da sua beatificação e canonização :

« O Padre Mariano Pinho nasceu no Porto a 16 de Janeiro de 1894. Entrou na Companhia de Jesus a 7 de Dezembro de 1910. Não sendo ainda sacerdote, os superiores destinaram-no ao Brasil onde, no Colégio António Vieira, Baía, leccionou e fundou a revista Legionário das Missões.

Regressado a Portugal, em 1923, partiu para Innsbruck, na Áustria, onde estudou Teologia e graduando-se depois na Universidade de Comillas, Espanha.

Na sua Pátria foi notável conferencista, pregador e Promotor incansável das Congregações Marianas e Cruzada Eucarística, exercendo ao mesmo tempo o cargo de Director dos seus órgãos de comunicação.

Em 1931 teve o seu primeiro encontro com a Alexandrina Maria da Costa, a carismática de Balasar. No ano seguinte começou a direcção espiritual, tendo-lhe o Senhor dito: “Obedece em tudo ao teu pai espiritual. Não foste tu que o escolheste; fui eu que to mandei”. Exerceu este cargo até 1942.

Tendo recebido a Alexandrina o encargo de pedir ao Papa a Consagração do mundo ao Coração de Maria, o Padre Pinho prestou-lhe a melhor colaboração.

Em 1938 pregou o Retiro ao Episcopado Português. Por sua sugestão os nossos Bispos dirigiram uma súplica colectiva ao Papa Pio XI, em ordem à consagração.

Endereçou mais duas missivas do mesmo teor ao Secretário de Estado do Papa, o Cardeal Eugénio Paccelli. A 2 de Março de 1939, foi eleito Papa, assumindo o nome de Pio XII. Dezoito dias depois a 20 de Março de 1939, o Senhor comunica à sua confidente: “Será este o Papa que fará a Consagração. O Papa de coração de oiro, está resolvido a consagrar o mundo ao Coração de Maria… Todo o mundo pertence ao Coração Divino de Jesus; todo o mundo vai pertencer ao Coração Imaculado de Maria”.

Efectivamente, a 31 de Outubro de 1942, Pio XII, dirigindo-se a Portugal e falando em português, fez esta consagração, que renovou a 8 de Dezembro seguinte, na Basílica de São Pedro.

Devido a uma série de calúnias e informações maldosas, a 1 de Outubro de 1942, o Padre Mariano Pinho recebe uma ordem terminante do seu Superior de cortar toda a relação com a Alexandrina “directa ou indirecta, pessoal ou escrita”. Com um intuito punitivo, foi mandado para um Seminário menor da Companhia de Jesus. O seu Superior assim escreveu à Santa Sé : “Sofreu, como os santos, as piores calúnias e tribulações, sem um lamento e sem quebra da sua alegria espiritual”. E o Cardeal Dom Manuel Gonçalves Cerejeira, assim o qualificou : “Era um santo!”.

Para poder exercer doravante apostolado, em Fevereiro de 1946, voltou para o Brasil, onde continuou a sua actividade espiritual.

Faleceu no Recife a 11 de Julho de 1963.

Padre Fernando Leite, SJ »

Aqui ficam as indicações que pensamos necessárias antes de começarmos o comentário das cartas do período acima referido.


[1] Luís de Camões. Sonetos.
[2] Idem.
[3] P. Mariano Pinho, sj : No Calvário de Balasar, Introdução.
[4] Ibid.
[5] Alexandrina não foi a única a ignorar o que era um Director espiritual e a sua utilidade. Antes dela, outros místicos tiveram a mesma “ignorância”; foi o caso de Jean-Jacques Olier, cuja cultura e santidade são conhecidas de todos. Ele confessa, nos seus escritos autobiográficos: “não tendo nem conhecendo nenhum director espiritual, eu nem sabia mesmo que isso fosse necessário”. Jean-Jacques Olier : “Memórias autênticas”. Tomo I, página 90.
[6] Em 1931.
[7] Alexandrina levitava algumas vezes.
[8] Não se tratam aqui de inspirações, mas de verdadeiras locuções interiores. Note-se que Deolinda, a irmã da Alexandrina confirmou as referidas levitações.
Santa Teresa de Ávila, no capítulo 18 da sua Autobiografia (Livro da vida), trata da união extática. Ela aí explica os êxtases simples, as levitações, e o voo do espírito.

 

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