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O Cónego
MANUEL Vilar

Há algum tempo chegou-nos às mãos um pequeno livro intitulado O Senhor Cónego Vilar; vem datado de 1939 e foi editado pelo Seminário Conciliar de Braga. Porque se trata de uma « compilação das homenagens prestadas a S. Reverência quando nomeado Reitor do Colégio Português em Roma », vem sem autor.

Sabendo-se que foi este jovem cónego quem diligenciou junto de Pio XI com vista à consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, já se vê que a publicação interessa para o nosso caso. Ele vai em Março de 1939 para Roma, mas já desde Janeiro vem em visita oficial a Balasar. O cónego Vilar é um poveiro natural de Terroso, onde nasceu a 14/9/1903. Uma vez que o livro pretende homenageá-lo, é natural que o perpasse um tom encomiástico.

Compõe-se a publicação de uma primeira parte, com um « escorço biográfico » ; uma segunda, com cartas dos seguintes autores: Arcebispo D. António Bento Martins Júnior, Deão do Cabido da Sé Bracarense João Cândido Novais e Sousa, Dr. António G. Molho de Faria, Padre Manuel Lopes da Cruz (o fundador da Rádio Renascença), Padre J. Martins Torres, Padre José A. Ferreira e Padre Joaquim F. do Souto; e uma terceira, que contém a homenagem de vários jornais (Correio do Minho, Diário do Minho, A Voz, etc.), do Seminário, dos Doutores Romanos, da terra natal e da Confraria do Bom Jesus do Monte. A concluir, vem um posfácio do compilador.

Sem esquecer o Cónego Vilar, repare-se que foram mencionados mais dois importantes intervenientes na vida  de Alexandrina, o Arcebispo D. António Bento Martins Júnior, que era de Arcos, freguesia vilacondense vizinha de Balasar, e o Dr. António G. Molho de Faria, natural de Terroso como o homenageado, seu companheiro de infância, de seminário, de universidade (em Roma) e de magistério e que não é o incógnito compilador-autor do livro. Esse foi outro terrosense, o dominicano Fr. António do Rosário, segundo nos informou o Mons. Manuel Amorim.

Da longa carta do cónego Dr. Molho de Faria vamos transcrever o que segue :

« O Cónego Vilar propôs-se um grande ideal que jamais perdeu de vista. Sabia muito bem que era necessário ao homem, que aspira singrar na vida e fazer alguma coisa acima da vulgaridade no apostolado das almas, fixar-se em altos ideais. Sabia, pois, que era necessário procurá-los, concebê-los e encarná-los, para ir até às últimas consequências na sua realização. Sabia que sem eles o homem nada faria ou rastejaria mísera e mesquinhamente.

Tudo isto sabia e — o que é muito mais — quis realizado em si e nos outros, numa constância bem digna da nossa admiração.

Desde os primeiros anos que lhe conhece­mos uma ânsia: companheiros da Escola e mais tarde no Seminário e na Universidade, vimo-lo incompreendido, por vezes malsinado, porque não chegavam a compreender os belos ideais que acalentava. Nada, porém, o detinha no seu caminho. Bem depressa ganhou o amor dos livros, qualidade preciosa pela sua raridade nestas épocas em que tão de constante se vêem empoados e tiranizados nas prisões da estante. A eles se prendia, não tanto pela classificação final — embora nesta muito quisesse o bem do nome português — como por uma necessidade de espírito sedento de verdade.

A sua biblioteca, valiosa no número e muito mais na selecção, mostra-nos bem a sua grande ambição. Mas o Dr. Vilar não tinha só muitos e bons livros que sempre fazem o mais belo ornamento da casa do ministro dum Deus que é a Ciência Infinita. Ele queria-os como auxílio absolutamente indispensável na grande obra que sonhava e ainda não pôde levar a cabo. Por isso de frequente os manuseava. Em qualquer questão sentia necessidade de saber e não podia só conduzir-se pela opinião alheia. Era, pois, fácil vê-lo, após o discutir duma verdade, ir ter com os seus queridos livros, compulsá-los cuidadosamente.

Aferrado à sua opinião só razões fortes o faziam vacilar. Este domínio pessoal, esta personalidade no dizer e sentir, ganhou-a, a custo, no contacto com os livros. Quando, mais tarde, os cuidados externos e novas responsabilidades lhe absorviam o tempo, temendo só ao pensar num divórcio com os livros, lá roubava ao repouso e ao sono momentos fugitivos em que matar saudades. Por vezes lhe ouvimos santa emulação em que invejava a sorte doutros que  podiam passar o dia entregues à bendita tarefa do engrandecimento do espírito.

Mas Deus destinava-o a uma obra que, ainda que supunha muita especulação, exigia muito mais de senso prático.

Já em Roma dera sinais do muito que se havia a esperar da sua acção em favor dos outros.

Cheio de prudência sabia esperar o momento oportuno para tudo dizer e fazer.

O Dr. Vilar não se deixava levar das primeiras impressões. Odiava o impulsivismo, como destruidor de tantas obras. Jamais tinha pressas, logo que o assunto requeresse reflexão, embora isso lhe custasse por vezes apreciações injustas.

Cheio de constância, chegava sempre onde desejava.

Procurava, sempre o auxílio de Deus e o concurso dos seus colegas. Depois, bem amadurecido o seu plano, levava-o até ao fim. Não se atemorizava com as dificuldades nem ainda se apoucava perante a grandiosidade da empresa. Só assim compreendemos a grande obra que realizou na reorganização dos Seminários e reforma dos seus estudos.

Mas conhecemos bem o segredo de tudo isto. É que o Sr. Dr. Vilar era cheio de piedade e delicadeza para com Deus... o seu exemplo pregava aos seus tanto ou mais que a sua palavra. Quer na Aula quer na Capela, no Seminário ou na sua casa, para com as almas ou subordinados, para com os amigos ou estranhos, o Dr. Vilar era sempre o mesmo. Identidade de pensar e de palavras e de vistas e de simplicidade e de delicadezas. Uma vez falado tinha o condão de atrair. Mas, quando necessário, sem mostras, maneiras de tragédia ou de comédia, sabia dizer as coisas mais sérias, colocar no seu lugar assuntos complicados.

Se as paredes do Seminário pudessem falar, quanto de realidades belas nos pregariam, obtidas em longas e esquecidas tardes ou em tristes noites tenebrosas ! ?... »

O Cónego Vilar era apenas um ano mais velho que a Venerável e morre logo adiante, de cancro, oferecendo a sua vida pela santificação dos sacerdotes, sem conseguir concluir a missão junto da Santa Sé, de levar Pio XI a fazer a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria.

Nas suas visitas a Balasar, usou de grande delicadeza. Em certo sentido, ele parecia irmão de Alexandrina, apesar da sua formação universitária e méritos intelectuais.

À altura, dirigia a doente de Balasar o Padre Mariano Pinho. É portanto da Vítima da Eucaristia que vamos extractar alguns excertos que nos deixam uma simpática imagem do Cónego Vilar.

« Depois de levar a Balasar dois colegas para pre­senciarem os fenómenos e, ouvido o seu parecer, o director espiritual da doente escreveu directamente a Pio XI, a 24 de Outubro de 1938. O resultado foi ser de novo examinada a doente por mandado da Santa Sé. Desta vez é encarregado dessa incumbência o falecido Cónego Manuel Pereira Vilar, Reitor do Seminário de Braga. Ela mesma nos narra resu­midamente como foi esse exame :

“Em 5 de Janeiro de 1939 recebi a visita do nosso Sr. Abade, acompanhado pelo Ex.mo Sr. Cónego Vilar que, depois de me ser apresentado, ficou a sós comigo. Falámos de várias coisas de Nosso Senhor, cerca de duas horas, para depois entrarmos verdadeiramente no assunto que o trouxe aqui. Sua Reverência disse-me assim:

— A Alexandrina deve estranhar a minha visita, não me conhece... — Sorri-me, respondendo : Eu sei com certeza ao que V. Reverência vem aqui. Ao que ele disse:

— Diga, diga, Alexandrina.

Então disse eu:

— Vem de mando da Santa Sé —, pois era o que eu sentia na minha alma ; nesse momento, Sua Reverência confirmou :

— É isso mesmo —, e apre­sentou os documentos que tinham vindo de Roma. Fez-me várias perguntas a que respondi.

Não falei da « Crucifixão », falou-me ele, dizendo :

— Parece que há mais qualquer coisa que se passa há meses — apontando-me a « Paixão », mas mostrando vontade de vir assistir, como veio logo na primeira sexta-feira seguinte.

Falando disto ao meu Director Espiritual, este aconselhou-me a que lhe falasse com toda a franqueza. Visitou-me quatro vezes mas só duas foram obrigatórias (quer dizer, por dever de oficio). Se me não engano, logo da primeira vez disse-me :

— Olhe, Alexandrina, gostava há muito de a ter conhecido, mas não queria ter vindo como vim...”

Alexandrina termina a narrativa dizendo :

“Chorei, quando Sua Reverência se despediu de mim, na partida para Roma. Prometeu escrever-me de lá, dizendo-me que ficaria a ser a sua intercessora na terra. Recebi algumas cartas dele, em que mostrava ter em mim inteira confiança. Respondi-lhe e ajudávamo-nos mutuamente com orações a Nosso Senhor.”

De facto temos em nossa mão os originais de sete cartas de Mons. Vilar para a Alexandrina, que são um esplêndido testemunho a seu favor. Não vamos copiá-las todas; alguns excertos ao menos, a provarem o que afirmamos. Logo quatro dias de­pois de chegar a Roma escrevia-lhe e entre outras coisas diz :

“Recordo-a todas as vezes que entro na capela a visitar Jesus ou sempre que pego no meu terço, no qual coloquei a recordaçãozinha que me ofereceu a última vez: dentre tantas é talvez a que mais estimo. E todos os dias na Santa Missa, faço um « memento » especial por si, pedindo ao Senhor todas as graças de que necessita, para realizar a sua missão. Ainda não fui recebido pelo Santo Padre ; mas logo que seja expor-lhe-ei todos os desejos de Nosso Senhor.”

A 2-VI-1939, escreve-lhe :

“Boa Alexandrina : É hoje a primeira sexta-feira de Junho e está a fazer um mês que recebi a sua estimada cartinha. Esperava, ao escrever esta, poder-lhe dar alguma boa notícia acerca da nossa consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, tão insistentemente pedida por Jesus, mas infelizmente ainda nada de positivo lhe posso dizer. As coisas em Roma contam-se em comparação com a eternidade e, por isso, nunca têm pressa. Continuemos, porém, a rezar e a trabalhar para que, por fim, os santíssimos desejos de Jesus sejam realizados. Esta manhã, ao recordar-me de si na Santa Missa, como costumo fazer, recordei-me da sua paixão e ofereci tudo a Nosso Senhor. Encontrei assim um meio de desagravar a Justiça divina pelas minhas tão numerosas e tão graves infidelidades... Procuro ser bom para com todos, e só para Jesus continuo a ser assim infiel ! E depois disto, ainda Ele vem dizer-me que me ama e que me compreende. Quando li estas palavras, as lágrimas saltaram-me aos olhos; e sua carta lá ficou aos pés do meu crucifixo até hoje... Jesus ouviu-a: mais uma grande graça. Mas compreendo que o Amor seja hoje para si ao mesmo tempo o algoz, o amparo e forca, a consolação e felicidade. Mas deixe: esse Artista divino sabe realizar obras admiráveis; e se ele a levar até à imolação heróica, maior será a glória do Senhor, mais completa a reparação, mais bela a recompensa. É isso o que Ele pede, não é verdade ? Mas nem admira. Nesta hora de desva­rio, Jesus tem necessidade de vítimas que com Ele desarmem a Justiça divina.” »

À margem do nosso tema principal, lembramos que o tribunal que em Braga apreciou o alegado milagre obtido pela intervenção da Venerável concluiu os trabalhos e já enviou para Roma a documentação, estando assim ultrapassada uma importante etapa na caminhada para a beatificação. Lembramos também que no próximo domingo ocorre o aniversário da morte de Alexandrina, pelo que se espera que a afluência a Balasar seja enorme.

Em Balasar há duas páginas dactilografadas respeitantes à correspondência do Cónego Vilar, batidas à maquina certamente pelo Padre Humberto Pascoal. A classificação de confidencial que nelas se lê visava sem dúvida desviá-las de olhares menos bem intencionados que pudessem interpretar mal o tão cordial entendimento que havia entre este doutor pela Universidade Gregoriana e a Doente do Calvário. O próprio Cónego Vilar de resto escreve assim a 2/6/39 :

« Fará o que entender das minhas cartas. O que não queria era que viessem amanhã a ser conhecidas. Não aproveitam nem edificam a ninguém. Antes têm pedaços que me saem espontâneos, pela muita confiança que em si deposito, mas que doutra forma não escreveria. E mesmo, não sendo compreendidas, poderiam fazer mal.

Os meus respeitosos cumprimentos para sua mãe e irmã.

Creia-me muito dedicado em Jesus: M. Pereira Vilar. »

Vamos contudo ver o que se lê na primeira página, que se intitula « Correspondência do Monsenhor Vilar » :

« Existem de Monsenhor Pereira Vilar para Alexandrina Maria da Costa, Póvoa de Varzim, sete cartas, uma escrita de Braga e as outras seis de Roma.

Delas se conclui o seguinte :

1 – A grande estima que Monsenhor Vilar tinha pela doente e a confiança absoluta que nela depositava. Citemos algumas frases :

“A Alexandrina peça-lhe a graça de eu lhe ser de uma vez fiel para sempre, sim? Bem sabe que Ele amorosamente a constituiu minha protectora, e por isso não saberei viver senão muito unido no seu Coração Divino. Recordo-a todas as vezes que entro na capela a visitar Jesus, ou sempre que pego no meu terço, no qual coloquei a recordaçãozinha que me ofereceu a última vez: dentre tantas é talvez a que mais estimo. E todos os dias na Santa Missa faço um memento (uma oração) especial por si pedindo ao Senhor todas as graças que necessita para realizar a sua obra” (Carta de Roma, 19/4/39)

“Considero-a como a colaboradora providencial que Jesus me deu e por isso quero-a participante de toda a minha vida... “ (Roma, 6/8/39)

2 – A persuasão de que Nosso Senhor a tinha escolhido para vítima de expiação: acreditava nos sofrimentos especiais por que ela passava nas sextas-feiras, ou seja, a Paixão do Senhor :

“Considero-a como a colaboradora providencial que Jesus me deu e por isso quero-a participante de toda a minha vida e ofereço-lhe todos os dias os seus sacrifícios e mortificações por mim e pela Obra que Ele me confiou, pela manhã, na Santa Missa, sobretudo nas sextas-feiras, lá a ofereço com a minha vida, na patena ao Eterno Pai, por mim...” (Roma, 6/8/39)

“Esta manhã (era sexta-feira) ao recordar-me de si na Santa Missa, como costumo fazer, recordei-me da sua paixão (quer dizer: os sofrimentos extraordinários das sextas-feiras) e ofereci tudo a Nosso Senhor. Encontrei assim um meio de desagravar a Justiça Divina...” (Roma 2/6/39)

“Durante este tempo, tenho continuado bem unido a si como à cooperadora mais fiel que Jesus me deu. E todos os dias no Santo Altar a recordo e sinto bem perto de mim, oferecendo a Jesus e com Jesus todos os seus sofrimentos e sacrifícios, principalmente nas sextas-feiras. O Senhor aceitará tudo e tudo saberá utilizar para a realização da sua obra.”

(Referindo-se à hora presente :) “O que vale é o Grande Mediador Jesus e as almas que Ele associa à sua mediação reparadora. Nobre missão aquela a que Jesus a chamou.” (Roma, 26/11/39)

3 – Julgava de Deus o pedido que Nosso Senhor fazia da consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria e por isso não se descuidou de o transmitir ao Santo Padre :

“Ainda não fui recebido pelo Santo padre, mas logo que seja expor-lhe-ei os desejos de Nosso Senhor.” (Roma, 19/4/39)

“Já fiz chegar tudo às mãos de quem de direito e estou à espera que o Santo Padre me conceda a audiência que me foi prometida, para lhe falar pessoalmente... Entretanto vamos cumprindo a nossa missão, certos de que Jesus realizará a sua obra. E continuemos bem unidos no Coração Divino...” (Roma, 6/8/39)

“Em princípios de Junho alguém falou ao Santo Padre na Consagração do mundo a Nossa Senhora; mas o momento é tão incerto que só Deus sabe o que será. Nós continuemos a rezar na certeza de que a Sua Santíssima vontade um dia se realizará plenamente (era o que Nosso Senhor afirmava constantemente à Alexandria, como Monsenhor estava inteirado). (Roma, 5/7/40)

Este reconhecimento da autenticidade do factor sobrenatural manifestado na Alexandrina é anterior à borrasca que vai eclodir alguns anos à frente com a intervenção do Padre Terças e da comissão episcopal. E é um reconhecimento que não vem dum qualquer, mas de um colega bem aproveitado do Cónego Molho de Faria.

A VENERÁVEL ALEXANDRINA
Um carta do Cónego Vilar
(conclusão)

As cartas do Cónego Vilar à Alexandrina fazem-nos lembrar algumas cartas da Doutora da Igreja Santa Teresinha de Lisieux, que aliás  a mesma Alexandrina considerava sua « irmã gémea ». Por isso, apesar da vontade expressa em contrário do seu autor, vamos transcrever na íntegra a de 2/6/39 (já na maior parte aqui  publicada). Tenha-se presente que ela é do tempo do Padre Pinho, de antes da chegada do Padre Humberto, e que a consideração por Alexandrina que nela se expressa é a mesma que estes seus directores lhe votaram. A carta é de resto modelar.

« Roma, 2/6/39

Boa Alexandrina

É hoje a primeira sexta-feira de Junho e está a fazer um mês que recebi a sua estimada cartinha. Esperava, ao escrever esta, poder dar-lhe alguma notícia acerca da nossa Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, tão insistentemente pedida por Jesus, mas infelizmente ainda nada de positivo lhe posso dizer. As coisas em Roma contam-se em comparação com a eternidade, e por isso nunca têm pressa. Continuaremos porém a rezar e a trabalhar para que por fim os santíssimos desejos de Jesus sejam realizados.

Este manhã, ao recordar-me de si (é sexta-feira) na santa Missa, como costumo fazer, recordei-me da sua paixão (quer dizer : os sofrimentos extraordinários das sextas-feiras) e ofereci tudo a Nosso Senhor. Encontrei assim um meio de desagravar a Justiça Divina pelas minhas tão numerosas e tão graves infidelidades. E já tenho feito assim  muitas vezes. Olhe : isto é só para si : se soubesse como tenho sido mau e ingrato para com Jesus... procuro ser bom para com todos e só para Jesus continuo a ser assim infiel ! E, depois disto, ainda Ele vem dizer-me (por meio de Alexandrina a quem Nosso Senhor o revelou) que em ama e me compreende. Sabe ? Quando li estas palavras, as lágrimas saltaram-me aos olhos ; e  a sua carta lá ficou aos pés do meu crucifixo até hoje. A Alexandrina peça muito perdão a Jesus por mim e diga-lhe que tenha pena da minha miséria e que acabe de uma vez por todas com a minha teimosa resistência.

Se soubesse a tortura íntima que tenho suportado este mês, mas por minha culpa. Afinal, dei tudo a Jesus e só não acabo de me dar a mim.

A Alexandrina há-de me conseguir ainda esta graça, sim ? Quando acabamos por nada mais ter neste mundo que nos prenda, é evidente que não podemos pensar no céu sem profundas saudades, e a própria vida só é compreensível como um contínuo acto de amor. Jesus ouviu-a; foi mais uma grande graça. Mas compreendo que o amor seja hoje para si ao mesmo tempo o algoz, o amparo e força, a consolação e felicidade. Mas deixe : esse Artista divino sabe realizar obras adoráveis ; e se Ele a levar à imolação heróica (parece profético), maior será a glória do Senhor, mais completa a reparação, mais bela a recompensa.

E é isto o que Ele lhe pede, não é verdade? Mas nem  admira. Nesta hora de desvario, Jesus tem necessidade de vítimas que com Ele desagravem a Justiça Divina.

E agora talvez gostasse de saber alguma coisa da obra que Deus me confiou (de dirigir o Colégio Português de Roma), já que a confiou também a si. Olhe: está apenas a começar e por enquanto tenho ido muito devagar, procurado com bondade desfazer as desconfianças que encontrei. Há boas vontades que parecem despertar; e as outras virão vindo também. De resto, Nosso Senhor tem ido aplanando o caminho. A Alexandrina não deixe de continuar a considerar como sua esta obra tão importante e tão necessária à Igreja em Portugal. Continuaremos assim muito unidos no Coração Divino e trabalhando juntos. Tenha a certeza que uma e muitas vezes me lembra aos pés do altar.

Fará o que entender das minhas cartas. O que não queria era que viessem amanhã a ser conhecidas. Não aproveitam nem edificam a ninguém. Antes têm pedaços que me saem espontâneos, pela muita confiança que em si deposito, mas que doutra forma não escreveria. E mesmo, não sendo compreendidas, poderiam fazer mal.

Os meus respeitosos cumprimentos para sua mãe e irmã.

Creia-me muito dedicado em Jesus : M. Pereira Vilar. »

Não deixa de ser interessante sublinhar a associação de Alexandrina à tarefa do Cónego Vilar à frente do Colégio Português de Roma, ela que há-de vir a ser chamada por Jesus « doutora das ciências divinas », ela onde deverão aprender « os pequenos, os grandes, os ignorantes e os sábios »... Parece por outro lado que a santidade da Venerável atraiu a si uma verdadeira constelação de santos, onde este notável monsenhor tem um lugar cimeiro.

José Ferreira

 

 

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