Dos
primeiros companheiros de Francisco de Assis nenhum lhe era mais
caro ao coração do que um irmão muito simples que ele chamava
“nosso cavaleiro da Távola Redonda”. Jovem de uma piedade e de
uma pureza de vida singulares, Egídio admirava seu concidadão
Francisco à distância, mas não ousava aproximar-se dele, até o
dia em que soube que seus amigos Bernardo e Pedro tinham-se
tornado seus companheiros, decididos a viver com ele uma vida de
pobreza. Egídio imediatamente resolveu fazer o mesmo. Ao sair da
cidade, encontrou-se com seu mestre e os dois estavam absorvidos
na conversa, quando foram abordados por uma mendiga.
“Dá-lhe
o teu casaco” – disse-lhe São Francisco, ao se dar conta de que
nenhum deles tinha dinheiro. E o candidato a discípulo
prontamente obedeceu. O teste foi suficiente: no dia seguinte,
Egídio recebeu o hábito. Primeiramente ficou com Francisco,
acompanhando-o em suas viagens de evangelização pela Marca de
Ancona e outras regiões não distantes de Assis, mas um sermão em
que o Fundador exortou os discípulos a saírem pelo mundo afora,
levou Egídio a fazer uma peregrinação a Compostela.
Pode-se dizer que ele praticamente percorreu o seu caminho de
ida e volta sempre trabalhando, porque, quando possível,
retribuía as esmolas com algum serviço pessoal, e distribuía com
os outros tudo o que recebia ou possuía, inclusive o seu próprio
manto, sem se preocupar com as zombarias que sua aparência
grotesca provocava. Depois de seu retorno à Itália, foi enviado
a Roma, onde ganhava seu sustento, executando trabalhos como o
de carregar água ou cortar lenha. Uma visita à Terra Santa foi
seguida de uma missão a Túnis, destinada a converter os
sarracenos. A expedição resultou em fracasso. Os cristãos locais
temiam sofrer com o ressentimento dos muçulmanos e, em vez de
acolherem e ajudarem os missionários, obrigaram-nos a voltar a
seus navios, antes mesmo de darem início à missão. Frei Egídio
passou o resto de sua vida na Itália, principalmente em
Fabriano, Rieti e Perusa, onde morreu.
Apesar de sua simplicidade e de sua falta de cultura, ele era
dotado de uma sabedoria infusa que levava as pessoas de todas as
condições a consultá-lo. Aos que procuravam seus conselhos, a
experiência ensinava que evitassem certos assuntos ou palavras
cuja simples menção fazia o frade mergulhar em êxtase, durante o
qual parecia totalmente alheio ao mundo. Os próprios garotos da
rua sabiam disto, e, quando o viam passar, gritavam: “Paraíso!
Paraíso!” Egídio tinha veneração pelas pessoas cultas, e certa
vez perguntou a São Boaventura se o amor dos ignorantes para com
Deus se igualaria ao de uma pessoa culta. “Iguala sim – foi a
resposta do santo. Uma boa velhinha analfabeta pode amar a Deus
melhor do que um doutor letrado da Igreja”.
Encantado com a resposta, Frei Egídio correu para o portão do
jardim que olhava para a entrada da cidade e gritou:
“Escutai-me, vós todas, boas velhinhas! Vós podeis amar a Deus
melhor do que Frei Boaventura”. Neste momento entrou em êxtase
que durou três horas. Na medida do possível, ele vivia uma vida
retirada, em companhia de certo discípulo. Este depois declarou
que, em todos os 20 anos que passaram juntos, nunca ouviu seu
mestre pronunciar uma palavra vã. Seu amor ao silêncio era
verdadeiramente notável. Conta-nos uma bela lenda que S. Luís de
França, por ocasião de sua viagem à Terra Santa, desembarcou
secretamente na Itália, para visitar seus santuários. Em Perusa,
procurou Frei Egídio, a respeito do qual ouvira contar muitas
coisas. Depois de se abraçarem efusivamente, os dois se
ajoelharam um ao lado do outro, em muda oração, e em seguida se
separaram, sem terem trocado uma palavra sequer exteriormente.
Durante toda a sua vida, o Beato Egídio sofreu terríveis
tentações do demónio, mas, como bom soldado de Cristo,
considerava muito normal ter de lutar contra o inimigo de seu
Mestre. Ele odiava a ociosidade. Quando vivia em Rieti, o
Cardeal Bispo de Túsculo gostava frequentemente de tê-lo como
seu companheiro à mesa, mas Egídio só comparecia se pudesse
ganhar o almoço prestando algum serviço. Certo dia de muita
chuva, seu anfitrião lhe garantiu que, como era impossível
trabalhar no campo, ele devia aceitar a refeição de graça. Seu
hóspede, porém, não era pessoa fácil de dissuadir. Penetrando
furtivamente na cozinha do cardeal, que achou extremamente suja,
Egídio ajudou a fazer uma boa limpeza nela, antes de voltar à
mesa de seu anfitrião.
A
dor pungente que lhe causou a morte de São Francisco foi
seguida, naquele mesmo ano, pela maior alegria de sua vida, pois
Nosso Senhor lhe apareceu em Cetona, com o mesmo aspecto que
tinha quando estava neste mundo. Posteriormente, Egídio
costumava dizer a seus irmãos que nascera quatro vezes: no dia
de seu próprio nascimento, no dia do baptismo, no dia da tomada
de hábito e no dia em que viu Nosso Senhor.
Os
ditos áureos de Frei Egídio, muitos dos quais chegaram até nós,
foram publicados muitas vezes. Eles nos revelam uma profunda
vida espiritual, aliada a uma aguda capacidade de percepção das
coisas.
Pio
VI aprovou o seu culto no dia 4 de Julho de 1777.
Fonte:
https://franciscanos.org.br/carisma/calendario/egidio-de-assis#gsc.tab=0 |