Se não houvesse a cruz, Cristo
não seria crucificado nem teria atraído todos a si
A festa da
Exaltação da Santa Cruz é a festa da Exaltação do Cristo vencedor da morte e do
pecado por seu corpo dado e sangue derramado no alto
da
cruz. Para o cristianismo a cruz é o símbolo maior de fé, com
cujos traços todos
nós nos persignamos desde o momento do levantar até o deitar a cada dia. Na
cerimônia batismal o primeiro sinal de acolhida à criança recém-nascida é o
sinal-da-cruz traçado em sua fronte pelo Padre, Pais e Padrinhos, sinalando-a
para sempre com a marca de Cristo.
A cruz recorda o
Cristo crucificado, o sacrifício de sua Paixão, o seu martírio que nos deu a
salvação. Por isso é que, desde tempos antiqüíssimos, a Igreja passou a
celebrar, exaltar e venerar a Cruz, inclusive, como símbolo da árvore da vida
que se contrapõe à árvore do pecado no paraíso, e símbolo mais perfeito da
serpente de bronze que Moisés levantou no deserto para curar os israelitas
picados pelas cobras porque O Filho do Homem nela levantado cura o homem todo e
todos os homens, o corpo e a alma dos que nEle crêem e lhes dá a vida eterna.
A serpente do
paraíso trouxe a infelicidade a este mundo com o engodo da igualdade divina com
que incitou os pais da humanidade a comerem o fruto da árvore proibida (Gn
3,17-19), e as do deserto provocaram a morte dos filhos de Israel que reclamavam
contra Deus e contra Moisés (Nm 21, 4-6). Arrependendo-se do seu pecado, o povo
pediu a Moisés que rogasse ao Senhor para livrá-los das serpentes. O Senhor, que
é bom e misericordioso, sempre pronto a perdoar, ordenou a Moisés que erguesse
no centro do acampamento um poste de madeira com uma serpente de bronze
pendurada no alto, dizendo que todo aquele que dirigisse seu olhar para a
serpente de bronze se curaria (Nm 21,8-9).
Jesus retoma
esses símbolos do passado bem conhecidos pelo povo (serpente, árvore, pecado,
morte) para dizer no Evangelho da Liturgia da festa (Jo 3,13-17) que no lugar da
serpente de bronze pendurada no alto de um poste de madeira Ele mesmo é quem
seria levantado no lenho da cruz. Se o pecado e a morte advieram da insídia e
veneno do demônio, nos símbolos da árvore proibida e da serpente do paraíso e do
deserto, a bênção, a salvação e a vida eterna advêm do Cristo levantado no alto
da cruz de onde Ele atrai a si os olhares de toda a humanidade. Eis porque a
Igreja canta na Liturgia Eucarística da festa: “Santa Cruz adorável, de
onde a vida brotou, nós, por ti redimidos, te cantamos louvor!” e na
Liturgia das Horas: “Mais altaneira do que os cedros, ergue-se a Cruz
triunfal: não traz um fruto de morte, traz a vida a todo mortal”.
Longe de mim gloriar-me a não
ser na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo (Gl 6, 14)
Até o Calvário,
a cruz fora tida como sinal de vergonha, maldição, execração. Com a crucifixão
de Cristo, desde então, ela se tornou símbolo de triunfo e vitória. Se da cruz
vinha a maldição e a morte, agora, da cruz vem todo o bem e toda a graça. O
Apóstolo Paulo aprofunda o mistério dizendo que a cruz lembra a humilhação
extrema de Jesus que se despojou de sua dignidade de ser igual a Deus,
“fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,8). E ele mesmo afirma
que “Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o nome que está acima de
todo nome. Assim, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e
abaixo da terra, e toda língua proclame: Jesus Cristo é o Senhor!” (Fl
2, 8-11). Tendo tal compreensão da Paixão de Jesus e elaborado tal teologia a
respeito do mistério da Cruz, torna-se perfeitamente compreensível a declaração
de Paulo aos Gálatas de que para ele sem a cruz de Cristo não há glória
possível. Oxalá possamos nós também proclamar e viver sempre essa mesma fé.
Nós vos adoramos, Senhor Jesus
Cristo, e vos bendizemos , porque pela vossa santa cruz redimistes o mundo!
A cruz não é uma
divindade, um ídolo, feito de madeira, barro, bronze, mas ela é para nós santa e
sagrada, porque dela pendeu o Salvador do mundo. Ela é o símbolo universal do
cristão. Com orgulho e devoção ela é a nossa marca, o sinal de nossa identidade,
vocação e missão. Traçando o sinal da cruz em nossa fronte, a todo o momento,
nós louvamos e bendizemos a Santíssima Trindade, Pai e Filho e Espírito Santo,
agradecendo o tão grande bem e amor que pela Cruz o Senhor continua a derramar
sobre nós.
Celebrando a
festa da Exaltação da Santa Cruz, celebramos a vitória de Cristo que nos
possibilita desde agora celebrar a nossa futura glória no céu. Pois, “se
morremos com Cristo, cremos também que viveremos com Ele” (Rm 6,9).
Dom Frei
Caetano Ferrari, OFM.
Bispo Coadjutor
da
Diocese de Franca (Brasil)
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