Como é de
notoriedade pública, a beatificação da Alexandrina foi possível graças a uma
cura inexplicável,
verificada sobre uma senhora que sofria de grave doença. Este
milagre obtido pela intercessão potente da “Doentinha de Balasar”, não foi o
único que ela obteve do Senhor : muitos outros, de certo menos notáveis aos
olhos do mundo, foram obtidos ; basta para isso consultar os “Boletins de
graças” publicados antes e depois da beatificação.
Esta poderosa
intercessão foi notória mesmo durante a vida terrena da Beata, visto que muitos
testemunhos provam que “curas” espirituais extraordinárias foram operadas junto
do seu leito de dor.
Nesta carta
dirigida ao seu “Paizinho” espiritual, Padre Mariano Pinho, ela explica uma
dessas intervenções : uma cura espiritual obtida pela oração impetratória da
Alexandrina em favor duma família sua conhecida, vivendo como ela em Balasar e
que já há muito tinham abandonado a prática religiosa : já há muitos anos que
não se confessavam nem comungavam...
A alegria de
Beata está aqui patente, não porque se queira gloriar da dádiva obtida do
Senhor, mas de constatar quanto o Senhor é bom e atende aos pedidos sinceros
vindos de um coração puro e zeloso.
* * * * *
Viva Jesus !
Senhor Padre
Pinho :
Não calcula a
consolação que me veio trazer a cartinha de Vossa Reverência ; recebi-a no dia
de S. Pedro, mas não foi ele que ma veio trazer. Tinha passado uns dias tristes,
tão tristes que nem lhe posso explicar. Mas, no meio de tanta tristeza, graças a
Nosso Senhor, estava conformada com a sua Santíssima vontade.
Senhor Padre Pinho,
ainda não falei há mais tempo no assunto em que hoje vou falar, porque isso
tornava as cartas muito longas e isso seria abusar demais. Nosso Senhor não
deixou sem recompensa as minhas lágrimas do dia 13 de Maio.
“Há tempos que eu
me esforçava quanto podia para que uma família, casal e um filho, da minha
aldeia se confessassem, o que já há muitos anos não faziam. Tudo o que se passou
só à vista lhe poderei contar. Tinha-lhes dito que no dia em que eles se
confessassem, eles comungavam na igreja e eu comungava aqui em casa, já que não
podia ir à igreja. A resposta que me deram foi que vinham eles comungar aqui, ao
que eu respondi que, certamente, não poderia ser. Mas continuei sempre a pedir
ao meu bom Jesus e sempre que me vinham visitar falavam do caso. Até que, enfim,
no dia 13 do dito mês, me vieram visitar o pai e o filho e, estando a sós com o
pai, ele me deu a certeza de que se confessava e me disse coisas que me fizeram
comover. Está resolvido a ser para o tríduo. Prometeram-me isso, só se o demónio
se vier intrometer, mas confio em Nosso Senhor, que tudo pode."
Senhor Padre Pinho,
não me admiro que Vossa Reverência. não tenha entendido o que eu lhe contava na
minha última carta, porque eu não me pude explicar nem poderei por escrito. O
caso é bastante complicado : só pessoalmente poderá ser explicado, tal é o seu
enredo. Foi caso para me afligir muito, mas não para me deixar desassossegada
sobre este assunto.
Continuam a ser
muitos os meus sofrimentos, mas reconheço que não são nada em comparação com o
que eu mereço. Digne-se Nosso Senhor, por sua infinita misericórdia, que eu viva
até ao tríduo. Quer saber uma coisa que me consolou muito ? Foi dizer-me que já
vem no dia 21 para o Norte, portanto que vem para mais perto de mim e eu já
posso dizer o nosso tríduo é para o mês que vem.
Agradeço-lhe a
grande caridade que fez em pedir por mim que tanto preciso ! Eu, de Vossa
Reverência, nunca me esqueço em minhas pobres orações e em todos os meus
sofrimentos. Muitas lembranças da minha mãe e da Deolinda; ela deixa tudo para
lhe dizer para o tríduo. Fará a caridade de abençoar esta pobre doentinha.
Alexandrina Maria da Costa
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