Francisco, nascido numa povoação chamada Aljustrel, pertencente à
paróquia de Fátima, em Portugal, no dia 11 de Junho de 1908, era
filho de Manuel Pedro Marto e de Olímpia de Jesus Marto, modestos
agricultores
e bons cristãos; no dia 20 do mesmo mês, recebido o baptismo,
tornou-se membro do povo da nova aliança.
De
carácter dócil e condescendente, recebeu com fruto a boa educação
que os pais lhe deram. Em casa, começou a conhecer e a amar a Deus,
a rezar, a participar nas sagradas funções paroquiais, a ajudar o
próximo necessitado, a ser sincero, justo, obediente e diligente.
Viveu em paz com todos, quer adultos quer da mesma idade. Não se
irritava quando o contrariavam e nos jogos não encontrava
dificuldades em se adequar à vontade dos outros. Era sensível à
beleza da natureza, que contemplava com sensibilidade e admiração;
deleitava-se com a solidão dos montes e ficava extasiado perante o
nascer e pôr do sol. Chamava ao sol «candeia de Nosso Senhor» e
enchia-se de alegria ao aparecerem as estrelas que designava
«candeias dos Anjos». Era de tal inocência que dizia que ao chegar
ao céu havia de colocar azeite na candeia da Virgem Maria.
Logo
que pôde, quando atingiu a idade de cerca de seis anos, foi-lhe
confiada a guarda do rebanho, que diariamente pastoreava; segundo o
costume, saía de manhã cedo com a sacola levando o alimento e a
flauta, com a qual se divertia, e tornava a casa ao pôr do sol.
Muitas vezes era acompanhado pela irmãzinha Jacinta e ambos se
reuniam com a prima Lúcia de Jesus dos Santos, que guardava também
as suas ovelhas. Estas crianças declararam ter visto três vezes um
anjo no ano de 1916. Este acontecimento inesperado e imprevisto
constitui para Francisco o início duma experiência espiritual mais
generosa, mais eficaz e mais intensa de dia para dia. De repente
começou a tornar-se mais piedoso e taciturno; recitava
frequentemente a oração ensinada pelo anjo; estava disposto a
oferecer sacrifícios pela salvação dos que não acreditam, não
esperam e não amam.
Do dia
13 de Maio até ao dia 13 de Outubro de 1917, algumas vezes,
juntamente com a Jacinta e a Lúcia, foi-lhe concedido o privilégio
de ver a Virgem Maria na Cova da Iria. A partir daí, inflamado cada
vez mais no amor a Deus e às almas, tinha uma só aspiração: rezar e
sofrer de acordo com o pedido da Virgem Maria. Se extraordinária foi
a medida da benignidade divina para com ele, extraordinária foi
também a maneira como ele quis corresponder à graça divina na
alegria, no fervor, e na constância. Não se limitou apenas a ser
como que um mensageiro do anúncio, da penitência e da oração, mas,
mais do que isso, com todas as suas forças, conformou a sua vida com
a mensagem que ele anunciou mais com a bondade das obras do que com
palavras.
Costumava dizer: «Que belo é Deus, que belo! mas está triste por
causa dos pecados dos homens. Eu quero consolá-lo, quero sofrer por
seu amor».
Manteve
este propósito até ao fim. Durante as aparições suportou com
espírito inalterável e com admirável fortaleza as más
interpretações, as injúrias, as perseguições e mesmo alguns dias de
prisão. Resistiu respeitosa e fortemente à autoridade local que tudo
tentou para conhecer o «segredo» revelado pela Virgem Santíssima às
três crianças, infundindo coragem simultaneamente à irmã e à prima.
Todas as vezes que o ameaçavam com a morte respondia: «se nos
matarem não importa: vamos para o céu».
Já
antes das aparições rezava, porém depois, movido por um espírito de
fé mais vivo e amadurecido, tomou consciência de ser chamado e de se
entregar zelosa e constantemente ao dever de rezar segundo as
intenções da Virgem Maria. Procurava o silêncio e a solidão para
mergulhar totalmente na contemplação e no diálogo com Deus.
Participava na missa dos dias festivos e quando podia também nos
feriais. Nutriu uma especial devoção à Eucaristia e passava muito
tempo na igreja, adorando o Sacramento do altar a que chama «Jesus
escondido». Recitava diariamente os quinze mistérios do Rosário e
muitas vezes mais, a fim de satisfazer o desejo da Virgem; para isso
gostava de juntar orações e jaculatórias, que tinha aprendido no
catecismo e que o Anjo, a Virgem Santíssima e piedosos sacerdotes
lhe tinham ensinado. Rezava para consolar a Deus, para honrar a Mãe
do Senhor, que muito amava, para ser útil às almas que expiam as
penas no fogo do purgatório, para auxiliar o Sumo Pontífice no seu
importante múnus de pastor universal; rezava pelas necessidades do
mundo transtornado pelo pecado; rezava pela Igreja e pela salvação
eterna das almas. Rezava sozinho, com os familiares, com os
peregrinos, manifestando um profundo recolhimento interior e uma
confiança segura na bondade divina.
Como
tivesse sabido da Virgem Maria que a sua vida iria ser breve,
passava os dias na ardente expectativa de entrar no céu. E de facto
tal expectativa não foi longa. Com efeito, apesar de ser robusto e
de gozar de boa saúde, em Outubro do ano de 1918 foi atingido pela
grave epidemia bronco-pulmonar chamada «espanhola». Do leito em que
caiu não chegou a levantar-se; pelo contrário, no ano de 1919, o seu
estado de saúde agravou-se. Sofreu, com íntima alegria, a sua
enfermidade e as suas enormes dores, em oblação a Deus. À Lúcia que
lhe perguntava se sofria, respondeu: «Bastante, mas não me importa.
Sofro para consolar Nosso Senhor e em breve irei para o céu». No dia
2 de Abril, recebeu santamente o sacramento da Penitência e no dia
seguinte foi finalmente alimentado com o Corpo de Cristo, como Santo
Viático. Ao despedir-se dos presentes prometeu rezar por eles no
céu.
Entrou
piedosamente na vida eterna, que veementemente desejara, no dia 4 de
Abril de 1919. Foi sepultado no cemitério de Fátima, mas depois as
suas relíquias foram transladadas para o Santuário, que entretanto
fora construído onde a Virgem aparecera.
Beatificado ao mesmo tempo que Jacinta Marto, em Fátima, pelo Papa
S. João Paulo II, no dia 13 de Maio de 2000. Canonizado também em
Fátima pelo Papa Francisco em 13 de Maio de 2017. |