Nasceu em Lagos, no
Algarve, um pouco depois de 1370.
Tomou o hábito de
Santo Agostinho no convento da Graça, em Lisboa, onde vinha pôr mais a salvo os
seus vinte anos de virtude e pureza, quase de anjo, e já vitoriosa de repetidos
assaltos.
Cerca de 1380
abraçou a vida religiosa.
Dedicou-se à
pregação em correrias apostólicas e, com o mesmo zelo a manter a observância
regular, quando superior dalguns mosteiros da sua Ordem.
Entre 1394 e 1396
Frei Gonçalo teria sido Prior do Convento de S. Lourenço, na Lourinhã. Em Maio
de 1404 Frei Gonçalo de Lagos era prior do Convento de Nossa Senhora da Graça de
Lisboa.
Testemunha-o um
documento, aliás único, contemporâneo de Gonçalo, do cartório daquele convento.
Para além deste documento, as escassas informações que possuímos acerca de Frei
Gonçalo de Lagos, resultam das diversas representações biográficas, legadas e
repetidas pelas diversas hagiografias e crónicas, redigidas entre os séculos XVI
e XVIII. Não sabemos, porém, desde quando se encontrava no exercício da função.
Em 1408 inicia um
priorado no convento dos agostinhos de Santarém e, a partir de 1412, o priorado
do convento de Nossa Senhora da Graça de Torres Vedras, cargo que ocupará até à
sua morte, fixada em 15 de Outubro de 1422.
Ali ficou o seu
jazigo, tomando-o a vila de Torres Vedras por seu padroeiro., depois de
beatificado por Pio VI, em 1798. Mas, em Portugal, é-lhe atribuído o culto de
santo. Ao que parece, a escolha que fez Torres Vedras do seu padroeiro deve-se à
carta que D. João II, encontrando-se no Algarve em 1495, escreveu à Câmara da
referida vila, exaltando a memória de Frei Gonçalo e celebrando a felicidade que
essa terra possuía conservando o seu milagroso corpo. O mesmo fez a cidade de
Lagos, sua terra natal, onde os pescadores mais o invocam e experimentam a sua
especial protecção. A sua festa, actualmente, é a 27 de Outubro, mas os Padres
Agostinhos celebram-no, em Portugal, a 21 do mesmo mês.
Quanto aos milagres
promovidos por S. Gonçalo, o seu maior número recai sobre a vila e termo de
Torres Vedras, sendo notório um esforço de autenticação dos mesmos, por parte do
prior do Convento de Nossa Senhora da Graça, Frei Leonel, nos anos de 1489 e
1490. Um esforço necessário para ampliar uma devoção estritamente local e que
representaria certamente outras pretensões, sobretudo se tivermos em conta um
equilíbrio de forças perante o então recentemente fundado Convento franciscano
de Santo António do Varatojo, inaugurado em 1474. Estava em causa o prestígio do
Convento e da Ordem.
O mesmo acontece
com as relíquias de Frei Gonçalo, uma vez que «a sua posse contribuía para o
engrandecimento da pessoa ou instituição, da localidade ou do espaço regional,
da pátria ou nação que detinha e agitava os seus poderes, do religioso ao
social, passando pelo económico e pelo ideológico».
Frei Gonçalo de
Lagos era canonizado, por autorização de Pio VI, de 27 de Maio de 1778.
Em Torres Vedras, a
sua memória seria lembrada apenas em celebrações religiosas, uma vez que o seu
culto não foi objecto de projecção da identidade local. |