No fim
do século XIX, a China entrou numa crise grave. Não tendo querido
receber a civilização moderna, não podia
manter
o seu lugar no mundo. O jovem imperador Kouang-Sin experimentou
reformas; a velha imperatriz retomou porém a autoridade, e recomeçou
a política reaccionária. Vendo-se incapaz de abrir guerra contra as
grandes potências, excitou no povo chinês a xenofobia, ou ódio aos
estrangeiros, servindo-se duma sociedade secreta já antiga, cujos
membros vieram a ser chamados Boxers ou pugilistas, porque se
exercitavam fisicamente dando punhadas entre si. (Ver também, a 8 de
Junho, o Beato Leão Mangin e 55 companheiros).
Beato
Gregório Grassi e companheiros mártires
Em
1900, ela julgou ter chegado o momento de lançar os amotinadores
contra os Europeus, dando àqueles o apoio dos soldados. Os cristãos
foram naturalmente considerados como traidores à velha China e os
Boxers perseguiram-nos com o seu ódio. Felizmente, muitos vice-reis
recusaram seguir as ordens de Pequim e a perseguição não se estendeu
para além das províncias da capital. Graças à intervenção das
potências, durou menos de dois meses, mas foi muito sangrenta:
avaliou-se o número das vítimas em 20.000, das quais 2418 nos
vicariatos apostólicos confiados aos Franciscanos. Foram
beatificados, em 1946, vinte e nove, como vanguarda de tal legião de
mártires. Três dentre eles sofreram o martírio em Heng-Chou-Fou e os
restantes vinte e seis em Tai- Yuan-Fou, no Chan-Si.
O bispo
Gregório Grassi muito desenvolvera a missão do Chan-Si setentrional.
Tinha ao seu lado outro prelado, Dom Francisco Fogolla. Trabalhavam
também no vicariato apostólico os Padres Elias Facchini e Teodorico
Balat, e o irmão André, alsaciano de grandes qualidades, em
particular duma força hercúlea. Em Heng-Chou-Fou residia o vigário
apostólico Dom António Fantosati, com os Padres Cesídio Giacomantoni
e José Maria Gambaro.
Sete
Missionárias de Maria tinham vindo também da Europa para fundar a
missão de Tai-Yuan-Fou. Era superiora a Madre Maria Hermínia de
Jesus.
A este
número juntaram-se ainda, todos de nacionalidade chinesa: 6
seminaristas e 8 empregados das casas dos missionários.
No dia
9 de Julho de 1900, estão todos os futuros mártires reunidos e
presos em Tai-Yuan-Fou. Ouve-se um ruído de gente que chega. D.
Gregório Grassi diz simplesmente: «A hora da morte chegou. Vou
dar-vos a absolvição». Os Boxers estão presentes. Batem na cabeça
das vítimas para as estontear e assim lhes prender as mãos atrás das
costas. O Irmão André dirige-se a um deles: “Nunca me prostrei
diante de nenhum chinês, vou-o fazer agora porque me vais abrir as
portas do céu”. E indo para a morte canta: Louvai ao Senhor todos os
povos. D. Francisco Fogolla, ferido gravemente na testa e num ombro,
reclama um pouco de deferência: «Deixai que nos levantemos, depois
seguiremos sem resistência». Mas os algozes instam com as vítimas
dando-lhes punhadas e pauladas; algemam-nas duas a duas e levam-nas
para o palácio do vice-rei, enquanto o povo grita: «À morte os
diabos europeus». As religiosas cantam o Te Deum.
Mais de
3.000 Boxers os esperavam Este singular processo decorreu sem
testemunhas nem advogados. Yu-Hsien, o vice-rei, aparece e dirige-se
a D. Francisco:
― Há
quanto tempo está na China?
― Há
mais de 30 anos.
― Porque prejudicastes o meu povo e com que fim propagais a vossa
fé?
― Não
prejudicamos ninguém, mas beneficiamos a muitos. Vivemos aqui para
salvar almas.
― Não é
verdade, fizestes muito mal e vou matar-vos a todos ― grita o
vice-rei, lançando-se contra o bispo, ao qual fere duas vezes no
meio do peito, berrando aos Boxers: «Matai, matai».
Dá-se
então o ataque e matança. Os mártires são decapitados e mutilados e,
enquanto as Franciscanas Missionárias de Maria levantam os véus para
estender os pescoços, são trucidados o seminarista de dezasseis anos
João Wang e o velho Padre Elias, recebendo o primeiro uma
espadeirada na testa e o outro no peito. Arrancam-lhes o coração e
acabam por lhes cortar a cabeça.
Yu-Hsien mandou lançar os corpos na fossa comum. Mas no fim do ano
de 1900, o vice-rei que lhe sucedeu, temendo uma expedição militar
europeia, mandou desenterrar ― na presença de dois chineses, um
católico e outro protestante ― os restos dos mártires e meteu-os em
caixas, das quais uma parte foi dada a um padre que a depositou no
cemitério dos Franciscanos.
A 9 de
Julho de 1902 foi celebrada Missa no pátio do tribunal e a 24 de
Março de 1903 houve uma cerimónia de reparação, mandando as
autoridades chinesas colocar duas lápides no sobredito pátio. E a 9
de Julho de 1903, realizou-se o funeral solene à custa do governo.
A causa
de beatificação de 1418 cristãos da China mortos pela fé foi
introduzida em 1926. Para fazer chegar o processo o mais depressa
possível a termo, foram escolhidos 29 nomes. Estes campeões da fé
beatificou-os, a 24 de Novembro de 1946, Pio XII.
As sete
Franciscanas Missionárias de Maria são as primeiras beatas da
Congregação, fundada em 1877 pela Madre Maria da Paixão.
FONTE
: http://www.paulinas.org.br/ |