NASCIMENTO E JUVENTUDE
Joana
nasceu em Bordéus, na França no dia 27 de Dezembro de 1556, uma
linda menina que encheu de alegria o
lar de seus pais. Sua mãe era Joana Eyquen de Montaigne, dama da
corte francesa, irmã do famoso filósofo Michel Eyquen de Montaigne,
e seu pai, Ricardo de Lestonnac, um nobre magistrado e conselheiro
do Rei.
Cresceu
num ambiente de contradições espirituais em sua família, na qual sua
mãe era uma decidida calvinista insistente em converter sua filha a
religião Protestante, e o seu pai, homem equilibrado e de fé
Católica consistente, professava fervorosamente a religião cristã
seguindo os Mandamentos e as Doutrinas. Além desta virtude, o pai se
revelou também um excelente amigo e confidente, em todos os
momentos, era aquele que lhe dava respostas honestas e diretas as
suas perguntas de adolescente, principalmente aquelas relacionadas
as suas inquietudes religiosas. Sua mãe querendo impor sua vontade,
era esquecida por Joana, que fugia dela e das suas insinuações,
tornando muito difícil o relacionamento entre as duas. Não podiam
viver juntas e compartilhar os interesses e valores mais profundos
da existência, o que deve ser absolutamente natural entre uma mãe e
uma filha que se amam, principalmente na idade dela, que começava a
se abrir para a vida. Desta maneira, Joana sofreu directamente as
consequências da divisão do Cristianismo, imposta pela Reforma
Protestante. E é importante realçar, que naquele primeiro momento da
separação, a nova religião criada por Lutero e Calvino, vinha com um
estilo revolucionário, querendo se impor pela força e com o maior
ímpeto, causando insegurança, perseguições, sangue e até mortes. O
Protestantismo estabelecido atacava frontalmente o Catolicismo, e
entre outras sérias agressões, atacava a Pessoa de NOSSA SENHORA e
sua actuação na História da Salvação.
A mãe
de Joana influenciada pela Reforma Protestante, a qual aderiu
incondicionalmente desde o início, além de procurar encaminhar a sua
filha para as doutrinas Calvinistas, não permitiu que ela recebesse
o Sacramento do Baptismo Católico.
Todavia
o pai e o tio materno Michel Eyquen de Montaigne, percebendo a
actuação tendenciosa da mãe, agiram com vontade firme e decisão,
criando dentro do lar um verdadeiro campo de combate, colocando em
grave perigo a pureza da fé cristã da filha. Mesmo assim, Joana
recebeu o Baptismo Católico na Catedral de Bordéus.
Por
incrível que possa parecer, o veneno da mãe era inoculado na filha,
nos momentos das carícias maternas, quando contava a menina,
historietas maliciosas a respeito dos sacerdotes e principalmente
contra o Papa, que é o Vigário de CRISTO, falseando e ajustando as
narrativas, de conformidade com o seu interesse para alcançar os
seus objectivos. E procedendo assim, tentava, por todos os meios,
também ocultar a primordial e eficaz actuação materna da VIRGEM
MARIA, querendo colocar a MÃE DE DEUS e Nossa Mãe, numa posição de
desprezo, incompatível com a realidade e os ensinamentos da Verdade
Cristã.
Desse
modo, a nova apóstata calvinista, que devia se preocupar
maternalmente com o crescimento do amor no coração da filha, ao
contrário, tentava destruir a pureza no íntimo da Joaninha, tentando
colocar a revolta e a descrença dela, na lei e nos costumes
cristãos.
A
batalha familiar era terrível e se mantinha presente, porque a mãe
herege encontrou a ajuda dos senhores de Beauregard, que também eram
tios maternos da jovem.
CULTIVO DA EDUCAÇÃO ESSENCIAL
Mas o pai Ricardo e o tio
paterno Michel, que como já mencionamos, era um renomado filósofo
humanista, autor dos “Essais” (peças literárias denominadas
Ensaios), velava pela guarda da fé de Joaninha. Também, muito ajudou
neste combate de “certa forma oculto”, a cooperação de Guy,
irmão de Joana, que a noite, repetia para ela os ensinamentos
correctos e edificantes que aprendera no Colégio dirigido pelos
Padres Jesuítas. A Companhia de JESUS, fundada por Santo Inácio de
Loyola já estava em Bordeus.
Por outro lado, Joana
enriqueceu em muito a sua cultura e os seus conhecimentos, com os
textos escritos pelo seu tio Michel, que na verdade, eram
verdadeiras fontes de humanismo cristão em benefício da sociedade de
todos os tempos. Os “Ensaios”, como eram chamados,
influenciaram sem dúvida, a sua linha de acção educativa dando-lhe a
base necessária, quando accionou o projecto do seu Instituto.
PODEROSA DEVOÇÃO E CHAMADO DIVINO
Mas,
ainda jovem, as agressivas e abomináveis atitudes da mãe, querendo
destruir os valores cristãos que estavam gravados na alma da filha,
fizeram crescer em Joana de maneira incontrolável e fervorosa, uma
poderosa devoção a NOSSA SENHORA, que se enraizou de tal modo em seu
coração, que lhe criou um desejo sublime e santo, de sacrificar a
riqueza e o conforto material que o mundo lhe oferecia, pela vida
religiosa. E nesta época, ela não só concretizou este ideal que
ocupava todas as dimensões do seu coração, por causa dos insistentes
pedidos de seu pai, que naquela época, temia os Claustros e os
Mosteiros, considerando que eles tinham sido invadidos de modo
impressionante pela heresia calvinista. Dentro das próprias Ordens
Religiosas nasceu e cresceu de maneira violenta as duas Correntes
Opostas, ou seja, se encontravam aqueles que cultivavam as doutrinas
Católicas e aqueles devotados a Reforma Protestante, culminando com
a separação definitiva e a divisão dos membros nas diversas Ordens
Religiosas, que logo aconteceu.
Joana
era admirada por sua beleza que realçava os seus dons naturais, e
também, pelo seu modo de pensar e agir, por sua educação e
sensibilidade pessoal, que orientava o seu comportamento digno nas
diversas fases da juventude. Também é verdade que o seu temperamento
apaixonado e decidido lhe ocasionou momentos de luta interior para
amadurecer decisões, a fim de clarear o raciocínio envolvido em
dúvidas. Quando chegou a idade em que toda jovem sente a necessidade
de tomar uma decisão maior como opção de vida, em face dos variados
horizontes que se descortinam a sua frente, ela sentiu no fundo de
sua alma que DEUS se fez presente, e no interior da sua consciência
ela ouviu e compreendeu o chamado Divino:
“Cuida Minha filha de não
deixar apagar o fogo sagrado que EU acendi em teu coração e que te
move e impulsiona a ME servir com tanta ternura e fervor”.
Interpretando esta chamada de DEUS como um concreto convite, quis
entregar a sua vida ao serviço Divino. Mas naquela época, com aquela
abominável e terrível situação, que colocava a vida religiosa diante
de um crítico dilema, não oferecia campo e nem condições para uma
mulher atuar, realizando o seu sagrado ideal.
CASAMENTO E FAMÍLIA
Tendo
completado 17 anos de idade, Joana já era observada com muito
interesse pelos rapazes, que logo se apaixonaram
pelo seu perfil esbelto, pelo sorriso cativante e pelos lindos olhos
azuis. E no conjunto das muitas investidas, o seu pai acabou cedendo
aos constantes e insistentes pedidos de Gastão de Montferrant, Barão
de Landirás e de La Mothe, concedendo-lhe a mão da sua filha.
Na
verdade, Gastão estava entusiasmado por ela, nas visitas que fazia a
família, procurava conversar com todos, mas especialmente com Joana.
Então, da simpatia que começou a existir entre os dois, floresceu um
amor sincero e correspondido. Gastão soube valorizar em Joana a
sintonia de sua beleza física com a sua admirável beleza moral.
O
casamento aconteceu no dia 12 de Setembro de 1573, e foi uma festa
que marcou presença, porque deixou saudosas lembranças na mente dos
seus familiares e dos amigos.
E ela
assumiu verdadeiramente o novo estado civil, realizando fielmente o
projecto matrimonial, com uma vivência sólida e bem edificada, fruto
da expansão de um amor correspondido que se dilatava em carinho e
ternura. Foi mãe de oito filhos, sendo que os três primeiros
morreram com poucos meses de vida. Os outros cinco, dois homens e
três mulheres, cresceram fortes sob a disciplina, o carinho e o
olhar atento da mãe. Mesmo assim, um dos meninos, também faleceu.
Somente quatro filhos chegaram à idade adulta: Francisco (o mais
velho), Marta, Madalena e Joaninha.
A Baronesa Joana, como passou a
ser chamada, se empenhou em cultivar nos filhos de maneira
eficiente, os ensinamentos evangélicos, ensinando-lhes amorosamente
a lei de DEUS e os deveres da caridade católica: com visita aos
pobres, auxilio e apoio aos colonos da propriedade, atendimento
abnegado a todos que necessitavam e que batiam á porta da casa,
ensinando aos seus filhos que nunca negassem uma esmola a quem
pedia. Joana sentia que DEUS lhe ensinava: “que os bens somente
servem quando são fontes de entrega, de generosidade e também,
quando permitem tornar possível a fraternidade”.
O
matrimónio vivido em união com DEUS, acrescentou nela outras
importantes virtudes, que ela mesma pediu ao decidir ser esposa e
mãe: ter delicada atenção, serenidade e sabedoria nas relações com
as pessoas, habilidade em organização, paciência nos variados
acontecimentos e fortaleza nos momentos de dor, como por exemplo, na
morte prematura de seus três primeiros filhos.
MORTE E SOFRIMENTO
Entretanto, o ano de 1597 marcou profundamente a sua existência,
porque foi um ano muito triste, repleto de acontecimentos que
enlutaram a sua vida. Após 24 anos de uma intensa e harmoniosa vida
matrimonial, faleceu o seu marido Gastão de Montferrant. E por
incrível que possa parecer, ao longo deste mesmo ano, também morreu
o seu pai Ricardo, o seu tio Miguel e mais um de seus filhos. Foram
ocorrências que incidiram fortemente em seu caráter e no seu
coração, deixando-a abatida pelos fatos. Todavia, a fé de Joana era
muito grande e ela tinha uma imensa confiança em DEUS. ELE é PAI,
sempre sabe o que é melhor para cada um de nós. Assim também, com
muita fé em NOSSA MÃE SANTÍSSIMA e com bastante confiança na
Providência Divina, Joana continuou sozinha a sua luta para educar
cristãmente os quatro filhos que lhe restaram. Estava gravado em seu
coração aquele pensamento de 24 anos atrás, quando ela sentiu pela
primeira vez na sua alma o chamado de DEUS:
“Cuida Minha filha de não
deixar apagar o fogo sagrado que EU acendi em teu coração e que te
move e impulsiona a ME servir com tanta ternura e fervor”.
E junto
com os deveres e obrigações maternais, se dedicou com empenho,
ocupando todo o seu tempo num apostolado de levar alívio aos
enfermos, ajudar os necessitados e os presos, e com dedicação,
buscava descobrir através das orações, a inspiração para continuar a
sua caminhada existencial.
EXPERIÊNCIA CISTERCIENSE
E foi
rezando que lhe surgiu uma ideia especial, e ela concebeu a
possibilidade de entrar num Convento da Ordem Cisterciense, em
Toulouse, que era uma Comunidade contemplativa austera e lhe
oferecia a garantia e seriedade no serviço de DEUS
Assim,
seis anos depois da morte do seu esposo, tendo o seu filho Francisco
se casado e suas filhas Marta e Madalena se consagrado a DEUS na
vida religiosa, entrando na Irmandade das Anunciadas em Bordéus,
decidiu deixar a filha mais nova, Joaninha, sob os cuidados de
Francisco e da esposa dele, e ingressou no Convento.
Na
época de seguir para Toulouse, ela disse ao seu filho Francisco:
“Filho, o mundo não merece o
nosso apego. Ele aviva as nossas ilusões para depois traí-las. A
Divina Providência me abre agora um novo caminho”.
O preço
maior desta entrega era a separação de seus dois filhos: Francisco e
Joaninha, porque viviam a seu lado, e como é natural, a convivência
cotidiana enraíza muito mais o verdadeiro amor. As filhas Marta e
Madalena, como já mencionamos, faziam parte da Comunidade das
Anunciadas, não residiam mais junto da mãe, e por essa razão, a
presença delas não era tão sentida. Mas, sem dúvida, sabemos que o
afastamento do lar sempre é doloroso e Joana
estava vivendo esta realidade:
“somente a força da união com o SENHOR, em face do Convite Divino, é
que garantia o SIM de sua resposta ao novo projecto, afastando-se de
seus filhos”.
No dia
da sua partida, saiu muito cedo do palácio com o objectivo de evitar
as despedidas, porém, seu coração de mãe ainda teve de enfrentar
mais um doloroso sacrifício: Joana foi surpreendida com a chegada de
Joaninha, a sua filha mais nova, que se lançou em seus braços com os
olhos repletos de lágrimas suplicando-lhe que não se afastasse de
Bordéus. Mas a decisão era definitiva. Com carinho, mas esmagada por
uma dor cruel que apertava o seu coração, disse algumas consoladoras
palavras tranquilizando a filha, e seguiu viagem de barco, pelo Rio
Garona para o Mosteiro Cisterciense em Toulouse.
Estava
com 46 anos de idade quando ingressou no Mosteiro. Mudou o seu nome
para Joana de São Bernardo, em homenagem ao fundador da Ordem
Cisterciense, São Bernardo de Claraval, e desde o início, seguiu
fervorosamente o cotidiano da Ordem Religiosa. Este ramo feminino da
Ordem Cisterciense nasceu na Abadia de Feuillant, na Gasconha, para
reagir à decadência da Ordem, em face da Reforma Protestante.
Estava
feliz com a sua nova vida e se dedicava com amor total. Eram longas
horas de oração e de muita penitência, num ambiente de total
silêncio e abnegação em todos os momentos. Havia uma paz infinita e
absoluta. E por isso, cresceu nela um profundo e fervoroso desejo de
entregar a sua vida totalmente a DEUS. Mas o seu corpo não estava
preparado para uma aplicação física tão profunda, porque era fraco e
não tinha condições de competir com a força admirável do seu
espírito. Tornou-se evidente que fisicamente ela não suportaria
tanta penitência, a qual ela mesma tinha o desejo de fazer. Foram
seis meses de difíceis lições, as quais lhe confidenciaram a
realidade dos fatos e a consequente solução para a sua vida: ela
devia desistir do Mosteiro e encontrar outro caminho...
A certeza desta realidade
aconteceu, quando o médico que atendia as Irmãs do Mosteiro, vendo o
seu caso, foi sincero e lhe repetiu o que ela mesma já sabia:
“Devia procurar outro caminho”.
O que
na verdade aconteceu a Joana no Mosteiro, era o reflexo de sua
ardorosa intenção de buscar maior santidade em todos os seus actos,
se impondo a si mesma, rigorosas e constantes penitências, que
abalaram a sua resistência física, mostrando uma palidez facial que
preocupou profundamente a Comunidade Religiosa. E tudo isto ocorreu
em seis meses, depois de ter vestido o hábito cisterciense. A Madre
Superiora compreendendo que Joana não estava habituada e nem
preparada a suportar tamanha severidade nas práticas penitenciais,
as quais aparentemente conseguiram esgotar completamente as suas
forças, convidou-a para uma conversa e depois de argumentar
longamente, Joana foi convencida a regressar ao seu Castelo em
Bordéus.
EM BUSCA DE NOVO CAMINHO
Naquela
mesma noite, deitada na cama, sem conseguir dormir pensava em todos
os acontecimentos e se esforçava em aceitar a Vontade de DEUS,
acolhendo mais esta dolorosa prova de abandonar o sonho da vida
religiosa num Mosteiro. Então, rezou muito e pediu ao Espírito Santo
para lançar luz à escuridão que envolvia a sua alma.
Assim que deixou o Mosteiro, se
retirou para o Castelo em Bordéus, onde procurou organizar as ideias
com o objectivo de delinear os contornos de um projecto no qual
pudesse actuar decididamente e que fosse eficaz. Mas a família
queria “matar as saudades”
e não lhe ofereciam tempo para rezar e
organizar o seu ideal. Então, decidiu ir para o Castelo de Mothe,
sua antiga propriedade. Lá, o silencio e o tempo necessário as
orações a colocaram num profundo encontro com DEUS, podendo
idealizar as características de um plano, que pouco a pouco se foi
delineando em sua mente, tomando forma e se tornando mais claro. Ela
imaginou “constituir uma
Ordem Religiosa desconhecida na Igreja”.
1 – Que oferecesse as jovens
desejosas de servir ao SENHOR, uma Comunidade com um estilo de vida
contemplativo-apostólico que não destruísse as suas forças físicas.
2 – Abrir Escolas, que sob a
protecção de MARIA NOSSA SENHORA, estendesse o seu Nome e a sua
influência na juventude feminina que quisesse ser educada nela.
Em
Dezembro de 1605, já se encontrava novamente no Castelo em Bordéus e
trabalhava como voluntária em companhia de outras senhoras e moças,
durante uma terrível epidemia de peste que se lastrou naquela
região, e então, ela sentiu que ali estava a sua vocação: realizar
um trabalho abrangente e decidido na sociedade, visando
primordialmente às jovens mais necessitadas de ajuda e de instrução.
E desse modo começou a sua obra, visitando e cuidando das pessoas
nas regiões mais pobres da cidade, ao mesmo tempo em que mantinha
contacto com as jovens que eram atraídas pelo chamado de DEUS e pela
sua própria personalidade cativante, realizando um serviço
apostólico que ela sonhara em realizar e que na verdade estava
contido na espiritualidade Inaciana, que ela amava e respeitava,
considerando que aquela espiritualidade expressava a sua
espiritualidade pessoal.
QUER FUNDAR UMA ORDEM RELIGIOSA
Manteve
contactos e foi em busca dos conselhos de dois Padres Jesuítas, Juan
de Bordes e Francisco Raymond, que compartilhavam com as suas ideias
e preocupações em amparar as jovens moças Católicas carentes e
necessitadas de educação, em face da total ausência de orientação em
que viviam, por motivo da revolução religiosa, e por isso, as jovens
se viam obrigadas a confiar a sua educação as professoras
Calvinistas. E assim, eles colaboraram efectivamente com sugestões e
propondo directrizes de actuação, no sentido de ajudar Joana a
concretizar o seu ideal. Iluminados pela Luz de DEUS, em 23 de
Setembro de 1605, os Padres recomendaram que ela estudasse o modelo
da Companhia de JESUS como meio de expandir a sua inspiração
pessoal. Na sequência dos dias, amadureceu o seu ideal e projectou
fundar o Instituto da COMPANHIA DE MARIA NOSSA SENHORA, para educar
as meninas do povo. Ela compreendeu a necessidade de educar
cristãmente as mulheres, principalmente aquelas mais pobres, de
baixa renda financeira, com o objectivo de deixar as suas mentes
mais abertas à realidade do mundo, e desse modo, contribuir
efectivamente na transformação da sociedade. Procurar e encontrar
DEUS em todas as coisas, com o espírito aberto e sempre disponível,
como NOSSA SENHORA fazia. Este era o carisma do novo Instituto.
Joana, também teve em seu
irmão, Padre Jerónimo de Lestonnac SJ, uma excepcional colaboração,
primordialmente porque ele sabia e conhecia a fundo, as inquietações
dela e as suas qualidades. Conhecendo o seu projecto, intermediou em
dezenas de oportunidades junto aos outros dois Padres e a outras
autoridades religiosas, visando à troca de sugestões e de ideias,
assim como, realizando providências necessárias ao enraizamento do
empreendimento.
À medida que a noticia era
divulgada, o SENHOR DEUS ajudava, encaminhando algumas mulheres que
tinham o desejo de colaborar e foram atraídas pela notícia. E assim
também, Joana convidou outras pessoas a participar do grupo, no
sentido de que o esforço em conjunto gerasse benefício para o
Instituto em formação e para o engrandecimento interior de cada uma
delas.
Na primeira reunião Joana disse
estas palavras: “Minhas filhas, somente DEUS poderia inspirar cada
uma de vocês ter o desejo de se oferecerem a me ajudar neste
grandioso empreendimento. Espero que o sentimento que une os nossos
corações para o mesmo objectivo, nos conduza a concretização do
nosso ideal. Deste modo, é necessário que colaborem comigo na
formação de uma Companhia de Jovens dispostas a lutar na Milícia de
DEUS. Vocês já conhecem e sabem, da desordem que tem causado a
ignorância religiosa. Sou testemunha desta desgraça, da qual fui
preservada por um singular favor Divino. Assim, queridas irmãs,
UNAMOS AS NOSSAS FORÇAS em proveito da Igreja, na medida em que
sejamos capazes de enfrentar as adversidades”.
No
passo seguinte, ela fez diligência para conseguir a aprovação do
senhor Cardeal François d’Escoubleau de Sourdis, que era o Arcebispo
de Bordéus, e que não estava disposto a concedê-la, porque ele
preferia que Joana colaborasse com a reforma da Congregação das
Ursulinas. O Cardeal, que inicialmente era o protector e
incentivador da Obra de Joana, agora queria ligá-la a Ordem
Religiosa das Ursulinas, e por essa razão, negou e não autorizou que
as jovens candidatas à COMPANHIA DE MARIA, fizessem a profissão de
fé em Maio de 1610. Mas Joana não concordou, porque os objetivos e
carismas das duas entidades eram totalmente diferentes. E por isso,
manteve-se firme, serena e humilde, querendo a aprovação do seu
Instituto.
Joana
que tinha uma grande devoção a Eucaristia, a SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA
– a quem consagrou o seu Instituto – e que tributava um culto muito
especial ao seu Anjo da Guarda, companheiro inseparável em todos os
momentos da sua existência, também era a mãe caridosa e boa que
distribuía aos mais necessitados os remédios adquiridos para a
Comunidade, da mesma forma que se empenhava em ensinar com fervor,
constituindo-se num precioso e eficiente modelo, para a nascente
Comunidade que enfrentava muitos problemas.
No dia
7 de Dezembro, em seu castelo de Lormont, recebeu uma graça
particular da SANTÍSSIMA VIRGEM que advogava em favor de suas
filhas, e assim, na festividade da IMACULADA CONCEIÇÃO, dia 8 de
Dezembro, no Mosteiro da Companhia de MARIA, se concretizou à
profissão de fé da fundadora e das suas primeiras companheiras, que
já eram nove.
Os
objectivos da COMPANHIA DE MARIA podem ser definidos da seguinte
forma:
1 -
Educar as jovens na fé cristã.
2 -
Estimular a Devoção e Imitação de NOSSA SENHORA.
3 -
Deixar ao alcance de todas as mulheres um estilo de vida religioso
apostólico possível a todos os tipos de pessoas.
Eram
realizações que iam oferecer ao mundo um serviço novo em seu estilo
e perfeitamente válido por sua resposta a uma necessidade real, que
a Sociedade Cristã Católica enfrentava, em face da Reforma
Protestante.
Joana
de Lestonnac animada e consciente de que a Vontade de DEUS estava
sendo realizada através do esforço humano, suplicou o auxílio do
Padre de Bordes, para lhe ajudar a completar o Regulamento do
Instituto, o qual foi concluído com trinta Cláusulas, as quais
serviram de guia a vida da nova Comunidade. Este Regulamento foi
apresentado ao Cardeal no dia 7 de Março de 1606 pedindo a
aprovação.
A
espera foi angustiante e nervosa, porque o Cardeal tinha outras
ideias. Então, Joana e suas companheiras rezaram muito e entregaram
tudo nas mãos de DEUS. No dia 25 de Março o Arcebispo de Bordéus
lhes anunciou a aprovação, e a alegria invadiu o coração de Joana e
de suas filhas religiosas.
Agora o
próximo passo era encaminhar o Estatuto da Companhia a Roma. Joana
escolheu o sacerdote Padre Moysset, que era de sua inteira
confiança. Ele se apresentou diante do Papa levando uma carta de
recomendação que elogiava o grupo e sua fundadora. E assim, o
Estatuto da Organização foi conduzido ao Papa Paulo V, que aprovou a
fundação do Instituto no dia 7 de Abril de 1607. A COMPANHIA DE
MARIA NOSSA SENHORA foi à primeira Ordem Religiosa de mulheres
dedicadas ao magistério, aprovada pela Igreja. Nasceu assim, uma
Ordem Religiosa com a intenção de estabelecer uma nova era, em face
das suas características, que verdadeiramente a diferenciava das
Ordens Religiosas femininas tradicionais. Um novo estilo de vida
religiosa com espiritualidade Inaciana (de Santo Inácio de Loyola).
Interiormente seguindo a Vontade de DEUS, Joana se esforçava
vigorosamente em habituar a transformar os acontecimentos do
cotidiano, principalmente aqueles que não eram muito alegres, num
processo de crescimento interior e de
auto-doação, ou seja, “manter a chama acesa”
do ideal e da caridade cristã,
e sempre “estender a mão” aos
que necessitavam ou para conceder o perdão.
Um santo projecto de vida baseado no Evangelho de NOSSO SENHOR JESUS
CRISTO e inspirado nos procedimentos de NOSSA SENHORA, a MÃE DE
DEUS.
No dia
11 de Março de 1608, a cidade de Bordéus foi festivamente ornada
para celebrar a generosa resposta das cinco primeiras companheiras
de Joana, que naquela data receberam o hábito religioso, tornando-se
os primeiros membros da COMPANHIA DE MARIA.
E
finalizando a legalização oficial do INSTITUTO DE NOSSA SENHORA, o
Rei da França Henrique IV, por intercessão da Rainha Maria de
Médici, aprovou o Estatuto da Ordem Religiosa em 27 de Agosto de
1609, por Carta Patente, registrada no Parlamento de Bordéus.
AS COMPANHEIRAS DE TRABALHO E A INVEJA DOS OUTROS
As primeiras mulheres que logo
aderiram ao chamado Divino através de Joana, foram: Serena Coqueau,
Magdalena de Landrevi, Isabel de Maisonneuve e Margarita Poyferré.
Poucos dias depois, aquelas que não puderam, por razões diversas,
como por exemplo: a oposição dos familiares, dos pais e dos amigos,
mas logo a seguir, contornando as dificuldades, decidiram e puderam
acolher o chamado de DEUS, solicitando a admissão ao Instituto,
foram mais cinco jovens: Ana de Richelet, Maria de Roux, Francisca
de Boulaire, Blanca Hervé e Enriqueta de Cassaubon.
Mas como em todas as obras de
DEUS, Joana sofreu um forte vendaval de perseguições e de calúnias.
A inveja e o desejo de ficar em evidência, levaram algumas pessoas a
mentir e tecer intrigas, com o objectivo de afastá-la do comando da
Casa da Ordem em Bordéus. Foi um período triste e repleto de
angústias, mas que ela soube resistir, porque estava amparada pela
própria VIRGEM MARIA. Na verdade, antes dela concluir a sua missão
terrestre como fundadora e animadora da Ordem Religiosa, e de sua
alma voar para o Céu, já tinham sido edificadas e se encontravam em
permanente actividade, quarenta Casas da COMPANHIA DE MARIA, NOSSA
SENHORA.
As decepções foram muitas:
Joana enfrentou os desprezos de Lucia de Teula, a fundadora da Casa
de Toulouse, que não lhe poupou insultos e perseguições, assim como
a traição de uma de suas próprias filhas, a única infiel no grupo de
suas primeiras religiosas, que cedendo a uma tentação ambiciosa, que
lhe abriria possibilidades vantajosas, arquitectou falsas acusações
contra Joana, junto às autoridades religiosas.
Mais tarde, a Santa fundadora
repetia para as suas filhas: "A
parte que JESUS nos dá de sua Cruz nos faz conhecer o quanto ELE nos
ama".
Mas as intrigas e os conluios
maldosos não cessavam e eram tantos, que em 1622, lhe retiraram o
cargo e ela deixou Bordéus. Entretanto, as outras Casas continuaram
a lhe dedicar toda estima, o respeito, o afecto e a confiança
devidos à Fundadora da Ordem. Ela continuou sendo considerada a
Madre Geral da Companhia de Maria, mesmo que esta prerrogativa lhe
tenha sido recusada pela Igreja, e também, não lhe foi permitido se
comunicar com as outras Casas da Ordem, naquele terrível período de
sua vida.
A
CASA DA PEQUENA CIDADE DE “PAU”
Amadurecida pela idade e com a saúde desgastada pelas decepções, não
cessou com o apostolado e foi fundar outra Casa da Ordem na pequena
cidade francesa de Pau. Trabalhando intensamente ali permaneceu até
o ano de 1634, organizando a Casa, administrando todas as
actividades e exercendo um profícuo e perseverante magistério,
ensinando sua experiência de vida as meninas mais pobres. O tempo
que sobrava, no intervalo de suas constantes e sábias providências,
permanecia em silêncio ou em orações, deixando admirados todos os
que tiveram a oportunidade de contemplá-la.
Por
outro lado, em Bordéus, no fim do seu mandato como Superiora da
Ordem, em 1626, a Superiora ingrata, Lucia de Teula, reconheceu os
seus erros e pediu publicamente perdão a Joana de Lestonnac.
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