Josefa Naval Girbés nasceu em Algemesi, Província de Valência,
Espanha, no dia 11 de Dezembro de 1820.
Algemesi era um povoado
eminentemente agrícola, com quase 8000 habitantes, uma única
paróquia, um convento de Dominicanos, um hospital, escassos centros
de instrução e poucas indústrias elementares.
Foram seus pais Francisco Naval Carrasco e Josefa Girbés, e seus
cinco irmãos: Maria Joaquina (morreu pequena), outra Maria Joaquina,
Vicente, Peregrina (morreu aos 14 anos) e a pequena Josefa (que
morreu apenas nascida).
De seus pais herdou Josefa, seu grande espírito de fé, sua ardente
caridade, seu amor ao trabalho e o desejo ardente de viver sempre na
graça de Deus. Maria Josefa recebeu o Santo Baptismo no mesmo dia em
que nasceu.
Desde aquele momento só a chamavam com o nome de Josefa, mas alguns
de seus devotos a seguem chamando de “Senhora Pepa”. Quando Josefa
tinha oito anos, recebeu o Sacramento da Confirmação. Adquiriu uma
cultura elementar, suficiente para desenvolver-se em meio no qual se
passava sua vida. Aprendeu a bordar, actividade que com tanto acerto
ensinou as suas numerosas alunas.
Sua infância transcorre sem acontecimentos especiais. Em sua
formação religiosa colaborou eficazmente sua mãe. Desde pequena
aprendeu a amar à Santíssima Virgem, venerada perto de sua casa, no
convento dos Padres Dominicanos. Desde pequena já manifestava um
carácter recto, um tanto enérgico, que ela depois administraria em
sua actividade apostólica. Fez sua Primeira Comunhão quando apenas
contava com nove anos e, nesta época, se comungava pela primeira vez
apenas aos onze anos cumpridos. Sua mãe morreu quando ela tinha
treze anos.
A
Virgem dos Padres Dominicanos a inspirou que nunca a abandonaria.
Josefa, com seu pai e seus três irmãos, foi viver com sua avó
materna. Resultou em uma perfeita “ama” de casa, nos afazeres
próprios da família. Dedicava um grande e doce cuidado com sua avó
enferma, sem deixar sua vida de piedade nem dar concessões à rotina
do cansaço. A avó morreu quando Josefa contava com 27 anos, ficando
nesta casa com seu pai, seu tio Joaquim e seus irmãos sobreviventes
Maria Joaquina e Vicente. Seu pai morreu aos 62 anos, quando Josefa
tinha 42 anos. Sua irmã Maria Joaquina se casou, morrendo aos 43
anos de idade.
Seu irmão Vicente também se casou, teve três filhos que morreram
muito pequenos, assim como sua esposa, pelo que já viúvo foi viver
com ela. Seu tio Joaquim, um santo varão solteiro, morreu aos 77
anos, em 1870, ano no qual Josefa convidou sua discípula e
confidente Josefa Esteve Trull a viver com ela, a quem, ao morrer,
deixou seus bens em usufruto vitalício para que continuasse sua
obra.
Josefa era de estatura mediana, nem alta, nem baixa; mais delgada do
que gorda; de pele branca e fina; rosto ovalado, tinha um dente
superior um pouquinho levantado que lhe fazia graça; olhos vivos e
penetrantes, porém muito modestos; cabelos castanhos que logo se
tornou grisalho; voz suave e acariciadora; sorria com muita
frequência, porém nunca se lhe viu rir forte; seu andar era
moderado; vestia-se de cor escura, com sapato baixo e algo largo: o
conjunto era de humildade e modéstia. Para melhor agradar e
entregar-se a Deus, em 04 de Dezembro de 1838, escolheu a Jesus como
seu único esposo, e a Ele consagrou para sempre sua virgindade;
permanecendo indiviso seu coração (I Cor 7, 32-34), em sua união com
Cristo fez progressos incessantes e se dedicou com todas suas forças
à sua própria santificação e ao serviço da Igreja e das almas,
demonstrando assim que a virgindade é o verdadeiro sinal e estímulo
do amor e uma muito especial fonte de fecundidade espiritual no
mundo (Documento Conciliar Lumem Gentium 42, Concílio Vaticano II).
Buscava todas as oportunidades para anunciar a Cristo, por palavras
e com obras, tanto aos não crentes, para atrai-los à fé, como aos
fiéis, para instruí-los, confirmá-los na mesma e estimulá-los a um
maior fervor de vida. Com esta intenção ensinava às meninas a
doutrina cristã, visitava aos enfermos, ajudava os pobres,
aconselhava os quantos acudiam a ela, restaurava a paz em famílias
desunidas, para as mães organizava em sua casa um círculo com a
finalidade de conduzi-las à formação cristã, encaminhava de novo à
virtude às mulheres que se haviam apartado do caminho recto e
admoestava com prudência aos pecadores.
Porém, a obra a qual concentrou todos os seus cuidados e energias,
foi a da educação humana e religiosa das jovens, para as quais abriu
em sua casa uma escola gratuita de bordado, actividade manual que
muito conhecia.
Aquela actividade que por si mesma era “comercial”, à qual acudiam
com assiduidade e entusiasmo muitas jovens de todas as esferas
sociais, se converteu em um centro de convivência fraterna, oração,
louvor a Deus, explicação e aprofundamento da Sagrada Escritura e
das verdades eternas.
Deste modo contribuiu eficazmente para o incremento religioso de sua
paróquia, formando assim muito boas mães de família, fomentando o
germe da vocação à vida consagrada e ensinando a todos o que
significa ser membros do Povo de Deus. Por tudo isso, ganhou grande
estima e fama de santidade entre o clero e o povo. Inclusive depois
de sua morte, que ocorreu piedosamente em 24 de Fevereiro de 1893,
continuou estendendo-se sua lembrança devido à santidade de sua vida
e de suas obras. Vestida com o hábito da Terceira Ordem do Carmo,
seu venerável corpo foi depositado em um humilde ataúde.
Pela manhã do dia seguinte, 25 de Fevereiro, se celebrou o funeral
e, pela tarde, o enterro. A caixa mortuária foi levada por suas
alunas; as argolas brancas que pendiam do ataúde, por quatro das
menores. Josefa foi depositada em um nicho que temporariamente
adquirido e, definitivamente em 1902, por dona Josefa Esteve Trull,
sua discípula predilecta. Ali permaneceu incorrupta até seu
translado à paróquia, em 20 de Outubro de 1946.
A
Cúria Arquiepiscopal de Valência iniciou a Causa de sua Canonização
com a celebração do Processo Ordinário informativo durante os anos
de 1950-1952, ao qual se seguiu um processo adicional em 1956. Em 03
de Janeiro de 1987, Sua Santidade João Paulo II aprovava o decreto
sobre as virtudes heróicas de Josefa Naval Girbés, e em Setembro de
1988 o milagre proposto para sua Beatificação. A cerimónia de
Beatificação se celebrou em São Pedro em 25 de Setembro de 1988.
Vocação à Ordem
Secular
Josefa Naval Girbés é, sem dúvida, um exemplo para todos os que são
chamados à santidade sem abandonar o mundo. Quer dizer, sem deixar
seu lugar, sua vida familiar e seu trabalho profissional. Ela
permaneceu no mundo para ser modelo de santidade para os seculares.
Josefa não fez votos para a vida consagrada e não ingressou em um
convento, não por comodidade ou para escapar do rigor da vida
comunitária, já que no mundo, sem sair de sua casa, viveu, em
plenitude, os conselhos evangélicos, para ser um modelo exequível
para a maior parte dos filhos da Igreja que são os seculares. Teve
plena consciência da condição de secular na Igreja, aos treze anos
era uma perfeita “ama” de casa, à frente de uma família composta por
sete membros. Josefa andou pelos caminhos da santidade em total
entrega a Deus e em serviço a seus semelhantes.
À
sua condição de secular temos que aliar a de sua virgindade, que a
introduz na intimidade com Deus e a faz disponível para uma acção
apostólica visivelmente fecunda. Josefa é uma virgem secular, as
duas coisas de uma só vez. Josefa Naval se volta com a bagagem de
suas virtudes e de sua actividade apostólica ao mundo de hoje, tão
necessitado de guias nos caminhos da santidade: uma santidade
imitável pelos filhos da Igreja, chamados a ela em sua condição de
seculares.
Esta mulher de Algemesi viveu no laicado da perfeição evangélica,
entregando-se ao apostolado entre as jovens de seu povo, sendo um
convite para a grande maioria dos cristãos que não foram chamados a
uma consagração especial, e que nem por isso sua dignidade eclesial
é menor. Ela que encheu os conventos de clausura, com virgens de
vida consagrada, permaneceu no mundo para ser testemunho sem ter que
abandona-lo.
Foi testemunha de como a consagração a Deus é sinal e estímulo do
amor e uma muito especial fonte de fecundidade em meio ao mundo.
Santificar-se e santificar! Foi a norma de conduta desta Beata; e
fazer sempre e em tudo a vontade de Deus, em circunstâncias
ordinárias da vida e no cumprimento de seus deveres de estado.
Josefa, sem sombra de dúvida, pensou na possibilidade de orientar
sua vida até algum convento; claro que consultou esta possibilidade
com seu director espiritual, porém, com as luzes que o Senhor lhe
concedeu e que ela recebeu com humildade e obediência e com o
conselho de seus directores, viu claramente que devia continuar no
mundo sendo guia de almas que necessitavam de sua direcção, seu
exemplo de entrega a Deus e da acção benéfica de sua actividade
apostólica. Seu lugar na Igreja esteve sempre bem definido, desde o
mundo para o mundo, desde Deus para os homens.
O
chamamento à perfeição que consiste fundamentalmente na união com
Deus pelo amor, vivendo fielmente sua vontade, foi assumida por
Josefa, desde sua condição de secular. Viver em plenitude o amor a
Deus e praticar esse amor na acolhida do próximo. Ela viveu na
vizinhança dos demais irmãos e irmãs e, nesta vizinhança, o caminho
de sua perfeição. “Procurai a perfeição com simplicidade”, e
insistia: “temos que chegar à perfeição custe o que custar!». O que
ensinava à suas alunas, Josefa o vivia em plenitude. Sempre, com
simplicidade e humildade, com naturalidade; como virgem consagrada a
Deus em meio ao mundo, por cujos caminhos andou nossa Josefa até
essa perfeição, que outras almas alcançam no silêncio dos claustros.
Ideais Vocacionais
Josefa Naval Girbés, como abrindo de par em par sua alma, dizia
muitas vezes: “meu ideal não é largar a vida, senão santificar minha
alma”. Praticou em grau heróico as virtudes teologais da fé,
esperança e amor, cujo exercício, bem sabemos os Carmelitas, nos
levam ao abandono, à abnegação e à doação de nós mesmos, como ideais
vocacionais. Sua vida era toda para Deus: “temos que retorcer a
vontade própria para que solte tudo o que não é vontade de Deus”.
Essa vontade a descobria, com grande espírito de fé, em sua santa
lei e nas obrigações do próprio estado.
O
apreço pelo cumprimento do dever que ela vivia e que ensinou a suas
discípulas, se traduz nestas palavras: “o cumprimento do dever é o
caminho; o grau de amor com que se cumpre é a medida da virtude que
tem a alma». Josefa teve sempre um claro conhecimento da bondade de
Deus, por isso pôs nele toda sua confiança; ela que aspirava aos
bens eternos e trabalhava por consegui-los, contava sempre com a
ajuda de Deus.
Para lográ-los consagrou toda sua vida: seus sofrimentos, que não
foram poucos, ocasionados em grande parte por sua enfermidade, que a
acompanhou desde os trinta anos até sua morte; seus trabalhos, os
domésticos que ela teve que enfrentar desde os treze anos, e os que
ela se impôs na escola-atelier que fundara; seus desvelos
apostólicos que a levavam a preocupar-se com todos os que padeciam
alguma carência material ou moral. Ela esteve sempre nas mãos de
Deus.
Infundir esta confiança no coração de suas alunas foi sua tarefa.
Assim dizia: “que nenhuma de vocês desconfie à vista de seus muitos
pecados; nossa confiança não se apoia no que nós somos, senão no que
Deus é e no amor misericordioso que Ele nos tem». Josefa foi uma
humilde serva do Senhor.
O
humilde reconhece seu nada, sua inteira dependência de Deus e em
suas mãos confia. Anulava-se no templo, ante a imensa majestade de
Deus; e essa atitude humilde se prolongava durante todo o dia, em
que se dedicava a toda espécie de trabalhos, alguns os mais
humildes. Nunca consentiu que suas discípulas lhe ajudassem nos
trabalhos ordinários de sua casa. Amava o retiro e o passar
despercebida. Não falava de se mesma e nem de suas coisas.
Nunca se fez objecto de festas ou de comemorações. Querendo enamorar
suas alunas da virtude da humildade, lhes dizia: “Somos o que somos
diante de Deus; haveremos de fazer as coisas com grande pureza de
intenção. Procedendo desta maneira, se logo nos desprezam, devemos
nos calar e não nos defendermos, ainda que, humanamente, tenhamos
razão». O amor de Deus preenchia toda a vida de Josefa, a fé a fazia
ver a Deus como infinitamente amável.
Ele é o Bem Absoluto que sacia todas as aspirações da alma. Merece,
pois, ser amado. Seu amor era um amor profundo na abnegação, no
sacrifício, na entrega total ao cumprimento de sua vontade: “amar a
Deus é entregar-se; amar a Deus é sofrer; o amor verdadeiro se prova
com o sacrifício”.
Porém sabia que o amor a Deus passa também pelo meridiano do amor ao
próximo. Amar ao próximo por Deus, amor que começa da convicção de
que somos filhos de Deus e irmãos de Jesus Cristo. Tinha muito
presente a Palavra de Deus (I João 4,20). Amou aos seus: a seus
pais, a sua avó, a seu tio, a seus irmãos, ainda que um deles,
Vicente, tivesse com ela um trato pouco amável, quando já viúvo,
veio viver com ela. Amou a seus superiores, especialmente os
sacerdotes, entre os quais cabe destacar a seus sábios directores
espirituais. Amou a suas discípulas, com paixão proporcionada a seu
zelo.
Porém, sobre tudo, amou aos indigentes, aos quais dedicou seus
melhores afãs. Seu amor à cruz foi uma mensagem constante para todas
suas alunas. Assim dizia: “correspondamos ao amor sacrificado de
Jesus em sua paixão. Haveis de levar a vossa cruz, cumprindo o dever
como Deus manda. Sofrei com amor, aproveitando todas as ocasiões de
pequenas doenças. Amar, amar e sofrer em silêncio; o amor se prova
no sacrifício. Sacrificai vossos gostos”.
Alma de vida interior, aspirou sempre à perfeição. Para alcançá-la,
se valeu dos meios que o carisma carmelitano põe a nossa disposição
para fazê-los experiência de vida.
VIDA DE ORAÇÃO
Josefa Naval foi uma alma de profunda vida interior. Sua fé a levava
à convicção de que Deus, Uno e Trino, habita em uma alma em estado
de graça. Ela viveu em plenitude aquele anúncio de Jesus Cristo: “a
quem me ama, meu Pai o amará, e viremos a ele e faremos nele nossa
morada” (João 14, 23). Tão compenetrada estava com essas verdades
que às vezes parecia como absorta em meio de suas ocupações.
Mais de uma vez tinha que se retirar a seu quarto, onde, abstraída,
com as mãos juntas e os olhos fechados, dedicava longo tempo à
contemplação. Alimentava sua vida interior com a Eucaristia e a
oração. Oração vocal que aprendeu dos lábios de sua mãe.
Oração mental que realizava nas primeiras horas da manhã, em sua
paróquia, depois de sua Missa e comunhão. O trato íntimo com seu
Esposo, Jesus, se acentuava na comunhão eucarística de cada dia, que
ela renovava com frequência na comunhão espiritual. E, ao encerrar
as tarefas do dia, antes do descanso nocturno, roubava algum tempo
do descanso da noite para dá-lo a um trato íntimo com o Senhor.
Nesta comunicação secreta com Deus, Josefa experimentava
arroubamentos que silenciava com humildade. Orando durante o
trabalho, exercitando a presença de Deus com jaculatórias, vivia
plenamente a presença de Deus. Dizia insistentemente a suas alunas:
“levai convosco a presença de Deus”; e ajuntava: “tenhamos muita
devoção à Santíssima Trindade, que mora em uma alma em estado de
graça”.
Deste seu espírito de fé na presença de Deus na alma brotava sua
devoção ao Espírito Santo. Como celebrava Sua festa anual!
Pentecostes era ocasião propícia para impulsionar em suas alunas o
amor a Deus que tanto nos ama. Assim, com o motivo desta solenidade,
organizava entre elas, durante três dias, turnos de oração e
penitência.
A
oração do Ângelus ao meio dia, e algumas outras práticas de piedade,
entre as que sobressaía era a reza do Rosário a cada dia, se
possível com suas discípulas. Esta era sua repetida mensagem:
“oração, oração; fazer a cada dia um momento de oração e tudo vos
parecerá maneiro e suave.
Aprendei a falar com Deus sem palavras e fazei assim um momento de
oração meditativa. Diante do sacrário havemos de estar com
grandíssima fé e reverência”; este último conselho ela dizia como
expressão de seu espírito eucarístico.
PENITÊNCIA E
MORTIFICAÇÃO
Consciente das dificuldades que se opõem à perfeição, dizia a suas
alunas: “filhas minhas, não temos que temer demasiadamente as
dificuldades do caminho que temos empreendido; é verdade que esse
caminho é pedregoso e está cheio de trabalhos e privações, porém
também é certo que nosso Divino Capitão o trilhou durante sua vida,
paixão e morte”.
Viveu sempre unida às dores de Cristo, a esses sofrimentos
redentores de Cristo uniu os seus, aquelas dores de cabeça que
sofreu desde os trinta anos até sua morte e as penitências,
inclusive materiais, que se impunha e autorizavam seus directores.
Praticou heroicamente a virtude da fortaleza, que fortalece a alma
para servir a Deus, sem deter-se por nada, nem ante nada, nem sequer
ante o temor da morte. Era exigente consigo mesma, logo o era também
com os demais. Para exercitar-se na fortaleza, seguindo adiante com
exemplo, propunha a suas discípulas a prática da mortificação.
Mortificações às vezes simples, porém saturadas de vitória contra si
própria que pouco a pouco a preparavam a oferecimentos mais amplos e
generosos.
Dizia às suas alunas: “filhas minhas, se é necessária a fortaleza
para empreender o caminho de Deus, não o é menos para aceitar o que
Ele envia ou permite para nossa purificação, a saber: moléstias,
enfermidades, desprezos...”.Outra das virtudes que Josefa exercitou
heroicamente foi a da temperança, necessária para moderar a
inclinação ao prazer sensível, que pode impedir a perfeição e
conseguir assim a posse de Deus. Fez como norma de sua vida aquela
que São Paulo pregava: “castigo meu corpo e o reduzo à servidão” (I
Cor 9,27). Castigou seu corpo, porém com prudência. Sua comida era
sóbria, mas bem pouca e às vezes, voluntariamente, sem sabor. Não
comia carne, a não ser por prescrição médica.
Não bebia vinho (coisa muito comum naquela época e em sua região).
Jejuava com certa frequência. Na Semana Santa não comia nada desde
Quinta-Feira Santa até o dia do “Glória” (noite do Sábado
Santo).Usava cilícios (instrumento de penitência, tipo cinturão
largo ou faixa larga de couro com pontinhas de ferro contra a pele,
nos braços ou abdome), empregava disciplinas (pequeno flagelo de
couro, com o qual a pessoa se auto-açoitava, principalmente durante
a reza de salmos penitenciais, tipo o Salmo 50 e o Salmo 29); sempre
com anuência de seus santos directores espirituais. Sobre tudo
aceitava com amor tudo o que Deus lhe enviava. Suas cruzes eram um
regalo. Nunca comentava sobre seus sofrimentos (enfermidades) que
eram muitos.
À
mortificação exterior superava a interior; essa vitória contra si
própria que ela dissimulava com seu perene sorriso. Ninguém
adivinhava que ela estava constantemente vigilante sobre suas
paixões; porque tudo o fazia com grande naturalidade, sem
sobressaltos, sem por em perigo sua inata longanimidade e equilíbrio
emocional.
APOSTOLADO
Josefa foi uma apóstola de seu tempo, alma entregue a Deus ao
serviço das jovens, especialmente aquelas de pobre condição social.
Seu espírito observador captou as carências das jovens,
profundamente influenciadas pelo ambiente de seu século (Nota: não
estaríamos vivendo agora a mesma realidade?).
Não foi a única na Igreja de seu tempo nesta luta por levar a
salvação de Cristo às jovens mais necessitadas, porém foi uma das
que com maior dedicação, com mais ardor, com mais calor humano se
dedicou a esse trabalho apostólico, desde sua pequenez de virgem
secular, desde sua humilde condição de professora de bordado, desde
suas profundas convicções religiosas, sobre tudo, desde seu ardente
amor pelas almas remidas por Cristo!
Ela se antecipou ao Concílio Vaticano II, vivendo sua condição de
secular no meio do mundo, para o serviço de Deus, em obras concretas
de apostolado. Entregou-se ao apostolado dos humildes num século em
que a classe trabalhadora irrompe na história para defender seus
interesses materiais, ainda que a custa de afastar-se do que ensina
a Igreja, com a delicadeza de uma mulher que, desde sua entrega a
Deus, se fez toda para todos, para levá-los todos a Cristo (à
imitação do Apóstolo S. Paulo). Quando Josefa completava os trintas
anos de idade, seu confessor reflexiona largamente sobre os planos
apostólicos de sua dirigida e aprova a criação daquela
escola-oficina (ou ateliê) como “Coisa de Deus!”.
Aquela casa onde ela foi viver desde os treze anos produziu
fervorosas religiosas, abnegadas esposas, mães de família e jovens
praticantes, de vida secular consagrada. À casa que herdou de sua
avó acudiam as jovens, atraídas pelo zelo ardente de sua mestra, por
sua fé vivíssima, por seu espírito de amor provado no sacrifício,
por seu optimismo, por sua alegria..., e pelo alimento espiritual
que lhes proporcionava.
Tudo por seu amor a Deus, tudo por seu ardente amor pelas almas. A
jornada diária de Josefa acabava sendo muito apertada: levantava
muito cedo para participar da primeira Missa da paróquia, comungava
e praticava oração mental; a seguir dedicava algum tempo à limpeza;
o horário da escola-oficina era das 09 as 12 e das 14 às 18 horas.
Durante a jornada de trabalho, Josefa ensinava bordado, porém isto
era o pretexto para formar a alma de suas alunas no amor a Deus.
O
trabalho era acompanhado de orações, jaculatórias e cânticos
piedosos; entre leituras do Evangelho e da Doutrina Cristã
(catecismo), se escutava a palavra da mestra, suave e enérgica ao
mesmo tempo, explicando os pontos mais incisivos das leituras.
Articulavam-se com estas leituras e orações, largos silêncios, que
Josefa suscitava para que suas alunas se adestrassem na oração. Ali,
nesse ambiente de paz, bordavam seu enxoval as jovens que iam
contrair matrimónio e seu dote as que se preparavam para entrar no
convento. Sua caridade, para com o próximo, teve sempre objectivos
espirituais.
Assim, por exemplo: empenhava-se para que os pais baptizassem quanto
antes a seus filhos recém-nascidos; visitava aos enfermos que
estavam em perigo de morte, procurando que recebessem os últimos
sacramentos; vestia ao desnudo com delicadeza, trocando as vestes
sujas e rasgadas dos mendigos por outras limpas, lavando e
remendando com exemplar caridade aos que deixavam.
Sua casa foi, mais de uma vez, asilo de órfãos. Por duas longas
temporadas albergou crianças que haviam perdido suas mães, cuidando
delas com amor maternal. Quando verdadeiramente brilhou a caridade
de Josefa, foi na epidemia de cólera de 1885, quando contava 65
anos.
Ela e algumas de suas alunas se dedicaram a atender aos empestados
que estavam sozinhos e, portanto, os mais necessitados de ajuda. Sua
caridade se estendia às coisas e actividades aparentemente pequenas
tais como: escutar com paciência e interesse as confidências que lhe
faziam as pessoas desesperadas em busca de conselho.
Era muito respeitosa com a boa fama dos demais. Não tolerava em suas
discípulas a menor palavra de crítica, nem de murmuração.
Lembrava-se das Almas do Purgatório, rezando por elas e ensinando a
suas alunas que fizessem o mesmo. Unida intimamente a seu Divino
Esposo, se cumpriu nela o que Ele disse: “Quem permanecer em mim e
eu nele, este dará muito fruto” (Jo15, 5).
CONSELHOS EVANGÉLICOS
Josefa Naval Girbés, em sua casa, viveu plenamente os Conselhos
Evangélicos de castidade, pobreza e obediência, que são normas das
almas consagradas. A CASTIDADE em plenitude: fez voto de
virgindade aos dezoito anos e tornou norma de vida aquilo que pregou
São Paulo: “Castigo meu corpo e o reduzo à servidão” (I Cor 9, 27).
Sua virgindade lhe alcançou uma perfeita união com Jesus Cristo e
uma disponibilidade maior para engendrar e iluminar almas
consagradas a Deus, e fiéis filhas da Igreja, na vida solteira ou no
matrimónio. Com sua virgindade, demonstrou que pode ser vivida, no
mundo, a total consagração a Deus. Com sua virgindade, ensinou que
esta entrega a Deus é um dos caminhos – sem dúvida, o melhor – para
a santificação própria e a dos demais. No tocante a virtude da
pureza foi fidelíssima observante.
Viveu a mais estrita pureza de alma e de corpo, e ensinou a vivê-la
a suas alunas. Recomendava a modéstia no falar, no vestir e no agir.
Virgem, porém secular no mundo, abre novos caminhos à santidade da
maior parte dos membros da Igreja, que vivem a secularidade. Josefa
viveu e morreu no mundo; foi uma solteira exemplar que, mesmo
fazendo voto de castidade, permaneceu no mundo.
O
Senhor lhe concedeu que seu corpo virginal permanecesse, após sua
morte, incorrupto para sempre! A POBREZA, que lhe veio por
herança, e que ela cultivou até o desprendimento de tudo aquilo que
não era útil ou necessário para seu apostolado.
Desprendimento das coisas, dos bens materiais, do mundanismo, mesmo
da família, porém, sem a menor mostra de egoísmo, que na área da
justiça ensinou a suas alunas. A OBEDIÊNCIA cristã é uma
virtude que nos inclina a submeter nossa vontade à dos superiores
legítimos, que nos representam Deus. A obediência é um tributo de
amor, a quem tem absoluto domínio sobre si mesmo.
Josefa foi sempre obediente, à imitação de Jesus, seu divino esposo.
Assim, no exercício desta virtude, traçou para si mesma, desde muito
jovem, um plano de vida que abarca o cumprimento de suas obrigações
como ama de casa e como professora de sua escola-oficina, o
cumprimento de seus deveres religiosos e o cumprimento de seus
compromissos apostólicos.
A
obediência ao director espiritual foi norma inquestionável de sua
conduta. Às suas alunas mais preparadas, as provava na obediência,
às vezes com a argúcia de que “mudaram de cor” as flores de seus
bordados. Os pais daquelas jovens, educadas assim na obediência,
estavam encantados de que suas filhas exerciam com eles esta
virtude.
VIDA ESPIRITUAL
A
vida espiritual de Josefa, tão plenamente cultivada, não foi um
horto fechado para seu deleite. Ela se comprometeu com a necessidade
de ir à conquista das almas, trabalhando por salvar tantas jovens
ameaçadas pelo estranho ambiente do século (do mundo). Parecia que
Josefa havia intuído aquela frase do Vaticano II, tão dura como
importante: “há-de ser considerado como inútil o membro que não
contribua, segundo sua própria capacidade, para o aumento do Corpo
Místico de Cristo” (AA,2).
Ela entendeu, em seu tempo, que em meio ao mundo, o secular tem de
actuar como fermento e que, para ser eficaz, é necessário viver
unido a Cristo: “aquele que permanece em Mim e Eu nele, este dá
muito fruto, porque, sem Mim, nada podeis fazer” (João 15,5).Uma de
suas discípulas nos descreve o ambiente sossegado de sua
escola-oficina: “Naquela casa se respirava uma atmosfera de fé,
piedade e virtude cristã e, sobre tudo, de alegria e de caridade.
Nossa mestra inspirava devoção e recolhimento: vivia o espiritual
com muita verdade e simplicidade, e nos infundia desejos de sermos
cada dia melhores”.
Durante as horas de aula, atendia em particular às jovens que
necessitavam de cuidado especial. Na habitação na qual ela praticava
sua oração e suas preces, recebia às jovens que ou a pediam ou
aquelas que ela chamava. Umas vezes eram jovenzinhas desejosas de
que lhes ensinasse a praticar oração mental; outras vezes, eram
jovens maiores, as que ela ajudava a desvanecer suas dúvidas e
evitar prejuízos morais e espirituais, pelo que as deixava cheias de
paz e alegria! Também acudiam a Josefa pessoas maiores, mais ou
menos crentes, e com prudência e tato orientava suas vidas, lhes
dava uma grande paz interior. Uma de suas recomendações, era a de
ter um confessor fixo, ter confiança nele e obedecer-lhe. Não
faltaram as meninas pequenas que eram enviadas por suas mães à
escola-oficina, sendo beneficiadas com suas carícias e suas lições
elementares de catecismo.
As alunas mais selectas chegavam a permanecer, terminada a jornada
de trabalho, para prosseguir à sua formação espiritual, de
ordinário, no jardim da casa. Deste grupo escolhido saiu um amplo
“jardim” de jovens religiosas; tantas que o Cardeal Guisasola,
Arcebispo de Valência, em visita pastoral a Algemesi, perguntou
cheio de admiração: “que povo é este que tem tantas religiosas em
todos os conventos de nossa arquidiocese?” Porém, Josefa não
descuidou das jovens com vocação para o matrimónio. A elas dedicou
tempo e esforço.
De sua escola saíram excelentes esposas e mães de família. A “Escola
Dominical”, aos domingos à tarde, depois dos cultos vespertinos da
paróquia, foi outra oficina na qual se forjavam as almas no amor de
Deus! Deixemos que uma de suas alunas nos descreva o ambiente
daquelas reuniões às tardes de domingo: “a casa de nossa mestra era
uma casa de oração. Sua conversação era sobre coisas espirituais,
alentando-nos a seguir, perfeitamente, nossa vocação. Depois de
falar um pouco com ela, se saía dali sem gosto pelas coisas do
mundo.
Suas palavras infundiam espírito de amor pelas coisas do Céu.
Levava-nos a Deus, por amor! Todas suas discípulas, ainda que o
Senhor as tenha chamado ao matrimónio, tem sido piedosas, levando em
suas almas a recordação eficaz de seus avisos. Dizia-nos: ‘haveis de
levar vossa cruz e cumprir o próprio dever como Deus manda: as
solteiras, como solteiras e as casadas, como casadas’”.
Quando Josefa tinha cinquenta e sete anos, o pai de uma de suas
alunas lhe ofereceu o “Horto da Torreta”, coberto de laranjais e
árvores frutíferas, para seu retiro e o de suas alunas. Ali se
retirava com suas discípulas predilectas, ao entardecer dos dias de
primavera e verão. Ali, enquanto anoitecia, empregava Josefa seus
dons de catequista e de forjadora de almas ansiosas de perfeição:
“filhas minhas, imaginemo-nos que estamos aqui como o Senhor,
rodeado de seus apóstolos. Eu, em Seu nome, vos digo: sede boas,
fazei tudo por amor; tende muita caridade uma com as outras; vivei
com espírito de abnegação e sacrifício”.
Naqueles deliciosos entardeceres do “Horto da Torreta”, ressoava
límpida, como a água das fontes vizinhas, a voz da mestra: “Nossa
entrega a Deus há-de excluir todo costume mundano; tudo aquilo que
de alguma maneira Lhe desagrada, como são: o apego às coisas ou
pessoas que nos impedem de cumprir a vontade divina; a vida dos
sentidos que se opõem à perfeição que Deus nos pede.
A
vida superficial, que busca o gosto próprio e agradar ao mundo, não
pode acompanhar-se com o verdadeiro amor». Josefa adestrava a suas
alunas para a vida, era como sua “mãe espiritual”. A ela acudiam
atrás de conselhos e na hora de escolher o estado de vida. Com
aquela segurança que lhe conferia sua íntima união com Deus, dizia a
umas: “vós, ao matrimónio”; e a outras: “Vós, ao convento». Párocos
e sacerdotes, filhos de Algemesi, com discrição e prudência, acudiam
a Josefa, com a qual tinham deliciosas conversações de elevado
alimento espiritual.
Estas visitas de sacerdotes qualificados aumentava, em suas alunas,
a admiração e o respeito que tinham por sua mestra. Muito ajudou a
formar a Josefa a gratificante acção de seus directores espirituais.
Em seu tempo teve a sorte de coincidir com sábios, santos e
experientes párocos, que puseram, a seu serviço, seus dotes de guias
de almas. Ela deu sempre muita importância à “direcção espiritual».
Digna filha de Santa Teresa, a recomendou vivamente a suas amadas
alunas: “sede simples a dar conta ao director; obedecei-lhe com
fidelidade e perseverança; proibido falar mal de confessores...”.
Quando um de seus directores espirituais foi transferido ao povoado
de Alcira, Josefa acudia a sua direcção a cada duas ou três semanas,
durante seis anos, percorrendo a pé a distância, às mais das vezes
acompanhada de alguma de suas discípulas, com as quais entretinha
entranhadas conversações espirituais. Lutou, com denodo, contra a
tibieza, nunca se contentou com um vida espiritual lânguida; sua
intransigência para o mal tinha conotações humanas: sem chegar a ser
áspera em seus modos, ao contrário, era de elegante e solene
carácter, com uma grande capacidade de comando que ela administrou
em favor de suas amadas alunas.
Ela viveu à vizinhança do homem e, nela, o caminho de sua perfeição.
Seu convento foi a casa de sua avó, onde viveu até à morte de sua
mãe; a campana do convento, a voz da superiora, a vida de
comunidade, as regras monásticas que asseguram o bom caminho... Todo
esse modo de vida conventual o resumiu sabiamente Josefa ao ser fiel
à vontade de Deus, explorada na oração e na prudente consulta a seus
directores espirituais. Josefa permaneceu no mundo, para ser exemplo
de santidade para os seculares.
VIDA MARIANA
Josefa aprendeu a amar à Virgem Maria, desde menina, no altar do
Rosário do convento dos Padres Dominicanos. Seu amor se fazia
patente nestas e noutras referências: “Maria, minha Mãe, ensina-me a
ser fiel e a agradar a Deus”. “Virgem Maria, minha Mãe, faz-me pura,
casta, boa e santa”. Acuda-nos a Santíssima Virgem, para que nos
ensine e os ajude a ser fiéis a Deus». Amante da pureza, que ela
havia vivido sempre em plenitude, recomendava às jovens: “Sede
limpas, asseadas no modo de vestir, sede muito honestas como a
Virgem.
Todas as virtudes embelezam a alma, porém, a pureza a embeleza de um
modo especial, fazendo-a semelhante aos anjos». A fé de Josefa se
traduzia em uma acendrada devoção à Virgem. Em prova de sua entrega
filial à Senhora, ela levou em sua morte o Escapulário do Carmo e um
Rosário em forma de colar. O Ângelus, que assinalava ao meio dia o
sino da paróquia, era rezado por todas as alunas, assim como a Ave
Maria a cada hora e aos sábados a “Felicitação Sabatina». Preparava
e celebrava com fervor as solenidades da Virgem. O mês de maio, em
honra da Virgem, se celebrava na escola-oficina com orações, cantos
e oferecimento de flores.
Com que alegria celebrou Josefa a declaração dogmática da Concepção
Imaculada de Maria! Para recordar tão grato acontecimento,
impulsionou a criação da “Corte de Maria” em Algemesi. Como
Carmelita Secular, Josefa tinha uma especial devoção à Santíssima
Virgem do Carmo, como tal, em repetidas ocasiões pediu a suas
discípulas que, à sua morte, a vestissem com o hábito do Carmo,
desejo que se cumpriu fielmente. Esta filiação Mariana a soube
transmitir às suas alunas; bastem-nos estes testemunhos: em uma das
casas de Algemesi se conserva um grande quadro da Virgem do Carmo,
bordado em ouro e seda pela senhora Vicenta Morán através da
direcção da “Senhora Pepa”, como era conhecida Josefa em sua terra
natal no ano em que morreu nossa Beata.
Outro feito mencionado por seu biógrafo relata que, às vésperas de
uma das festas da Virgem do Carmo, a uma das discípulas predilectas
de Josefa, que se encontrava moribunda, se lhe ouviu invocar à
Rainha do Carmelo com estas palavras: “Minha Mãe do Carmo, vem por
mim”, e ele mesmo comenta, “feliz alma que assimilou perfeitamente a
doutrina e o espírito de sua santa mestra” VIDA FRATERNA, em
plenitude, o amor a Deus e, verificar esse amor na acolhida ao
próximo, foi norma de sua conduta.
Deste amor, brotou seu zelo pelas almas e seu afã por ensinar-lhes
este modo de pensar e viver. Josefa era de estatura mediana, nem
alta, nem baixa; mais delgada que gorda; pele branca e fina; rosto
de forma algo oval, tinha um dente superior um pouquinho levantado
que lhe dava um ar de graça; olhos vivos e penetrantes, porém muito
modestos; cabelos castanhos que logo ficaram algo grisalhos; voz
suava e acariciadora; sorria com muita frequência, porém nunca se
lhe viu rir forte; seu andar era moderado; vestia-se de negro, com
sapato baixo e um pouco largo: todo o conjunto era simplicidade e
modéstia. Tinha muito talento natural e, muita luz e graça de Deus.
A
isto uniam um grande coração de mãe, que ardia em amor pelas almas
que queria salvar. Tudo isso motivava o grande amor, a obediência e
a fidelidade que sentiam por ela suas discípulas. Josefa penetrava o
interior das almas, se adiantava ao que queriam dizer-lhe, lia em
seus corações; estas qualidades lhe deram um grande prestígio e
autoridade em seu povo, fazendo com que todos a quisessem bem, a
respeitassem e obedecessem. Para atrair as almas, primeiro
tratava-as com doçura e amabilidade, porém, quando as conquistava,
as estimulava, energicamente, para que não se contentassem com
pouco, se podiam fazer mais, para servir melhor a Deus e ao próximo.
O modo de falar de Josefa era simples, modesto e humilde, começava a
falar sempre dizendo: “Filhas minhas...”.
Não havia nela ar de suficiência, nem se engrandecia ao ver quantas
pessoas acudiam a ela em busca de conselho, por sua fama de
prudência e santidade. Ademais, ao pregar às suas discípulas, o
fazia com tal fogo e espírito, que nos disse uma delas: “Quando nos
falava de Deus, tinha muita unção, se emocionava e lhe saíam
lágrimas». O que ela havia semeado produziu muitos frutos,
especialmente manifestos durante seus últimos dias nesta terra.
Quinze dias, esteve na cama em Fevereiro de 1893; pressentindo
aproximar-se a hora de sua morte, no dia 22 (de Fevereiro) mandou
trazer seu confessor. No dia 23 recebeu os últimos sacramentos. Suas
discípulas chegavam à casa: todas queriam vê-la morrer.
Com aquela lucidez que Deus lhe concedeu até sua morte, Josefa lhes
dizia: “Filhas minhas, filhas de meu coração: que nenhuma me falte
lá no Céu. Depois de minha morte, abandonareis o caminho
empreendido?... Sempre adiante, nunca para trás!... E continuava
lenta, pausadamente, com os olhos apenas abertos: “Filhas minhas:
permanecei muito unidas, como os apóstolos”. Assim como as brasas
que estão muito unidas, conservam o fogo, e as que estão separadas
prontamente se apagam, assim vós, se permaneceis unidas, falando das
coisas de Deus, conservareis o fogo do fervor; porém, se vos
separais e deixais de tratar estas coisas do espírito, o fogo se
apagará... Eu me vou; porém espero que persevereis no género de vida
que haveis aprendido”.
No dia 24 entrou Josefa nesse tranquilo torpor que precede à morte,
todo o dia com os olhos fechados, estava recolhida, como em êxtase,
porém falava com um fio de voz quase imperceptível, pedindo que
rezassem com ela jaculatórias e outras orações, repetindo acção de
graças e que consolo elas lhe estavam dado! Pela noite, na hora de
morrer, abriu os olhos e, com voz fraca, porém perceptível,
perguntou: “estais todas?”. E acrescentou: “minhas filhas, vou
deixá-las!”. E insistiu: “estai unidas, sede fervorosas,
sacrificai-vos por Nosso Senhor”. Fez um esforço, o coração lhe
atraiçoava, olhou pela última vez às suas discípulas e, com voz
apagada, lhes disse: “filhas minhas, filhas de minha alma...” e
expirou. Eram 20 horas e 30 minutos do dia 24 de Fevereiro de 1893.
VIDA ECLESIAL
Josefa foi uma fidelíssima filha da Igreja. Com os olhos da fé, via
nela a obra mestra de Jesus Cristo! Com que convicção falava a suas
alunas da veneração que devemos ao Papa, aos bispos, aos sacerdotes,
aos religiosos. Assim lhes dizia: “filhas minhas, obedecei com
rendimento a Sua Santidade o Papa, rogai muito por suas intenções e
necessidades; amai muito a Igreja e atendei a seus mandatos e
conselhos”.
Ela amou apaixonadamente a Igreja e infundia esse amor às almas que
se acercavam a ela. “Amemos a Igreja a que pertencemos e
aproveitemo-nos de seus meios de santificação. Tenhamos respeito e
veneração pelos ministros de Deus». Josefa viveu e morreu em um
século difícil para a Igreja. Foi consciente do que ocorria, sofreu
com ela e compartilhou suas alegrias. Dois Papas sofreram exílio da
cidade de Roma; perderam-se os Estados Pontifícios e se instalou o
movimento trabalhista com virulência (contra o catolicismo)
implacável. O Papa Leão XII, que reinou durante 06 anos, promove a
acção missionária da Igreja na política exterior.
Criam-se novas dioceses em vários lugares e em lugares fora da
cristandade se firmam novas concordatas. Porém, a cristandade do
século XIX, em seu conjunto, cumpriu deficientemente seus deveres
sociais e, por esta razão, se tornou culpada da apostasia da classe
trabalhadora, boa parte da qual passou às fileiras do bolchevismo,
fundamentalmente ateu. “O grande escândalo do século XIX foi perder
a classe trabalhadora”, exclamou, alguns anos depois, o Papa Pio
XI.A actividade de Leão XIII e do bispo Ketteler no campo
trabalhador, nós temos que aluir das acções empreendidas pelos mais
diversos personagens da Igreja, para elevar o nível religioso e
cultural dos proletários daquele tempo.
Valência não podia permanecer afastada dessa luta. A partir de 1808,
vários arcebispos empreenderam, de diferentes formas, a restauração
religiosa da arquidiocese. Em Algemesi, sem dúvida, encontraram
ressonâncias especiais estas iniciativas: dada sua profunda
religiosidade e com a sorte de contar com uns sábios e santos
sacerdotes ao serviço dos fiéis. Nossa Beata viu sempre próxima de
si a Igreja, nessa célula dela que é a paróquia. Seu amor (e
serviço) à paróquia é uma das mais destacadas facetas de seu
espírito eclesial.
Os párocos foram modelo de zelo pastoral: Josefa encontrou neles uns
guias seguros para sua vida espiritual e uns auxiliares maravilhosos
para suas obras de apostolado. Neste agitado ambiente do século XIX,
tenso no campo civil e religioso, especialmente no social, uma
virgem secular chamada Josefa punha em marcha uma escola-oficina
para a conquista e formação das jovens, e uma escola de formação
para casadas e mães. Era sua contribuição ao movimento social da
Igreja para a cristianização dos humildes.
Um tempo apaixonante que não permitia descanso, um tempo que Josefa
aproveitou para passar, como seu Divino Esposo, “fazendo o bem”
(Atos 10, 38).Amar, frequentar e ajudar a paróquia era o tripé de
conclusões às quais ela chegava em sua visão de comunidade
paroquial.
À
limpeza e decoro do templo paroquial dedicava tempo e esmero nossa
Josefa. Sua casa era a rouparia da paróquia, ali se costurava a
roupa branca de uso litúrgico, se reparavam os ornamentos e se
bordavam em seda e outros tecidos as ricas vestes das solenidades.
Todavia, hoje, as descendentes das jovens que, com Josefa, limpavam
o templo, seguem fazendo o mesmo ofício. Prova evidente de que os
gestos, atitudes e trabalhos que realizava Josefa, marcaram fundo
suas
CONCLUSÃO
Naval Girbés, virgem, porém secular no mundo, abre novos caminhos à
santidade da maior parte dos membros da Igreja, que vivem a
secularidade. Importante é a vida consagrada, porém a santidade,
feita de amor a Deus e de amor ao próximo, não fica apenas guardada
no convento ou no sacerdócio. Josefa, virgem, porém secular, é um
exemplo! Ela viveu e morreu no mundo, deixando atrás de si um
caminho de luz que seque iluminando àqueles que, na secularidade,
buscam a perfeição cristã. Seu mundo, o agitado século XIX, sua
casa, sua oficina de trabalho, sua catequese, seus círculos de
formação de mulheres, suas obras de caridade, eram seu convento!
Dali, ela irradiava amor, amor que alimentava com uma intensa vida
interior, cultivada com esmero e tensão, porém nunca perdeu o
contacto com as pessoas. Vivia entre o povo, atenta às suas
necessidades, que fazia suas, ajudando a remedia-las, através dessa
proximidade que sua condição de secular propiciava. Exemplo e
palavra! Com que claridade viu Josefa o agir do cristão secular,
fermento das estruturas sociais, segura de que, com sua maneira de
viver, e com procedimentos de apostolado, percorria o caminho
traçado para uma cristã secular em vista de sua santificação pessoal
e a dos demais!
Fonte: http://pastoralvocacionalcarmelitana.blogspot.com/
Palestra proferida por Giovani Carvalho Mendes, no V Congresso
OCDS Norte/Nordeste, realizado de 22 a 25/05/2008, em Fortaleza-CE.
Fonte :
http://saoroqueocds.blogspot.com/ |