Santa
Juliana nasceu no ano de 1193, numa aldeia denominada Retinne,
situada próxima à cidade de Liège, na Bélgica. Conviveu pouco tempo
com os pais, pois ficou órfã com apenas cinco anos de idade. Em
decorrência disso, Juliana e sua irmã Inês, foram confiadas aos
cuidados das irmãs agostinianas em Monte Cornillon, onde receberam
esmerada educação e viveram piedosamente. Quando completou 14 anos
de idade, ingressou definitivamente na comunidade das irmãs
agostinianas.
Desde
a mais tenra infância, sempre nutriu muito amor, possuindo em grau
elevadíssimo, admirável devoção ao Sacramento da Eucaristia. Deus a
preparava e lhe infundia grandes conhecimentos, além do que se
tornaria ela um instrumento em Suas mãos para a missão de difundir o
valor da Sagrada Eucaristia.
Um dia,
no ano de 1208, Juliana quando em oração, teve a visão de um astro,
semelhante à lua cheia brilhante, mas com uma pequena incisão preta.
Temendo estar sendo vítima de uma ilusão maligna, suplicou
ardorosamente ao Divino Mestre que lhe esclarecesse tais visões, as
quais passaram a se repetir, consecutivamente, todos os dias.
Somente após dois anos foi que Nosso Senhor revelou-lhe o
significado: “A lua representa a Igreja e suas festas, e a incisura
significa a falta da solenidade, cuja instituição eu desejo, para
despertar a fé dos povos e para o bem espiritual dos Meus eleitos.
Quero que uma festa especial seja estabelecida em honra ao
Sacramento do Meu Corpo e do Meu Sangue.”
Persuadida a realizar a vontade de Deus, porém, no momento em que
julgou apropriado, Juliana indicou às autoridades religiosas a
missão que havia recebido. Comunicou as aparições a Dom Roberto de
Thorote, o então bispo de Liége e ao douto Dominicano Hugh; também
comunicou o facto ao bispo dominicano Jacques de Pantaleón que
viria, mais tarde, a ser eleito Papa (Urbano IV).
Em
1246, Dom Roberto concedeu aprovação junto ao seu escritório e em
1246, convocou um sínodo, onde requisitou que todos seus padres,
religiosos e leigos. Disse a festa do Santíssimo Sacramento seria
comemorada na quinta-feira seguinte à festa da Santíssima Trindade.
Mas, em 16 de outubro daquele mesmo ano, o bispo veio a falecer e
não pode ver cumpridas suas ordens.
Muitos
religiosos, porém, que há tempos haviam se unido em forte oposição à
instituição da festa, ficaram aliviados com a morte do bispo
Roberto; afirmavam eles que a narrativa de Juliana era fruto da sua
imaginação; mediante diversas articulações e mentiras, instigaram a
população local e perseguiram implacavelmente a religiosa, que foi
mandada para um lugar chamado Namur, por ordem de seu Superior Geral
Roger, que também alimentava muitas desconfianças sobre as
declarações de Juliana. Mais tarde o Superior perdeu sua posição e
Juliana teve autorização para retornar ao mosteiro de Cornillon. No
ano seguinte, porém, Roger foi novamente designado a dirigir o
mosteiro, tendo Santa Juliana sido enviada novamente para Namur.
Apesar
destas articulações, o Cardeal Cher, que era dominicano, decidiu
instituir alguns anos depois em toda a diocese, a nova festa
dedicada ao Corpo de Deus. A primeira delas foi celebrada na igreja
de São Martinho, em Liége. O próprio cardeal foi quem conduziu a
celebração, num grande cerimonial, cujos ritos canónicos acabaram
sendo adoptados posteriormente por modelo, em toda a Igreja
universal.
Santa
Juliana estava repleta de alegria, ao ver sua visão feita real.
Estava ansiosa para ver a festa em honra ao Santíssimo Sacramento
ser estendida à toda a Igreja, mas não viveu o suficiente para isso.
Passou os últimos anos numa vida solitária e morreu em Fosses, no
dia 5 de abril de 1258.
No ano
de 1261, o referido bispo Jacques de Pantaleón veio a assumir o
governo da Igreja, sob o nome de Urbano IV. Foi ele que, como
mencionado, havia pessoalmente recebido o relato das visões de Santa
Juliana, quando era bispo. Sucede que, no segundo ano de seu
pontificado, junto à localidade de Bolsena, ao Norte de Roma,
ocorreu um grande milagre eucarístico: Um sacerdote que celebrava a
Santa Missa, duvidou da presença real de Cristo na Eucaristia e no
momento de partir o Pão, viu dele sair sangue, que em seguida foi
empapando o corporal. A veneranda relíquia foi levada em procissão a
Orvieto em 1264. Hoje se conservam os corporais, o cálice e a
patena, bem como a pedra do altar em Bolsena, manchada com o Sangue
de Cristo. O Santo Padre, então, determinou que a festa do Corpo de
Cristo fosse estendida a toda a Igreja Universal, através da bula
“Transiturus”, de 8 de setembro de 1264, fixando-a para depois da
oitava de Pentecostes. Foi nesta época que o Papa Urbano IV
encarregou um ofício, designando São Boaventura e São Tomás de
Aquino para elaborarem o hino oficial dedicado ao Santíssimo
Sacramento (Tantum Ergo Sacramentum). Os hinos seriam por eles
apresentados, para que fosse feita a escolha definitiva. No dia
indicado, na presença do Pontífice, quando se começou a entoar a
música com a letra de São Tomás de Aquino, São Boaventura
maravilhado, tomou nas mãos seus apontamentos e os foi rasgando em
pedaços. |