São Lourenço, bispo de Siponto (sul da Itália) [† 546]. São incertas
as notícias sobre sua figura. Provavelmente consagrado bispo pelo
papa Gelásio (492), salvou Siponto da destruição por parte dos
invasores Ostrogodos, apresentando-se diante do rei Totila. É
padroeiro da cidade italiana de Manfredónia.
Sabe-se
todavia que foi durante o seu pontificado que se deu a aparição de
S. Miguel Arcanjo no Monte Gargano. Este Santo Bispo ali se deslocou
e celebrou, reconhecendo assim a dita aparição do Príncipe dos
Arcanjos.
*****
«Nos
fins do século V, quando na Cátedra de São Pedro regia a Igreja o
Papa São Gelásio, um pastor que apascentava seu gado no alto do
Monte Gar-gano, na Itália, província da Apúlia, querendo obri-gar um
novilho a sair de uma caverna onde se refu-giara, desferiu lá dentro
uma flecha, a qual retro-cedeu com a mesma velocidade, vindo ferir
quem a lançara.
Este
fato causou admiração nos que presenciaram este acontecimento e a
notícia foi longe e chegou também aos ouvidos do Bispo de Siponto,
cidade que ficava no sopé da montanha.
Julgou
ele tratar-se de algum misterioso sinal da parte de Deus e ordenou
um jejum de três dias em toda a diocese, pedindo ao Senhor se
dignasse reve-lar-lhe do que se tratava. Deus escutou as orações do
Prelado e, passados três dias, apareceu-lhe o Arcanjo São Miguel
declarando-lhe que o Senhor queria que a ele, Anjo tutelar da
Igreja, e aos outros Anjos, se edificasse naquela caverna, onde se
manifestou o prodígio, uma igreja em sua honra, para reavivar a fé e
a devoção dos fiéis no seu amor e protecção, como Anjo custódio da
Igreja Católica.
Foi durante o Pontificado de S. Lourenço de Siponto que
ocoreu a aparição do Archanjo S. Miguel no Monte Gargano,
na Itália. |
Tendo o
Bispo comunicado ao povo a visão que tivera e o que lhe fora pedido,
foi ele próprio, com muita gente, observar o local. Encontraram uma
caverna espaçosa em forma de templo, cavada na rocha, com uma fenda
natural na abóbada, de onde jorrava a luz que a iluminava. Nada mais
era preciso que pôr um altar-mor para celebrar os Divinos Mistérios.
Levantado o altar, o Bispo consagrou-o. Todos os povos vizinhos
acudiram para a cerimónia cheios de alegria e a festa durou vários
dias.
Nunca
mais até hoje se deixou de celebrar ali a Santa Missa, como também
os outros ofícios litúrgicos, e Deus consagra este lugar através dos
séculos, com graças e milagres de toda a espécie, em favor dos que
lá acorrem, doentes de corpo e alma, mostrando quanto Lhe é grata a
devoção em honra do glorioso arcanjo São Miguel que defendeu, quando
da revolta de lúcifer, a fidelidade ao Deus Uno e Trino, soltando
este grito: QUEM É COMO DEUS?
Dois
anos depois da primeira aparição do Arcanjo São Miguel no Monte
Gargano, quando da invasão da armada do rei godo Odoacro, São
Lourenço, Bispo de Siponto, diocese a que pertencia Gargano, subiu
ao local para pedir protecção a São Miguel que ali pedindo ao povo
que o acompanhasse na oração e no jejum e se aproximasse dos
Sacramentos da Confissão e da Comunhão.
Na
aurora do dia 29 de Setembro do ano 492, estando o Bispo em oração,
apareceu-lhe São Miguel, prometendo-lhe a vitória mas dando ordens
para que não se atacasse o inimigo antes das quatro horas da tarde,
a fim de que o sol fosse testemunha do seu poder.
À hora
fixada, os sipontinos saíram da cidade ao encontro dos bárbaros. O
céu estava sereno. Mas eis que se ouviu um grande trovão, uma nuvem
espessa cobriu o Monte Gargano. São Miguel desprendeu dessa nuvem
flechas inflamáveis e fez compreender que a tempestade fustigava os
bárbaros que, espavoridos, fugiram em debandada. Estas flechas não
atingiram os sipontinos que perseguiam os invasores até perto de
Nápoles.
O Bispo
com o povo subiram à gruta do Arcanjo e todos viram, à entrada, os
traços dos pés de um homem, gravados na rocha, indicando a presença
de São Miguel. Com lágrimas nos olhos, todos beijaram comovidos
estes traços, que eram testemunhas da presença angélica que os
defendera.
A
terceira aparição de São Miguel deu-se deste modo: No dia 8 de maio
de 493, São Lourenço, o Bispo de Siponto foi com o povo ao Monte
Gargano, à entrada da gruta, para agradecer a DEUS, a aparição de
São Miguel. Tinha um grande desejo de lá entrar para celebrar o
Santo Sacrifício da Missa, mas por respeito, não entrou.
Como o
Papa São Gelásio se encontrava numa localidade perto, onde fora no
seu múnus pastoral, mandou-lhe emissários a expor-lhe o assunto de
transformar a gruta num santuário.
O Santo
Padre disse que se devia escolher o dia 29 de Setembro, dia da
vitória sobre os godos, para se dedicar a igreja localizada na
gruta, fazendo dela um templo em honra a São Miguel e aos Anjos.
Recomendou que se fizessem preces públicas para conhecer a vontade
do Arcanjo. Estas preces foram ouvidas e São Miguel apareceu pela
terceira vez a São Lourenço, Bispo de Siponto, e disse: "Cessa
de pensar mais, decide-te a consagrar a minha gruta que eu escolhi
para meu domínio e que consagrei com os meus Anjos; tu verás os
sinais ardentes desta consagração, a saber: a minha imagem colocada
por mim, o altar edificado pelos Anjos, meu manto e minha Cruz. Esta
noite, tu e mais sete bispos, entrareis na minha gruta para aí
rezardes com a minha assistência. Amanhã celebrarás o Santo
Sacrifício da Missa e comungarás com o povo. Haveis de ver quantas
bênçãos espalharei neste tempo."
Tudo se
fez como São Miguel recomendou. Penetrando na gruta, viram a imagem
milagrosa de São Miguel lutando contra lúcifer, o altar armado com
uma Cruz de cristal com cinco palmos, um manto cor de púrpura,
símbolo do Amor de Deus, e no fundo uma fonte milagrosa.
O Bispo
celebrou a Missa, deu a Sagrada Comunhão ao povo. Em seguida, mais
três altares foram consagrados na gruta. O Papa mandou então que
este fato passasse a ser celebrado na Igreja Universal no dia 29 de
Setembro de cada ano.» |