O Cónego Luís
Boccardo, presbítero da Arquidiocese de Turim, nasceu em Moncalieri (Itália) a 9
de Agosto de 1861. Entrou no Seminário diocesano em 1875, recebeu a Ordenação
sacerdotal a 7 de Junho de 1884 e,
em seguida, foi destinado como vice-pároco do
irmão, o Beato Cônego João Maria Boccardo, pároco de Pancalieri.
Quase um ano
depois, o beato Cónego José Allamano chamou o Padre Luís para ser vice-reitor e
padre espiritual dos jovens presbíteros do Internato Eclesiástico da Consolata
de Turim. O Internato Eclesiástico da Consolata era uma instituição idealizada e
realizada pelo teólogo Luís Guala. Era um colégio onde os sacerdotes
recém-ordenados, antes de serem enviados para as paróquias como vice-párocos,
permaneciam por dois anos para aperfeiçoar os estudos, de modo especial os de
moral. Durante o reitorado de São José Cafasso (1849-1860) o Internato teve o
momento mais luminoso da sua história.
Em 1913, o
fundador das Irmãs "Pobres Filhas de São Caetano", Padre João Maria, faleceu
deixando como herança ao seu irmão Luís a Congregação, já bastante difundida em
várias regiões da Itália, da qual se tornou o superior-geral. Em 1919, o Bispo
de Turim confiou-lhe também a direcção do Instituto para os Cegos, que se
encontrava numa situação financeira muito difícil.
Naqueles anos o
Padre Luís saneou a balança do Instituto para os Cegos, organizou a vida da
congregação das irmãs Pobres Filhas de São Caetano e construiu a sua nova
Casa-Mãe em Turim. Fundou e dirigiu a secção piemontesa da União Apostólica do
Clero, escreveu apreciadíssimos livros de espiritualidade e hagiografias,
escreveu artigos em vários jornais, pregou dezenas de cursos de exercícios
espirituais, trabalhou nos cárceres, foi confessor no santuário da Consolata.
Fundou escolas de
religião, nelas ensinou e dirigiu-as, num período em que o ensino da religião
tinha sido abolido das escolas estatais pelo regime de Mussolini. A
característica mais saliente da figura do Cônego Luís Boccardo, que o torna até
hoje muito actual, foi sem dúvida o assíduo empenho na direcção espiritual, para
a qual verdadeiramente deu o melhor de si.
Em 1931 construiu
e doou à diocese de Turim o precioso santuário de Jesus Cristo-Rei e Sacerdote,
o primeiro a difundir no Piemonte esta devoção proposta pelo Papa.
Em 1932 fundou o
ramo contemplativo das irmãs Pobres Filhas de São Caetano, as "Filhas de Jesus
Rei e Sacerdote", religiosas não videntes de vida contemplativa, que até hoje
dão continuidade à entrega de se consumirem pelo Senhor na oração para o bem de
todos os homens.
O bom Cónego
faleceu no dia 9 de Junho de 1936. O seu corpo repousa no santuário por ele
edificado.
O processo para a
causa de beatificação e de canonização teve início em Turim, no dia 8 de Agosto
de 1961.
Mas, que sentido
pode ter o emprego de tanta energia, força, recurso, trabalho e pesquisa
histórica, para fazer conhecer um sacerdote que viveu há mais de setenta anos?
É preciso dizer
que a Igreja beatifica e canoniza, ou seja, apresenta a uma diocese, a um
instituto religioso ou até mesmo ao mundo inteiro, as pessoas que julga
exemplares para celebrar a santidade de Deus, o três vezes santo; e isso não é
pouco se nos recordarmos que o Senhor nos quer santos, isto é, felizes por
sermos seus filhos!
Relativamente ao
Padre Luís, podem ser citados três motivos muito importantes e válidos para a
beatificação: o amor pelo sacerdócio; a "pastoral de ambiente" e a atenção aos
portadores de deficiências.
Antes de tudo, o
amor pelo sacerdócio e pelos presbíteros. A sua dedicação aos sacerdotes,
silenciosa e escondida, mas muito eficaz e necessária. Hoje de todas as partes
se sente a exigência de considerar a figura do presbítero (diocesano ou não) e
de se ocupar concretamente dele, dos seus problemas ligados à saúde, à
espiritualidade, à frustração da pastoral e ao seu crescimento humano e
afectivo. O Padre Luís amou o seu seminário e trabalhou por ele: a formação
poderia ser um ponto de partida para um repensamento sobre o sacerdócio.
Por toda a sua
vida, o Padre Luís dedicou-se ao difícil, massacrante, silencioso e pouco
visível serviço pastoral da direcção espiritual. Embora nunca tenha sido pároco,
ele trabalhou na "pastoral de ambiente" como é definida hoje com termos
modernos. Se o seminário é o ponto de partida, este poderia ser a indicação para
o caminho: um repensamento da vida e do testemunho do sacerdote nas várias e
concretas situações da vida.
O terceiro e
último motivo para a beatificação: poucos anos antes de morrer o Padre Luís
fundou as irmãs Filhas de Jesus Rei, não videntes de vida contemplativa. A
atenção aos portadores de deficiências não é uma novidade para o Cônego Boccardo
que durante toda a vida, com efeito, se prodigalizou pelos doentes e
deficientes, pelos que nada contavam.
"Proclamam-se
demasiados beatos", disse alguém. Pode ser... Mas, nesta sociedade
frequentemente desorientada e fragmentada, sejam bem-vindos os exemplos daqueles
que souberam descobrir o Senhor como único centro unificador da própria
existência. Bem-vindos os santos intercessores junto do coração de Deus Pai a
fim de que possamos descobri-lo, conhecê-lo e amá-lo como fonte de toda a
santidade, inclusive da nossa!
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