Maria da Conceição Pinto da Rocha nasceu a 16
de Dezembro de 1889, em Viana do
Castelo,
passando nesta cidade, quase toda a sua vida “escondida em Cristo”
Faleceu a 2 de Outubro de 1958, com 69 anos
de idade.
Ela própria nos dá os dados biográficos e o
itinerário espiritual, em documentos redigidos com simplicidade, escritos por
obediência.
– Nasci de pais de condição humilde, mas
muito crentes e piedosos. Aos 14 anos senti a minha alma impelida
sobrenaturalmente a fazer a doação de mim mesma à Sagrada Família, entregando-me
aos seus cuidados, para acompanhar a infância de Jesus na imitação do Seu
crescimento nas virtudes e seguir Jesus nos trabalhos de Seu apostolado
redentor, que Ele quisesse de mim”.
– “Dos 19 aos 24, impulsionada pelo exemplo
de santa Teresinha, ofereço-me como vítima ao Amor Misericordioso. (Cf.
“Reparação Expiadora”, Ed das Irmãs Reparadoras Missionárias da Santa Face,
Lisboa, 1967, p. 29-30).
– Dos 24 aos 28, Jesus convida-me a ser
vítima de Sacrifício. (ib. P. 183).
Aos 28 anos de novo me convida, agora, a ser
vítima de Expiação por todos os pecados do mundo... (ib. P. 211).
É nesta etapa de caminhada, aos 28 anos, a 17
de Outubro de 1917, que o Senhor lhe dá a conhecer o Seu plano sobre ela, o seu
carisma pessoal e a sua missão. Como um “pensamento estranho” o Senhor faz-lhe
sentir o Seu apelo:
“Assim como Jesus fez Seus os pecados dos
homens, imolando-se por eles, como vítima de amor ao Eterno Pai, oferece-te
também tu, com Jesus e em Jesus (como se tu e Ele fôsseis um só), pela salvação
do mundo”.
“Cê como a minha Mãe, Rainha dos Mártires,
junto à Cruz, se ofereceu como Vítima e com amor de Mãe pela salvação dos
homens. Segue-a, fazendo tu, agora, as suas vezes..., continuando a sua missão
de vítima co-redentora com Jesus...
Fazendo tu isto, assim como Ela foi Mãe do
género humano, assim tu serás Mãe dos pequenos pecadores e também de outras
almas vítimas que hão-de vir e formar uma família religiosa, umas no convento e
a maior parte delas no meio do mundo” (ib. P. 31).
Porém, Maria da Conceição, consciente de que
abrir um caminho não é fácil e supõe por vezes o martírio, apressa-se de expor à
Igreja – no receio de se iludir e na busca da Verdade que sempre a caracterizou
– redige ela mesma, apesar da sua falta de cultura, um Memorial ao Papa Pio XI,
apresentando o “plano”, que é benevolentemente acolhido e estimado à execução:
“Um só desejo venho depor aos pés de Vossa
Santidade: se a vossa alma Santíssima abençoa e deseja que algumas almas já
oferecidas em holocausto pelos pecados do mundo formem uma só família
religiosa..., vivam, segundo o chamamento Divino a imolarem-se diariamente numa
vida de oração contínua, tendo ao lado também uma parte activa... de apostolado
de Misericórdia, de socorro aos infelizes;;;”
Estas almas oferecidas segundo a sua vocação
de “vítimas interiores pela
redenção dos homens, continuando a redenção de
Jesus Redentor...” (ib. 9. 47-48)
e o holocausto de Maria junto à Cruz
(manuscrito de Junho de 1933).
Os restantes anos da sua vida foram acto de
profunda e constante fidelidade à realização desta missão, na fé pura, como
Abraão. A Fundação, como todas, encontrou resistências humanas, mas ela pedira
ao Senhor para as passar todas em sua vida.
Assim foi, morrendo antes de ver iniciada a
Obra, como o Senhor lhe fizera sentir através dum sonho que muito a
impressionara (manuscrito de 1930 – Sonho dos 2 eventos).
Seus inúmeros e inéditos escritos retratam a
sua vida interior e alto grau de vivência das virtudes teologais, sua
experiência e profundo conhecimento da psicologia humana, seu dom de
discernimento, sua exigência evangélica radicalmente aberta aos valores da
pobreza, humildade, caridade misericordiosa, obediência até à morte e sua
loucura pela Cruz, em ordem à salvação dos homens.
Após 25 anos do falecimento, fez-se a
exumação dos restos mortais, a 4 de Outubro de 1983, de forma canónica, em ordem
a uma futura Introdução da Causa de Beatificação. Tudo aconteceu como um dia
predissera: "de mim, não ficará nada”. Deixou, porém, abundante doutrina sobre o
espírito de vítima, que procurou viver e ensinar às companheiras e do qual
escreveu um dia: “A alma vítima é pó que
todos tem o direito de pisar”.
Circular manuscrita – Abril de 1940
Fonte: Patriarcado de
Lisboa |