Filha de um brilhante advogado e excelente católico, sua mãe era uma
digna sobrinha bisneta da Venerável Ana Madalena Remuzat, a
visitandina que durante a peste de 1720 havia conseguido que
Marselha se
consagrasse ao Coração de Jesus. Assim, a devoção ao
Sagrado Coração era considerada "património familiar".
Maria nasceu em Marselha a 28 de maio de 1841. Foi educada pelos
pais e pelas religiosas da Visitação. Um dia as Irmãs contam suas
travessuras ao Mons. de Mazenod, fundador dos Oblatos de Maria
Ima-culada (canonizado em 1995), que lhes responde: "Não se
inquietem, são coisas de menina; verão que um dia será a Santa Maria
de Marselha".
Em 1848, após vários distúrbios, o rei Luís Felipe abdica. As ruas
tranquilas de Marselha, cidade cheia de recordações de São Lázaro,
Santa Marta e Santa Maria Madalena, foram invadidas pelo ódio
revolu-cionário. Maria tinha apenas 7 anos. Aproveitando-se da
distracção momentânea dos adultos, sai de casa para ver de perto o
que está acontecendo. Chega até as barricadas feitas pelos soldados.
Sem medo, aproxima-se e observa tudo com interesse. Alguns soldados
a ignoram, outros sorriem diante de sua inocente e viva curiosidade.
Um a toma pela mão e a reconduz a casa.
Estes episódios da infância nos revelam muito da personalidade desta
Beata. Vivaz, brilhante, cultís-sima e muito a par das coisas da
sociedade e da his-tória.
Aos 16 anos, prossegue sua formação em Lyon com as religiosas do
Sagrado Coração, fundadas por Santa Sofia Barat.
Terminados os estudos superiores em 1858, fez exercícios espirituais
e consultou São João Batista Vianney, o Santo Cura d’Ars, sobre a
própria vocação. O Santo respondeu-lhe: “Minha filha, antes de a
conheceres, terás de rezar muitos Veni, Sancte Spiritus (Vem,
Espírito Santo). Sim, serás toda de Deus, mas deverás esperar
longamente no mundo”. De fato, aguardou durante anos a
inspiração do que Deus queria dela.
Embora ainda vivendo com a sua família, ocupando-se de seus pais,
pratica as obras de apostolado, coloca-se a serviço dos pobres,
ajuda os sacerdotes e as missões. Mons. Comboni, em sua viagem à
França, teve a ajuda da jovem Maria.
Em 1864, providencialmente cai em suas mãos um folheto procedente da
Visitação de Bourg-en-Bresse intitulado: Guarda de honra do
Sagrado Coração: finalidade da obra. A jovem lê e relê essas
linhas que parecem dirigidas a sua alma de fogo. A 7 de fevereiro
escreve ao Mosteiro solicitando ser inscrita na Guarda de honra e
oferecendo-se, cheia de entusiasmo, para trabalhar pela obra.
Inicia-se então uma ativa correspondência entre a Irmã Maria do
Sagrado Coração e a "pequena Maria", como a chama carinhosamente a
fundadora. Maria consegue seu primeiro êxito fazendo chegar a
Guarda de Honra até Santa Sofia Barat, que se inscreve com todas
suas religiosas.
No dia 5 de junho do mesmo ano, o Cardeal de Villecourt consagra
solenemente a nova igreja de Na. Sra. da Guarda, em Marselha. É uma
cerimónia impressionante a qual assiste também o Cardeal Pitra e
grande número de bispos franceses. Maria consegue que os dois
cardeais e 20 bispos se inscrevam na Guarda de Honra.
Graças à direcção espiritual do Padre Calage, ela vai pouco a pouco
conhecendo a sua vocação. O Bem-aventurado Papa Pio IX e o Cardeal
Dechamps, Arcebispo de Malines-Bruxelas, se interessaram por ela.
Este último a define como “a Santa Teresa d’Ávila do nosso século”.
Finalmente, a 20 de junho de 1873, solenidade do Sagrado Coração de
Jesus, com algumas amigas, funda o Instituto das Filhas do Coração
de Jesus, cuja finalidade é dedicar-se, na clausura, à adoração da
Eucaristia, à oração e à imolação pela conversão do mundo distante
de Deus, reparação pelos sacrilégios e pela santificação dos
sacerdotes. O centro é Jesus Eucarístico oferecido ao Pai em todos
os altares do mundo, presente no Tabernáculo, adorado noite e dia,
vivido na intimidade da graça santificante e da caridade. O seu
modelo, como ela mesma explica, é Nossa Senhora.
Seguiram-se breves e densos anos. Muitas jovens acorreram e Madre
Maria de Jesus – nome que adoptou quando se tornou religiosa – funda
mais dois mosteiros: Aix-en-Provence e La Servianne, perto de
Marselha, numa propriedade herdada de sua mãe.
Madre Maria cresce na intimidade com Jesus, educa as suas “filhas”
nessa intimidade com Ele e na doação total. As suas “filhas” a amam
como a uma mãe.
No mês de abril de 1882 é obrigada a fechar o mosteiro de
Aix-en-Provence devido à ameaça de perseguição por parte do governo
francês. As religiosas são acolhidas parte em Berchem, parte em La
Servianne.
Madre Maria de Jesus escreve: “Legalmente, eles não têm nenhum
poder sobre nós na La Servianne: estou na minha casa, na propriedade
da minha família por quatro gerações e nenhum tribunal pode me
mandar sair daqui. Mas, em nome da revolução, com o motim, os
infames poderão quanto Deus permitir. Não haverá regras que os
detenham. Quanto a nós, permaneçamos muito tranquilas...”.
Madre Maria de Jesus é uma religiosa, uma contemplativa, mas não
vive nas nuvens, fora do mundo. Nem é ignorante ou ingénua. A
família e o ambiente do qual provém lhe abriram os olhos a tudo.
Assim, o quadro que traça nesta carta de 8 de dezembro de 1882 é
completo, a visão da História do mundo é lúcida, com um conhecimento
claro de quanto gera na sociedade a rebelião contra Cristo e a Sua
Igreja. Na segunda parte da carta, ela escreve:
"Ao ver o triunfo do erro, a aparente legalidade com
que se quer legitimar tanto mal, deveríamos nos desesperar do
presente e do futuro? Não, irmãs, nunca! Jesus venceu satanás e o
mundo! A Jesus Cristo pertence todo poder; ao ouvir o seu Nome todos
os joelhos se dobram, inclusive nos abismos. As nações Lhe foram
dadas em herança. Enquanto Ele permite que o monstro infernal se
agite aos seus pés em fugazes e falsos sucessos, Ele vence e
triunfa, os Anjos já cantam a Sua vitória definitiva. As portas do
inferno não prevalecerão contra a Igreja fundada por Ele. O triunfo
final não é para aqueles que trazem as insígnias do dragão, mas para
nós que levamos o nome de Jesus Cristo sobre nossas frontes e o Seu
amor em nossos corações!"
"A Igreja prossegue de luta em luta, de conquista em
conquista, até a eternidade bendita. Engana-se quem quisesse, no
momento presente, julgar o conjunto das coisas. Nós temos a promessa
e a certeza da vida eterna e, aquilo que conforta: Deus triunfa tão
mais grandiosamente quanto mais a nós custa a vitória..."
"A nossa tarefa é lavrar a terra, trabalhar
removendo penosamente o terreno! Outros colherão a seara... Mas
esta, fecunda e copiosa, será colocada certamente no celeiro do Pai
celeste... Modestas operárias desta grande obra, trabalhemos no
silêncio e na esperança. Rezemos - é a condição para o
sucesso; reparemos, porque a dor suprema é a de ver Deus ultrajado e
blasfemado; soframos, lutemos, morramos, se for preciso, certas de
que lá no alto a Providência vela, a Omnipotência de Deus nos
assiste e tornar-se-á vitoriosa..."
"Nós somos da estirpe de Maria Santíssima, a qual
Deus mesmo pôs na inimizade perpétua com a raça de satanás, estirpe
à qual Ele dá a vitória por meio de Jesus Cristo, sem, entretanto,
eximi-la da fadiga, nem privá-la da honra e do mérito da luta".
Madre Maria de Jesus teve que vencer não poucas dificuldades até ver
o seu Instituto aprovado. Governou-o apenas durante dez anos, porque
no dia 27 de fevereiro de 1884 foi barbaramente assassinada por um
jardineiro que havia sido despedido do Convento La Servianne por sua
preguiça e desleixo. Ele era ligado a grupos anarquistas e nela o
assassino descarregou o seu ódio à Fé. Suas
últimas palavras são: "Eu o perdoo! Pela Obra!" Ela se tornou virgem
e mártir como sempre havia desejado.
A
22 de outubro de 1989 foi solenemente beatificada pelo Papa João
Paulo II em Roma.
Fonte : http://heroinasdacristandade.blogspot.com/ |