[O
Convento do Louriçal] teve origem num Recolhimento criado por soror Maria do
Lado. A 16 de Janeiro de 1630 era profanada em Lisboa a Igreja de Santa Engrácia.
Entre os desacatos praticados na calada da noite contava-se o arrombamento do
Sacrário e o roubo das hóstias consagradas. O assalto provocou grande
consternação e dele virá a ser incriminado Simão Lopes Solis, condenado à morte
em 16 de Novembro e executado a 3 de Fevereiro de 1631.
A jovem Maria Brites, que depois tomaria o
nome de Maria do Lado, é natural e residente no Louriçal e filha de António Rego
e de Maria de Brito, tinha nesta altura 25 anos. Sentindo-se inspirada por Deus
e aconselhada pelo seu padre confessor frei Bernardino das Chagas, religioso do
Convento Franciscano da Figueira da Foz, decidiu iniciar a 12 de Abril de 1630,
com mais cinco companheiras, um Lausperene de adoração do Santíssimo Sacramento.
Poucos meses passados, a sua perspectiva
já é o de instituírem um Recolhimento do Desagravo do Santíssimo Sacramento.
Recebem o hábito de Terceiras Professas da Terceira Ordem da Penitência de S.
Francisco a 13 de Abril de 1631, altura em que o Recolhimento começa a funcionar
nas casas do pai de soror Maria do Lado, junto à Igreja da Misericórdia.
Acrescente-se que nesta mesma data seu pai toma o hábito de Terceiro Franciscano.
A 28 de Abril de 1632 morre Maria do Lado
sendo o seu corpo enterrado na Igreja Matriz e mais tarde transferido para o
Convento. Conhecido o seu desejo de que o Recolhimento se transformasse em
mosteiro, com o apoio de seu irmão, o padre Francisco da Cruz e recolhendo
muitas ofertas da população, é decidido iniciar-se um mosteiro da primeira regra
de S. Francisco, sendo benzida a primeira pedra pelo bispo de Coimbra D. João
Mendes de Távora a 28 de Abril de 1640.
O local escolhido era o mesmo em que Maria
do Lado nascera, razão pela qual se trasladou o seu corpo da Matriz para o
Recolhimento a 30 de Agosto de 1652. Mais tarde, a 19 de Maio de 1673, o
Santíssimo é colocado na Igreja do Recolhimento.
Cada
vez mais se ia alargando a fama da obra de soror Maria do Lado, o que leva D.
Pedro II a nomear João Antunes para arquitecto do novo Convento. A primeira
pedra é lançada a 9 de Março de 1690, dando o rei seis mil cruzados para se ir
continuando o edifício. A 24 de Maio de 1692 o papa Inocêncio XII autoriza
através de um Breve a transformação do Recolhimento em Convento de Clarissas.
Algum tempo depois - Fevereiro de 1700 -
adoece gravemente o príncipe D. João (futuro D. João V). É feita a promessa, em
caso de cura, de construir o Convento do Louriçal. O seu confessor padre
Francisco da Cruz, irmão de soror Maria do Lado, apresenta-lhe junto do leito
terra da sepultura de Maria do Lado bem como uma cruz que lhe pertencera. Não
será, pois, de estranhar que, salvo da enfermidade, e já no trono por morte de
seu pai, D. João V promova a continuidade das obras. É nomeado como
superintendente o desembargador João Varela de Abreu. Em finais de Setembro de
1708 o bispo de Coimbra comunica ao rei estarem concluídas as obras do convento
- um bloco constituído por celas suficiente para albergar 33 religiosas
professas e mais algumas noviças, um claustro central, oficinas, refeitório e
enfermaria, além de uma cerca devidamente arborizada.
Como o Convento pertenceria à Ordem de
Santa Clara, o Núncio Apostólico nomeia as irmãs Arcângela dos Serafins
Evangelista, Maria Teresa do Sacramento, Maria de Jesus e Clara Maria de Santa
Ana, pertencentes ao convento do Calvário de Évora, como Madres Fundadoras do
novo Convento do Santíssimo Sacramento do Louriçal. Partem de Évora a 20 de
Janeiro de 1709, dirigem-se a Lisboa, onde permanecem durante três meses no
Convento da Esperança, antes de se dirigirem para o destino. Trazem o rosto
tapado com véus pretos de linho. O séquito parte da capital no dia 4 de Maio e
chega à Guia onde emissários avisam o bispo de Coimbra D. António de Vasconcelos
e Sousa que já aguardava no Louriçal a sua chegada. A 8 de Maio, no meio das
maiores solenidades, entram as Madres Fundadoras no Convento, depois de um vasto
programa de cerimónias litúrgicas presididas pelo Bispo Conde de Coimbra e a que
assistem, além das principais figuras do clero e da nobreza da região, muito
povo.
Como muitas eram as candidatas a
religiosas clarissas e porque o número não podia exceder 33, o papa Clemente XI,
através de um breve publicado em 1715, permite que seja o rei a nomear as
noviças.
Para
completar o conjunto conventual importava construir-se a Igreja, o que implicou
um arranjo urbanístico do local. Simultaneamente é concluído o aqueduto de
abastecimento de água ao Convento sob a direcção do padre Manuel Pereira.
As obras da Igreja vão prosseguindo agora
sob a direcção do doutor António de Andrade do Amaral, superintendente nomeado
para o efeito por D. João V, sob indicação do Cardeal de Mota.
O rei dá para as obras da Igreja, da Torre
do Relógio e do Noviciado a quantia de quarenta e cinco mil cruzados. A
inauguração será feita a 27 de Outubro de 1739.
A obra de arquitectura é da
responsabilidade de Carlos Mardel (1711-1760), o autor do Aqueduto das Águas
Livres, das obras da portaria e claustro do Convento de Santa Clara-a-Nova, em
Coimbra, do Palácio Pombal em Oeiras e um dos responsáveis da Baixa Pombalina.
Mas se a arquitectura barroca impressiona pela sua monumentalidade, é de
invulgar qualidade os seus magníficos azulejos azuis e brancos.
O Rei Magnânimo ofereceu-lhe 6 mil
cruzados de dote e estabeleceu-lhe a côngrua anual de 2.490$00. Já em 1733 D.
João V mandara acrescentar a pensão do confessor e a própria Casa de Bragança
oferecera o seu contributo para as Religiosas .
Por provisão de 1724 o 4º conde da
Ericeira, D. Francisco Xavier de Meneses (1673/1743), concede ao Convento do
Louriçal o rendimento de doze propriedades localizadas no Marnoto, Campo Velho e
Porto de Ferro, que forneciam cerca de 100 alqueires de cereal e 49 galinhas.
O Convento vai entretanto ampliando os
seus bens.
Refira-se entretanto que no Louriçal
funcionou desde 1733 (e pelo menos até 1842) um outro recolhimento - o
Recolhimento de Santa Teresa, instituído naquela data por D. Francisca Inês de
Oliveira, tendo deixado os seus bens para a sustentação das Recolhidas.
Pertencia à Ordem das Carmelitas Descalças. Será convertido por volta de 1842
pelo padre Jacinto António Crespo em Colégio Ursulino e incorporado no Real
Colégio Ursulino das Chagas de Coimbra. Ainda existia pelo menos em 1876.
O Convento e o Recolhimento são duramente
atingidos em 1811 a quando das Invasões Francesas.
Se o
Convento do Louriçal consegue escapar ao movimento
de extinção dos Conventos iniciado em 1834 o mesmo não acontecerá com o triunfo
da República em1910.
O Convento do Louriçal é selado e as
freiras são obrigadas a sair. É depois ocupado por um destacamento militar.
Chovem propostas para a utilização do
Convento. A Misericórdia do Louriçal propõe um hospital e mais tarde pede ao
Ministro da Justiça a cedência de roupas e louças do Convento. Ildefonso Leitão,
na Câmara Municipal, «aprezentou uma
representação pedindo ao governo da republica a cedência do extincto convento do
desagravo no Louriçal para a camara n' elle instalar um asylo para velhos
desvalidos.»
Por seu turno as peças artísticas do
Convento vão para o Museu Machado de Castro de Coimbra, a sua livraria para a
Biblioteca Nacional e os móveis são vendidos em hasta pública em Abril de 1912
bem como os damascos, sedas e roupas de uso doméstico em Agosto desse ano. Em
Novembro de 1913 procede-se ao arrendamento das suas propriedades. O edifício
passou a ter um posto da Guarda Republicana. Em 1925 é suspenso este posto e o
edifício vai a leilão, sendo comprado pela madre Maria da Nazaré que nele tinha
anteriormente professado. A reentrada das freiras dá-se a 14 de Janeiro de 1928.
O convento ainda hoje é utilizado por
freiras em recolhimento, pelo que a sua visita está limitada à igreja e à
portaria do convento. O contacto com as freiras é feito através de uma roda
original. |