A IDEIA QUE ME PREOCUPA
Confesso que é uma ideia
que me preocupa e me ocupa, que se me revela, com muita frequência,
e de diversas maneiras, e que chega a penetrar-me e fico triste, sem
ter sido capaz de evitar que alguma vez ao correr da caneta, se
tenham escapado pela ponta desta algumas gotas de amargura que esta
ideia levanta no meu coração.
Tenho tão cravado nele o
olhar tão angustiado de Jesus sozinho no meio de multidões cristãs!
Vai-se instalando tanto e
tão profundamente na minha alma a persuasão e a compaixão dessa
solidão! Mas, por outro lado, pude ver que o facto de falar dos
Sacrários abandonados é linguagem tão difícil para muitas orelhas
cristãs, que, antes de reconhecê-la dolorosa, é verdade, porém
inegável realidade para eles, muitos destes a negam categoricamente,
temerosamente a limitam, teimosamente a explicam ou exigem que se
deixe de falar e de escrever sobre ela como algo que escandaliza.
E se isto acontece com
factos de uma actualidade e de um relevo e de uma repetição tais que
basta os olhos da cara para os ver, que acontecerá com os factos
mais sentidos do que presenciados, mais adivinhados do que vistos em
plena luz, mais propícios ao de menos do que ao demais?
E isso é o facto do
abandono do Sacrário acompanhado: facto tão verdadeiro, não raro,
como digno de todas as lágrimas de desagravo dos olhos amantes e de
todos os bons corações...
S. Manuel Gonzalez
Garcia: “Abandono dos Sacrários”.
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