Miguel
dos Santos, apelidado o Extático, tão numerosos foram seus
arrebatamentos, era da Catalunha, onde nasceu no dia 29 de Setembro
de 1591.
Grande
devoto da Virgem Santíssima, já aos sete anos jejuava três vezes por
semana, quando na quaresma. Desejoso de consagrar-se a Deus, fez
voto de castidade, e, quando entrou nos doze anos, morrendo-lhe o
pai, quis fazer-se religioso. A Família, porém, opondo-se, levou-o a
contemporizar.
Para
maior mortificação, então, habituou-se a alimentar-se de verduras e
legumes, unicamente. Em 1603, era admitido entre os Trinitários de
Barcelona. Ali, recebendo o hábito, fez o noviciado. Aos dezasseis
anos, a 30 de Setembro de 1607, principiou a professar.
Estudando em Sevilha, depois na universidade de Salamanca, ordenado
padre em Faro, Portugal, desincumbiu-se do ministério em Baeza.
Em
1622, era o superior do convento de Valladolid. Conta-se, então, que
daquela época em diante, os êxtases que o tomavam eram longos e
frequentes.
Uma
noite, era a de São Martinho, lia ele, no coro, a oitava lição do
ofício, onde se acham as palavras: "Esta Jerusalém que está no céu e
pela qual combatemos pela fé." Eis senão quando, com um gemido,
ficou absorto, arroubado, tão transmudado que se diria fosse um
serafim quem ali estava. Os companheiros, surpresos, procuraram
trazê-lo a realidade, inutilmente.
De
volta do êxtase, Miguel deixou o coro a correr, envergonhado e
confuso.
Doutra
feita, estava então em Salamanca, onde pregava e exortava os fiéis à
penitência, fez toda a prédica levantado do chão, no ar, em
levitação. Com os assistentes gritando, tornou a si, e então,
percebeu que gritavam porque, tendo a mão sobre a cama dum círio,
não se queimava nem sequer nada sentia. Lia-se, uma vez no coro, a
meditação sobre o paraíso, e a Miguel veio tal arrebatamento que,
como se tivesse asas, deixou o coro e foi parar numa igreja, longe,
onde se pôs a venerar o Santa Sacramento.
Quando
adoeceu, estava em Valladolid. Recebeu o sacramento da extrema-unção
com grande fervor, e, quando sentiu o fim bem próximo, levantou os
olhos para o céu e entregou a alma a deus, calmamente, enquanto o
relógio, docemente, deixava soar as pancadas da meia-noite daquele
10 de Abril de 1625.
Pio VI
beatificou-o a 2 de Maio de 1779, e Pio IX, a 8 de Maio de 1862,
canonizava-o.
(Livro Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume VI, p. 238 à 239) |