Milagre
eucarístico de Faverney
Situação geográfica
Faverney
é uma pequena vila situada no departamento da Haute-Saône, em França
e distante aproximadamente de 20 quilómetros da cidade de Vesoul,
capital do mesmo departamento. No tempo em que aconteceu o evento
extraordinário do qual vamos falar, era uma pequena aldeia agrícola,
composta por algumas casas construídas à volta da então reconhecida
Abadia confiada pelo Arcebispo de Besançon aos beneditinos. Faverney
fazia – e continua a fazer – parte da arquidiocese de Besançon, bela
cidade situada a uns 80 quilómetros de lá, não longe da fronteira
com a Suíça.
Faverney continua sendo um centro agrícola e depende
de Vesoul e também da outra pequena vila vizinha, Port-sur-Saône,
pequeno burgo situado de um ladro e do outro do rio Saône, o que o
sujeita muitas vezes aos caprichos do mesmo rio, que várias vezes
inunda as suas partes menos elevadas.
O acontecimento
O dia 25 de Maio de 1608, era dia de Pentecostes. Os
beneditinos tinham obtido a autorização do Arcebispo de Besançon
para
nesse
dia exporem solenemente – para os paroquianos e para os fervorosos
paroquianos das aldeias vizinhas – o Santíssimo Sacramento.
Durante a noite de 25 para 26 do dito mês de Maio,
os círios que tinham sido acesos à volta do “lausperene”, caíram
sobre a mesa onde estava colocado o ostensório e pouco depois um
incêndio se declarou, queimando a mesa e tudo (ou quase) o que sobre
ela estava pousado.
Na segunda-feira de manhã, quando o sacristão veio
abrir as portas da igreja da Abadia, ficou atónito diante do
espectáculo que os seus olhos incrédulos presenciavam: o fogo tinha
devorado a mesa e o altar, as flores e outras apetrechos que se
encontravam sobre o altar e sobre a mesa, mas a custódia contendo o
Santíssimo Sacramento não tinha sido molestada pelas chamas e
encontrava-se suspensa no ar, não pousando sobre nada, absolutamente
nada, a não ser o ar… O choque foi rude para o pobre homem que
desmaiou. Quando voltou a ele, imediatamente alertou o Abade que por
sua vez alertou as autoridades civis de Vesoul assim como o
Arcebispo de Besançon. Tanto uns como outros, rapidamente vieram
verificar eles mesmos o que por missiva lhes fora comunicado, e
viram!... Viram o que centenas de pessoas acorridas das vizinhanças
de Faverney, podiam admirar: o ostensório contendo duas hóstias
consagradas, continuava suspenso no ar, um pouco inclinado para a
esquerda, como sustido por qualquer mão invisível. Esta ”suspensão”
durou trinta e três horas, pelo que as testemunhas deste facto
extraordinário foram numerosas e algumas delas “oficiais”, dada a
posição social que ocupavam. É o caso do Arcebispo de Besançon e do
Lugar-tenente dos habitantes de Vesoul, a mais alta autoridade local
no século XVII.
Passadas aquelas trinte e três horas, o ostensório
baixou sozinho e veio posar sobre um corporal que tinha sido
colocado onde antes estava a mesa sobre a qual tinha sido exposto à
adoração dos fiéis.
Reconhecimento e culto
Pouco depois, o Arcebispo de Besançon, rodeado por
representantes de diferentes ordens religiosas (beneditinos,
capuchinhos, jesuítas, franciscanos), conluio que se tratava de um
milagre manifesto e, desde o dia 10 de Julho, autorizou o culto que
depressa se propagou graças aos escritos que sobre este milagre
foram feitos, tanto em francês como em latim e publicados nos anos
1608-1609, em Paris, Besançon, Rouen, Lyon e mesmo em Colónia, na
Alemanha. Foram também gravadas estampas representando o milagre.
Uma das duas hóstias milagrosas é ainda hoje
conservada em Faverney. A outra foi rapidamente enviada para Dole
(onde mais tarde nasceu Pasteur) e colocada na Santa-Capela da
colegial, onde um culto secundário se desenvolveu até ao
desaparecimento da dita hóstia em 1793, durante a Revolução francesa
de triste memória.
Durante essa época revolucionária, os bens da Igreja
foram confiscados e a Abadia de Faverney, declarada “Bem nacional”,
foi fechada pelos representantes e vendida e pouco depois repartida
entre diversos proprietários. Nessa ocasião, o Presidente da Câmara
(maire) quis queimar a Hóstia milagrosa, mas a sua própria esposa se
opôs a esse sacrilégio e conseguiu preservá-la, confiando-a a
pessoas de confiança. Foi graças à coragem desta senhora que ainda
hoje a Santa Hóstia é conservada em Faverney.
E depois?
Em 1908 foi comemorado o terceiro centenário do
milagre com a organização de um Congresso Eucarístico que reuniu
mais de 20000 pessoas, uma dezena de Bispos e várias centenas de
sacerdotes. Foram organizadas – e são ainda – diversas procissões,
tanto em Faverney como em Dole, onde o Cardeal Roncalli (futuro João
XXIII), Núncio Apostólico em Paris presidiu uma dessas processões.
Em 2008, para o quarto centenário do famoso milagre,
foram igualmente celebradas diversas manifestações religiosas e
organizado também um congresso ao qual participaram numerosos
historiadores que se interessavam ao caso particular do milagre de
Faverney.
Todos os anos, na segunda-feira de Pentecostes (dia
feriado em França) uma grande procissão é organizada em Faverney e a
Hóstia milagrosa exposta à adoração dos fiéis.
Afonso Rocha |