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Capítulo 28

NOVOS ESPINHOS

1944-1951

Concluído o rigoroso exame de quarenta dias sobre a abstinência total de sólidos e líquidos por parte da Alexandrina, parece deveriam os adversários do caso, ao me nos por prudência, calar-se. Mas nada disso: recrudesceu mais o seu zelo.

Houve até quem, ouvindo falar do exame, acorreu pressuroso ao Dr. Gomes de Araújo, antes que ele entregasse o seu relatório, a preveni-lo que "devia ter cuidado com o dito relatório, porque a Doente de Balasar era uma impostora... que ficasse certo que se tratava de uma mistificação... – e que o Médico dela era um fanático, etc. etc."

Pareceu então ao Dr. Manuel de Azevedo ser de toda a conveniência que a Autoridade eclesiástica competente estudasse o caso e desse o seu parecer e orientação; e assim o significou ao Sr. Arcebispo Primaz várias vezes.

Dir-se-ia que Alexandrina pressentiu na sua alma o resultado que daria essa diligência. Assim lemos nas suas notas de 27.7.1944:

Jesus, estou num sobressalto; não sei o que pressente a minha dor. Ai que horror! Tudo é tempestade. Oiço o zunir dos ventos, os ecos dos trovões terríveis, ameaças de destruição! Tudo fugiu espavorido e eu sozinha no meio do mar: sem barco, sem leme e sem luz, prestes a infundir-me para sempre no abismo do mar! Horror, horror! A tempestade rasga as nuvens, o céu abre-se e revolta-se contra a terra.

Meu Deus, meu Jesus, que me espera ainda? Em vossos santíssimos braços me entrego.

Depois de várias insistências, Sua Ex.cia Rev.ma encarregou alguém de estudar e dar parecer sobre o caso. Não entrámos em contacto com nenhum dos encarregados desse estudo, por isso não houve ensejo de lhes mostrarmos a imensa documentação que possuímos.

Em resumo: saiu o parecer da Comissão e... foi desfavorável.

Nada encontravam no caso da Alexandrina de sobrenatural, extraordinário ou milagroso.

Em presença desse parecer, determina prudentemente o Senhor Arcebispo o seguinte:

a) que se faça silêncio sobre os pretensos factos extraordinários atribuídos à referida doente ou de que ela se afirma protagonista, os quais não devem ser expostos nem apreciados em público, mas confinar-se quando muito ao âmbito restritamente privado;

b) que seja feita recomendação aos Sacerdotes que não alimentem mas antes caridosamente contrariem a curiosidade que em volta da doente e por consideração de ordem religiosa se possa vir a manifestar ainda; visto que essa curiosidade não pode ser sã e bem fundada, nem é louvável;

c) que a mesma recomendação se faça a todos os nossos diocesanos, sempre que houver necessidade e se puder fazer discretamente;

d) que ao Rev. Pároco de Balasar se comunique que o incumbimos, além disso, de velar para que a doente e a sua habitação não sejam molestadas com visitas importunas, feitas a título de observação dos pretensos fenómenos extraordinários, a que se atribua carácter religioso ou intenção religiosa.

Diante destas determinações, só restava obedecer, fossem quais fossem as razões que a isso levaram a Autoridade competente.

O que mais interessa é ver como a Alexandrina acatou esta ordem, com tudo o que ela tinha de humilhante, para ela, para a sua família e para todas as pessoas que de perto a acompanhavam, particularmente para o director espiritual...

Copiemos as seguintes passagens das suas notas espirituais referentes a este momento crucial, que elas são extraordinariamente eloquentes e dão lições até aos mais provectos em vida espiritual.

1 de Agosto de 1944, ao cair da tarde.

Escutai, Jesus, a minha dor quase moribunda. Duro golpe lhe foi dado. Ó dor, ó dor que matas a dor! Ó dor, que só por Jesus podes ser conhecida!...

Com os olhos em Vós, Jesus, as calúnias as humilhações, os desprezos, os ódios, o esquecimento tem a doçura do vosso amor. Venha tudo, ó Jesus, venha tudo o que vos aprouver. Morra o meu nome, como sinto que morreu o meu corpo e a minha alma, para que viva o vosso divino amor nos corações e a vossa graça nas almas. Eis, meu Amado, porque me deixo imolar!

Mas como resistir a tanto, ó Jesus? Olhai este coração que rebenta, desfaz-se em dor! Não pode com tanto aperto, se não vindes em seu auxílio! Vinde, vinde, ó Jesus! Socorro, socorro, Jesus. Querem privar-me de tudo, até me ameaçam de eu ficar sem Vos receber, proibindo o Sr. Abade de vir junto de mim, a não ser em perigo de vida: isto no caso de eu não obedecer. Obedeço, obedeço, meu Jesus, com a vossa divina graça. Ó santa obediência, como eu te amo por Jesus! Por Jesus e pelas almas!

Lançaram-me a público sem consentimento meu; de nada soube e agora, meu Jesus, querem à custa da minha dor apanhar as penas que o vento tão furiosamente espalhou? Como, Jesus, como? Ai, nunca mais, meu Jesus, nunca mais!

Oh, quem me dera viver escondida, ai quem me dera amar-vos, como tanto desejo: ser vossa, meu Jesus, a mais não poder ser…

Mas perdoai, ó Jesus, perdoai-me: sem ter esta vida assim!

Ai, quantos que nada desta vida conhecem e são santos e eu, meu Jesus, tão cheia de misérias! Oh, que saudades dos anos que já lá vão: tantos colóquios tive convosco e sem que nada se soubesse! Dava vidas, meu Jesus, dava mundos para viver escondida!

Perdão, Jesus, não tenho querer, não tenho vontade.

Meu Deus, se eu soubesse que com o meu sofrimento a vossa consolação era completa! Se eu pudesse viver fechada neste quartinho, sendo Vós, meu Jesus, e estas pobres paredes testemunhas das minhas dores, sem que os meus e todos os que me são queridos pudessem recordar que eu vivia aqui e que em dia algum da vida eu tinha vivido na companhia deles, então já não sofria!

Mas vejo que quem sofre mais é o vosso divino Coração e que os que me são queridos sofrem comigo, não podem mais esquecer-me: então faz-me sofrer a mais não poder.

Quantas vezes não posso conter as lágrimas, cega, cega de dor! Vem-me ao pensamento: é mais perfeito não chorar; Jesus fica mais contente... Fito meus olhos no Crucificado, levanto-os ao Céu, fico por algum tempo a contemplar Jesus, e logo as lágrimas, que me pareciam nunca mais terem fim, estancam. Sinto vida nova.

Meu Deus, que luta tremenda! Ai de mim sem Vós, Jesus! Mãezinha valei-me, sou a vossa vítima! Ó Santa Teresinha, Santa Gema, São José e Santos meus mais queridos, valei-me! Ó Céu, ó Céu, conto contigo.

Nunca, meu Jesus, me deixeis cansar; nunca deixeis parar meus lábios, repetindo sempre: Amo-vos, Jesus, sou a vossa vítima!

Dêem-me os homens a sentença que quiserem, não importa. Dai-me Vós, ó Jesus, a sentença de vencerdes em mim e de eu Vos amar e de Vos dar almas.

Jesus, não vejo o meu passado nem presente, vejo só o futuro: vejo o meu sangue correr por entre espinhos; entre uma noite tremenda e escura vai a minha dor que tem vida, caminhar por entre ele, banhar-se, ensopar-se nele. Ó meu Deus, que tormento! Não sei dizer-vos o que sinto: sofro e a dor desaparece à medida que vou sofrendo. Nada me pertence e morro de dor, Jesus, e tenho sede de mais dor.

Jesus, só Vós me compreendeis: tenho fome, tenho sede, morro, morro, ó Jesus!

Pouco depois, a 10 de Agosto, lemos ainda esta beleza:

Jesus, olho para um lado e para o outro, não vejo ninguém; temo e tremo: ai que pavor! Não cessa a luta. Vejo por entre a escuridão o meu sangue correr e a dor quase moribunda segue o seu caminho. Sangue e dor, morte e eternidade!

Escutai, ó Jesus, ouvi, ó Mãezinha, é uma dor agonizante: não há quem se compadeça da minha dor. Olhai, ó Jesus, vede-a ensopada em sangue. Jesus, Jesus, não me deixeis sem vos receber. Perder tudo, tudo, mas comungar. Perder tudo, mas possuir-vos!

Ao ouvir lá fora risos, como de quem goza uma grande alegria, sem eu querer, quase sentia saudades de gozar dessa alegria também.

Meu Deus, que vida tão mal compreendida! Se não fosse o amor de Jesus, se não fossem as almas, não estava sujeita ao juízo dos homens, não tinha que lhes obedecer.

Estes pensamentos passavam rápidos como relâmpagos: sentia-me como que obrigada a trocar todas as alegrias pelo amor de Jesus. Jesus, Jesus é digno de tudo. As almas, as almas!... Este pensamento vibrou dentro de mim; acendeu uns desejos mais firmes de caminhar por entre espinhos banhada de sangue, só em sangue. Deu-me um conhecimento claro do que é Jesus e do que é o mundo.

— Meu Deus, levanto-me aqui para cair além. A luta continua.

Sinto saudades da minha crucifixão das sextas-feiras, mas tenho horror aos êxtases (o grifo é nosso). Temo as sextas, temo os primeiros sábados, temo qualquer dia ou hora, meu Jesus, em que vos dignardes falar-me. Não será isto perfeito? Tende pena, Jesus, tende dó. Temo a minha fraqueza, temo vacilar: horroriza-me o sofrimento, mas confio em Vós. O meu querer é o vosso, só o vosso, meu Jesus.

Que estou aqui a fazer? Não permitais que eu seja a desgraça das almas. Preocupa-me também o dizer-se que certas coisas são precisas para tranquilização delas (a Comissão eclesiástica que deu o parecer sobre o caso de Balasar, dizia: "Esta Comissão só faz votos para que o Exmo. Prelado tome todas aquelas medidas necessárias para a glória de Deus e a tranquilidade das almas").

Ó Jesus, espero em Vós, confio em Vós. Sossegai a minha pobre alma.

Passaram-se algumas horas. Ia alta, bem alta a noite. Tudo em casa estava em descanso; só a minha dor, a minha tremenda luta continuava.

Veio de repente Jesus, estreitou-me em chamas de amor.

— Dá-me a tua mão, minha filha. Não te prometi Eu vir levantar-te do teu desfalecimento? Anda para os braços da tua Mãezinha!

E como uma criancinha, lancei meus braços a seu pescoço. Ela apertou-me docemente e acariciou-me, cobrindo o meu rosto de beijos. Eu não sei se chorava, se não, mas sentia que chorava. Ela limpava-me com o seu santíssimo manto as lágrimas e dizia-me:

— Não chores. Consola comigo o teu e meu amado Jesus. Ele é tão ofendido. Anda, toma coragem!

E Jesus ao meu lado dizia-me:

— A tua dor, minha filha, o teu martírio arranca das garras de Satanás as almas que ele com tanto furor me roubou. O inferno está fechado; é a raiva dele (mais de uma vez Nosso Senhor prometeu à Alexandrina, atendendo ao que ela lhe pedia, não deixar em certos dias cair ninguém no inferno).

Coragem. A tempestade passa. Recebe graça, recebe amor e a luz do divino Espírito Santo...

E, sobre um trono riquíssimo, vi o divino Espírito Santo em forma de pomba, deixando cair sobre mim, lá do alto onde estava, raios doirados à espécie de fitinhas de várias cores e cheias de brilho. Tudo isto era belo e luminoso.

Fiquei mais forte. E pouco depois, numa doce paz, adormeci.

Não precisam de comentários estas belas páginas, quanto ao seu valor literário — quase valeu a pena tão grande tribulação, para nos ficarem em herança estas jóias — nem sobretudo quanto ao que eloquentemente nos revelam da virtude solidíssima desta alma privilegiada. Que sinceridade a desta frase, escrita mais tarde em 1954:

Estou na cruz: ó como é doce! Sou humilhada: mais doce ainda!

A situação de descrédito ou desconfiança prolongou-se por vários anos. Embora, por Março de 1947, se principiasse a falar em novos exames de teólogos, nada se fez por então e só pouco a pouco é que a atmosfera foi desanuviando.

Em carta de 21.11.46, escreve a Doente ao director ausente no Brasil:

Veio aqui um médico, que é irmão do Sr. Cardeal Patriarca. Ficou muito meu amigo. Veio numa sexta-feira e com várias pessoas; foram pedir licença ao Sr. Arcebispo; ele autorizou-os assim como já várias vezes tem autorizado para mais, mas sempre a pedido da família do Sr. Cardeal.

Eu bem gostava de estar sozinha com Jesus. Sinto-me tão humilhada ao ver-me acompanhada!

Como se vê, o rigor das proibições vai-se atenuando. A 13.2.47 escreve também:

Passou por aqui um Sr. Padre Carmelita que há uns três anos veio de Roma a Portugal, e disse-me que já foi professor de Mística e Ascética, que eu não percebo. Depois de conversarmos umas quatro horas e meia, retirou-se e na despedida disse-me:

— Esteja sossegadinha, pode estar sossegadinha; em tudo o que me disse não encontrei em si uma palavra que seja contra o Evangelho, contra a doutrina de Santa Teresa e S. João da Cruz. Conheço a Mística e a Ascética (Padre Isidoro Maguna, n. 19.4.1907, † 19.2.1975), como o pão de cada dia. Sou-lhe franco: já tenho sido escolhido para examinar destes casos e tenho sido contra; mas aqui não sou: sou a favor. Viva muito humilde, viva sempre como tem vivido até aqui. Os seus sofrimentos são pedras preciosas que adornam a coroa que lhe há de cingir a fronte. Mais tarde falarei. Pode dizer a minha opinião ao Sr. Padre Humberto.

A 24.5.49, encontramos esta frase mais sintomática ainda:

Gostava de estar sempre sozinha, na solidão e no silêncio, e na maior parte do tempo não estou. A gente a visitar-me é muita e os meus sofrimentos enormíssimos...

E volta a ser-lhe concedida Missa em casa:

Meu Paizinho: já há meses que tenho tido no meu quarto uma Missa cada mês (escreve a 21.11.50). No mês passado, foi o filho do Sr. Dr. Manuel Augusto de Azevedo, e volta a ser ele, se o Senhor quiser, para o mês que vem. Por estes dias, talvez no dia 28, celebre o Sr. Padre que tem celebrado as outras, o Rev.mo Padre Olavo da Congregação do Espírito Santo.

As coisas já estavam pois mudadas.

A 12.4.51, assim nos escrevia o Médico Assistente:

Enquanto a Braga, Paço e Seminários, a atmosfera vai melhorando a olhos vistos. Mensalmente há autorização para ser celebrada uma Missa, no quarto da Alexandrina. Padres e Médicos em número razoável estão a visitá-la, sabendo eu que têm a melhor impressão sobre ela.

É da Alexandrina a seguinte carta, datada a 9.1.52:

Segunda-feira, dia 7, esteve aqui o Secretário do Sr. Arcebispo, Rev.mo Dr. Sebastião Cruz; veio visitar-me e oferecer-me um livro. Disse-me que tivesse muita confiança de que a minha vida era o dedo de Deus em mim; que Ele me chamou como chama a muito poucas almas.

— O seu caso, Alexandrina, está estudado e todos os que o conhecem desapaixonadamente vêem que é obra de Deus, que é um caso digno de respeito.

O Sr. Arcebispo mudou completamente da ideia que tinha a seu respeito. Ele admira-a e venera-a. Isto sem vaidade; ó Alexandrina, o seu leito é um altar e a Alexandrina é a hóstia.

Torne-se cada vez menos indigna do chamamento do Senhor, porque dignos nenhuns somos.

E acrescenta ela:

Eu digo isto ao Paizinho, não é por mim, é para saber o que se vai passando. E, depois de tudo isto, parece-me que nada acredito. Tudo é morte, dor e mentira.

Bendito seja o Senhor: só vivo no abandono e na confiança...

Em 22.4.53, repetia o Médico:

Em Braga, as coisas, a atmosfera vai melhorando, estando todos certos de que o caso não se explica naturalmente.

Mas deve dizer-se que, só depois da morte da Alexandrina, se teve uma prova inequívoca, decisiva de como o Sr. Arcebispo Primaz estava mudado a respeito do caso de Balasar, quando ele mesmo quis assistir à inauguração da capela-sepulcro, oferecida pelo povo à saudosa defunta, e pela aprovação que deu a várias pagelas publicadas e ao boletim mensal, em que aparecem as graças atribuídas à sua intercessão.

É como lhe dizia Nosso Senhor: "A tempestade passa."

   

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