Oportuna foi irmã de Crodegango, bispo de Seez,
e sobrinha de Lantilda, abadessa de um convento de beneditinas em
Almeneches.
Nascida
no castelo de Exmes, perto de Argentano, jovem ainda, conseguiu dos
pais a permissão para
consagrar-se
ao Senhor. Assim, deixou o castelo, as comodidades e o convívio dos
seus e foi encerrar-se num pequeno mosteiro nas vizinhanças de
Almeneches.
Oportuna caminhou rapidamente pela senda da perfeição. Num átimo,
conquistou o coração da comunidade toda. Humilde, sincera e
prestativa, a todos encantava e edificava.
Quando
a abadessa faleceu, a jovem religiosa foi escolhida, por
unanimidade, para preencher a vaga. A princípio, um tanto alarmada
com a responsabilidade da direcção da abadia, hesitou. Mas, depois
de alguns dias de acurada reflexão, diante de uma revelação,
capacitou-se de que a escolha fora dirigida pela vontade de Deus. E
aceitou.
Agora
como superiora, pensava Oportuna, era mister redobrar as
mortificações, para dar exemplo às religiosas. E atirou-se de corpo
e alma, à oração e à contemplação. E sendo muito severa consigo
mesma, era caridosíssima com as filhas.
Recebeu, então, do alto, o dom dos milagres. Um deles, refere-se ao
guarda-florestal da região e o burrico do mosteiro. Tendo aquele
homem, um dia, pedido emprestado o burrico da comunidade, para
transportar uma carrada de lenha, achou interessante ficar com o
animal para si. E apossou-se do burrico.
Passaram-se dois, três dias, e nada do guarda aparecer e fazer a
devolução do animal. Oportuna, zelosa com as coisas do mosteiro,
lembrou-lhe o dever, mas o homem, que determinara assenhorar-se do
burrico, pateava, à espera do que iria a abadessa fazer: talvez
desse o caso por encerrado e então o burrico seria seu
definitivamente.
Oportuna que percebera plenamente as más intenções do
guarda-florestal, resolveu não mais tratar da questão com o
desonesto, mas com Deus. E a Ele se dirigiu, pedindo que fizesse
justiça.
Ora,
uma bela manhã, quando o guarda deixou a casa e lançou os olhos
pelas terras que possuía, viu que um dos seus campos estava
completamente coberto por, pensava ele, espessa camada de alvíssima
neve.
Qual
não foi a sua surpresa quando, tendo corrido para o campo, que não
ficava longe, verificou que não se tratava de nevem mas sim de sal.
Aturdido com o prodígio, logo pensou na feia acção que cometera,
tendo para si o que não lhe pertencia: aquilo era, sem dúvida, uma
advertência do céu. E, tornando, passou o cabresto no burrico e
correu levá-lo ao mosteiro, envergonhadíssimo.
Num
repente, atirou-se aos pés da santa abadessa e pediu perdão pelo que
fizera. E doando ao mosteiro aquele campo, que passou a chamar-se
Campo Salgado, sentiu-se o guarda com a alma mais leve. Tempos mais
tarde, ali se construiu uma capela, pequenina e graciosa que se
dedicou à Santa.
Oportuna também recebeu de Deus o poder de submeter os animais e as
aves à sua vontade.
Certa
vez, foram dizer-lhe que uma nuvem de passarinhos se abatera sobre
as hortas das redondezas e estava causando um estrago terrível.
Oportuna foi-lhes ao encontro. E, dizendo às avezinhas que se
considerassem suas prisioneiras, passou, suavemente, a reprovar o
que andavam a fazer.
Os
passarinhos não podiam mover-se. Estava como que presos no chão, nas
árvores, nos paus das cercas. Depois que terminou a censura,
deu-lhes a santa abadessa a liberdade com a condição de que não mais
entregassem aos estragos. Só então recuperaram a faculdade de
locomoção.
Nem bem
chegara Oportuna à abadia, e alguém veio contar-lhe que as aves,
portando-se estranhamente, voando e piando tristemente, não
abandonavam um determinado lugar.
Tornou
então a abadessa para o meio dos pássaros. E, tendo descoberto que
haviam matado um deles, por isso que chilreavam tão compungidamente
e não se iam, Oportuna, tomando ternamente nas mãos a avezita morta,
rogando a Deus, restituiu-lhe a vida.
Num
grande bando que empanou a luz do sol, os pássaros, agora cantando
alegremente, desapareceram e jamais voltaram às razias.
A
trágica morte do irmão, friamente assassinado em Nonant, por um
competidor, foi um golpe tremendo para a santa virgem. Nada abrandou
a sua grande mágoa. Transportado para a abadia o corpo do irmão,
sobre ele Oportuna chorou longamente, suplicando ao Senhor que a
levasse também.
Deus
ouviu-lhe os insistentes rogos. E, poucos meses depois, sabedora de
que se ia do mundo, reuniu a comunidade e transmitiu-lhe a notícia.
Exortando as religiosas para que vivessem na paz, sempre unidas, a
estritamente observar os votos feitos, dias mais tarde, ardendo em
febre, recebeu o Corpo e o Sangue de Jesus, vendo a Virgem que lhe
vinha ao encontro, e, assim, naquele doce êxtase sem par, faleceu
santa e calmamente.
Morta
no dia 22 de Abril de 770, o corpo da milagrosa abadessa e virgem
foi sepultado no mosteiro mesmo que governara, ao lado do irmão
bem-amado.
Tantos
foram os milagres ali operados pelo Altíssimo que o lugar não
comportava a multidão de gente vinda de toda a parte.
Comprimindo-se, acotovelando-se, todos queriam abeirar-se do túmulo
de Oportuna, na ânsia de conseguir as graças que lhe rogavam.
Há, na
França, diversas igrejas dedicadas a Santa Oportuna.
(Livro Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume VII, p. 178 à 181)
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