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PONTOS
DE REFLEXÃO
I LEITURA – Act 13,14.43-52
A questão central gira, portanto,
à volta da reacção de judeus e pagãos ao anúncio de salvação apresentado
por Paulo e Barnabé. O texto põe em confronto duas atitudes diversas
diante da proposta cristã: a daqueles que pensavam ter o monopólio de
Deus e da verdade, mas que estavam instalados nas suas certezas, no seu
orgulho, na sua auto-suficiência, nas suas leis definidas e comodamente
arrumadas e não estavam, realmente, dispostos a “embarcar” na aventura
do seguimento de Cristo (judeus); e a daqueles que, no desafio do
Evangelho, descobriram a vida verdadeira, aceitaram questionar-se,
quiseram arriscar e responderam com alegria e entusiasmo à proposta
libertadora que Deus lhes fez por intermédio dos missionários (pagãos).
A Boa Nova de Jesus é, portanto, uma proposta que é dirigida a todos os
homens, de todas as raças e nações; não se trata de uma proposta
fechada, exclusivista, destinada a um grupo de eleitos, mas de uma
proposta universal, que se destina a todos os homens, sem excepção. O
que é decisivo não é ter nascido neste ou naquele ambiente, mas é a
capacidade de se deixar desafiar pela proposta de Jesus, de acolher com
simplicidade, alegria e entusiasmo essa proposta e de partir, todos os
dias, para esse caminho onde o nosso Deus nos propõe encontrar a vida
nova, a vida verdadeira, a vida total.
II LEITURA – Ap 7,9.14b-17
O texto que nos é proposto
apresenta-nos uma multidão imensa, inumerável, universal, pois pertence
a todas as nações. Os que a compõem estão de pé, em sinal de vitória,
pois participam da ressurreição de Cristo; levam túnicas brancas, o que
indica que pertencem à esfera de Deus (o branco é a cor de Deus);
aclamam com palmas (alusão à festa das tendas, uma festa celebrada no
final das colheitas, marcada pela alegria e pelo louvor. Recorda o êxodo
– quando os israelitas viveram em “tendas” – e, por influência de Zac
14,16, assume claras ressonâncias escatológicas. Na liturgia dessa
festa, a multidão entrava em cortejo no recinto do Templo, agitando
palmas e cantando) e louvam Deus e o “cordeiro”. Quem são estes? São os
que “vieram da grande tribulação e que branquearam as vestes no sangue
do cordeiro”, isto é, que suportaram a perseguição mais feroz e
alcançaram a redenção pela entrega de Jesus (vers. 14). Que fazem eles?
Estão diante de Deus tributando-Lhe o culto, dia e noite. Esse culto não
é o somatório de um conjunto de ritos mas, antes de mais, a permanente e
gozosa presença diante de Deus e do “cordeiro”. A “Festa das Tendas”
fazia alusão à marcha do Povo de Deus pelo deserto, desde a terra da
escravidão até à terra da liberdade. A referência a esta festa neste
contexto significa que se cumpre, agora, o novo e definitivo êxodo:
depois da intervenção final de Deus na história, a multidão dos que
aderiram ao “cordeiro” e acolheram a sua proposta de salvação,
alcançaram a libertação definitiva, foram acolhidos na “tenda” de Deus;
aí, não os alcançará mais a morte, o sofrimento, as lágrimas… Cristo
ressuscitado, sentado no trono, é o pastor deste novo Povo, e que o
conduz para “as fontes de águas vivas” – isto é, em direcção à plenitude
dos bens definitivos, onde brota a fonte da vida plena. Em conclusão:
aos “santos” que gritam por justiça, anuncia-se uma mensagem de
esperança. O quadro antecipa o tempo escatológico: da acção de Deus, da
sua definitiva intervenção na história, resultará a libertação
definitiva do Povo de Deus; nascerá a comunidade escatológica, a
comunidade dos libertados, que estarão para sempre em comunhão com Deus
e que gozarão em plenitude a vida definitiva.
EVANGELHO – Jo 10,27-30
O texto que nos é proposto
acentua, sobretudo, a relação estabelecida entre o Pastor (Cristo) e as
ovelhas (os seus discípulos). A missão desse Pastor (Cristo) é dar vida
às ovelhas. Ao longo do Evangelho, João descreve, precisamente, a acção
de Jesus como uma recriação e revivificação do homem, no sentido de
fazer nascer o Homem Novo (cfr. Jo 3,3.5-6), o homem da vida em
plenitude, o homem total, o homem que, seguindo Jesus, se torna “filho
de Deus” (cf. Jo 1,12) e que é capaz de oferecer a vida por amor. Os que
aceitam a proposta de vida que Jesus lhes faz não se perderão nunca
(“nunca hão-de perecer e ninguém as arrebatará da minha mão” – Jo
10,28), pois a qualidade de vida que Jesus lhes comunica supera a
própria morte (cf. Jo 3,16;8,51). O próprio Jesus está disposto a
defender os seus até dar a própria vida por eles (cf. Jo 10,11), a fim
de que nada nem ninguém (os dirigentes, os que estão interessados em
perpetuar mecanismos de egoísmo, de injustiça, de escravidão) possa
privar os discípulos dessa vida plena. As ovelhas (os discípulos), por
sua vez, têm de escutar a voz do Pastor e segui-l’O (cf. Jo 10,27). Isto
significa que fazer parte do rebanho de Jesus é aderir a Ele, escutar as
suas propostas, comprometer-se com Ele e, como Ele, entregar-se sem
reservas numa vida de amor e de doação ao Pai e aos homens. O texto
termina com uma referência à identificação plena entre o projecto do Pai
e o projecto de Jesus: para ambos, o objectivo é fazer nascer uma nova
humanidade. Em Jesus está presente e manifesta-se o plano salvador do
Pai de dar vida eterna (vida plena) ao homem; através da acção de Jesus,
a obra criadora de Deus atinge o seu ponto culminante.
Padre José Barbosa Granja,
Reitor da Basílica dos Congregados, Braga. |