Dionísio da Natividade e Redento da Cruz
Beatos
Os
carmelitas, Dionisio e Redento, encontraram-se no ano de 1635, no
Convento do Carmo, em Goa. Sem antes se conhecerem, aqui se juntaram
para virem a ser os primeiros mártires da família fundada por Santa
Teresa de Jesus e S. João da Cruz. O Beato Redento da Cruz é
portugês, natural de Cunha, Paredes de Coura, Viana do Castelo. Aqui
nasceu em 1598. O seu nome de baptismo foi Tomás Rodrigues da Cunha.
Cresceu embalado por sonhos dourados de guerreiro e de glória. Muito
jovem ainda dirigiu-se a Lisboa, onde embarcou para a India vindo a
ser nomeado capitão pela sua valentia nas batalhas em que tomou
parte. Não só devido à sua valentia, mas também à destreza e ao seu
espírito afável e temperamento comunicativo e alegre, conquistava as
simpatias de quantos o conheciam. Na cidade de Tatá, no reino de
Sinde, conheceu os carmelitas descalços que aí tinham uma
comunidade. Depressa se sentiu atraído peio estilo de vida destes
homens que, seguindo os passos de S. Teresa de Jesus e S. João da
Cruz, viviam uma santidade alegre e comunicativa. A princípio, o
prior do convento escusou-se a admitir o capitão da guarda de
Meliapor pensando que ele não era para aquele género de vida. Mas
Tomás Rodrigues da Cunha tanto insistiu que o prior acedeu ao seu
pedido deixando-o tomar hábito e iniciar o noviciado. Tomás deixou
tudo: a carreira militar, a posição social, a glória e até o nome
vindo a chamar-se, desde então, Frei Redento da Cruz.
No ano
de 1620, foi fundado o nosso convento do Carmo de Goa, para onde foi
enviado Frei Redento, depois de também ter sido frade conventual no
convento de Diu. Frei Redento cativava com a sua simpatia e era
estimado por todos por ser alegre, simpático e com um grande sentido
de humor. Em Goa, deram-lhe o ofício de porteiro e sacristão. No ano
de 1600, em França, nasceu Pedro Berthelot. Também este jovem se
inclinou para o mar fazendo-se marinheiro apenas com 12 anos de
idade. Em 1619, também ele embarca para a India, onde trabalhou para
a armada francesa e holandesa, ao serviço de quem se tornou célebre,
ascendendo a piloto de caravela. Finalmente colocou-se ao serviço
dos portugueses que o nomearam Piloto-mor e Cosmógrafo das Indias.
Deixou-se contagiar pelo testemunho do carmelita, Frei Filipe da
Santíssima Trindade e decidiu, como ele, fazer-se carmelita. Todos
os dias visitava a igreja do Carmo e um dia decidiu tomar hábito.
Era a véspera do Natal e recebeu o nome de Frei Dionísio da
Natividade.
Em
1636, os holandeses atacaram Goa. O Vice-rei das índias escreve ao
Prior do Carmo pedindo-lhe licença para o noviço Frei Dionísio
comandar as operações. O que aconteceu. O Piloto-mor e Cosmógrafo
das Indias, agora vestido de hábito castanho e capa branca e
calçando sandálias, conduziu a esquadra portuguesa à vitória. Em
1638 foi ordenado sacerdote.
O Irmão
Redento da Cruz continuava o seu ofício de porteiro do convento do
Carmo de Goa, enquanto Frei Dionísio se preparava para o sacerdócio.
Todos conheciam o porteiro do Carmo e todos o tinham por santo. Não
perdia ocasião de a todos edificar oferecendo fios, que arrancava do
seu hábito, às pessoas suas amigas, dizendo-lhes que eram relíquias
de santo. As pessoas riam-se com Frei Redento, mas ele apenas dizia:
«agora riem-se, mas esperem um pouco e haveis de ter pena de não ter
mais relíquias minhas». Deus segredava-lhe ao coração que um dia
seria santo. Em 1638 novamente foi solicitado ao Prior dos
carmelitas que autorizasse Frei Dionísio a comandar uma nova
expedição. Concertadas as coisas, Frei Dionísio escolheu e pediu por
companheiro a Frei Redento da Cruz que ao despedir-se da comunidade
disse sereno e de bom humor: «se eu for martirizado pintem-me com os
pés bem de fora do hábito, para que vendo as sandálias todos saibam
que sou carmelita descalço». Tentaram, as pessoas e benfeitores do
convento, impedir por todos os meios a saída do santo porteiro do
Carmo temendo o seu martírio. Finalmente, como último recurso,
colocaram-lhe drogas na comida para o adormecerem, mas estas não
surtiram efeito. Seguidamente embarcou o santo exclamando: «vamo-nos
que tenho de ser mártir».
De
facto, traídos pelo rei de Achem, a armada portuguesa foi
surpreendida e detida. Forçaram-nos a renegar a fé mas não
conseguiram tal traição a Cristo de nenhum dos 60 prisioneiros.
Decidiram o seu martírio. Muitos dos sessenta prisioneiros eram
rapazes jovens. Havia também um sacerdote indiano que recusou a
liberdade. Frei Redento foi o primeiro a ser martirizado,
encorajando os companheiros de martírio; Frei Dionísio, o último
para a todos confortar. Era o dia 29 de Novembro de 1638. Quando em
Goa se soube do acontecimento, repicaram os sinos na igreja do Carmo
como em dia de grande festa e cantaram um Te Deum em acção de
graças. |