CANÁ E FÁTIMA
As
duas frases de que será questão aqui, são muito semelhantes e
ambas foram pronunciadas por Maria, nossa Mãe, em circunstâncias
diferentes, mas ambas têm o mesmo fim: aconselhar.
O
Apóstolo e Evangelista São João, quando descreve as bodas de
Caná explica:
«Celebrava-se uma boda
em Caná da Galileia e a mãe de Jesus estava lá. Jesus e os seus
discípulos também foram convidados para a boda. Como viesse a
faltar o vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: “Não têm vinho!”
Jesus respondeu-lhe:
“Mulher, que tem isso a ver contigo e comigo? Ainda não chegou a
minha hora.” Sua mãe disse aos serventes: “Fazei o que Ele vos
disser!”» (Jo. 2, 1-5)
“Fazei o que Ele vos disser”,
eis o conselho de Maria aos serventes das bodas e não só, visto
que nós também somos serventes das bodas eternas, por isso
mesmo, quando vem a faltar o vinho da nossa espiritualidade,
Maria, quase imperceptivelmente, nos lembra a necessidade de
“fazermos o que Ele nos disser”. Acontece muitas vezes que
este conselho permanece em nós como letra morta, porque nem
sempre compreendemos os apelos que Maria nos dirige todos os
dias e em todos os cantos da terra. Esquecemos facilmente que
sempre devemos ter “acesas as nossas lâmpadas” (Lc. 12,
35), porque, como diz o Evangelho,
“felizes
aqueles servos a quem o senhor, quando vier, encontrar
vigilantes!”
(Lc. 12, 37), de maneira a não recebermos a terrível resposta
dada pelo Esposo às virgens insensatas: “Não vos conheço”
(Mt. 25, 12), porque “todo aquele que comete o pecado é servo
do pecado” (Jo. 8, 34).
Façamos pois “o que Ele nos disser”, para possamos fazer parte
daqueles de quem Jesus disse: “Felizes
os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt. 5, 8).
A
outra frase de Maria, mais ou menos com o mesmo teor, foi
pronunciada pela Mãe de Deus em Fátima:
“Se fizerem o que Eu vos disser,
salvar-se-ão muitas almas e
terão paz”
(Memórias da irmã Lúcia de Jesus).
Quase vinte séculos eram passados após as bodas de Caná, mas
Maria, Mãe extremosa não nos tinha esquecido. Aliás, como
poderia uma boa mãe esquecer os filhos?
Ao
aparecer em Fátima, a Virgem Maria voltou a lembrar aquele
sensato conselho que outrora dera aos serventes da boda: “Fazei
tudo o que Ele vos disser”, salvo que agora, Ela apresenta-se
como Mãe e Rainha, como Senhora da Vitória, Senhora do Rosário e
então emprega a primeira pessoa, não porque se sentisse superior
ou diferente daquele dia das bodas em Caná, mas simplesmente
porque vinha em missão, vinha de mando de seu bendito Filho
Jesus, investida dos poderes celestes e da autoridade que
compete à Rainha do Céu e da terra: “Se fizerem o que Eu vos
digo…”
Quase um século passou desde este chamamento em Fátima e, que
fizemos nós? “Fizemos tudo o que Ele nos disse”? “Fizemos o que
Ela nos disse”?
A
resposta a esta pergunta está no coração de cada um de nós.
Contudo, quando olhamos a situação do mundo, ou melhor, da
humanidade, é-nos difícil acreditar que tenhamos feito tudo
quanto “Ele e Ela nos disseram”.
Em
Fátima, pouco após este conselho maternal, a Virgem Maria
prosseguiu:
“A guerra vai acabar. Mas, se não deixarem de ofender a Deus, no
reinado de Pio XI começará outra pior. Quando virdes uma noite,
alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal
que Deus vos dá de que vai
a punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da
fome e de perseguições à Igreja”.
E
aconteceu de facto outra guerra que provocou milhões de mortos,
causou falta de alimentos e a Igreja sofreu muito, sobretudo na
pessoa do Venerável Papa Pio XII.
Mas
nós continuamos surdos e cheios de nós mesmos, cheios da nossa
auto-suficiência e o que diz a Virgem Maria, o que diz o Papa,
são palavras que o vento leva e que nem chegam a entrar nos
ouvidos duma grande parte dos homens.
Queridos amigos, lembremos em todos os momentos das nossas
vidas, tanto na alegria como na dor, que nos é necessário ouvir
a voz materna da Virgem Maria, nossa querida Mãezinha, e que
prátiquemos o seu Santo concelho:
“Fazei tudo o que Ele vos disser” !
Afonso Rocha |