Virtudes da Beata Alexandrina
“Manda quem pode e obedece quem deve”,
escreveu a Beata Alexandrina no seu Diário espiritual de 9 de
Novembro de 1943.
De
facto, uma das suas grandes virtudes era a obediência. Obedecia
cegamente aos seus directores espirituais e acatava com grande
humildade tudo quanto lhe fosse pedido ou ordenado pela hierarquia
eclesiástica, mesmo quando — e isso aconteceu diversas vezes — esta
obediência lhe custava ou lhe causava grandes sacrifícios. Os seus
escritos estão repletos de provas desta obediência que não deixava
lugar para hesitações ou desculpas. No seu diário
espiritual — “Sentimentos da alma” —, de 22 de Março de 1952,
podemos ler esta curta frase: “Não posso, mas quero obedecer para
provar o meu amor a Jesus”.
Ela não
pode porque a doença continua nela a sua obra devastadora, não pode
porque preferiria que não falassem dela, que a deixassem no seu
quartinho sozinha, na intimidade com Jesus e Maria, mas antes de
mais precisava de obedecer ao que lhe tinha sido imposto pelo
Director espiritual: escrever tudo o que se passava na sua alma, os
“sentimentos da alma”.
Esta
obediência constante “é a razão por que ela, com todo o
sacrifício, diz alguma coisa do muito que lhe vai na alma”,
explica ela no mesmo diário, na mesma data.
As
visitas de que é objecto, as solicitações para que ore por intenções
que lhe são confiadas, a salvação das almas e o seu amor ardente a
Jesus, motivam esta obediência, mas não sem sacrifício, mas não sem
dor, como ela mesma explica:
“A
minha pobre natureza está cansada, geme dia e noite, sob o peso da
cruz. Causa-me verdadeiro horror tudo quanto é sofrer. Mas a alma
tem uma sede ardentíssima, sede infinita de se dar e a Jesus dar
todas as almas”.
Alexandrina é habitada por uma alma pura, uma alma que não conhece o
pecado, mesmo se conhece os efeitos deste e, se esta alma está
sempre pronta ao sacrifício, à entrega total, é porque “ela
compreende, porque Jesus a faz compreender que é a dor, a cruz, o
grande meio de salvação”.
E,
mesmo quando exausta ela afirma: “eu não posso, ainda que não
possa mais, mas confiada na força e graça do meu Senhor, quero tudo
e tudo aceito por Seu amor”.
Este
heroísmo no sofrimento e na aceitação humilde de tudo quanto Jesus
“quer precisar” dela é ainda uma ocasião suplementar para demonstrar
a sua exemplar e sempre constante humilde, quando afirma que nada
sabe, que nada pode, que a nada serve. “Se a minha ignorância — escreveu
ela — soubesse dizer o quanto eu suspiro por me dar a Jesus, por
sofrer por Ele e Lhe dar todas as almas!”
E esta
loucura amorosa, fonte da sua obediência inalterável, leva-a a esta
constatação, a este suspiro doloroso:
“Ah!
Se eu possuísse todos os corações abrasados no mais puro amor para
amarem a Jesus, e todos os corpos, o mais dolorosamente
martirizados, para Lhe dar toda a reparação, só isto me satisfaria”.
E ainda
esta constatação dolorosa que ela deixou no seu Diário de 20 de
Março de 1942:
“Que
pena, Jesus, que se não conheça o valor da obediência e tudo o que
operais nas almas.”
Do
tempo em que foi mais perseguida e ameaçada pela Cúria de Braga,
encontramos nos seus escritos — com a data de 1 de Agosto de 1944 —
este curto texto que prova de maneira evidente a sua submissão à
autoridade eclesiástica:
“Querem privar-me de tudo, até me ameaçam de eu ficar sem Vos
receber, proibindo o Senhor Abade de vir junto de mim a não ser em
perigo de vida, isto no caso de eu não obedecer. Obedeço, obedeço,
meu Jesus, com a Vossa divina graça! Ó santa obediência, como eu te
amo por Jesus e pelas almas.”
Na sua
autobiografia encontramos esta oração dirigida a Nossa Senhora onde
ela pede diversas virtudes e, entre elas, a obediência:
“Ó
Mãezinha, fazei-me humilde, obediente, pura, casta na alma e no
corpo. Fazei-me pura, fazei-me um anjo. Transformai-me toda em amor,
consumi-me toda nas chamas do amor de Jesus. Ó Mãezinha, pedi perdão
a Jesus por mim! Dizei-Lhe que é o filho pródigo que volta a casa do
seu bom Pai, disposto a segui-Lo, a amá-Lo, a adorá-Lo, a
obedecer-Lhe e a imitá-Lo.”
Como
Jesus, seu modelo e seu divino Esposo, Alexandrina foi “obediente
até à morte e morte de cruz” (Fil. 2,8).
Aprendamos dela a obediência e a humildade.
Afonso Rocha |