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SENTIMENTOS DA ALMA

1945

DEZEMBRO

1º de Dezembro de 1945 – Primeiro sábado

Depois da Sagrada Comunhão, principiou logo Jesus a suavizar a dor da minha alma e a dar-lhe um bocadinho da Sua luz divina.

– Minha filha, estrela do mundo, luz que o ilumina, farol que o guia ao meu Divino Coração. Escuta, alegria dos meus olhos divinos, aceita os meus divinos braços, abraça com eles a cruz que te dou, abraça-a com as forças divinas, já que as forças humanas não as tens. É cruz de amor para ti. Na tua vida de sofrimento está bem provado o amor com que te amo e o amor com que me amas a mim. Amo-te, tu amas-me. És minha, és das almas. A cruz que te dou é a cruz da mais alto valor para elas. Coragem, sempre firme nos braços do teu Jesus. O mundo fere tanto o meu Divino Coração! Suaviza a minha dor, salva-me os pecadores, compra-os com esta cruz do mais elevado preço. O teu sofrimento não é igualado a outro. Confia em mim, não temas vacilar. Dos teus olhos, dos teus sorrisos, da tua voz enfraquecida caem encantos atraentes, sai abundância de amor, saem bálsamos suavíssimos para as chagas dos pecadores. O mundo está nojento. Faz com os teus sofrimentos que os meus olhares divinos o possam fitar.

– Jesus, sinto a força dos Vossos divinos braços, com a qual estreito a mim a cruz bendita que me destes. Quero acudir ao mundo, mas primeiro que tudo quero suavizar a dor do Vosso Divino Coração. Aqui me tendes, Jesus, com os meus desejos, com a minha boa vontade. Mais nada tenho, sou a mais inútil e indigna das Vossas filhas. Se alguma coisa vedes de bom em mim, é Vossa, Jesus. Sofrei em mim e por mim. Vencei neste pobre corpo e alma, sede a minha força.

– Minha filha, eu não te falto, não duvides. O céu vem, e bem depressa tudo se realizará. Dou-te o teu Paizinho. Diz-lhe que o meu divino amor para ele é grande, tão grande como grande é o meu poder. Diz-lhe que a luz e guia das minhas maravilhas, das minhas grandes coisas, tinham que assemelhar-se no sofrimento a ti. Tirei dele grande proveito para as almas e grande glória para mim. Diz-lhe, Jesus lho afirma: será o mestre das grandes almas, das almas abrasadas de amor por mim. Diz ao teu médico, minha filha, que lhe dou por ti o meu Coração, cheio de amor, como penhor do meu agradecimento, por cuidar da minha causa, amparar teu corpo e alma. A minha bênção para ele e todos os que lhe são caros. Não posso exigir de ti o esforço de ditares mais. É grande violência. Quero que ele, ou alguém que saiba, o faça apenas para se conhecer a minha acção divina na tua alma. Que façam um apanhado de algum sentimento, que sem esforço e até distraída fores dizendo, e de algumas palavras que eu for dizendo para encorajar-te e confortar-te. Que apanhem tudo, enquanto alguma coisa sabes dizer. Quando vier o teu Paizinho, aumentará o teu martírio por não saberes dizer a dor que sentes. A tua cegueira fará, por assim dizer, uma cegueira total. Tem coragem! No meio das tuas trevas está sempre o teu Jesus. Minha Mãe bendita, toma em teus santíssimos braços a nossa filhinha, dá-lhe o conforto do céu, já que o da terra todo lho tiraram. Estreita-a agora em teu Coração até que breve a possas estreitar no céu.

A Mãezinha abraçou-me, aqueceu-me com o calor do Seu amor. Uniu a mim o Seu santíssimo rosto, beijou-me e por último abraçou-me com Jesus.

– Vai em paz, minha filha, leva o amor do teu e meu Jesus. Vai semeá-Lo, vai dá-Lo aos que te são queridos; vai dá-Lo ao mundo inteiro. Semeia, minha filha, as nossas graças – disse Jesus – semeia aqui na terra, para, dentro em pouco, a mesma sementeira continuares no céu.

7 de Dezembro de 1945 – Sexta-feira

Jesus e a Mãezinha me abençoem mais este sacrifício, que vou fazer, em ditar algumas palavras. Que Eles sejam a minha força. Que tremendo é o sofrimento da minha alma e do meu corpo! Temo morrer e já temo não morrer. Temo morrer sem que me seja dado o meu Pai espiritual. E já temo não morrer depois de ele vir junto de mim. Falo do corpo e falo da alma, mas parece-me que nem a um nem a outra tenho. No lugar do corpo ficaram as dores físicas, e no da alma as dores morais. Sinto serem estas que ocupam os seus lugares. Ai de mim, não sei dizer o que se passa. Para onde foi o meu corpo? Para onde foi a minha alma? Eu queria-os e não os tenho. Parece que não os possuo nem nunca os possuí. A minha cama, a minha cama! Não posso estar nela. Que medo eu tenho! Quero abandoná-la e desaparecer. Apetece-me dizer a Jesus que não quero sofrer.

Que tentação do demónio contra a fé! O céu não existe, não há Deus, não há almas a salvar, de nada vale sofrer assim! Não sei dizer as minhas amarguras. Sinto que ninguém me compreende. Todos me desprezam, e as humilhações esmagam-me. A cegueira do meu espírito cegou-me por completo.

– Ó trevas, negras trevas que me matastes! Ó meu Jesus, tinha tanto que dizer e não sei e não posso falar. Quero gritar, quero chorar. Não há quem se comova das minhas lágrimas.

O horto de ontem foi tão duro ao meu coração! A terra, onde eu estava prostrada com Jesus, eram só espinhos. E eu não podia ver Jesus prostrado sobre eles. Era um banho de sangue para mim e para Ele. Vi-O no meio de tanto sofrimento, de rosto tão sereno, a oferecer ao Pai, repetidas vezes, o cálice da amargura.

E o calvário de hoje? Eu era como que uma bola que rolava de cima a baixo e de baixo a cima pelo meio dos sofrimentos. Era a bola de entretimento dos algozes. Descia, quando pelo furor era arrastada. Subia, quando a violência me fazia subir. E sobretudo o amor, sim, esse me obrigava a caminhar. No calvário senti a Jesus de tanta forma! Primeiro, de braços abertos, ouvindo os ossos a estalarem, deslocando-se dos seus lugares. Depois, de cabeça inclinada sobre o meu coração a agonizar e a bradar, quase sem vida. Por último, senti-O depois de ter expirado. E isso, o silêncio da morte, é que condizia com a morte e cegueira do meu espírito. Veio Jesus. O sol rompeu um pouco por entre as nuvens, a alma viveu.

– Minha filha, os cravos que te prendem à cruz são cravos de amor. É o que há de mais forte, são cravos inquebráveis. Anima-te, encoraja-te. Esmaga-te o peso da justiça divina? Não temas: é para não ser esmagado o mundo e esmagado para sempre. Nada vês com as trevas e cegueira do teu espírito? Alegra-te: é para as almas saírem da cegueira do pecado e não viverem nela eternamente. No céu verás, filha querida do meu Divino Coração, quanto os teus sofrimentos foram úteis para as almas. No céu verás, e dentro em breve, a vida maravilhosa, a vida mais rica, a vida mais divina que viveu em ti. Operei em tua alma o que há de mais encantador. Vivi eu, viveu o céu, e não tu, e não a terra. a tua vida foi sempre do céu e não do mundo. Por ti velei, em ti semeei, em ti colhi os frutos mais deliciosos para e para as almas. Ó vida toda de amor! Coragem, flor bela, flor mais rica, que a terra encerra! Ó perfume, ó perfume! Ó encantos, ó encantos!

– Não digais mais, meu Jesus. Só se quereis aumentar mais a minha dor. A minha miséria envergonha-me. Vede que não resisto. Olhai para a dor do meu pobre coração e lançai sobre mim o Vosso olhar de compaixão. Os meus ouvidos não podem ouvir coisas tão lindas, depois de me sentir tão miserável.

– Eu posso dizer, posso clamar bem alto, tenho os meus direitos: a tua generosidade e o teu amor assim o exigem. Posso chamar-te os nomes mais belos, dizer-te as palavras mais encantadoras e digo. Dou-te todos os títulos, tens o lugar de honra em meu Coração. És a chave de oiro, que tudo abre e tudo fecha. És poderosa, poderosa, a alma mais poderosa. Olha o mundo: salva-mo! Bem depressa, no céu, poderás ver todas as almas, a sua vida, o perigo em que vivem. Quando te forem recomendadas, dá-me por elas um sorriso, um olhar e diz-me: “Jesus, são para salvar”. Isso basta. E, mesmo que não tas recomende, vendo-as em perigo, lembra-mas.

– Ó meu Jesus, então vou lembrar-Vo-las todas, pois a todas quero salvar, e Vós ainda muito mais.

– Lembra, lembra, filhinha, tens os teus direitos. Vai ser muito pequenino o número das que se vão perder, só mesmo aquelas que não quiserem salvar-se. Vou, depois de amanhã, pedir-te alguns ataques do demónio. Não tos pedi nestes dias por ser a novena da tua querida Mãezinha. Ela ama-te, tu ama-La. Não mos negas, não? Vou pedir-tos pelos sacerdotes, que tanto me ofendem, pelas famílias, pelo mundo. E continua a dar, alegre, por ele o teu sangue. É teu, é meu. Ó maravilha! O Sangue de Cristo Redentor unido, transformado no da nova redentora! Ó resgate, ó redenção contínua! Vai, filhinha, tem coragem, nada temas. Tenho poder para romper todas as nuvens e vou fazê-lo, hei-de vencer os corações. Os homens nada podem contra o poder divino, são apenas estorvos à Sua luz, à Sua causa.

14 de Dezembro de 1945 – Sexta-feira

Para reparar o mal que fiz, para provar que obedeço a quem tem direito de me mandar, vou ainda fazer mais um sacrifício, ditando, embora alternadamente, o que me vai na alma. Custe o que custar, Jesus será a minha força, para eu dizer alguma coisa. Quanto se sofre e como se sofre! Tenho sofrido tanto, mas não com a perfeição com que devia sofrer. Que pena eu tenho!

O demónio tem procurado todos os meios para fazer-me perder e desgostar o meu Jesus. Fui por ele assaltada três vezes fortemente. No primeiro ataque, atormentou-me em forma de cão. Nos outros dois, em forma de homem. Que gestos feios, que feias coisas ele me disse! Houve um pequeno intervalo, dum ao outro ataque. Foi de madrugada. Cansada de combater, fiquei com uma tristeza mortal e com duas vergonhas ao mesmo tempo: a corporal e a espiritual. De cabeça baixa, não podia levantar os olhos para Jesus. E a alma não podia aguentar-se na Sua divina presença. Nunca tal vergonha tinha sentido. E tinha, dentro de poucas horas, de comungar. Mas, no momento da comunhão, a vergonha desapareceu, e pude em paz receber Jesus. Eu repeti-Lhe, ao terminar da luta, o que muitas vezes Lhe tenho dito: que antes queria o inferno, naquele momento, do que ofendê-Lo.

– Pecar, não, pecar, não, Jesus.

Mas o maldito afirma que eu tenho pecado e que de mim haviam de sair muitos descendentes do demónio.

O dia oito, o dia da Mãezinha, foi da maior escuridão e tristeza profunda. Queria amá-La, consolá-La, falar com Ela, dizer-Lhe muitas coisas e não sabia. Que vida perdida, de vez em quando, me sugeria o demónio! E, logo no dia seguinte, quando me atormentou fortemente, dizia-me:

– Não és amada por Maria. Se o fosses, Ela não deixava passar o dia de ontem sem te consolar e não te deixava sofrer mais.

Isto avivava fortemente a minha dor. Há dias em que mal podia resistir com as ânsias de ter junto de mi o meu Pai espiritual. Se sempre tenho sentido a união das nossas almas, agora muito mais ainda. Não são coisas da imaginação, é a alma que o vê, que o sente, como se viesse voando de longe para junto do meu leito. E, por vezes, em espírito falava com ele, desabafava dolorosos sofrimentos, que nestes quatro anos de separação feriram profundamente o meu coração e a minha alma. Quando reflectia que eram com ele estes desabafos, a custo resistia à dor.

– Meu Deus, o que será isto? Será para mo deixarem vir agora junto de mim?

E assim ia vivendo nisto. Chegou o dia dez. Pelas nove e meia da manhã, tive alguém amigo, que veio visitar-me e deu-me a triste notícia de que o meu Pai espiritual sairia para o estrangeiro, mas sem saber a certeza se sim ou não a novidade tinha fundamento. Ao ouvir isto, fiquei como se um punhal agudo me atravessasse o coração e me tirasse a vida. Fiquei calma, serena e confiada e disse:

– Não me convenço, não pode ser, não pode ser, não pode ser! Nosso Senhor não falta ao que promete. Se isso assim fosse, seria o bastante para eu desesperar.

Foram poucos os momentos desta tranquilidade: uma tempestade fortíssima se levantou em meu espírito. O demónio trazia-me à imaginação quanto havia. Via a minha vida enganosa e cheia de ilusões. Enganosa, porque me parecia ter enganado, mas nunca procurava enganar os outros. E, nesta angústia, ouvia uma voz que me segredava: “não, não, não vai, confia!” Até aqui mandaram os homens, mas agora mando eu. A alma via uma mão como que a impedir a sua saída e a acalmar tudo. Mas a tempestade furiosa, a cegueira tremenda do meu espírito tudo fizeram desaparecer. Seria o demónio a enganar-me? E continuaram as mesmas dúvidas, o mesmo tormento. A minha cabeça parecia transformar-se em água. Não podia mais. É indizível o meu sofrimento, estava no auge. Chorei muitas lágrimas, mas lágrimas resignadas. Oferecia-me a Jesus como vítima. Umas vezes com os lábios, outras em espírito. Rezava o Magnificat em acção de graças por tanto sofrer e dizia:

– Louvado seja o Senhor! Bendito seja o Senhor!

E, quando isto dizia, o meu coração vibrava de entusiasmo, pois o seu único fim era que Jesus fosse bendito e louvado. De noite, nos momentos em que tive sono, ao despertar, sentia o coração tão vivamente ferido e perguntava a mim mesma:

– O que é esta dor? O que é que me fere?

E, no mesmo momento, principiava a tempestade, relembrava tudo.

– Jesus, sou a Vossa vítima!

Na comunhão do dia onze, queria perguntar a Jesus se sim ou não era verdade o que se dizia da saída do meu Pai espiritual. Não me atrevi.

– Jesus, quero fazer só aquilo que é mais perfeito. Fazei que a minha confiança em Vos suba, suba, suba, vá tão longe quanto pode ir.

Ao fazer as vinte e quatro horas deste martírio, disse:

– Jesus, vinte e quatro horas de agonia, e sem ter uma luz! Dai-me, dai-me quem me console!

Lágrimas, oferta de vítima, magnificat, louvores ao Senhor, era o meu entretimento de todas as horas. Mas ai! Em quantas me parecia vacilar, desesperar! Por grande espaço de tempo, repetia sempre:

– Jesus, Mãezinha, tende dó, valei, valei à Vossa pobrezinha!

Ao fazer as quarenta e oito horas, disse:

– Jesus, sabeis bem que toda esta minha preocupação, todo este martírio são por Vós, pelas almas, não por mim. Passasse eu pelo que passasse, mas não sofresse a Vossa divina causa, não sofressem as almas. Vede o bom nome dos que me são queridos, vede o que têm feito por mim. Se eu tivesse que vender e fosse possível eu poder pagar-lhes, não só o valor material, mas as canseiras, os carinhos, o amor que me foi dispensado, já ficava satisfeita. Ai, se ao menos as minhas pobre orações fossem valiosas! Jesus, Jesus, aceitai tudo isto, para que o meu Paizinho seja libertado, dado à minha alma, dado às almas. Jesus, Jesus, não me deixeis vacilar! Ai de mim, não tenho ninguém, não tenho luz, não há quem me console! Jesus, mandai-me alguém, para conforto da minha alma.

Eu pedia a consolação não para alegria minha, mas sim para vencer sem desgostar a Jesus.

– Ó sofrimento insuportável!

Sentia e via, apesar da minha negra cegueira, que nada faltava para eu desesperar. Os pratos da balança estavam certos um com o outro. O mais pequenino sopro bastava para o do desespero baixar. Que horror, que pavor! Veio o meu médico, vieram algumas pessoas amigas, bem esperava conforto, mas não o tive. Jesus não o permitiu. Ainda me atormentou mais a lembrança de que as minhas lágrimas, ou qualquer palavra, os edificasse mal ou talvez os escandalizasse. Apesar de me parecer na balança vencer o prato do desespero, as lágrimas foram sempre resignadas. Eu não duvidava de Jesus, mas sim de mim. Temia ter-me enganado. Não desconfiava de Jesus, mas sim de mim, só de mim. Era a mim que eu temia e temo. Logo que os tenha junto de mim, vou-lhes pedir perdão pelo mau exemplo que dei. Para provar que foi a minha dor que falou e não eu, aqui estou a fazer este sacrifício, pois disse que não obedecia mais, que não ditava, para assim morrer a minha vida. Foi a dor, foi o temor de mim mesma a causa de tudo isto.

– Perdoai-me, meu Jesus. Bem sabeis que por mim não me importa voltar a ver aqui na terra o meu Pai espiritual para gosto meu, mas, ó Jesus, sois Vós, são as Vossas promessas, são as almas. Mas eu confio e espero em Vós.

Neste triste penar, passei pelo horto, subi o calvário com o coração oprimido, apertadíssimo por mãos humanas. Eu era o grãozinho de trigo moído, transformado em farinha, mas essa farinha continuava a ser moída, moída, até desaparecer. Eu era o cachinho de uvas, apertado entre a prensa, e, depois de ter dado todo o sumo, até esse tinha para ele novas prensas, que o faziam dar tudo até extinguir-se. Estava no calvário, ligadíssima à cruz. Sentia na cabeça os espinhos tão agudos que pareciam até chegar à garganta. O abandono de tudo e de todos, um clamor contínuo: meu Deus, meu Deus! A minha alma via a balança e o perigo em que estava. Queria Jesus e tinha medo de Jesus. Temia que Ele estivesse triste comigo. Queria-O para confortar-me. Temia desesperar. Ele veio de encontro à minha agonia.

– Sossega, sossega, sossega, minha filha. O que temes tu? Não sou eu teu Pai, teu Esposo e teu Rei? O que pode temer a filha de seu Pai, a esposa de seu Esposo, a rainha de seu Rei, se se amam com amor leal, com amor puro, com amor igual ao amor com que nos amamos? Eu amo-te com todo o amor, tu amas-me com todo o amor que te é possível. Sossega, sossega, não me temas. Diz-me, esposa amada, quero ouvir a tua voz. Responde-me, diz-me a causa do teu temor.

– Bem o sabeis, meu Jesus. Tenho medo de Vos ter ofendido e de não ter sofrido com a perfeição que desejais.

– Sossega, sossega, conheci bem a causa das tuas lágrimas. Quero que penses mais nas minhas palavras. Diz-me: não confias em mim? Não confias nas minhas divinas promessas?

– Sabeis bem que confio, Jesus, e, se mais não me lembro delas, Vós assim o permitis. Confio no que me dizeis, mas não confio em mim nada, nada, e temo ter me enganado.

– Não te enganaste, não te enganas, minha filha. Poderia eu deixar-te enganar-te, tu que há tanto tempo tens tido uma vida de dor, de generosidade e amor? Não, não, sossega. Dou-te o teu Paizinho, não falto às minhas promessas. Dou-te o céu em breve, muito em breve. Estás no último degrau do sofrimento e dele passarás ao céu. Não terás luz, não terás conforto, não tos dará o teu Paizinho, o suficiente para viveres? Ó vida maravilhosa, ó vida semelhante à minha! Também eu clamei, como tu tens clamado muitas vezes: “meu Deus, meu Deus!” E, como tu, também não recebi conforto. É verdade, minha crucificada, que o teu sofrimento é inigualável, chegou ao auge, nada faltava para seres lançada ao desespero. Pus no prato da vitória a minha divina mão. Podes contar com ela e com que a agonia chegue ao seu auge. Tem coragem! O mundo necessita de todo o martírio, está em perigo. Salva-o! Salva-o! Deste mar de dor, deste mar de sangue, levantam-se estrelas cintilantes, pétalas perfumadas das flores mais belas a espalharem-se pelo mundo. As estrelas dão-lhe luz, as pétalas perfumadas vão com o seu aroma cicatrizar as feridas das almas. É a tua missão, é missão salvadora. Olha a violência da dor como arranca, como espalha pelo mundo essas formosas pétalas. Têm mais força, vão mais ao longe do que as folhas das árvores, arrancadas pelo furor dos ventos, pelos horrores das tempestades.

Vi Jesus com a Sua divina mão a tirar dum abismo de sangue essas pétalas e estrelas,, a espalhá-las, a fazê-las voar. Pareciam chegar aos confins do mundo. Jesus, muito sorridente, semeava-as com canseira.

– Olha o fruto da tua dor, olha o tem amor a Jesus e às almas. Tem coragem! Vai em paz!

Após uns breves momentos, senti-me mergulhada nos mesmos sofrimentos e a alma revestida da tremenda cegueira. Vou repetindo muitas vezes:

– Meu Deus! Meu Deus! A Vós me entrego, sou a Vossa vítima. Não quero nem posso ter uma palavra de censura contra os que me fazem sofrer. Não me esqueço de orar por todos e agradeço a Jesus por tanto ter que me dar.

19 de Dezembro de 1945

Se eu estivesse no fim da minha vida, queria que a minha primeira palavra fosse: “faça-se a Vossa vontade!” Depois, como um rasto de sangue que alastrasse pelo mundo todo, queria repetir com toda a força possível: “amai, amai, amai a Jesus!” Não sei o que me vai na alma. é uma mistura de cegueira e de ânsias de salvar o mundo…

Ontem e anteontem, não perdi o sangue. O dia de ontem foi de sofrimento. Sofri muito por não perder esse sangue, que não é meu, que é a vida de tudo, pois Jesus mo disse que é um resgate contínuo. Se o perco, é o medo horroroso de morrer com o medo de que se não cumpram as promessas de Jesus. A alma, numa aflição indizível, quer dar sangue, sangue pelas almas. Hoje, voltei a dar esse sangue, mas acompanha-me neste sofrimento o pensamento de que hoje dou o sangue, mas amanhã não voltará a derramar-se. Jesus vem muita vez a consolar-me acerca do Paizinho.

– Sou Jesus, sou Jesus, confia. Dou-to, mando eu!

Veio neste dia o inimigo e deixou-me um descaramento que me deixava insensível diante de Jesus. Quanto sofri pelo meu descaramento!

Noto que, quando tudo parece ruir, a minha alma fica como um mar sem ondas… Costumo pedir a Jesus e à Mãezinha que cada momento seja como o último da minha vida. Hoje, a certa altura, senti uma consolação que me não dá alegria e vejo que Jesus então fica muito satisfeito por ver a minha disposição interior de que nada me entristecem as coisas deste mundo. Se Jesus me tirasse o sofrimento, antes queria o inferno até ao fim do mundo, porque vejo que o sofrimento é vida das almas. Não posso suportar este nada que eu sou diante de Nosso Senhor. Além do meu sofrimento, que é a minha vida, sinto em mim como que uma voz poderosa que chega até ao fim do mundo e que clama com um eco, que se não mede; clama amor e chama a humanidade a converter-se.

 

N.B. – Os sentimentos do dia dezanove foram recolhidos pelo sr. P. Humberto, em conversa com a Serva de Deus.

 

21 de Dezembro de 1945 – Sexta-feira

Horas de alívio, momentos mais felizes para melhor poder levar a pesada cruz e aguentar com o aumento do seu peso.

Tive junto de mim quem bem compreende a minha alma. Pude abrir-me, pude desabafar. Não foi gozar, mas senti-me outra, era mais forte. Parecia-me ter um coração novo, com mais vida. Não sabia como agradecer ao Senhor. Rezei o magnificat, esforcei-me por Lhe dar louvores. Ao cabo de poucas horas, tudo estava modificado.

Voltei a não ser eu, voltei às minhas trevas, à minha negra cegueira. Voltei aos meus horrores, horrores mesmo à minha cama, ao meu sofrer. Veio a hora de eu comungar. Jesus veio fortalecer-me. No fim de Lhe dar graças, novo punhal veio cravar-se na mesma ferida que o coração já tinha. Uma carta, vinda de quem não conheço, veio pedir-me orações em favor do meu Pai espiritual e anunciar-me a sua ida para o Brasil. É de estremecer e o sangue gelar nas veias. É impossível dizer a dor do coração, mas nesta hora não chorei, estava a agonizar, mas uma força, vinda não sei de onde, obrigava-me a sorrir. Fitei meus olhos em Jesus e na Mãezinha e disse-Lhes:

– Aceito, aceito, mas amparai-me, velai por mim.

No decorrer das horas, a tempestade levantou-se fortíssima. A alma manteve-se em grande serenidade e paz, mas as lágrimas deslizaram-me na face. Ia-as oferecendo a Jesus como actos de amor. Dizia-Lhe que aceitava e confiava e que Ele fosse bendito na terra e no céu. De novo rezei o magnificat e deixei crucificar-me mais fortemente na cruz.

Veio o demónio com um forte ataque. Aumentou o desfalecimento, e de novo a querer vencer a balança do mal. Parecia-me que estava toda revestida do demónio e toda presa por ele. Acudiu-me Jesus.

– Minha amada filha, a cada pancada fortíssima do teu coração, tão enfraquecido e consumido pela dor, são arrancadas as almas para sempre das garras de Satanás, saem da cegueira para a luz, do pecado para uma eternidade feliz, para o céu. Vê o valor da tua reparação. Confias em mim? Tem coragem! Não me ofendes. Eu te ajudo a levantar e a caminhar com a cruz.

Jesus levantou-se com as Suas benditas mãos e levantou também a cruz, que de novo ficou sobre os meus ombros. Foi Jesus que me levou à minha posição. Libertada do demónio, continuei na mesma cegueira e dor. Dentro de mim apareceu o horto. Temia-o tanto, tanto! Via os sofrimentos a esperarem-me e as ciladas armadas. Sentia no meu coração outro coração amarguradíssimo, e nos meus lábios outros lábios, que a toda a amargura sorriam com a maior doçura. Hoje, apresentou-se-me o calvário, tão alto, tão alto, parecia subir às nuvens. Desfalecida, não podia dar um passo sem sentir as carnes a desfazerem-se, os nervos a destruírem-se. No subir deste calvário, oh! quantos espinhos vieram ferir-me! Reguei-o com muitas lágrimas dolorosas, mas resignadas.

– Jesus, Jesus, ai quem me acode! Se não me valeis Vós, quem poderá valer-me?

Bendito, bendito e louvado seja o Senhor! A tempestade pavorosa acompanhou-me sempre. Tombou-se a barquinha nos mundos, nos mares das minhas trevas. Entregue à horrorosa cegueira, não consegui salvar-me nem voltar para dentro dela. Sentia-a junto de mim, mas não tinha força para me prender a ela. Eu não tinha corpo, era apenas um pouco de espuma do mar. Dos profundos abismos da minha cegueira, clamei fortemente ao Senhor. Clamei, mas não fui ouvida. Queria dar-Lhe, mas não tinha quê, pois não era eu quem sofria.

– Ó agonia, ó abandono, ó escuridão!

Não vinha um conforto do céu. Jesus não aparecia. De repente, a minha alma vê-O a ser descido da cruz, cruz que estava dentro de mim. A santíssima cabeça pendurada, um braço já estendido e a Mãezinha já sentada ao pé da cruz, de braços abertos para O receber. Mas ai, quanto isto me custou! Estremeci, parecia-me sentir o corpo de Jesus sem vida, frio e gelado. Eu ia com este Jesus e morta também. Mas ainda cheguei a ver a Mãezinha cuidar d’Ele, a limpar-Lhe o sangue e o pó. Que dor, que agonia! Falou Jesus:

– Filha amada do meu Coração, demorei a falar, mas não tardei em vir, porque habito sempre em teu coração, sem interrupção de um só momento. Ó maravilha, ó maravilha! O Artista Divino continua a Sua obra em tua alma. O Jardineiro celeste não cessa de colher as mais viçosas flores neste jardim, neste terreno por Ele preparado. Demorei-me a falar-te, para fazer-te participar da dor de minha Bendita Mãe, ao receber nos Seus braços o meu corpo frio e inerte, e para provar-te que, assim como Ela compartilhou da minha divina paixão, velou, cuidou de mim, assim compartilha da tua vela e cuida de ti. É a mesma redenção a seguir, é o mesmo mundo a salvar. Ó maravilhas, ó maravilhas sem igual! Não te preocupes, minha filha, com o teu desaparecimento. Sentes desaparecer todo o teu ser, só brilhar a tua miséria, para só eu aparecer e brilhar a minha grandeza. Não te importes ser apenas um pouco de espuma do mar. A tua vida já não existe, é só Cristo transformado na Sua vítima, é a vítima transformada em Cristo. Nada temas com o virar da barquinha. Nada temas da tua cegueira. Apesar de tombada e a lutares na ta escuridão, não permiti separares-te dela: é sinal de salvação. Escuta-me atentamente. Tem coragem. As minhas palavras não faltam, são firmes, mais firmes que um rochedo indestrutível. Não há mãos humanas que possam abalá-lo.

Vi Jesus, que era esse rochedo, e via-O todo rodeado por quem, a todo o custo, O queria despedaçar e destruir. E Jesus, com Suas divinas mãos, fazia como quem abana uma árvore e dizia:

– Vê como estou firme, ninguém pode destruir a minha divina obra, aquilo que é meu. Tem coragem, tem coragem! A dor é o selo real. A tua dor é amor, a tua cegueira é luz: amor que incendeia os corações, luz que ilumina as almas. O mundo é teu e está em perigo. Eu tiro do teu corpo, da tua dor sem igual, de todos os espinhos que te ferem, flores belas, flores puras, flores cândidas, para colocar na minha sacrossanta cabeça, no lugar dos espinhos que o mundo me colocou e continua a colocar.

A minha alma viu a coroa de espinhos de Jesus, transformada em lindas rosas.

– Meu Jesus, ver-Vos no gozo e na alegria, ver-Vos louvado, glorificado e adornado com as mais belas flores são os meus desejos. E, para isso, que eu viva sempre na dor, não me importa. Mas olhai, meu Jesus, não me deixeis enganar. Eu temo-me a mim mesma. Parece-me que tudo está perdido, parece-me que todo o meu viver tem sido uma completa ilusão.

– Escuta, sossega, vale tudo a palavra afirmativa do teu Jesus. Não te enganaste, não te enganas. Podes contar com o teu Paizinho. Dou-to, dou-to para a tua alma. É grande a malícia dos homens. São dignos que eu me envergonhe de os ter por meus discípulos. Foram punidos, serão punidos. Fazem escandalizar, fazem grande mal às almas. Haverá entre eles grande revolta. Hão-de sentir o peso da mão vingadora da justiça divina. É grande a responsabilidade daqueles que mais a sério tinham de ver, de tratar e cuidar daquilo que é meu. Hei-de pedir-lhes graves contas.

– Isso não, isso não, meu Jesus. Peço-Vo-lo pela Vossa cruz. Não castigueis, não lhes peçais contas. Fazei que entre todos reine a Vossa paz, reine o Vosso amor. E não Vos queixeis mais, meu Jesus. E permiti-me que eu oculte os Vossos queixumes.

– É bela, é encantadora, é grande como Deus a tua caridade, minha filha, porque é a caridade do mesmo Deus. Tudo isso me alegra e consola, mas têm de ser punidos. E já com isto são castigados: diz tudo, tudo; tudo quero saído, ditado pelos teus lábios. Serei contigo, para te dar força e para venceres todo o sacrifício. E, para te iluminar, terás toda a luz do Espírito Santo. E todas as outras coisas ficarão para quem em pouco te compreende. Não quero violentar-te. Daquilo que eu queira só dito por ti previno-te. Tem coragem! Para ti o meu castigo será de amor.

– Dizei-me, meu Jesus, o meu Paizinho sempre sai para fora de Portugal? Perdoai-me o meu atrevimento. Bem sabeis quanto me custa.

Jesus sorriu e demorou um pouco no Seu sorriso a dar-me a resposta.

– A nova pátria dele será a Pátria celeste, quando eu o permitir. Vou pedir-te mais ataques do demónio. Repara-me, é remédio para as almas, é bálsamo para as feridas dos pecadores. Nada temas, não me ofendes. Virei com a minha Bendita Mãe acalentar-te, aquecer-te ao calor do nosso amor. Vai em paz.

– Obrigada, obrigada, meu Jesus! Ai de mim! A tempestade não cessa. Ai tantos sofrimentos! Ai tanta cegueira! Oh! como estou esmagada com o peso da minha cruz!

28 de Dezembro de 1945

Nem um guia, nem um raiozinho de luz! Tenho um medo de morte da minha escuridão. Não sei dizer, não posso explicar, parece-me que os meus dias findaram na terra, que perdi toda a vida humana.

Foi no dia vinte e quatro que principiei a sentir-me assim. É esta reparação,  este estado de alma com as minhas trevas, com esta negra cegueira que me faz sentir que todas as almas e todo o mundo vivem nas mesmas trevas e na mesma cegueira de espírito. Não sei o que é, desapareci e fiquei. Esta vida, que perdi, foi ressuscitar não sei onde e lá continua numa sede ardente de salvar o mundo. Sinto que desse lugar, onde foi a ressuscitar, vem uma ligação para a terra, uma ligação para a dor, que dá força à mesma dor, faz companhia na terra. Não compreendo. Foi e ficou, findaram os dias e continuam os dias.

Noite de Natal! Ao nascer Jesus, disse-Lhe muitas coisas, sem saber dizer-Lhe nada. Pedi-Lhe muitas graças, muita luz, sem nada sentir, receber nem ver. Acompanhei-O no presépio sem ter vida, sem ter nada para poder fazer-Lhe companhia. Entreguei-me assim ceguinha ao Seu Coraçãozinho e bracinhos pequeninos. De manhã, ao recebê-Lo, tive com Ele os meus desabafos. Fiz-Lhe a entrega do meu Pai espiritual, mas queria as Suas promessas realizadas e que toda a minha preocupação era por ele, pelas almas e pelos que me eram queridos. Se fosse só eu a ser humilhada, nada me afligia. Nesta oferta o coração retalhava-se de mais viva dor. Disse-me Jesus:

– Sossega, tranquiliza-te, minha filha. Eu aceitei a tua oferta e com ela consolaste e alegraste o meu Divino Coração. Aceitei, mas não quero ter sacrifício. Cumprem-se as minhas divinas promessas. Confia, manda agora Jesus, governa agora Jesus. Que fazem os homens sem mim? Confia, tesoureira de Jesus, sofre dos meus tesouros divinos. Confia neste coração que te ama. Recebe o fogo deste coração, louco de amor por ti. Recebe-o a transbordar e dá-o aos que tu amas, dá-lho, são mimos do céu, são mimos que lhes dou por ti. Enche-os do amor e dá-o ao mundo, que é teu.

O demónio rodeia-me, põe-se à minha frente como cão raivoso que quer morder-me. Lutei, combati com ele por duas vezes. Era para morrer, se Jesus não desse a vida ao meu pobre coração, que à força de tanto bater ficava de todo desfalecido. Ao último combate, veio Jesus, deitou-me os Seus divinos braços como para levantar-me.

– Sossega, minha filha, tu não pecaste. Confia que é reparação que te peço e em ponto tão delicado que são raras as almas a quem lha posso pedir.

Veio a Mãezinha, fiquei entre os Seus braços e os de Jesus e por Um e Outra bafejada e docemente acalentada.

– Coragem, ó esposa de Jesus. Desagrava os nossos corações e confia que por ti velamos e por ti somos consolados.

Logo que me vi sem Jesus e sem a Mãezinha, a minha dor, amargura da minha alma eram insuportáveis. Que quadro tristíssimo da minha vida se representa à minha frente! A bradar repetidas vezes, a pedir o auxílio do céu, passei pelo horto e lá, com Jesus a agonizar, vi os apóstolos reunidos, a dormirem despreocupados. Jesus, cheio de doçura e mansidão, a chamá-los para o grande acontecimento, para a prisão. Se o mundo pudesse ver tudo isto! Passei depois ao calvário, depois de ter estado à coluna e o meu corpo com o de Jesus cruelmente açoitado. Subi a montanha. Maior, muito maior que a fúria dos algozes. Era a força do amor que me arrastava. Não olhando à carne, que, desfeita, ficava por entre as pedras em todo o percurso da jornada. No alto da cruz, entre dor e trevas, sentia a tal ligação, de que acima falei. Vinha não sei de onde aquela vida compartilhar a dor, vencer a dor. Era só isso, pois meu já não era o corpo, minha já não era a vida. Depois de muito sofrer, atemorizada com tanta escuridão, veio Jesus. Veio, e tudo serenou.

– Minha filha, escolhi-te para a dor, escolhi-te para o amor. A dor é o selo real, a dor é a chave de oiro que abre os corações dos pecadores mais empedernidos. A dor vence e condu-los ao meu coração. A dor é o bálsamo que cura as suas feridas. Quem sofre bem ama-me com o maior amor. É por isso que te escolhi para a dor e para o amor. Sofres com a maior perfeição, amas-me com o amor mais puro e elevado. És a mestra e rainha da dor e do amor. O mundo em ti aprenderá. E que belas lições, que lições de maravilhas e prodígios, que lições divinas por recebem, logo que a tua vida seja conhecida!

– Meu Jesus, que confusão a minha! Eu não sei sofrer, eu não sei amar-Vos. Vede como estou envergonhada. O meu maior anseio é consolar-Vos e dar-Vos almas. Mas ai, pobre de mim! Mergulhada em trevas, sou só miséria e nada mais. Oh! como eu temo a minha fraqueza!

– Minha filha, esposa amada, canteiro mimoso, donde brotam as mais belas flores. Sossega, ainda não ouviste dos meus divinos lábios dizer-te que não sofrias bem. O teu temor consola-me, encanta o céu. Vejo os teus desejos, as tuas ânsias e com isso me alegro. Venço contigo, sou a tua força, confia nas minhas divinas palavras: são infalíveis. Sofro com a maldade dos homens, sofro com a prudência exagerada de outros. Mas a causa é minha, tu és minha, és das almas. Irradia-as do meu amor, perfuma-as com o aroma das tuas virtudes. Vou dar-te o meu sangue divino, o sangue da tua vida maravilhosa, da vida que vives, da vida que dás às almas.

Uniu Jesus os nossos corações um ao outro. Mal percebidas, sim, mas deixou-me cair três pequeninas gotas do Seu divino sangue. E logo principiou a bafejar-me com o Seu bafo divino.

– Não se dilata o teu coração, não podes sentir a força do meu amor. Não deixas por isso de me amares com o maior ardor. Vai em paz, coração de fogo, língua de louvor. Vai espalhar ao mundo, distribuir às almas, de quem és mãe. Prometo-te, minha filha, depois da tua morte, a conversão de muitos pecadores junto do teu túmulo. Virão visitar-te e sairão outros de junto de ti. Lá do céu, da tua Pátria, velarás por elas, cobrirás de bênçãos as suas almas. És rainha e mãe do mundo, és rainha e mãe de todos os pecadores.

– Obrigada, meu Jesus.

Sinto que todos me abandonaram, todos, mesmo todos; que não há quem cuide do meu corpo nem da minha alma. Sou cegueira, só cegueira. Parece-me que mesmo o meu Pai espiritual nada se interessa pela minha alma. perdi tudo, nada tenho.

– Que será de mim, ó meu Deus? Que eu não perca a minha confiança em Vós. Sou a Vossa vítima. Bendita seja a cruz que me dais. Não sei e não posso dizer mais nada.

   

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