Pontificado - 536 a
538
O
pontificado de São Silvério coincide com a ocupação da Itália pelos
imperadores bizantinos. A nota característica do seu governo é a
firmeza e intrepidez com que defendeu os direitos da igreja, contra
a
imperatriz
Teodora. Eis o fato como os hagiógrafos o relatam.
O Papa
Agapito, antecessor de Silvério, tinha deposto o bispo de
Constantinopla, Antimo, por este haver defendido a heresia
eutiquiana. A imperatriz, fautora da mesma heresia, desejava ver
Antino reabilitado na jurisdição episcopal, desejo que Agapito não
quis atender e não atendeu. Morto este Papa, Virgílio, diácono
romano, apresentou-se à imperatriz Teodora, prometendo-lhe a
reabilitação de Antimo se apoiasse sua candidatura ao pontificado.
Teodora deu a Virgílio uma carta de apresentação a Belisário,
general bizantino, que se achava na Itália, recomendando-lhe
apoiasse a eleição.
Entretanto foi eleito Papa Silvério e como tal reconhecido. A este a
imperatriz se dirigiu, exigindo a reabilitação dos bispos, por
Agapito depostos, e a anulação das decisões do Concílio de
Chalcedon, que tinha condenado a heresia de Eutiques. Nesse ofício
arrogante Teodora ameaçou o Papa com a deposição, caso não lhe
acedesse às exigências. A resposta de Silvério foi respeitosa, mas
negativa. Com franqueza e firmeza apostólicas declarou à imperatriz
que estaria pronto a sofrer prisão e morte, mas não cederia um ponto
das constituições do Concílio.
Teodora
não se conformando com esta resposta, ordem deu a Belisário de
afastar Silvério de Roma e pôr Virgílio na cadeira de São Pedro.
Para não cair no desagrado da imperatriz, Belisário prontificou-se a
executar a ordem, mas desejava ter em mãos outros documentos, a
pretexto dos quais pudesse proceder contra o Papa. Tirou-o do
embaraço sua ímpia mulher Antonina. Esta lhe fez chegar às mãos uma
carta falsificada, que trazia as armas e assinatura de Silvério,
carta em que o Papa se teria dirigido aos Godos, prometendo-lhes
entregar Roma, se lhe viessem em auxílio. Belisário estava a par do
que se passava, e bem sabia qual era a autoria da carta. Não
obstante, para obsequiar a mulher, citou Silvério à sua presença,
mostrou-lhe a carta, acusou-o de alta traição e, sem esperar pela
defesa da vítima, ordenou que lhe tirassem as insígnias pontifícias
e lhe pusessem um hábito de monge, e assim o mandou para o desterro.
No mesmo dia Virgílio assumiu as funções de Sumo Pontífice.
A
consternação e indignação dos católicos eram gerais. Só Silvério
bendizia a graça de sofrer pela justiça. O Bispo de Pátara, diocese
que deu agasalho ao Papa desterrado, pôs-se a caminho de
Constantinopla, com intuito de defender a causa de Silvério.
Recebido pelo imperador Justiniano, fez-lhe a exposição clara das
cousas ocorridas, e mostrou-lhe a injustiça feita ao representante
de Cristo. Justiniano ordenou que Silvério fosse imediatamente
levado a Roma, e que a permanência na metrópole lhe fosse vedada só
no caso de se provar o crime de alta traição. Belisário e o antipapa
Virgílio souberam impossibilitar a volta de Silvério para Roma.
Apoderaram-se dele e transportaram-no para a ilha Palmaria. Lá o
sujeitaram a um tratamento indigno e sobremodo humilhante. Silvério,
porém, ficou firme na justa resistência à tirania e usurpação. Longe
de reconhecer a autoridade de Virgílio, excomungou-o e deu do exílio
sábias leis à igreja. Nunca se lhe ouviu uma palavra sequer de
queixa contra os planos e desígnios de Deus. Ao contrário, no meio
dos sofrimentos e provações, louvava e enaltecia a sabedoria e
bondade da Divina Providência.
Três
anos passou Silvério no desterro. Liberato, historiador
contemporâneo de Silvério, diz que o Santo Papa morreu de fome. É
considerado mártir da Igreja.
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