PEDRO
SINDE
A vinda do Reino de Deus é a derrota do reino de Satanás.
Catecismo, §550 |
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A
maior artimanha do diabo é de vos persuadir que ele não
existe!
Charles Baudelaire
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Numa
entrevista à Agência Ecclesia, o Pe. Jesuíta Vasco Pinto de
Magalhães fala sobre o seu mais recente livro:
O Mal e o Demónio
(Edições Tenacitas, 2017). Este breve texto não é uma recensão do
livro, mas antes um comentário sobre alguns pontos da referida
entrevista
(https://www.youtube.com/watch?v=f7Dcb5X3N58)
Nos
seus Pequenos Poemas em Prosa,
Baudelaire dá voz a um pregador que diz o seguinte:
“Meus
caros irmãos, não esqueçais nunca, quando escuteis glorificar o
progresso das luzes, que a maior artimanha
do diabo é de vos persuadir que ele não existe!”
Esta
artimanha é tão bem engendrada que atingiu mesmo sacerdotes e
bispos...
Vejamos
algumas das citações da entrevista, colocadas lado a lado com as
palavras do Catecismo, de alguns Papas e do Evangelho.
***
Pe. Vasco:
“O demónio não é uma entidade pessoal que entra. O demónio é uma
desordem, uma força desordenadora”
Catecismo:
“o Mal [na petição do Pai Nosso “mas livrai-nos do Mal”]
não é uma abstracção,
mas designa uma
pessoa, Satanás, o
Maligno, o anjo que se opõe a Deus.” (§2851)
Papa Paulo VI:
O mal não é apenas uma deficiência, mas uma eficiência, um ser vivo,
espiritual, pervertido e perversor. Terrível realidade. Misteriosa e
pavorosa. Sai do quadro do ensino bíblico e eclesiástico quem se
recusa a reconhecer a sua existência (…) ou quem a explica como uma
pseudo-realidade, uma personificação conceptual e fantástica das
causas desconhecidas das nossas desgraças. (Audiência Geral, 16 de
Novembro de 1972)
Papa Francisco:
“E pensar que nos queriam fazer crer que o diabo era um mito, uma
figura, uma ideia do mal! Ao contrário, o diabo existe e nós devemos
lutar contra ele. São Paulo recorda: é a palavra de Deus que no-lo
diz! Mas parece que não estamos convencidos desta realidade”. (30 de
Outubro de 2014)
Pe. Vasco:
“Mas cada vez mais a Igreja sabe que é um problema psíquico.”
Pe.
Gabriele Amorth: “Mas eu não faço
exorcismo ao primeiro que passa! Antes vejo as fichas clínicas, os
resultados de análises e as idas ao psiquiatra. Intervenho com as
orações de libertação apenas quando a medicina não fez efeito”.
Catecismo: “O exorcismo tem por fim
expulsar os demónios ou libertar do poder diabólico, e isto em
virtude da autoridade espiritual que Jesus confiou à sua Igreja.
Muito diferente é o caso das doenças, sobretudo psíquicas, cujo
tratamento depende da ciência médica. Por isso, antes de se proceder
ao exorcismo, é importante ter a certeza de que se trata duma
presença diabólica e não duma doença.”
Pe. Vasco:
“Os grandes exorcistas, no fundo, nunca encontraram verdadeiramente
um espírito, encontraram uma espiritualidade perturbada que precisa
de ser reorganizada pelo amor.” “Os exorcismos de Jesus Cristo foi
curar psicopatologias.”
Evangelho: «“Mestre, eu trouxe-te o meu
filho que está possesso de um espírito mudo, que, onde quer que se
apodere dele, o lança por terra, e o menino espuma, range com os
dentes, e fica rígido. Pedi aos Teus discípulos que o expulsassem e
não puderam.”
Jesus
respondeu-lhes: “Ó geração incrédula! Até quando hei-de estar
convosco? Até quando vos hei-de suportar? Trazei-Mo cá”.
Trouxeram-Lho. Tendo visto Jesus, imediatamente o espírito o agitou
com violência e, caído por terra, revolvia-se espumando. Jesus
perguntou ao pai dele: “Há quanto tempo lhe sucede isto?”. Ele
respondeu: “Desde a infância. O demónio tem-no lançado muitas vezes
ao fogo e à água, para o matar; porém Tu, se podes alguma coisa,
ajuda-nos, tem compaixão de nós”. Jesus disse-lhe: “Se podes...!
Tudo é possível a quem crê”. Imediatamente o pai do menino exclamou:
“Eu creio! Auxilia a minha falta de fé”. Jesus, vendo aumentar a
multidão, ameaçou o espírito imundo, dizendo-lhe:
“Espírito mudo e surdo, Eu te mando, sai desse menino e não voltes a
entrar nele!”. Então, dando gritos e agitando-se com violência, saiu
dele, e o menino ficou como morto, tanto que muitos diziam: “Está
morto”. Porém, Jesus, tomando-o pela mão, levantou-o, e ele pôs-se
em pé. Depois de ter entrado em casa, os Seus discípulos
perguntaram-Lhe em particular:
“Porque
o não pudemos nós expulsar?”. Respondeu-lhes: “Esta casta de
demónios não se pode expulsar senão mediante a oração e o jejum”.
(Mc 9, 17-29)
Pe. Vasco:
“O exorcismo não tira nada lá de dentro, o exorcismo comunica paz,
equilíbrio, ordem, porque não há nada a tirar – um espírito não está
dentro de outro espírito (…) O espírito não tem dentro nem fora.
Portanto, é uma fantasia nossa para explicar um bocadinho essa
realidade”
Evangelho, de novo: “Espírito mudo e
surdo, eu te ordeno: Sai
dele, e não
entres mais
nele.”
Evangelho, mais uma vez:
“Para
isto é que o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do
Diabo” (1Jo 3,9)
Breve comentário
A
posição do Pe. Vasco é de uma assustadora ingenuidade, de grande
irresponsabilidade e com consequências devastadoras. Representa, na
verdade, uma certa tendência teológica presente há muito na Igreja;
assim, este artigo aproveita o pretexto desta entrevista, mas visa
essa corrente ‘modernista’, que está convencida que a doutrina
‘evolui’, que passámos por uma idade das trevas na Igreja e agora
vamos chegando à ‘idade das luzes’.
O Pe.
Vasco, com a sua ‘hermenêutica’ muito pessoal, contradiz
directamente as palavras de Cristo, a doutrina da Igreja e as
palavras, reiteradas sucessivamente, do próprio Papa Francisco (bem
como, naturalmente, a de todos
os Papas anteriores).
Terminemos, lembrando as palavras do Papa São João Paulo II, pouco
tempo antes de se tornar Papa:
“Hoje,
estamos diante do maior combate a que a humanidade já assistiu. Não
penso que a comunidade cristã o tenha compreendido totalmente. Hoje,
estamos diante da luta final entre a Igreja e a Anti-Igreja, entre o
Evangelho e o Anti-Evangelho”.
As
palavras de um sacerdote, que vai ser ouvido e lido, devem ser
pesadas e pensadas; a sua responsabilidade é a de subir acima de si
mesmo e dos seus particulares pensamentos, para transmitir fielmente
a doutrina da Igreja. Aos crentes enquanto tal não lhes interessa
saber as opiniões pessoais, as ‘hermenêuticas’ superficiais de um
sacerdote. Aos crentes, enquanto tal, interessa-lhes ouvir a
doutrina de forma corajosa e clara, sobretudo num tempo que a Irmã
Lúcia recorrentemente caracterizava, justamente, como de
“desorientação diabólica”.
Um
interessante extratexto
O
grande exorcista do Vaticano, Padre Gabriele Amorth, revela-nos que
a “invocação de João Paulo II tem um efeito devastador sobre o
diabo” e diz ainda que “Satanás teme muitíssimo Bento XVI; as suas
missas, as suas bênçãos, as suas palavras são como poderosos
exorcismos”. |