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Só por amor
“quase uma autobiografia”

Capítulo 5
Os médicos indagam

 

Aqueles movimentos durante os êxtases da Paixão são inconcebíveis numa paralisada de anos!

O Pe. Pinho fala ao Arcebispo de Braga (diocese a que pertence Balasar). Este exprime o desejo de que o Caso seja examinado por um médico competente. Tal perspectiva arrasa a Alexandrina.

Quando o meu Director espiritual me falou em ser examinada pelos médicos, foi para mim um grande tormento, uma grande barreira que se levantou em minha alma. Queria sofrer escondida! Que só Jesus soubesse do meu sofrimento.

Mandava a obediência. Calei-me e tudo aceitei por Jesus.

Faltavam os médicos para completar o meu calvário. Alguns foram verdadeiros algozes que no meu caminho encontrei. (A, p. 50)

Terceira viagem ao Porto

São precisas radiografias, daqui uma viagem ao Porto, a terceira! (nos princípios da doença tinha estado já duas vezes nos hospitais de Porto)

No dia 6 de Dezembro de 1938, pelas 11 horas, fui tirada da minha cama para uma auto-maca.

Naquela manhã, fui muito visitada por pessoas amigas e em quase todas via lágrimas nos olhos, assim como nas pessoas da minha família. Eu procurava alegrar a todos, fingindo que nada sofria.

Foi dolorosa a minha viagem, pois foram precisas três horas e meia para chegar ao Porto. Parámos inúmeras vezes.

Tirou a radiografia no Porto, no consultório do Sr. Dr. Roberto de Carvalho, que a tratou com todo o carinho e lhe disse: «Ai minha menina, quanto sofres!»

Foi depois transportada para o Colégio das Filhas de Maria imaculada, onde foi examinada pelo Dr. Pessegueiro, exame este que só serviu para seu maior sofrimento. Aqui ficou até ao dia 11.

No regresso a casa, voltei a ter uma viagem penosa. Quando me encontrei no meu quartinho, vi-me cercada de várias pessoas amigas. (A pp. 50-51)

Naquele mesmo Dezembro, no dia 26, deve sofrer muito com a visita a casa de um famoso neurólogo, o Dr. Elísio de Moura.

Tratou-me cruelmente, tentando sentar-me numa cadeira com toda a violência. Como nada conseguisse, atirou-me para cima da cama, fazendo várias experiências que me fizeram sofrer horrivelmente. Tapou-me a boca, atirou-me contra a parede, fazendo-me dar uma forte pancada. (…)

Sem querer, chorei, mas todas as minhas lágrimas ofereci a Jesus com os meus sofrimentos, que foram muitos, pois o que digo nada é do muito que passei.

Tudo lhe desculpei, porque ele vinha em missão de estudo. (A, p. 51)

 

Um eco desta visita encontra-se na carta ao director, ditada no dia seguinte:

Custa-me muito falar. Tenho o meu corpo que parece que me passaram carros por cima e o esmigalharam. (...)

 

Mas poucas linhas depois regressa a sua generosidade no sofrer, o seu amor a Jesus:

Aceito tudo, tudo, tudo pelo Vosso divino amor e para o que Vós sabeis (não se sabe a que se refere). Eu queria sofrer tudo isto ainda mesmo que Vós não soubésseis que era eu a sofrer (quer doar o sofrimento para salvar almas, mesmo ficando anónima, sem recompensa pelo seu acto generoso). Sois digno de tudo. C (27-12-38)

A viagem ao Porto, a visita do grande psiquiatra suscitam no povo de Balasar comentários, críticas, ilações:

Diziam que fui (ao Porto) tirar o «retrato de santa», isto é, avaliar a minha santidade por meio de uma máquina. (…)

Diziam que eu talhava o ar, fazendo de mim bruxa, que era corpo aberto (…)

Quando me contavam o que diziam a meu respeito, eu fingia não sofrer, mas sofria amargamente e respondia:

«Eles falam de mim? É porque têm que dizer. Eu não tenho; deixai que falem para eles.

Que Nosso Senhor lhes perdoe, que eu também lhes perdoo. Falam, falam e falarão.

Não há quem os cale: uns contra mim, outros a favor de mim.»

E assim o tempo ia passando. (A, pp. 52-53)

Entra em cena o Dr. Azevedo

O Dr. Manuel Augusto Dias de Azevedo, médico de Ribeirão, além de competente na ciência médica, é-o também em ciências teológicas, pois frequentou o Seminário de Braga. Será o cireneu da Alexandrina. Iluminado e ardente de fogo divino, acompanhá-la-á até ao cume extremo do seu calvário, suprindo um pouco a falta do director, o Pe. Pinho, que deverá deixá-la pois parte para o exílio (vd. C 7).

Em 29 de Janeiro de 1941 o Dr. Azevedo, obtida a permissão do Pe. Pinho para visitar a Alexandrina, é recebido juntamente com um sacerdote que a Alexandrina conhece.

É o primeiro encontro.

O Dr. Azevedo fica surpreendido. Intui que o Caso é muito sério e que é preciso estudá-lo do ponto de vista espiritual e teológico, além do médico.

Em 15 de Fevereiro de 1941 escreve ao Pe. Pinho uma carta na qual aparece um retrato muito expressivo da Alexandrina.

Eis alguns fragmentos:

Enquanto a fisionomias várias, compostura de movimentos, profundezas de con­ceitos teológicos e místicos expressos, tudo isso é simplesmen­te admirável.

Nada, absolutamente nada do que se passa, quer sob o ponto de vista clínico, quer sob o ponto de vista teo­lógico, nos poderá permitir que classifiquemos de naturais ou diabólicos os fenómenos que observamos.

Depois, a sua vida humilde e despretensiosa, a sua falta de cultura, o seu equilíbrio de inteligência e maneiras, a sua resignação completa e humildade profunda, os seus rasgos de génio amiudados, tudo isto envolto numa simplicidade en­cantadora, dá provas manifestas de que se trata de uma alma a transbordar de sobrenatural, à beira da qual nos sentimos pequeninos, muito e muito pequeninos.  

Bendito seja Nosso Senhor que nos dá tais anjos para expiarem os nossos pe­cados! (No C, C. 23, p. 192-193, port.)

Quarta viagem ao Porto

O Dr. Azevedo acha oportuna uma consulta com o Dr. Abel Pacheco, especialista do Porto (que a tinha visitado nos começos da doença) e com o médico assistente, o Dr. João Alves Ferreira.

No dia 1 de Maio de 1941 tem lugar a consulta, mas os médicos não estão de acordo.

Então o Dr. Azevedo aconselha uma visita ao Porto para consultar o Dr. Gomes de Araújo. Convida a Alexandrina a pedir inspiração na oração, pois não quer contrariar o Senhor.

Pedi durante um mês. Mas, quanta mais luz pedia, mais em trevas ficava, tornando-se assim a dor da minha alma cada vez mais profunda, não sabendo o que havia de fazer, até que Nosso Senhor me disse que era da Sua divina vontade que fosse ao Porto.

O meu estado físico era gravíssimo, temiam tirar-me do leito para tão longa viagem (…)

Animada com as palavras de Nosso Senhor, confiava nele e, sob a sua acção divina, preparei-me para sair na madrugada de 1 de Julho de 1941. (A, p. 54)

Na véspera da partida dita uma carta ao Pe. Pinho, da qual extraímos poucas linhas, mas suficientes para iluminar a sua elevação de espírito, o seu amor a Jesus, às almas.

Estou numa noite escura, seca, sem que durante ela caia uma pequenina gota de orvalho. (...)

Aniquilada e oprimida debaixo desta dor e amargura, recordo: é por Jesus, é pelas almas.

E logo todo o meu ser se transforma num só pensamento: Deus em tudo e sobre tudo. Passava todo o tempo da minha vida a pensar só em Deus. Tudo passa, só Deus resta. O pensamento de Deus abrange o Céu e a Terra.

Mergulho em Deus. Posso amá-Lo e nele pensar por toda a eternidade.

Este pensamento levanta-me do meu desfalecimento: só assim pensando, suavizo a minha dor; só mergulhada em Deus posso sorrir ao quadro doloroso e triste que se apresenta à minha frente.

Finjo sentir grande alegria na minha ida ao Porto, para alegrar os meus, para que não compreendam a dor do meu coração.

É por Jesus que eu vou, é pelas almas que eu sofro.

Só de Jesus espero a coragem e o amor para a tudo resistir. C (14-7-41)

Na Autobiografia encontrámos a descrição de tal viagem. Eis alguns extractos:

Eram quatro horas da manhã, já eu tinha feito as minhas orações e, para fingir que ia muito alegre, principiei a chamar minha irmã, dizendo-lhe que “íamos para a cidade” (para aquela gente duma freguesia agrícola, ir à cidade era uma grande festa, então).

Só por este meio escondia a minha dor e alegrava os meus.

Quando dizia isto, senti o automóvel que pouco depois chegava a nossa casa. Entrou no meu quarto o Sr. Dr. Dias de Azevedo, acompanha por um senhor amigo (António Sampaio, que a leva no seu carro). (…)

Às 4h30 partimos, era ainda de noite, para não alarmar o povo, e saímos da nossa freguesia sem encontrar ninguém.

Em que silêncio ia a minha alma! Mergulhada num abismo de tristeza, mas sem me separa um momento da união íntima do meu Jesus, ia-lhe pedindo sempre toda a coragem para o exame que ia ter; e pelo seu divino amor e pelas almas oferecia todo o meu sacrifício. Chamava pela Mãezinha e pelos santos e santas a quem mais amava.

Não ligava importância a nada e tudo o que se me deparava causava-me profunda tristeza.

De vez em quando, interrompiam o meu silêncio perguntando-me se ia bem. Agradecia, sem sair do abismo em que ia mergulhada.

Era já dia claro quando parámos em casa do senhor que nos acompanhava, na Trofa. Era aí que eu ia descansar e receber o meu Jesus, esperando pela hora de seguir para o Porto.

Levaram-na ao jardim onde conseguiu até colher algumas flores, pensando:

«Quando Nosso Senhor criou estas florinhas, já sabia que hoje as vinha aqui colher.»

Depois, fui fotografada em dois lugares escolhidos. Desloquei-me de um lugar para o outro por meu pé, o que nunca pude fazer depois que acamei, pois nem sequer podia voltar-me de lado, na cama (excepto durante os êxtases da Paixão, naturalmente)! Só um milagre divino, porque sem ele não me mexia, nem sequer consentia que me tocassem. (…)

À distância de seis quilómetros do Porto, Nosso Senhor retirou a Sua acção divina. (...)

A ida de carro para o consultório foi o que há de mais doloroso No corpo, sentia o maior martírio, e na alma a maior agonia, parecendo que morria. (...)

O exame que foi muito doloroso e demorado.

Quando me despia, disseram-me que não me afligisse. E eu, recordando o que fizeram a Nosso Senhor, disse:

«Também despiram Jesus», não pensando em mais nada.

O Dr. Gomes de Araújo, apesar de me parecer um pouco brusco, foi prudente e delicado.

Na viagem de volta, param em Ribeirão, em casa do Dr. Dias de Azevedo, para poderem regressar sem serem vistos.

Tanto numa casa como na outra, fui tratada por todos com muito carinho, mas nada me confortava. Sorria a tudo, encobrindo o mais possível a minha dor. (...)

Chegámos a casa era meia-noite e assim conseguimos que ninguém desse pela minha saída. (A, pp. 54-56)

No dia seguinte, o Pe. Pinho vai visitá-la e celebra uma S. Missa no seu quarto. Todavia, no dia 17, a Alexandrina sente a necessidade de lhe ditar uma carta, para descrever o memorável dia 15. É interessante ler alguns excertos:

Pouco depois da meia-noite preparei-me para a partida. Fiz todas as orações da manhã, pedi a ajuda do Céu, ofereci o sacrifício a Jesus e a Mãezinha para receber deles amor, até morrer de amor.

Depois ofereci por algumas pessoas que me são mais queridas, sendo no primeiro lugar o meu pai espiritual. Em troca do meu sacrifício pedi a Jesus a paz pelo mundo, a Consagração do mundo à Mãezinha, pedi que livrasse Portugal da guerra, pedi pelos pecadores, pelos sacerdotes, etc.

Enquanto esperava a hora da partida, o meu coração sangrava de dor mas tinha ânsias de dar tudo a Jesus. 

Às 4 e meia da manhã foi a minha partida (...)

Para mim o céu não tinha estrelas, o raiar do dia não apareceu, o sol não brilhou: todo o panorama era triste e doloroso. (...)

Parei na viagem para descansar em casa amiga, onde fui rodeada de carinho e amor. Foi lá que recebi o meu Jesus, a vida da minha vida, a força para o meu sofrer.

Ele dignou-Se dizer-me umas palavrinhas que infundiram no meu coração coragem e maior desejo de sofrer por Ele:

 Minha filha, minha filha, o teu sacrifício são laços de amor que prendem mais e mais o meu Coração ao teu; e os mesmos laços de amor prendem o teu pai espiritual e todos aqueles que te rodeiam e que por ti tomaram cuidados.

Amo-te, amo-te, amo-te! (...)

Sofri dores horríveis, com o sorriso e muitas vezes com o nome de Jesus nos lábios (...)

E raiou o dia de quarta-feira (dia 16). Chegou o meu pai e, pouco depois, já o coração sentia vida. Foi fora da cama que assisti à S. Missa e recebi o meu Jesus. (...)

As dores do corpo iam aumentando: a mal sei descrever o meu sofrimento. Em horas de maior angústia Jesus falou-me:

 Minha filha, eis o teu sofrimento pelos sacerdotes. Sofre por eles. A dor desagrava-Me. Os ardores que te queimam são os ardores das paixões. Servi-Me do exame médico para fazer-te sofrer por eles.

Pouco depois, voltou Jesus a dizer-me:

 Minha filha, diz ao teu pai espiritual que se alegre com a tua dor, que se alegre em Me ver desagravado, que se alegre em ver-te salvar-Me as almas. (...)

Hoje Jesus continua a martirizar-me. O meu martírio é grande ao receber Jesus (Eucarístico). As securas e as trevas da alma não me deixam gozar a doçura e suavidade do seu amor. Foi uma manhã de tormento na alma e no corpo. Foram horrorosas as dúvidas e os medos à crucifixão (é quinta-feira, já sente terror pelo avizinhar-se da sexta).

O sofrimento de tarde foi mais suave: senti a união das nossas almas e contemplava o Calvário com mais amor. (…)

Perdão, meu pai, para a pobre Alexandrina. C (17-7-41)

Este exame no Porto no 15 Julho de 41 traz, é verdade, sofrimentos enormes à Alexandrina. Mas dá também uma primeira vitória ao Dr. Azevedo, pois o grande neurólogo concorda com ele: “compressão medular alta, só ou complicada por outros focos compressivos mais baixos”.

Em 1967 o Dr. Azevedo, no processo Diocesano Informativo para a beatificação, declara:

A doença principal de Alexandrina devia ser uma mielite, como de facto confirmaram diversos médicos, entre eles o Dr. Gomes de Araújo e o Prof. Dr. Carlos Lima. Todos estavam convencidos de que a causa principal da mielite fosse o salto da janela, a que nos referimos anteriormente. (Summ, p. 45)

   

 

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