Vida e obras
Sofrónio tinha ascendência
árabe e era um professor de retórica. Ele se tornou um asceta no
Egipto em 580 e depois entrou para o Mosteiro de São Teodósio, nas
redondezas de Belém. Ele acompanhou o cronista João Mosco em suas
viagens pelos principais centros urbanos da Ásia Menor, Egipto e
Roma, o que acabou lhe rendendo a homenagem de João, que dedicou a
ele o seu tratado sobre a vida religiosa,
Leimõn
ho Leimõnon (em grego: “O
Campo Espiritual”).
Eles são celebrados juntos na mesma data. Com a morte de Mosco em
Roma (619), Sofrónio acompanhou o traslado de seu corpo até
Jerusalém para um enterro monástico. Ele viajou até Alexandria e
para Constantinopla (633) para persuadir os respectivos patriarcas a
renunciarem ao monotelismo, uma doutrina herética que ensinava que
Jesus teria uma única vontade, a divina, excluindo assim a vontade
humana na Sua encarnação. As extensas obras de Sofrónio sobre o
assunto se perderam todas.
Monotelismo
Com o objectivo de
derrotar os inimigos do Império Bizantino, o imperador Heráclito
precisava consolidar o apoio de todos os seus súbditos. Seguindo o
conselho de Sérgio I, patriarca de Constantinopla, ele decidiu
reunir os ortodoxos e os monofisitas com base numa doutrina de que
Cristo teria apenas um tipo de "actividade" (ou "vontade") - a
divina. A doutrina recebeu o nome d monenergismo. Em 632, a união
entre as duas facções foi realizada, com apenas o clero aceitando-a
e o povo claramente jamais aceitando. Sofrónio, que na época era um
monge em Belém, foi o primeiro a protestar tanto contra a união
quanto contra a nova doutrina. Ele foi até Alexandria para tentar
persuadir o recém-apontado patriarca monotelita Ciro (630–643) a
renunciar à heresia. Fracassando, ele foi até Sérgio, em
Constantinopla, que o convenceu que, para manter a paz entre os
cristãos, o melhor seria não levantar a questão.[3]
Quando Sofrónio tornou-se
patriarca, em 634, ele escreveu uma confissão de fé, chamada de
Sinódico, na qual ele defendeu que Cristo teria dois tipos de
energia e duas actividades ("vontades") distintas. Ele a enviou para
o papa Honório I e para os patriarcas orientais explicando a crença
ortodoxa nas duas naturezas de Cristo, a humana e a divina, como
contrárias ao monotelismo, que ele via como uma forma subtil da
doutrina já condenada do monofisismo (que defendia a existência de
uma única natureza: a divina). Antes disso, ele já havia escrito uma
carta a Arcádio de Chipre pedindo apoio. Ele convocou um concílio em
Chipre (633–634) para tratar da questão, mas o caso de Sofrónio
acabou não sendo defendido pelos bispos ali reunidos. Após este
concílio, o papa Honório I (r. 625-638) enviou uma carta a Sérgio,
Ciro e Sofrónio insistindo que todos os debates sobre uma ou duas
energias em Cristo cessassem, o que os três consentiram, e a decisão
papal se tornou então uma lei quando foi pronunciada pelo édito do
imperador Heráclito em 635. Além disso, ele compôs um florilégio
(uma "antologia") de uns 600 textos dos Padres Gregos em favor do
bastião ortodoxo do diotelismo (que defendia que Jesus tinha duas
vontades - a humana e a divina). Este documento também se perdeu.
Em seu sermão de Natal de
634, Sofrónio se mostrou mais preocupado em manter o clero alinhado
com a visão calcedoniana de Deus, dando apenas os alertas mais
tradicionais sobre o avanço muçulmano-sarraceno na Palestina,
comentando que eles já controlavam Belém. Em 636, após uma derrota
do exército bizantino na Batalha de Jarmuque, o destino da Palestina
foi selado. Sofrónio, que via o controle muçulmano da Palestina
como "o inevitável castigo aos cristãos fracos e vacilantes pelos
involuntários representantes de Deus", morreu logo após a
conquista de Jerusalém pelo califa ortodoxo Omar, em 637, mas não
antes de ter negociado o reconhecimento das liberdades civis e
religiosas dos cristãos em troca de tributos - um acordo conhecido
como Acordo de Omar. O Patriarcado de Jerusalém foi reconhecido como
a mais alta autoridade sobre a guarda dos lugares sagrados, das
comunidades cristãs, dos mosteiros e conventos. O Patriarcado se
tornou também o mediador entre as autoridades cristãs e muçulmanas.
O califa foi pessoalmente
até Jerusalém e se encontrou com o patriarca na Igreja do Santo
Sepulcro. Sofrónio convidou Omar a rezar ali, mas ele recusou,
temendo colocar em perigo o status da igreja como um templo cristão.
O califa se recusou a rezar no Santo Sepulcro por temer que, no
futuro, os muçulmanos pudessem alegar que Omar ali rezara e, assim,
eles também pudessem querer fazê-lo. Sofrónio, apreciando a
inteligência do califa, deu-lhe as chaves da igreja. Incapaz de
recusá-las, ele as deu a dois nobres sarracenos e pediu-lhes que
abrissem e fechassem a igreja. As chaves da Igreja do Santo Sepulcro
estão até hoje com os muçulmanos.
A luta constante contra os
monotelitas e a conquista muçulmana minaram a saúde de Sofrónio e
ele acabou morrendo inesperadamente em 638.
Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sofr%C3%B4nio_de_Jerusal%C3%A9m |